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Capítulo 3 Artigo publicado na Revista Brasileira de Geociências 40(3): 321-329,

2. Arcabouço Estrutural e Sedimentar

Variações no regime tectônico atuantes na formação da margem Atlântica Equatorial produziram embaciamentos com arcabouços estruturais característicos conhecidos como o Sistema de Riftes do Nordeste (Matos, 1992). A Bacia Potiguar está relacionada com esse sistema e tem sua evolução desde o Neocomiano em três fases distintas: rifte, pós-rifte e drifte (deriva continental) (Bertani et al., 1990). O preenchimento sedimentar da bacia durante cada uma destas fases tectônicas foi caracterizado, respectivamente, pela deposição das megasseqüências continental, transicional e marinha (Matos, 1992).

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A porção de plataforma continental da Bacia Potiguar apresenta uma sedimentação mista implantada desde o Neocampaniano com sistemas deposicionais siliciclásticos predominantes na porção proximal da bacia e carbonáticos predominantes em direção da borda da plataforma (Pessoa Neto et al., 2007; Vital et al., 2008). Três unidades litoestratigráficas compõe o registro Cenozóico dessa bacia: a Formação Tibau, composta de arenitos e conglomerados, derivados dos sistemas de leques costeiros e do preenchimento de vales incisos; a Formação Guamaré, composta de calcarenitos e calcilutitos, originados de bioconstruções e bancos algálicos na borda da plataforma; e a Formação Ubarana, composta de folhelhos, calcilutitos e arenitos subordinados, representando a sedimentação recíproca oriunda da plataforma e depositada em ambiente de talude (Pessoa Neto et al., 2007).

Essa bacia é controlada por falhas que emergem do embasamento (com rejeitos máximos acima de 5000 m), que continuam na direção da plataforma continental (Figura 1), onde se desenvolve uma sedimentação de margem passiva (Matos, 1992). De Castro et al. (2012) demonstram que o sistema de falhas da Bacia Potiguar representam reativações de zonas de cisalhamento do embasamento pré-Cambriano. Segundo Matos (1999), a primeira fase de formação da bacia ocorreu entre o Eoberriasiano ao Eobarremiano, com esforços divergentes orientados a WNW-ESE deram início ao rifteamento, gerando falhas normais de direção NE-SW na região emersa da bacia. Em uma fase posterior do rifteamento, durante o Neobarremiano ao Eoaptiano, houve reorientação dos esforços distensivos para E-W.

Reativações tectônicas no Cretáceo Superior (Mesocampaniano) ocorreram associadas com o soerguimento da bacia com a implantação da Discordância pré-Ubarana (Cremonini, 1993). Apesar de existirem outras reativações mais novas na bacia, as do Cretáceo Superior foram as mais intensas do estágio pós-rifte e produziram na bacia uma ampla reestruturação nas porções imersa e emersa (Cremonini, 1993). Segundo este mesmo autor, a Zona Transcorrente de Ubarana e de Pescada foram implantadas na fase rifte continuadas na fase pós-rifte e apresentam movimentação dextral dos blocos (Figura 1). Horsts, grábens e plataformas do embasamento comportam as megassequências. Os grábens assimétricos do Apodi, Umbuzeiro, Guamaré e Boa Vista estão orientados para NE-SW e são preenchidos por sequências sedimentares do Cretáceo Inferior na região emersa da bacia (Figura 1). O desenvolvimento destes grábens resultou na formação dos Horsts de Queixada, Serra do Carmo e Macau e sistemas de falhas associados. As plataformas do embasamento de Aracati e de Touros foram afetadas por falhas de pequeno rejeito, encobertas por sedimentos do Cretáceo Superior, na parte emersa, e sedimentos Neógenos, na parte imersa (Bertani et al., 1990).

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Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo, destacando o arcabouço estrutural da Bacia Potiguar sobre mosaico de imagens SRTM. Dados de breakout foram compilados de Lima et al. (1997) e os sistemas de falhas (1 - Afonso Bezerra; 2 - Carnaubais; 3 - Macau; 4 - Ubarana; 5 -

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O tectonismo da Era Cenozóica é menos expressivo regionalmente. Contudo, reativações importantes ocorrem sobre os sistemas de falhas de Afonso Bezerra e Carnaubais, dobramentos resultantes de esforços compressivos E-W, e reativações tectônicas associadas a intrusões básicas relacionadas com a Formação Macau (Cremonini, 1993). Barreto et al. (2002) consideraram a evolução do litoral norte relacionada a reativação com movimentos tectônicos verticais. Bezerra et al. (1998) e Caldas (1998) comprovaram eventos neotectônicos associados a Falha de Carnaubais nas proximidades de São Bento do Norte (RN). Assim, as reativações do Sistema de Falhas de Carnaubais (SFC) teriam afetado as rochas do Quaternário. Dados de mecanismos focais e breakouts (Figura 1) confirmam uma orientação geral aproximadamente E-W do stress horizontal máximo (SHmax) do atual campo de tensões na Província Borborema e indicam um forte paralelismo com a margem continental (Assumpção, 1992; Ferreira et al., 1998; Bezerra et al., 2011). Na região da Bacia Potiguar, os dados de breakout indicam esforços compressivos de direção NW-SE do atual campo de tensões (Lima et al., 1997; Bezerra et al., 2007; Ferreira et al., 1998).

Algumas falhas regionais como os Sistemas de Falhas de Afonso Bezerra e Carnaubais prolongam-se da porção emersa em direção a plataforma, sofrendo inflexões e são interceptadas por falhamentos E-W (Cremonini, 1993). A porção do Gráben de Boa Vista, localizada na região de plataforma interna, apresenta um horst interno de direção NE-SW, o qual é cortado por falhas de transferências NW-SE. As falhas de transferência por sua vez interceptam o Sistema de Falhas de Macau, limitando o Gráben de Macau com o Sistema de Falhas de Ubarana aproximadamente ESE-WNW (Cremonini, 1993). Cremonini (1993) ainda menciona uma inversão no mergulho das camadas do estágio rifte de oeste, na porção norte do Sistema de Falha de Ubarana, para leste, ao sul da falha. Os Sistemas de Falhas de Macau e de Pescada são paralelas ao de Ubarana, a sul e a norte, respectivamente. Essas falhas possuem cinemática similar com a componente normal, mergulhando para norte. O Gráben de Grossos também se estende sob a região de plataforma interna, sendo interceptado no encontro dos Sistemas de Falhas de Ubarana e Pescada, e sobre os mesmos deslocamentos por falhas transcorrentes WNW-ESE. Assim, os principais sistemas de falhas de grande rejeito do embasamento, localizadas na região imersa da bacia, são: de Macau, de Ubarana e de Pescada (Figura 1).

Segundo Gomes & Vital (2010), a plataforma continental norte do Rio Grande do Norte é estreita com um máximo de 43 km de largura entre Areia Branca e Guamaré, e profundidade máxima de 60 m na quebra da plataforma. A plataforma é dividida nas plataformas interna, média e externa, com base na geomorfologia e sedimentologia (Figura 2).

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Figura 2 – Mosaico de imagens LandSat 7 ETM+. Feições sintetizadas por Gomes & Vital (2010): (1) Corpo arenoso marinho raso isolado (Coroa das Lavadeiras); (2) Campo de Dunas, em frente à Guamaré; (3) Dunas longitudinais; (4a) Arenitos de praia Urca do Minhoto e (4b) Urca da Conceição; (5) Dunas transversais; (6) Corpo arenoso marinho raso isolado (Coroa Branca) (7) Vale inciso do Rio Açu; (8) Vale inciso do Rio Apodi; (PI) Plataforma Interna, 0-15 m; (PM) Plataforma média, 15-25 m; (PE) Plataforma Externa, 25-60 m, 60 m marca a borda da plataforma; Sistemas de falhas compilados de Angelim et al. (2006): (SFAB) Sistema de Falhas de Afonso Bezerra; (SFC) Sistema de Falhas Carnaubais.

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A plataforma interna é limitada pela isóbata de 15 m, com largura média de 20 km e estreitamento para leste, relevo suave, envolvendo extensos campos de dunas longitudinais, e de composição predominante siliciclástica. A plataforma média está limitada entre as isóbatas de 15 e 25 m, com 10 km de largura na margem leste do vale inciso do Rio Açu e com forte estreitamento para leste, caracterizada pela ocorrência mista de sedimentos e dunas transversais. A plataforma externa é a mais estreita com aproximadamente 6 km de largura constante ao longo de toda a área, com declividade superior à da plataforma média e limita-se entre as isóbatas de 25 até 60 m de profundidade. Na porção central desta plataforma, o limite entre as plataformas média e externa é bem marcado por uma extensa linha de antigas rochas de praia. Essa região de plataforma externa apresenta predominância de sedimentos bioclásticos e proeminentes desníveis batimétricos. Do limite externo da plataforma ao início da planície abissal, ocorre um desnível superior a 2000 m sobre o talude e o sopé continental.

As principais feições de relevo na plataforma já definidas na literatura (Gomes & Vital, op. cit.; Vital et al., 2008) são dunas transversais, longitudinais, campo de dunas submersas de Guamaré, vales incisos, recifes, corpo arenoso marinho raso isolado da Coroa Branca e Coroa das Lavadeiras. Sua distribuição geográfica pode ser vista na Figura 2.

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