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Capítulo 3 Artigo publicado na Revista Brasileira de Geociências 40(3): 321-329,

4. Assinatura Gravimétrica

As anomalias gravimétricas de longo comprimento de onda estão associadas às feições litosféricas mais profundas de origem tectônica (Blakely, 1995). Estas anomalias refletem a compartimentação crustal distensiva da separação dos continentes Sul-Americano e Africano, bem como a implantação da Bacia Potiguar no Cretáceo (De Castro, 2011; De Castro et al., 1998, 2012). Por outro lado, as anomalias de curto comprimento de onda correspondem às heterogeneidades crustais rasas e as sequências tectono-deposicionais da Bacia Potiguar. A Figura 4 apresenta as assinaturas gravimétrias Bouguer (4A) e Regional (4B) da Bacia Potiguar, fortemente influenciadas pelo gradiente regional da transição entre a crosta continental e a oceânica. Esse gradiente regional é de cerca de 0,32 mGal/km e é orientado obliquamente à linha de costa, aumentando para ENE na porção leste da plataforma, entre o vale inciso do Rio Açu e a Coroa das Lavadeiras (Figura 4B).

As anomalias Bouguer variam de -30 mGal na porção continental até 90 mGal na elevação continental, sendo seu gradiente mais acentuado na região do talude. Segundo De Castro et al. (2012), variações no campo gravimétrico mostram que a interface crosta-manto

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sofre um rápido afinamento crustal de 30 km para 20 km na transição entre as crostas continental e oceânica. Na porção oeste da área estudada, entre o vale inciso do Rio Açu e do Rio Apodi, o gradiente regional é de 0,66 mGal/km. A direção principal da componente gravitacional regional rumo à quebra da plataforma é aproximadamente NE-SW e segue alinhado perpendicularmente ao Sistema de Falhas de Afonso Bezerra, alcançando a borda da plataforma com valores em torno de 40 mGal (Figura 4B).

Figura 4 – Mapa de anomalias gravimétricas Bouguer (A) e regionais (B) da plataforma continental norte do RN. Isolinhas com intervalo de 2 mGal.

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As anomalias Bouguer (Figura 4A) de menor comprimento de onda distribuem-se na região de plataforma na forma de máximos e mínimos que caracterizam as assinaturas gravimétricas das heterogeneidades intracrustais mascaradas pelo forte gradiente da componente regional do campo gravitacional. Uma separação regional-residual foi realizada para realçar o efeito gravimétrico das fontes intracrustais. Como resultado, as anomalias residuais negativas e positivas variam entre -30 e 30 mGal (Figura 5), apresentam curto a médio comprimento de onda e não mostram a tendência regional perpendicular a costa, observada no mapa de anomalias Bouguer. Valores gravimétricos positivos estão geralmente associados aos horsts e plataformas do embasamento da bacia, enquanto valores negativos estão associados aos grábens preenchidos por sequências sedimentares de densidade inferior. Ainda, falhas regionais comumente ocorrem entre o adensamento de isolinhas gravimétricas e/ou alinhamento de anomalias.

As descrições a seguir referem-se à Figura 5 que apresenta os números de ‗1‘ a ‗6‘ para indicar as principais falhas e as letras de ‗a‘ a ‗o‘ para os máximos e mínimos gravimétricos. Os alinhamentos gravimétricos são concordantes com os trends das principais estruturas na região emersa da bacia, orientados preferencialmente para NE-SW, porém isso não ocorre em toda extensão plataformal. A continuação de muitas estruturas é defletida para E na porção de plataforma interna e, nas plataformas média e externa, as anomalias gravimétricas se alinham na direção E-W (Figura 5).

A anomalia gravimétrica negativa de maior amplitude está associada ao Gráben de Boa Vista (e). Este gráben é ladeado pelos horsts de Mossoró (g) e Serra do Carmo (d), bem como pelos seus sistemas de falhas associados. As anomalias residuais associadas ao Horst de Mossoró e o Gráben de Boa Vista têm continuidade após a linha de costa até cerca de 22 km na plataforma continental interna. O mínimo gravimétrico se estende a leste, paralelo à costa no domínio estrutural do Gráben de Macau (f). O limite NE desse mínimo gravimétrico (grábens de Boa Vista e Macau) é marcado por um máximo gravimétrico concêntrico de baixa amplitude (4 mGal) e médio comprimento de onda (l). Ao sul, esse máximo gravimétrico delimita o Gráben de Macau e, ao norte, indicar a localização do Sistema de Falhas de Ubarana (4). As anomalias residuais referentes aos Grábens de Guamaré (a) e Pendências (c) e o Horst de Macau (b) não mostram continuidade expressiva em direção à bacia imersa. Frente a essas estruturas, o Sistema de Falhas de Macau (3) delimita os máximos e mínimos gravimétricos de longo comprimento de onda da porção emersa com o Gráben de Macau.

No geral, as amplitudes das anomalias residuais na parte imersa da bacia são intermediárias aos máximos e mínimos encontrados na parte emersa. A região entre os

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Sistema de Falhas de Ubarana (4) e de Pescada (5) delimita um mínimo gravimétrico que se estende por quase toda a região de plataforma média (i) correspondente ao Gráben de Ubarana. Essa área apresenta uma alternância complexa de anomalias positivas e negativas de baixa amplitude e curto a médio comprimento de onda.

Algumas anomalias positivas apresentam seu eixo maior alongado na direção NW-SE, enquanto que as anomalias negativas são concêntricas. Ainda na região entre essas falhas, onde o Sistema de Falhas de Ubarana intercepta a porção central do vale inciso do Rio Açu, os isovalores são mais elevados que nas adjacências (j). Entre o Sistema de Falhas de Pescada (5) e as falhas de borda da plataforma (6) há uma predominância de máximos gravimétricos expressivos (m, n), que se limitam ao sopé continental, onde fortes mínimos gravimétricos se apresentam entre as isóbatas de 500 e 1000 m (o). Na porção entre o vale inciso do Rio Açu e a Coroa das Lavadeiras, um mínimo gravimétrico alongado a WNW-ESE (o) se alinha desde o sopé continental até a posição do Sistema de Falhas de Pescada. Na região de plataforma externa, entre a Coroa das Lavadeiras e a Urca do Minhoto/Conceição (ver Figura 2), observam-se máximos gravimétricos concêntricos alinhados a WNW-ESE (n).

Na região onde estão os vales incisos dos Rios Açu e Apodi, importantes mínimos gravimétricos podem ser correlacionados com a morfologia dos vales e da plataforma. Um máximo gravimétrico ocorre entre esses dois vales incisos que corresponde a extensão do Horst de Mossoró (g) sobre a porção imersa da bacia, limitado pelo Sistema de Falhas Ubarana (4). As margens sul e leste do vale inciso do Rio Apodi estão voltadas para o máximo gravimétrico relacionado ao Horst de Mossoró (g), enquanto as margens opostas estão voltadas para um mínimo gravimétrico (h). Este mínimo gravimétrico corresponde à continuação na porção imersa da bacia do Gráben de Grossos (h). Toda a região do vale inciso do Rio Apodi encontra-se inserida neste mínimo gravimétrico.

O comportamento gravimétrico na região do vale inciso do Rio Açu apresenta uma configuração diferente do vale inciso do Rio Apodi e o vale inciso do Rio Açu não está plenamente concordante com as falhas. Tal fato é indício de que o controle estrutural não foi o único ou principal fator para a sua evolução geomorfológica em relação da plataforma. Na zona costeira a desembocadura do Rio Açu ocorre sobre um mínimo gravimétrico associado ao Gráben de Pendências da parte emersa da bacia. Na plataforma interna, o vale inciso do Rio Açu está posicionado sobre a continuação do mínimo gravimétrico associado ao Gráben de Boa Vista (e) e ao Gráben de Macau (f) na parte imersa da bacia, limitado pelo Sistema de Falhas de Macau (3) a SE, pelo Horst de Mossoró (g) a NW e pela referida anomalia concêntrica isolada (l) a NE associada ao Sistema de Falhas de Ubarana.

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Figura 5 – Mapa de anomalias gravimétricas residuais (mGal) destacando principais máximos (b, d, g, j, l, m, n) e mínimos gravimétricos (a, c, e, f, h, i, o). A indicação por ‗?‘ representa região com dados insuficientes. O sistema de falhas (1 - Afonso Bezerra; 2 - Carnaubais; 3 - Macau; 4 -

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Os sistemas de falhas da fase rifte apresentam uma forte concordância com a disposição dos máximos e mínimos das anomalias residuais. A correlação entre esses padrões com o relevo batimétrico também é demostrada, porém as feições mais proeminentes da plataforma e a compartimentação de seu relevo estão associadas de forma concordante ou discordante. Como exemplo tem-se os vales incisos: o vale inciso do Rio Açu é oblíquo às estruturas de falhas, enquanto o vale inciso do Rio Apodi acompanha o formato de uma anomalia gravimétrica negativa e encaixa-se entre falhas.

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