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ARMANDO LOPES “ Homem de Constantinopla” José Rodrigues dos Santos

No documento Relatório de Estágio (páginas 43-46)

1. No início do projeto há um brieing com o autor e/ou editor?

Sim. Reunimos toda a equipa da editora, o autor expõe o tema do livro e resume o enredo. Por vezes já sabe o que pretende para a capa e mostra exemplos de capas de edições estrangeiras que podem servir de referên- cia.

2. Existe muita interferência por parte do autor e/ou editor no que diz respeito a restrições orçamentais ou, até, considerações de ordem conceptual?

No caso deste autor, que vende muito, não há grandes restrições orçamen- tais. Do ponto de vista conceptual, após algum consenso da reunião de brieing, não costuma haver restrições, excetuando questões de porme- nor, mais subjetivas que se prendem, por exemplo, com a fonte tipográica do título.

3. É preciso ler a obra para conceber a capa?

Não. Por questão de falta de tempo, seria impossível. Talvez seja até dese- jável um certo distanciamento que evite pormenores condicionantes de uma capa «aberta», menos óbvia e mais centrada no essencial da obra.

4. A conceção de uma capa é um processo individual ou conta com uma equipa que o complementa?

No meu caso é um trabalho individual. Por princípio, e porque sou defen- sor do trabalho de equipa, depois de apresentar uma primeira proposta, ico muito aberto a contributos e sugestões, sem que necessariamente as aceite. Integrado numa estrutura com outras pessoas, acredito nos bene-

ícios estimulantes do brainstorming mas, diz-me a experiência que o clic criativo é normalmente solitário. 

5. No processo criativo, como concilia as suas inluências artísticas com a sensibilidade do autor e/ou editor?

Conciliamo-nos. Como designer, procuro sempre ir de encontro à essên- cia da obra em causa. Apesar dos «tiques» gráicos/artísticos meus e da editora, cada obra são únicos e deve ter a sua personalidade própria. O autor tem de se rever na capa do seu livro mesmo tendo em conta as con- dicionantes comerciais.

6. Qual foi o processo do projeto gráico do livro?

No caso desta obra que, sendo um romance, tem um caráter histórico, muito marcado no tempo e no espaço, foi necessário encontrar imagens que montadas digitalmente traduzissem o ambiente correto da narrativa. A capa não conta a história – isso é para o texto – convida para o imaginá- rio daquele tempo, naquele lugar. São 3 ou 4 fotograias num cozinhado que é temperado a gosto com cor e luz.

7. Prefere a ilustração ou a fotograia para a imagética do projeto?

Neste caso só poderia ser fotograia. A credibilidade histórica do romance icaria diminuída se fosse ilustração. Em abstrato, entre uma coisa e ou- tra, não tenho preferência. Tudo depende da obra em causa. 

8. Teve cuidado na escolha da fonte para fazer justiça a este livro? ou escolheu uma de seu agrado?

Foi muito complicado encontrar uma fonte que fosse um compromisso entre o ambiente oriental do tema e a necessária legibilidade e sobrie- dade. Com uma especial condicionante: a palavra «Constantinopla» que nunca mais acaba. Só poderia ser uma fonte condensada e o desequilíbrio entre a primeira e a segunda linha do título foi inevitável. Se fosse «Istam- bul», icaria melhor.

 

9. Há algum cuidado especial com a lombada?

Em geral, equilíbrio e boa leitura. Quando a largura permite (é o caso des- te livro) trago para a lombada o ambiente gráico da capa. Sem esquecer a contracapa e as badanas. Trata-se de um conjunto harmonioso e funcio- nal. Este autor tem lombadas personalizadas já que os seus romances têm sempre grandes lombadas

 

10. O projeto da capa também comporta a escolha do papel (suporte) em que vai ser produzida?

tendo em conta as questões orçamentais. Sou normalmente consultado a esse respeito. No caso deste autor, os seus livros têm capa e sobrecapa, sendo esta plastiicada a mate, com relevo e verniz localizados.

 

11. A vertente comercial tem um peso muito forte na conceção do pro- jeto?

Não sai capa sem passar pelo departamento comercial, que dá o seu pare- cer. Exemplo: Não gostam de capas muito brancas porque dizem que não se vendem. Respeito.

12. De que forma pensa que o design da capa é importante para a venda desta?

A capa deve ser a parte mais erótica do objeto/livro. Desperta o desejo de o conhecer por dentro. Se esse desejo não acontece, nem lhe pegam, nem olham para lá segunda vez.

 

13. A identidade da editora também condiciona?

Ainda que não quisesse. Os tais «tiques», propositados ou não, revelam uma personalidade. Convivo bem com isso.

14. A identidade visual de obras anteriores, do mesmo autor (quando existem) também inluencia?

Sim. Ele tem de se sentir bem naquela roupa. Não lhe ponho umas jeans se ele só usa fato.

15. Até que ponto o desenvolvimento tecnológico dos sistemas de im- pressão e acabamento contribuem para o aparecimento de um novo design de capas, e qual o cuidado em não usar o que todos andam a usar, para não cair no emprego exagerado das mesmas técnicas, fa- zendo com isso que, capas de várias editoras, pareçam todas produzi- das pela mesma pessoa?

Boa questão. Se tivermos uma postura de designer tal não deverá aconte- cer. Se cada obra é um produto diferenciado e personalizado, deverá pa- recê-lo. A tecnologia tem introduzido mecanismos de sedução que podem funcionar comercialmente mas que, usados sem critério, dão esse resul- tado indesejável. Talvez por essa razão estejamos a assistir a um regresso ao desenho e à ilustração pura e dura, dos grandes contrastes, da grande simpliicação de meios, sem as estruturas de construção da iconograia dos anos 70, valorizando a expressividade do traço espontâneo. Não de- fendo tendências. Elas nascem quase espontaneamente. Defendo o acesso da nossa imaginação a todo o conhecimento que hoje está ao alcance. E mais além.

16. Tem alguma admiração especial por outro(a) Designer de capas de outra editora?

O Jorge Silva que é um bom exemplo do que referi no ponto anterior. Mas acho que há muitos bons jovens capistas no mercado que estão no bom caminho.

No documento Relatório de Estágio (páginas 43-46)

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