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ARMAZENAMENTO NA ESTABILIDADE DO MEDICAMENTO CONTENDO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO COMPRIMIDO

Faculdade Metropolitana de Anápolis | https://www.faculdadefama.edu.br | Cadernos de Pesquisa | V. 1, Nº 3, 2023 | ISBN: 978-85-69676-29-4 Faculdade Metropolitana de Anápolis | https://www.faculdadefama.edu.br |

Cadernos de Pesquisa | V. 1, Nº 3, 2023 | ISBN: 978-85-69676-29-4

O fármaco AAS tem prescrição e indicação para tratamentos de mialgias, cefaleias e outras dores, o mesmo também vem sendo usado como um medicamento preventivo de pessoas cardiopatas com o intuito de evitar ou prevenir a ocorrência de infartos do miocárdio, uma das principais nomenclaturas encontradas no mercado é Aspirina® (TRINDADE et al., 2016).

O ácido acetilsalicílico é um inibidor da enzima ciclo-oxigenase e acetilador de tromboxano A2, o que lhe confere atividade anti-agregante plaquetária que conforme Souza Matsutani (2016) relata que doses entre 150-300mg de ácido acetilsalicílico são capazes de suprimir a função plaquetária quase instantaneamente, e doses diárias entre 20 - 50mg sejam suficientes para suprimir quase completamente a síntese de tromboxano em poucos dias de terapia.

Os eventos adversos existentes pela aplicação do ácido acetilsalicílico são geralmente: hemorragia gastrintestinal podendo provocar anemia por falta de ferro, úlcera, perfuração gastroduodenal, entre outros.

O AAS faz parte do grupo de fármacos que tem a capacidade de controlar a inflamação, reduzir a dor e controlar a febre. Ele é um anti-inflamatório administrado via oral, tem baixo custo e sua produção é em grande escala. O ácido acetilsalicílico é produzido em altas dosagens, muitas vezes é recomendado a repartição do fármaco para que assim ele possa atender a demanda de cada paciente. (OLIVEIRA; KUROVSKI,2018)

Essa pesquisa se justifica pelo fato de que quando uma pessoa realiza a compra de um medicamento espera-se que o mesmo tenha qualidade e eficácia, diante das competências farmacológicas, isso faz com que as indústrias farmacêuticas busquem promover mecanismo a regularidade e a uniformidade dos produtos que são produzidos.

Quando um medicamento não cumpre as exigências de qualidade que são fundamentais, eles podem provocar complicações como, por exemplo, a ineficácia de um determinado tratamento quando a dosagem é inferior ao prescrito e também a toxicidade quando a dose é superior ao indicado. Com isso, qualidade dos medicamentos é indispensável não só pelo caráter comercial como também o legal e moral. (OLIVEIRA; KUROVSKI,2018)

Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o local de armazenamento adequado para o medicamento, contendo ácido acetilsalicílico comprimido utilizando o método de titulação ácido-base, para a determinação de teor.

2 MEDICAMENTO

Pela legislação medicamento é “toda substância ou associação de substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventiva de doenças em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas” (Resolução RDC, n°84/02)

Já a farmacopeia brasileira diz: "produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. É uma forma farmacêutica terminada que contém o fármaco, geralmente em associação com adjuvantes farmacotécnicos." (BASILIO, 2016)

No Brasil os medicamentos são comercializados sob três definições distintas, medicamentos de referência, medicamentos genéricos e medicamentos similares (COSTA; GOMES, 2017).

Os medicamentos genéricos são medicamentos que possuem o mesmo princípio ativo, na mesma dose e na mesma forma farmacêutica, sendo administrados pela mesma via e com a mesma indicação terapêutica do medicamento de referência, com o qual devem ser intercambiáveis (CARVALHO; JÚNIOR; RAFFIN, 2006).

Os medicamentos genéricos são os mais procurados pelos consumidores. Os genéricos são mais baratos que os medicamentos de referências em torno de 35%, isso para poder atender ao pessoal de classe baixa a ter um medicamento com mesmo princípio ativo e fórmula farmacêutica, com isso tem a mesma eficiência no tratamento (CARVALHO; JÚNIOR; RAFFIN, 2006).

Em 1991 se deu início a discussão sobre o medicamento genérico. O projeto de Lei 2.022 foi aprovado após longo processo e sancionado pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, se transformando na Lei

9.787, conhecida como Lei dos genéricos. (CARVALHO; JÚNIOR; RAFFIN, 2006)

O medicamento similar tem o mesmo fármaco, porém ele tem de diferentes expecientes e veículo. O similar tem a mesma composição do medicamento referência (ANVISA, 2021). O medicamento similar contém o mesmo princípio ativo do seu medicamento de referência e é identificado pela marca ou nome comercial. Ele só pode substituir seu respectivo medicamento de referência após passar por testes laboratoriais que comprovem a equivalência. Os que já cumpriram esse processo são chamados de “similares intercambiáveis”. (ANVISA, 2021).

3 CONTROLE DE QUALIDADE

O controle de qualidade de medicamentos é um conjunto de medidas destinadas a verificar a qualidade dos medicamentos, a realização desse controle nas indústrias farmacêuticas é muito importante para que assegurem a eficácia, segurança, qualidade e credibilidade dos produtos junto à população que irá consumir estes medicamentos (ROCHA; GALENDE, 2014)

Para garantir a qualidade o serviço deve estar sempre aliado a um custo acessível, para que todos tenham acesso as vantagens que o Controle de Qualidade tem a oferecer as empresas, que são eles: redução de tempo e desperdícios, qualidade no ambiente de trabalho, otimização do processo, dentre outros. (ROCHA; GALENDE, 2014)

Além disso, a credibilidade do medicamento industrializado exige a qualificação do profissional responsável, modernidade das indústrias, qualidade dos serviços e segurança dos produtos. (ROCHA; GALENDE, 2014)

4 ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS)

O AAS (Figura 1) possui efeito analgésico, antipirético, anti-agregante plaquetário e se enquadra no grupo dos fármacos anti-inflamatórios não esteroidais (AINE), indicado para alívio de dores de cabeça, redução do risco de ataque isquêmico e profilático de infarto do miocárdio (COSTA; GOMES, 2017).

A história moderna do ácido acetilsalicílico inicia-se com a salicilina que é

uma estrutura isolada do salgueiro branco, o Salix alba. Esse ácido foi muito utilizado por Hipócrates, o pai da medicina moderna, que prescrevia aos seus pacientes, preparações com as suas cascas e folhas para o tratamento de febre e alívio de dores (COSTA; GOMES, 2017).

Depois do isolamento da salicilina em 1829 por H. Leroux, o químico Raffaele Piria hidrolisou a salicilina obtendo o ácido salicílico se tornando um medicamento muito aceito pela comunidade médica, no trato de febres, artrites e gota (COSTA; GOMES, 2017).

Irritações estomacais em pacientes e seu gosto muito amargo foram as principais desvantagens do ácido salicílico. Em 1897, nos laboratórios alemães da Bayer que Felix Hoffmann propôs a estrutura do ácido acetilsalicílico que possui efeito terapêutico similar ao ácido salicílico, mas evitando seus efeitos adversos (ROCHA; GALENDE, 2014).

Figura 4 – Estruturas quimica da salicilina (a), do acido salicílico (b) e do ácido acetilsalicílico (c).

(a) salicilina (b) ácido salicílico (c) ácido acetilsalicílico

Fonte: (COSTA; GOMES, 2017).

5 MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, experimental, quali-quantitativo, e comparativa, o qual foram analisadas amostras de AAS por meio de titulação. O presente estudo teve como base, a avaliação do teor de ácido acetilsalicílico na forma farmacêutica oral comprimido de 500mg, disponíveis em farmácias e drogarias da cidade de Anápolis, comparadas em diferentes condições e armazenamento domiciliar e estresse com temperatura.

Os ensaios foram realizados no laboratório de Controle de Qualidade da

Faculdade Metropolitana de Anápolis (FAMA).

Todos os procedimentos aplicados na análise dos comprimidos foram executados de acordo com a Farmacopeia Brasileira 6ª edição de 2019.

Para a realização dos estudos foram selecionados medicamentos de referência, genérico e similar contendo ácido acetilsalicílico na forma farmacêutica comprimido 500mg. As análises foram realizadas com todos os rótulos originais envolvidos com nova identificação (na qual foi retirada a embalagem secundária), sendo referência (denominado Ref), genérico (denominado Gen) e similar (denominado Sim), a fim de mantermos o sigilo e a segurança das amostras em análise.

Por um período de quatro semanas as amostras foram encaminhadas a um domicílio na cidade de Anápolis-GO e conservadas em três locais distintos:

banheiro, cozinha e carro (conforme Tabela 1), sendo estes locais usualmente utilizados pela população.

Tabela 5: Locais e condições de armazenamento das amostras

Locais de Armazenamento

Condições de Armazenamento

Banheiro Dentro do armário.

Carro Porta-objetos.

Cozinha Em cima da geladeira, ao lado do micro-ondas.

As análises foram feitas em triplicatas, sendo que a primeira análise foi realizada assim que retiramos o medicamento na farmácia, de imediato armazenamos os fármacos nos locais descritos na tabela 1 e posteriormente fomos realizando as análises de 15 em 15 dias. A reação de neutralização do AAS ocorre segundo a equação:

C8O2H7COOH + NaOH → C8O2H7COONa + H2O (Eq.

2)

No ponto de equivalência, o número de mols do NaOH titulado (nNaOH = 0,1 mol/L x VNaOH) é igual ao número de mols do AAS (nAAS) para cada amostra pesquisada. Logo com nAAS = nNaOH e conhecendo a massa molecular do composto AAS será possível calcular a massa de AAS (mAAS) nos comprimidos.

Para realização do teste foi pesado o comprimido e transferido o volume para um erlenmeyer de 100 mL, juntamente com 20 mL de água destilada solubilizando-o, e 20 mL de álcool etílico sob constante agitação com 5 gotas de fenolftaleína.

Em seguida as amostras foram tituladas com solução padronizada de hidróxido de sódio 0,1mol/L até a ocorrência do ponto de viragem da reação, caracterizado pelo aparecimento da cor rósea.

Sendo assim, para o cálculo do teor de ácido acetilsalicílico utilizamos a quantidade gasta de hidróxido de sódio 0,1mol/L utilizado na titulação vezes a massa molecular de C9H8O4 (ácido acetilsalicílico), onde obtivemos o valor da quantidade de ácido acetilsalicílico em miligrama, assim transformamos em porcentagem.

Quadro 2: Validade dos medicamentos

MEDICAMENTO VALIDADE

REFERÊNCIA 05/23

GENERÉCO 07/23

SIMILAR 04/23

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para as amostras armazenadas no banheiro (Tabela 2) verificou-se que os resultados dos medicamentos de referência foram satisfatórios, o que não ocorreu nos casos do genérico e similar que obtiveram uma perca considerável em suas analises, estando assim reprovados.

Essa perca se deve, principalmente, pelo excesso de umidade do local, podendo acarretar na integridade do fármaco.

Umidade pode estar relacionada aos efeitos da temperatura, ela é outro grande fator que afeta na estabilidade dos produtos. A aderência da água na superfície do produto farmacêutico pode alterar o seu estado físico e afetar sua reatividade, gerando uma degradação indireta. Essa influência pode ser diminuída com a adição de produtos dessecantes ao acondicionamento e também embalagens hiperemiáveis (MIRCO; ROCHA 2007).

Tabela 6: Perca do princípio ativo em mg: Banheiro.

Banheiro

Amostra Análise inicial Primeira quinzena

Segunda quinzena

Genérico 480 mg 458 mg 434 mg

Similar 459 mg 425 mg 389 mg

Referência 499 mg 489 mg 477 mg

Na tabela 3, verifica-se que exceto na análise realizada na primeira quinzena do medicamento referência, todas as demais não obtiveram resultados satisfatórios, não atingindo assim os valores preconizados pela farmacopeia.

A temperatura é um item crucial para a conservação do medicamento, quando ele é exposto a altas temperaturas, como no porta luvas do carro, observamos alta degradação do princípio ativo.

A temperatura é o fator mais importante envolvido na degradação dos produtos farmacêuticos, com o aumento da temperatura, aumenta a degradação química. Essa influência pode ser diminuída com o correto armazenamento:

congelamento, refrigeração, controle da temperatura em todo processo (MIRCO;

ROCHA 2007).

Tabela 7: Perca do princípio ativo em mg: Porta-luvas Porta luva

Amostra Análise inicial Primeira quinzena

Segunda quinzena

Genérico 480 mg 451 mg 413 mg

Similar 459 mg 401 mg 390 mg

Referência 499 mg 486 mg 461 mg

Já as amostras armazenadas na cozinha, conforme tabela 4, mostram que apenas o medicamento de referência obteve resultados dentro do especificado. Os demais sofreram uma degradação considerável, destacando o similar que teve uma perca muito elevada. Um ambiente com temperatura instável pode ter contribuído para a degradação do fármaco.

Tabela 8: Perca do princípio ativo em mg: Cozinha Cozinha

Amostra Análise inicial Primeira quinzena

Segunda quinzena

Genérico 480 mg 455 mg 422 mg

Similar 459 mg 439 mg 414 mg

Referência 499 mg 487 mg 463 mg

.

Durante a primeira análise verificou-se que o teor do fármaco era inferior ao descrito no mesmo, com cerca de 9% de perca no similar, enquanto o genérico perdeu aproximadamente 4% e o de referência apenas cerca de 0,2%.

Segundo os resultados obtidos, observou-se que tivemos uma perca do princípio ativo durante as quatro semanas de armazenamento. Observamos também que dentre os três medicamentos o que mais sofreu a perca foi o similar nas três situações de armazenamento.

O local onde mais houve maior degradação do ativo foi no porta-luvas do carro, levando em consideração que de acordo com pesquisas da Universidade de Saint Louis, Missouri (EUA) um carro pode chegar até 70º C quando a temperatura ambiente chega aos 40º C.

Ao observar as Figuras 3, 4 e 5 temos uma melhor percepção quanto a perca de ativo de cada medicamento (genérico, referência e similar).

É possível visualizar que o medicamento similar foi o que mais sofreu degradação quando comparado aos demais, essas oscilações podem ter sido causadas pelas condições de temperatura, umidade, condições de transporte indústria-comércio, entre outros.

Figura 5: Perda do princípio ativo em percentual do medicamento de referência.

Figura 6: Perda do princípio ativo em percentual do medicamento similar.

Figura 7: Perda do princípio ativo em percentual do medicamento genérico.

.

Para que os resultados das análises fossem satisfatórios, o teor do fármaco teria que estar entre 95% a 105%, ou seja, a perda do ativo não poderia ser maior que 5%. Observa-se nas tabelas 5, 6 e 7 a porcentagem de perda de cada medicamento em relação a análise inicial dos mesmos.

Tabela 9: Resultado de perda do ativo em relação à análise inicial do medicamento de

0,00

2,04

4,61

0,00

2,67

8,24

0,00

2,46

7,78

0,00 5,00 10,00