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ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

No documento DIREITO PROCESSUAL PENAL (páginas 35-43)

6. CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

6.2. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Natureza jurídica do arquivamento

O Código de Processo Penal, ao se referir ao arquivamento do IPL diz que seria mero despacho. Vejam:

“Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II - a decisão que julgar extinta a punibilidade; III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.”

Mas, pergunto a você, seria mesmo um mero despacho? Não! Sem dúvida alguma, o arquivamento do IPL é verdadeira decisão judicial, lembrando sempre que é decisão judicial após o pedido do promotor. O Ministério Público faz um pedido e o Juiz determina o arquivamento do inquérito policial. Ou seja, promotor de justiça não pode arquivar e nem o juiz determinar o arquivamento de oficio.

PERGUNTO: E se o juiz arquivar de ofício, qual é o recurso cabível? É a Correição Parcial!

Fundamentos que autorizam o arquivamento do IPL

a) Atipicidade formal ou material da conduta: A atipicidade formal é a conduta que não configura crime. Exemplo: caso da cola eletrônica que foi tida pelo STF como atípica, não é crime. Atipicidade material da conduta. Exemplo de tipicidade material: princípio da insignificância.

b) Excludente de ilicitude – legítima defesa, estado de necessidade.

c) Excludente da culpabilidade – há uma excludente de culpabilidade que não pode ser objeto de arquivamento que é a inimputabilidade penal. No caso do inimputável é preciso oferecer denúncia a fim de que, ao final do processo, ele seja submetido a medida de segurança.

d) Causas extintivas da punibilidade – exemplos: houve a morte do agente, prescrição, pede-se o arquivamento do IPL.

e) Ausência de elementos de informação quanto à autoria ou materialidade da infração – é a causa de arquivamento mais comum.

A definitividade do arquivamento

PERGUNTO: ARQUIVOU-SE O INQUÉRITO POLICIAL, ACABOU? Aí é preciso lembrar que a coisa julgada pode se formar em duas hipóteses: a primeira, porque não se interpôs recurso ou interpôs recurso, mas o recurso não foi conhecido por falta de pressuposto de admissibilidade ou porque foi conhecido e lhe foi negado provimento. Neste caso, haverá a coisa julgada. Essa coisa julgada aí colocada subdivide-se em:

 Coisa julgada formal – é a imutabilidade da decisão no processo em que foi proferida.

 Coisa julgada material – pressupõe a formal e consiste na imutabilidade da decisão fora do processo no qual foi proferida a decisão.

Como perguntei, foi arquivado o inquérito. Acabou? Depende! Se a decisão foi proferida com coisa julgada formal, naquele processo ela é imutável, mas nada impede que um novo processo seja instaurado. Quando se diz que a coisa julgada é formal e material, aí acabou de forma definitiva. A decisão tornou-se imutável dentro e fora daquele processo. O indivíduo jamais poderá ser processado por essa mesma conduta.

É essa a pergunta que seu examinador fará: o arquivamento faz coisa julgada formal ou faz coisa julgada formal material? A resposta é: depende do fundamento do arquivamento.

Nessas quatro primeiras hipóteses (atipicidade, excludente da ilicitude, da culpabilidade e causa extintiva da culpabilidade), o arquivamento faz coisa julgada formal e coisa julgada material. Quando se dá por falta de elementos de informação, essa decisão só faz coisa julgada formal.

Arquivamento por ausência de elementos informativos

Essa decisão do juiz só faz coisa julgada formal, ou seja, a decisão de arquivamento por ausência de elementos informativos é uma decisão que se dá com base na chamada cláusula rebus sic stantibus. Essa cláusula diz que modificado o panorama probatório, dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento, nada impede o desarquivamento do inquérito policial.

Desarquivamento é tema polêmico no que tange à pessoa que desarquiva. Quem faz isso? Se o arquivamento é decisão judicial, não pode o delegado desarquivar. O desarquivamento é da competência do juiz, mediante pedido da autoridade policial ou do Ministério Público. Essa é a melhor posição da doutrina.

Para que esse desarquivamento seja possível, o que é preciso? Novas provas? Se o inquérito está arquivado, como é possível obter provas novas?

“Súmula 524, do STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.”

Preste atenção: uma coisa é falar em ação penal. Isso significa que para denunciar é preciso novas provas. Já para desarquivar, eu não preciso de novas provas, eu preciso apenas da noticia de novas provas. Para que ocorra o desarquivamento é necessário que haja notícia de provas novas. Não confundir o desarquivamento, que pressupõe

essa notícia de provas novas, com o início da aça penal porque se eu quiser oferecer denúncia não basta notícia, eu preciso de provas novas.

Exemplo: Delegado oficia o Juízo: “Juiz, compareceu a esta delegacia em tal data, uma testemunha informando que saberia dizer quem foi o autor do disparo, peço o desarquivamento do inquérito.”

PERGUNTO: O que vem a ser uma prova nova? O inquérito que foi arquivado e foram ouvidas dez testemunhas. Aparece uma décima-primeira testemunha depois que ele estava arquivado. Essa testemunha é prova nova? Depende do que tenha a dizer. Se ela vai repetir o que as outras disseram, não é prova nova.

Prova nova é aquela capaz de produzir uma alteração no contexto probatório dentro do qual foi proferido o arquivamento.

Cuidado porque alguns doutrinadores falam em prova substancialmente nova e provas formalmente novas. As duas servem como indício para o oferecimento da ação penal.

Prova substancialmente nova – é a prova inédita, ou seja, aquela que era inexistente ou estava oculta quando do arquivamento. Melhor exemplo: a arma do crime que estava desaparecida e com o arquivamento, apareceu. Mesmo exemplo da testemunha.

Prova formalmente nova – é aquela que já era conhecida e até mesmo foi utilizada pelo Estado, mas que ganhou uma nova versão. Em SP isso acontece. As testemunhas são muito usadas. A testemunha vai depor e dá versão que não condiz com a verdade porque estava ameaçada. Cessada a ameaça, ela depõe novamente. Isso autoriza o desarquivamento do IPL e o início da ação penal.

Procedimento do arquivamento

É importante que se saiba que o procedimento acaba variando de uma Justiça para outra. Assim, regra geral temos o famoso art. 28 do CPP:

“Art. 28, do CPP. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do

Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.”

a) Na Justiça Estadual: O Ministério Público vai fazer o pedido de arquivamento ao Juiz. São duas as hipóteses:

 Ou o juiz concorda com o pedido – o inquérito está arquivado.

 Ou juiz discorda do pedido – o juiz vai aplicar o art. 28, do CPP, e manda os autos ao PGJ (Procurador Geral de Justiça). Se ele discordar, pode determinar a realização de diligência? NÃO. Não pode o juiz realizar novas diligências ao invés de aplicar o art. 28. O juiz é simples observador. Se o juiz determinar diligência, o Ministério Público tem o recurso da correição parcial.

Como se chama o princípio embutido na aplicação do art. 28? É o chamado princípio da devolução.

 Princípio da Devolução – o juiz devolve a apreciação do caso ao Chefe do Ministério Público ao qual compete a decisão final. Daí o nome “princípio da devolução” Neste momento em que o juiz aplica o art. 28, ele também está exercendo o fiscal de um princípio: o da Obrigatoriedade do Ministério Público.

Neste momento, o juiz exerce uma função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade.

O PGJ, recebendo os autos, tem 04 (quatro) possibilidades:

1. Pode requerer diligências.

2. Ele mesmo oferecer denúncia.

3. Designar outro órgão do MP para oferecer denúncia – não pode ser o mesmo promotor que pediu o arquivamento (sob pena de ferir a independência). O outro promotor fica obrigado a oferecer a denúncia? A maioria da doutrina entende que ele atua como longa manus do PGJ, por delegação. Neste caso, ele estaria obrigado a oferecer denúncia. Na prática: isso é resolvido pelo chamado “promotor do 28” que é um promotor é convidado a trabalhar com o PGJ (sempre que ele quiser designar o promotor para oferecer a denúncia, designa esse).

4. Insistir no pedido de arquivamento – se o PGJ insiste no arquivamento, o juiz está obrigado a arquivar o inquérito. Não tem mais para onde recorrer.

Este é o procedimento na justiça estadual.

b) Na Justiça Federal (também na Justiça do Distrito Federal e Territórios): É muito semelhante ao procedimento na Justiça Estadual, com um peculiaridade.

O Procurador da República pede o arquivamento:

1) Ou o Juiz concorda – IML é arquivado;

2) Ou o juiz discorda – O juiz aplica o art. 28, mas remete os autos à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF. Cuidado! Então a Câmara é quem decide? Cuidado. A doutrina diz que é a Câmara, neste caso, dá um palpite. Sua manifestação é meramente opinativa porque, na verdade, a decisão final, neste caso, continua sendo do PGR, que pode adotar qualquer um dos procedimentos que vimos para a Justiça Estadual.

c) Na Justiça Eleitoral: Tem promotor de justiça eleitoral? Não! Não existe esse cargo na justiça eleitoral. Quem exerce as funções do Ministério Público eleitoral é o MPF, mas em algumas comarcas do interior, quem exerce as funções do MP eleitoral, é o promotor de justiça estadual.

Então Cuidado! Vamos imaginar que um promotor de justiça (no exercício de funções eleitorais) faz o pedido de arquivamento ao juiz estadual. Se ele concordar beleza! E se ele discordar? O juiz tem que remeter os autos ao Procurador Regional Eleitoral que é um membro do MPF que atua perante o Tribunal Regional Eleitoral, e não ao PGJ!!.

d) Na Justiça Militar da União: Pedido de arquivamento. O juiz na Justiça Militar da União é chamado de juiz auditor. Aqui é semelhante à Federal:

1. O juiz concorda – Concordando com o arquivamento, o juiz auditor tem que mandar os autos ao juiz auditor corregedor. E quais são as possibilidades que o juiz auditor corregedor?

1.1. Juiz auditor corregedor concorda – está arquivado o IMP.

1.2. Juiz auditor corregedor discorda – neste caso, o que o juiz auditor faz? Pode interpor uma correição parcial ao STM, que é o Superior Tribunal Militar. Chegando lá, o que acontece? O recurso vai ser julgado e quais são as possibilidades?

a) STM nega provimento – está arquivado.

b) STM dá provimento à correição parcial interposta pelo juiz auditor corregedor – os autos serão encaminhados à Câmara de Coordenação e Revisão do MPM, que vai opinar mais uma vez.

Neste caso, a Câmara manda para o Procurador Geral de Justiça Militar a quem competirá a decisão final.

2. O juiz discorda – Se discordar, é parecido com o MPF, remete à Câmara de Coordenação e Revisão do MPM que vai dar uma opinião porque a decisão final é do Procurador Geral da Justiça Militar.

e) Procedimento do arquivamento nas hipóteses de atribuição do Procurador Geral de Justiça ou do Procurador Geral da República

Senador da República, Deputado Federal são processados onde? Quem oferece denúncia contra um deputado federal? É o PGR. Se o PGR, ao invés de fazer isso, entender que é caso de arquivamento. Ele precisa fazer um pedido de arquivamento ao STF ou essa decisão se dá dentro do MP?

Em regra, a decisão de arquivamento é uma decisão judicial. Porém, será uma decisão administrativa do PGJ ou do PGR, quando se tratar de hipótese de sua atribuição originária ou quando se tratar de insistência de arquivamento com base no art. 28.

Nessas duas hipóteses, seja quando vai para o procurador do art.28, seja nas atribuições originárias dele (deputado, senador), quem decide é o PGR. Então não é nem uma decisão judicial. É uma decisão de caráter administrativo. É preciso mandar para o STF?

Não!!

Portanto, nessas hipóteses, não é necessário que a decisão de arquivamento seja submetida ao Poder Judiciário. (STF: Inquérito 2.028 e Inquérito 2.054 e STJ: HC 64.564).

Detalhe importante: Nesse caso, só para concluir, se a decisão de arquivamento é do Procurador-Geral de Justiça, cabe pedido de revisão ao Colégio de Procuradores mediante pedido da vítima.

Arquivamento implícito

O tema é tratado na doutrina do Dr. Afrânio Silva Jardim (Professor universitário e Procurador de Justiça do RJ) – segundo ele, tal hipótese ocorre quando o titular da ação

penal deixa de incluir na denúncia algum fato investigado (arquivamento implícito objetivo) ou algum dos indiciados (arquivamento implícito subjetivo), sem expressa manifestação ou justificação desse procedimento.

O arquivamento implícito se consuma quando o juiz não se pronuncia na forma do art.

28, com relação ao que foi omitido na peça acusatória.

Como funciona: O IPL chega ao Ministério Público. O promotor de justiça só ofereceu denúncia em relação a Tício e não a Névio. Não falou nada sobre Névio, não ofereceu denúncia e nem pediu o arquivamento, como deveria fazer. Dr. Afrânio diz que poderia o juiz fazer o seguinte: “Diga o MP sobre Névio, sob pena de aplicação do art. 28”. Se o juiz não faz nada, implicitamente, teria havido o arquivamento com relação ao Névio.

Pergunta-se: esse tipo de arquivamento do IPL é admitido? Não!

O arquivamento implícito não é admitido pela doutrina e nem pela jurisprudência sob um fundamento muito simples: toda manifestação do MP tem que ser fundamentada.

Não dá para presumir que houve um arquivamento.

Arquivamento indireto

Caso o membro do Ministério Público, ao invés de oferecer a denúncia, requeira a remessa dos autos ao Juízo competente, mas o juiz não concorde, deve esta manifestação ser recebida como um pedido de arquivamento “indireto”, aplicando-se o art. 28 do CPP.

Recursos cabíveis no arquivamento

Em regra, a decisão judicial de arquivamento é irrecorrível. Se o juiz arquivou a pedido do Ministério Público, acabou. Não cabe nem mesmo ação penal privada subsidiária da pública (essa só é cabível na inércia e pedido de arquivamento não é inércia do Ministério Público).

 1ª Exceção – crimes contra a economia popular ou contra a saúde pública – nestes casos, tem previsão de recurso de ofício pelo juiz.

 2ª Exceção – contravenções de jogo do bicho e corrida de cavalo fora do hipódromo – recurso em sentido estrito.

Trancamento de Inquérito Policial

Cuidado para não confundir: o trancamento se dá por meio de habeas corpus. Por que? Porque você está sendo investigado e vai dizer que há um constrangimento ilegal à liberdade de locomoção e aí, então, você vai pedir ao órgão jurisdicional competente (juiz ou tribunal), exatamente, o trancamento desse IPL.

Quando é possível o trancamento? O trancamento é medida de natureza excepcional, somente sendo possível em hipóteses de manifesta atipicidade da conduta, presença de causa extintiva da punibilidade ou ausência de elementos demonstrativos de autoria e materialidade.

A instauração do inquérito por parte do delegado diante de uma conduta atípica, por exemplo, desafia impetração de habeas corpus pleiteando o trancamento. Como é apreciado pelo juiz, este poderá determinar o trancamento do inquérito se constatar a ilegalidade.

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