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CARACTERÍSTICAS DO IP

No documento DIREITO PROCESSUAL PENAL (páginas 14-19)

2. DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

2.1. INQUÉRITO POLICIAL

2.2.5. CARACTERÍSTICAS DO IP

1. O IPL é uma PEÇA ESCRITA

Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

PERGUNTO: E gravar o IPL, pode? Hoje temos uma novidade muito interessante: o art. 405, § 1º, CPP. O CPP sofreu uma alteração pela Lei n. 11.719/2008:

Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.

§ 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações.

Isso, entendam bem, está colocado dentro do processo judicial. Porém, o legislador acabou usando termos próprios do inquérito policial: investigado, indiciado (que fazem parte do universo do inquérito policial). No processo é acusado, réu. Agora, alguns doutrinadores já estão dizendo que por conta desse § 1º, eu posso me valer de meio audiovisual para registros na fase da investigação.

Logo, podemos dizer que, em regra ele é escrito, nos termos do art. 9º, CPP. Contudo, excepcionalmente, o art. 405, § 1º, CPP (fase judicial) prevê a possibilidade de utilização de meios da gravação magnética, inclusive audiovisual.

2. O IPL é um PROCEDIMENTO INSTRUMENTAL

COMO JÁ VIMOS, em regra, o inquérito é o instrumento utilizado pelo Estado para colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade do crime. O inquérito

é um procedimento obrigatório (não que deva sempre existir, veremos isso daqui a pouco). Ou seja, havendo um mínimo de elementos, o delegado é obrigado a instaurar o inquérito policial.

PERGUNTO: a vítima faz um requerimento ao delegado e o delegado indefere. Cabe ALGUM RECURSO?? Claro que CABE! Cabe recurso inominado, de natureza administrativa, para o Chefe de Polícia (nomenclatura antiga, hoje, ultrapassada). Hoje, na verdade, o Chefe de Polícia em alguns Estados da Federação é o Secretário de Segurança Pública e, em outros, o Delegado Geral (caso, por exemplo, de SP). E no âmbito da Polícia Federal seria o Superintendente da PF no Estado (art. 5º, § 2º):

§2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.

3. O Inquérito é DISPENSÁVEL

CUIDADO!! O IPL é um procedimento instrumental obrigatório para o delegado, mas ele não é uma peça indispensável para dar início a uma ação penal. Isso significa que se o titular da ação penal contar com outras peças de informação, com provas sobre o crime e de sua autoria, poderá dispensar o inquérito policial.

Vamos ilustrar a situação: Crimes Tributários. A Fazenda Fiscal, por meio de seu procedimento administrativo-tributário já fornece todos os elementos para a instauração da ação penal. Logo, não haverá necessidade de se instaurar um IPL. Outro exemplo:

geralmente uma fraude contra o INSS é investigada via auditoria. Assim, quando ela chega, o Procurador da República (membro do Ministério Público Federal) pode deflagrar a ação penal, sem precisar instaurar inquérito porque já tem as provas para o desenvolvimento do consequente processo penal.

Art.27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

Com base nessa espécie de informação, se já houver elementos suficientes, o Ministério Público, por exemplo, já poderá oferecer a denúncia, mesmo sem a presença do inquérito policial.

4. O Inquérito Policial é SIGILOSO

Essa é uma das características mais famosas do inquérito policial. Mas muita atenção, pois apesar de ser sigilo, existem pessoas que tem acesso aos autos: O Juiz e o MP. E aí vem a pergunta que pode ser cobrada que é aquela relativa ao advogado: “Advogado tem acesso aos autos de IPL?” A Constituição, no art. 5º, inciso LXIII, diz o seguinte:

“LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.”

PERGUNTO: Se o preso tem direito à assistência do advogado, como é que o advogado pode fazer algo se não tem acesso aos autos do IPL? Como, por exemplo, o advogado vai impetrar um habeas corpus? Além disso, o Estatuo da OAB, no art. 7º, inciso XIV, diz que ao advogado é assegurado o acesso aos autos. Esse acesso é irrestrito?

Sobre esse tema, foi editada a Súmula Vinculante nº 14:

“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

Logo, quando o dispositivo estabelece que a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário (art. 20 do CPP), ele precisa ser interpretado com a devida atenção, pois ao juiz, promotor de justiça e advogado, não se aplica o sigilo no inquérito policial.

5. Inquérito é uma peça INQUISITORIAL (OU INQUISITIVA)

Essa característica significa: aqui não há espaço para o contraditório! Aqui também não haverá ampla defesa! Mas, só para te lembrar, no processo penal, óbvio, a coisa é diferente: há contraditório e ampla defesa, pois garantias constitucionais do Réu.

Prova dessa inquisitoriedade do IPL é a previsão legal do § 1º, do art. 305 (prisão em flagrante), do CPP:

§ 1o Dentro em 24h (vinte e quatro horas) depois da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.

Explicando o dispositivo: No Momento da prisão em flagrante, se o autuado não informa o nome de seu advogado, o que o delegado tem que fazer? Tem que remeter cópia à defensoria pública. Se tivesse ampla defesa, ele teria que disponibilizar um advogado para acompanhar a lavratura do auto de prisão em flagrante. Como o IPL é inquisitivo, o advogado não precisa estar presente nesse momento. O que ele precisa é receber cópia do IPL. Logo, o IPL é um procedimento inquisitorial: sem contraditório, sem ampla defesa!

6. O Inquérito policial é INFORMATIVO

Como já visto no conceito do IPL, ele visa à colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal.

Também já sabemos que, os elementos informativos isoladamente considerados não podem fundamentar uma condenação criminal, porém, não devem ser ignorados pelo Juiz, podendo se somar à prova produzida em juízo, servindo como mais um elemento na formação da convicção do Juiz.

PERGUNTO: é possível, além dos elementos informativos, a produção de provas na fase do IPL? Sim, é possível. Vamos estudar agora três espécies de provas que podem ser produzidas na fase do IPL: PROVAS CAUTELARES, NÃO REPETÍVEIS E ANTECIPADAS.

 PROVAS CAUTELARES: são aquelas em que existe um risco de desaparecimento do objeto pelo decurso do tempo. As interceptação telefônica e a busca e apreensão são bons exemplos dessa espécie de prova. Nessas provas cautelares o contraditório é diferido, isso significa ele se dá em momento posterior; assim, depois da interceptação telefonica, quando acabar a diligência, é feito um laudo de degravação, só então, ela será juntada aos autos e, aí sim, é feito o contraditório;

 PROVAS NÃO REPETÍVEIS: são colhidas na fase investigatória porque não podem ser produzidas novamente na fase processual. Essas espécies de provas também têm contraditório diferido; Essa é uma prova colhida na fase investigatória. O melhor exemplo desse tipo de prova é o exame do corpo de delito feito no local do crime. Não há como manter esse local fechado aguardando a fase judicial para realizar a perícia. A prova é produzida na fase investigatória e usada no

processo. Assim, durante o processo penal, o advogado se quiser, que faça uma contraprova;

 PROVAS ANTECIPADAS – em virtude de sua relevância e urgência são produzidas antes de seu momento processual oportuno e até antes do início do processo, porém com a observância do contraditório real;

Cuidado com isso! Os manuais jogam como se as três fossem expressões sinônimas.

Não são! Na prova cautelar e não repetível, o contraditório é diferido. Na antecipada, o contraditório é real. Qual é o melhor exemplo de prova antecipada? R: Art. 225, do CPP:

Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

7. O inquérito policial É INDISPONÍVEL

Essa característica significa nos diz que o delegado não pode determinar arquivamento do IPL, conforme disposição expressa do art. 17, CPP:

Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

Só existe uma “pessoa” que pode determinar o arquivamento do IPL, esse sujeito é o Juiz de Direito mediante pedido do MP.

8. O inquérito policial é DISCRICIONÁRIO

Essa característica do IPL, já nos faz pensar o seguinte: Como pode ser obrigatório e discricionário? É obrigatório para o delegado que tem que instaurá-lo diante de um mínimo de prova, mas é discricionário em relação às diligências a serem tomadas, ou seja, o caminho da investigação se dará por meio de um juízo de conveniência e oportunidade.

Assim, o delegado na hora de conduzir o IPL não fica vinculado a cumprir toda e qualquer diligência. A depender da espécie do crime, promoverá as diligências mais oportunas. Art. 14, CPP:

“Art.14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.”

No documento DIREITO PROCESSUAL PENAL (páginas 14-19)

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