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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 AÇÕES PRÁTICO-PEDAGÓGICAS

4.2.4 Arraial do Ho Chi Minh 15 de julho de

A idéia de construir uma festa junina no assentamento em parceria com o Coletivo TERRAS surgiu logo na primeira reunião da Frente de Plantas

111 Medicinais, no começo de maio de 2006. A idéia inicial era fazer uma noite cultural para celebrar o fim da gincana que íamos organizar sobre coleta seletiva de lixo. A gincana não aconteceu, mas a vontade de fazer essa festa permaneceu. Uma possível razão para não termos conseguido fazer a gincana é o fato de que a pesquisadora não quis organizar sozinha a gincana, fazendo tentativas de atribuir responsabilidades aos/as integrantes do Setor de Saúde.

Os/as participantes da Frente de Plantas Medicinais, ao discutir o desinteresse do povo em participar das reuniões, percebeu como uma importante causa disso a falta da mística e das noites culturais, que estavam muito mais presentes em tempos de acampamento e que agora não mais existiam.

O acampamento quando tá com 1 ano, todos os setores funcionam. 1 ano e meio, começa a ter uma decadência. Com 2 anos, começa a faltar alguns setores. E três anos é o cansaço. Aí nós tem que (...) sabê: quê que tá faltando no assentamento?

É mística, noite cultural, pra tar envolvendo essas pessoas mais. (...) Nós tem que

procurar envolver essas pessoas mais é na mística. A mística fala a história, e

resgata aquilo que a gente tá perdendo. Esse vigor. (...) Porque quando num tem

umas noites cultural as pessoas se dispersam. Agora, quando há um convívio de

dançar, de brincar... Que aí a gente vai se aglutinando, Ana. Aí é o método que a gente tem. (...) Aí aquele que é estranho com o outro, já passa como invejoso, dialogar, se aproximar um do outro. Agora, como nós viemos pra cá, quanta noite

cultural nós tivemos aqui? Tivemos duas! Cabô, morreu, e as mística? Cabô a mística!

Isso reflete em todos os setores, viu, do Carmo? É todos!

Ronaldo, 12/06/2006 A animação através da mística e da noite cultural, segundo assentados/as, era também importante para resgatar a pertença e identidade Sem Terra das famílias da área.

O pessoal volta a envolver nas coisas, o povo sente parte. Se não sentir parte, não

adianta. (...) E o que eu vejo aí (...) que um longo tempo, do Carmo, às vezes as pessoas cansa. E quando acaba a mística dentro de si, cabo tudo. E a noite

cultural vai resistir! (...) Que envolve nós aqui é recuperar essa pertença.

Ronaldo, 12/06/2006 É alguma coisa que vai mostrano pra eles que não tá na hora de tá cansado, que é (...) hora de tá começano agora. Aí se a gente desanimar, então (...) nós vai juntar tudo

e ir embora pra nossas casa. Né? É, uai, se ficar desse jeito, desorganizado assim, não funciona assentamento assim. Eu já participei de assentamento que

teve... Muita cultura no assentamento. De plantação, mas (...) num é o plano do acampamento. Não é plantar, é mais unir as pessoas. (...) Num é ocê ir lá, só cavar a

terra, plantar mio, plantar feijão. Mas é a continuação das pessoas. (...) Senão vai ficando perdido. Vai acabando o assentamento. Não vai ter mais assentamento. Não vai nem ser Sem Terra. Porque eles fala assim... Ah, ganhou terra, muita terra,

agora tem terra. Não é Sem Terra. Identidade é sempre Sem Terra. Pra quem continuar dessa forma.

Maria do Carmo, 12/06/2006 Decidimos então fazer uma festa, que a princípio desenvolveria o tema da saúde na área, para ajudar também a estimular o funcionamento do Setor de Saúde. O evento se chamaria “Arraial da Saúde do Ho Chi Minh”.

Sabe o que nós pode fazer no Setor de Saúde (...) pra gente começar a puxar esse povo? Fazer uma noite cultural. Cada núcleo vai apresentar um causo de

saúde da roça. Pode apresentar um bate papo, que aconteceu na roça... Fulano mordeu o outro, o cachorro tava zangado, tem que usar o remédio, não tinha o remédio, tem que procurar o doutor, o doutor não encontrou, tem que voltar pro mato, e fazer uma estória assim. (...) Nós pode tá criando isso aí. (...) E quando acabar a nossa noite cultural a gente dá uma reforçada no Setor de Saúde pra (...) reanimar o

povo!

Ronaldo, 12/06/2006 Depois, estendemos o evento para contribuir não apenas no Setor de Saúde, mas também na articulação de outros setores diversos.

É isso aí. Aí nós chamava o setor de educação... Outros setores aí, pra ajudar... De repente fazer uma reunião até ampliada segunda-feira. Chamar um de cada setor aí, porque essa idéia é pra desenvolver não só no Setor de Saúde, como todos

setores também.

Ronaldo, 12/06/2006 Foram convidados para o Arraial diversos membros, amigos e parceiros do MST. A presença de pessoas de fora contribuiu também para a elevação da estima dos/as assentados/as.

Ah, chamar autoridades. (...) Que é bom, né? Que o pessoal vê tudo... (...) No meio

de nós. Que essa cultura aqui não é da cidade, não é mecanizada. (...) Nossa cultura. Apostar nela. A gente convidar o povo, uai.

Ronaldo, 12/06/2006 Por fim, o foco do Arraial do Ho Chi Minh deixou de ser a saúde, mas passou a ser a animação do povo. Essa festa conseguiu envolver em trabalho coletivo diversos/as assentados/as. A alimentação, a limpeza, a decoração, a preparação da quadrilha e do som, a mística e as brincadeiras infantis foram

Quadrilha do Arraial do Ho Chi Minh

organizadas conjuntamente

pelos/as assentados/as e pelo Coletivo TERRAS.

Durante a festa, foi exibido um painel de 100 fotos, divididas por temas: “1o Encontro Terra Livre: Saúde Como Prática de Liberdade”, “TERRAS”, “Enfim... Legitimação”, “Dia de Saúde no Ho Chi Minh”, “Seminário de Plantas Medicinais”, “Assembléia do Lixo: Ecologia e Saúde”, “PDA e avante!”, “O rio”, “As crianças”, “Os bichos” e “Ho Chi Minh”. No dia seguinte, algumas das fotos foram presenteadas aos assentados e assentadas.

A festa agradou muito à comunidade e levantou o ânimo dos/as assentados/as para participarem das outras atividades do assentamento. Isto pôde ser observado na atividade “Exibição de Vídeos”, que se deu no dia seguinte ao do Arraial.

E trabalhar o coletivo, (...) pode tar servindo a comida coletivamente, igual a gente (...)

planejou essa festa... Coletivamente. Já pensou se fosse só pra um planejá ela

[risadas], se num fosse um tiquinho de cada um e a gente não conseguiria. Por aí

a gente vê o desenvolvimento do Movimento nos assentamento, tá começando por

aí, nos teatro, nas mística, no artesanato, na... Até mesmo na (...) quadrilha, socializou com os menino aí, e ficou bacana, né? (...) Eu acho que é assim mesmo, é, a gente

às vezes cobra a presença de todos mas é com tempo que eles vão pegando a (...) pertença e sentindo assim... que faz parte desse... desse Movimento. Né? É

porque eles mesmo não tem pertença, e também às vezes não entende e aí é com esse trabalho da gente junto é que vai dando experiência pros outro ir chegando e fazer junto com a gente. E também agradecê, né, a presença deles [estendeu a mão com a palma pra cima, mostrando os membros do TERRAS e do Grupo de Agricultura Ecológica, que estavam presentes], contribuiu demais, foi bom, né? E com isso

envolveu os adolescente, as criança, e eles trabalharam essa semana fazendo as bandeirinha, preocupado com a quadrilha, e é dessa forma que começa a se organizar e se envolver.

Maria do Carmo, 16/07/2006

4.2.5 Exibição de Vídeos