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2 O UNIVERSO ONDE ESSA PESQUISA SE INSERE

3.2 Coleta de dados

Nessa pesquisa-ação, o objetivo (e não o método) que ditou o que seria feito, para se evitar a adequação forçada da realidade aos limites do método (MACIEL, 1999).

A coleta de dados foi realizada por meio de diversos recursos metodológicos: observação militante, reflexão, diário de campo, fotografias, entrevistas e ações. As ações eram pensadas em campo, sendo simultaneamente método para coletar novos dados e dados propriamente ditos. Por essa razão, essas ações serão melhor tratadas na parte de Resultados e

Discussão.

3.2.1 Observação militante

A presença do/a observador/a numa situação social é mantida para fins de investigação científica. O/a observador/a fica em relação face a face com os/as observados/as e, em participando com eles/as em seu ambiente natural de vida, coleta dados. É importante ressaltar a diferença entre observação militante e observação participante. A observação participante significa apenas

a convivência de perto com o objeto de pesquisa, enquanto a observação militante implica em envolvimento político com a comunidade (DEMO, 2003). O/a observador/a é parte do

contexto observado no qual ele ao mesmo tempo modifica e é modificado. A observação militante não é só um instrumento de captação de dados, mas também um instrumento de modificação do meio pesquisado (HAGUETTE,

2003). Assentamento Ho Chi Minh

A pesquisadora esteve inserida no contexto do assentamento, atenta ao que via ou ouvia. Essa técnica permitiu a captação de informações que não seriam obtidas por meio de entrevistas. Foram feitas perguntas pela pesquisadora, porém de maneira informal. Os dados assim obtidos foram registrados prontamente, de maneira escrita, a fim de garantir a maior fidelidade aos fatos e riqueza de detalhes possível. Fotografias também foram utilizadas como forma de registro (MELLO, s/d).

A pesquisadora pôde participar de atividades e festividades de grande importância para os/as assentados/as. Alguns exemplos disso são a Cerimônia de Legitimação, na qual houve a homologação da terra para as famílias, seguida de muita festa; a passagem da Equipe de PPOA (Processo de Planejamento e Organização do Assentamento) pela área, e a celebração do 1o Aniversário do Assentamento, que ocorreu juntamente com a inauguração da agroindústria de beneficiamento de cana-de-açúcar instalada no local.

3.2.2 Reflexão

Foram registradas reflexões semanais sobre o trabalho de campo. Como a pesquisadora estava inserida no contexto, esta técnica permitiu registro das impressões, possíveis descobertas, vieses, dados, discussões éticas, sentimentos e outros resultados que vieram da experiência de estar realizando um trabalho de campo.

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3.2.3 Diário de Campo

Segundo Morse e Field (1995), um Diário de Campo detalhado é necessário para um bom estudo qualitativo. Todas as observações pertinentes feitas na comunidade foram registradas em Diário de Campo (histórias de vida, bate-papos, acontecimentos observados ou relatados, ocupação e uso do solo, clima, estradas, contato de pessoas). Esses dados foram utilizados para debate ou como exemplos nos encontros no assentamento, sendo inclusive utilizados como ferramenta auxiliar na compreensão dos processos da comunidade e sua situação, contribuindo para delineamento das medidas a serem tomadas (MELLO, s/d).

3.2.4 Fotografias

A fotografia é mais do que a representação do real, mas um instrumento de transposição, de análise, de interpretação e até de transformação do real. As fotos são um elemento fecundo para a compreensão do vivido (MELLO, s/d). Quando se projeta essa representação – as fotografias – os/as agentes fazem uma operação que, segundo Freire (1969), se encontra na base do ato de conhecimento: se distanciam do objeto cognoscível. Esse processo permite que os/as agentes se distanciem, para que possam decodificar a realidade, chegando a um nível crítico de conhecimento que começa pela sua própria experiência, em seu contexto real.

Família de Sueli

Sem dúvida, quando os homens percebem a realidade como densa, impenetrável e envolvente, é indispensável proceder a esta procura por meio da abstração. Este método não implica que se deva reduzir o concreto ao abstrato (o que significaria que o método não é de tipo dialético), mas que se mantenham os dois elementos, como contrários, em inter-relação dialética no ato da reflexão.

Paulo Freire (1979) As fotos, além de serem documentos do processo da pesquisa, foram utilizadas como material didático, seguindo a metodologia proposta por

Cameron e Gibson (2005). Barbier (1985) também descreve uma pesquisa na qual Laurence Wylie, em 1948, tirava fotografias no vilarejo onde pesquisava. Nas palavras de Wylie: “com isso, o meu papel ficou definido. Eu era o fotógrafo do vilarejo. (...) Posso garantir que a minha curta carreira de fotógrafo foi bem útil para o livro, pelos contatos naturais que através dela estabeleci com o pessoal de Peyrane”.

As fotografias foram também expostas no assentamento, no Arraial do

Ho Chi Minh, sendo algumas delas presenteadas aos assentados e

assentadas, favorecendo a integração da pesquisadora e o estabelecimento de contatos.

3.2.5 Entrevistas

Entrevista é uma conversa orientada para fins de pesquisa. Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas a duas assentadas. Entrevistas semi- estruturadas são aquelas nas quais o/a entrevistador/a segue um roteiro com tópicos ou questões que deseja explorar, sendo os roteiros pensados individualmente para cada pessoa a ser entrevistada. Este foi o tipo de entrevista escolhida para a presente pesquisa por não deixar de fora quaisquer observações interessantes não previstas pela pesquisadora no momento de elaboração destas, apesar de permitir que a pesquisadora use uma seqüência de temas sobre as informações que deseja obter. Dessa maneira, as entrevistadas tiveram maior liberdade para se expressarem sobre o conteúdo em questão. Os pontos que necessitavam de maior aprofundamento eram investigados durante o diálogo.

A seleção das entrevistadas não foi feita ao acaso, seguindo critérios sugeridos por Turato (2003), e levou em conta o seu alto grau de envolvimento nessa pesquisa. Os relatos que essas assentadas faziam fora das reuniões valia à pena ser registrado.

Além de gravações de áudio, foram feitas anotações durante e imediatamente após as entrevistas para registrar observações e impressões da pesquisadora. Coube à pesquisadora a avaliação do grau de correspondência entre as informações prestadas pelas entrevistadas com a realidade (MELLO,

65 s/d; DEMPSEY; DEMPSEY, 2001; HAGUETTE, 2003; GASKELL, 2003; MORSE; FIELD, 1995).

As entrevistas foram conduzidas após a assinatura do termo de consentimento informado. Elas foram realizadas na residência das participantes, respeitando o seu desejo, como sugerido por Morse e Field (1995).

O roteiro que foi utilizado para a entrevista pode ser lido no Anexo 3 dessa Dissertação.

3.2.6 Ações

Vá ao povo; ame-o; aprenda com ele; faça planos com ele; sirva-o; comece com o que ele tem; aproveite o que ele sabe. Mas, quando dos melhores líderes a tarefa chega ao fim, quando seu trabalho termina, todo povo diz: “fizemos tudo isso sozinhos”.

Poema chinês (WERNER; BOWER, 1984)

Como já foi colocado no item Revisão Bibliográfica, a pesquisa-ação implica em execução de medidas elaboradas em parceria por pesquisadores/as e comunidade para sanar os problemas percebidos. No momento das ações, também eram coletados dados para subsidiar novas reflexões e ações, e por isso essas estão sendo mencionadas nesse capítulo. Ocorreram no assentamento diversas ações de caráter prático-pedagógico.

As ações de caráter predominantemente pedagógico foram as reuniões, o Seminário de Plantas, a Assembléia do Lixo: Ecologia e Saúde e a Exibição

de Vídeos.

As famílias do MST têm hábito de fazer reuniões (SETOR DE FORMAÇÃO, 2005), sendo a participação em reuniões um importante meio para a coleta de dados nessa pesquisa. As reuniões ocorreram em diversos locais: ao ar livre no assentamento, na sede da fazenda, no galpão da agroindústria, na barraca do Coletivo TERRAS e na barraca de assentados/as. Na área, a pesquisadora participou de reuniões em diversas instâncias, a saber:

• reuniões com a Coordenação; • reuniões com o Setor de Produção;

• assembléias;

• reuniões para estudo;

• reuniões com o Setor de Saúde, algumas delas abertas para outras pessoas da comunidade que quisessem participar;

• reuniões com a Frente de Plantas Medicinais, grupo semi-aberto (tinha uma rotatividade dos/as participantes) formado por agentes da comunidade;

• reuniões do Grupo de Mulheres;

• reuniões do Grupo de Plantas Medicinais.

As ações de caráter predominantemente prático foram o Arraial do Ho

Chi Minh, a implantação das hortas alimentícia e medicinal, a caminhada para reconhecimento das plantas medicinais nativas, o Álbum de Plantas Medicinais do Ho Chi Minh, a Oficina de Preparo de Fitoterápicos e a comercialização de plantas medicinais secas.

Na realização dos eventos e de outras medidas na área, não apenas os/as agentes que participavam das reuniões estavam envolvidos/as, mas sim a comunidade como um todo.