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Saúde antes e depois de entrar pro MST: ”Aqui no movimento a gente

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3 CONHECIMENTO E UTILIZAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS NO HO CHI MINH

4.3.3 Saúde antes e depois de entrar pro MST: ”Aqui no movimento a gente

aprende muito isso, né? Ter essa liberdade, que a gente num tem lá fora”. Alguns membros da comunidade relataram os impactos em sua vida após entrarem para o MST e irem para o campo:

De roça, assim, fazenda, eu morava muito tipo assim, no sítio, trabalhando de empregada pros outros. (...) Mas quando foi pra outra fazenda que eu comecei a

participar dentro, junto com o povo. Junto com as família, né? Aí foi que eu fui começano a compreender, né? Colocar na minha cabeça. (...) Aí foi que... Entreguei. Fiquei entregada de vez, né?

Maria de Lourdes, 26/10/2006 Eu achei que num ia ter como eu voltar pras roças mais não, mas Deus [me pôs aqui]. A roça pra mim tá bom, que eu fui nascida na roça. Meus menino em casa: “Mãe, sai desse trem, mãe. Fica lá não. Vem embora”. Eu falo assim: “Ah, mas eu tô lá porque eu gosto, sabe?” (...) A gente nasce naquele lugar... Acho que Deus quer que a gente,

(...) no momento, vai praquele lugar mesmo. (...) Desde pequenino nós lá e vem crescendo, todo mundo na roça, e depois cresceu, ficou véio... Na roça. (...) Eu mudei pra aqui, e aqui estou de novo na roça. E tornei a vortá de novo!

Izabel, 27/09/2006 As referidas condições de saúde das pessoas também se alteraram consideravelmente após sua entrada para o MST e sua mudança para o campo. Houve diversos relatos de doenças que desapareceram ou diminuíram de intensidade após a mudança das pessoas. Os/as assentados/as atribuíram isso à redução da sua exposição à poluição e ao estresse urbano, além de uma alimentação mais farta, variada e de melhor qualidade. A elevação de sua autonomia, ou seja, a possibilidade do autocuidado, também determinou uma melhora na sua saúde.

A gente pode ver aí que a relação política do movimento com relação ao uso de plantas medicinais é muito interessante, né? (...) É importante essa relação. Porque

a gente sai lá da sociedade lá, você vê que pra tudo que você vai fazer na cidade

hoje você precisa ter dinheiro. Pra tudo. Hoje pra você viver na cidade lá,

infelizmente, o que move a cidade são os mercados, né? Aí fica complicado, (...)

muitas vezes o companheiro sai lá da cidade e vem pra cá, mas não entende essa política do movimento que é construir uma nova sociedade, né? Através do coletivo, através da ajuda, da auto-ajuda, né? E mesmo da auto-sustentação que vem da natureza, né? E às vezes fica muito na base do poder de compra, fica preso ali, na cidade, né, num se solta. Não se solta, não se liberta aí daquela rotina

da cidade ali que é: tudo que ele precisar ele vai lá e compra, e tal. E às vezes a gente pode ver que a gente tem que libertar disso. Né? E aqui, aqui no movimento a gente

aprende muito isso, né? Ter essa liberdade, que a gente num tem lá fora. Por exemplo, um Seminário [Seminário de Plantas Medicinais] desse aqui, né? Pra tá discutindo aqui... Em relação à (...) medicina e tudo. Lá na cidade cês num vê, é muito difícil, aqui você vê. Aqui você tem essa oportunidade de tá fazendo essas

discussões e de tá chegando aí num consenso do que é melhor pra gente tá vivendo cada dia mais. (...) Como se diz: saúde? Saúde da gente é a gente que faz. É o meio onde você vive, é o meio que você comunica com as pessoas. É isso que vai fazer a sua saúde. (...) Sentá num ambiente igual esse aqui, ó, debaixo duma árvore, numa sombra, respirando esse ar. O ar puro, né? É bom demais, né? (...) Então pra mim a

relação é ótima, né? Essa questão de saúde com as linhas políticas do movimento e questão de (...) plantas medicinais. (...) Quando eu vou lá pra cidade, (...) de tar no meio dos carros ali e tal, aí (...) eu fico sem fôlego, ofegante, eu não consigo respirar direito. (...) E já quando eu tô no meio (...) do mato, e tal, onde

139 tem mais verde, (...) eu me sinto bem. O ar muda, né? O clima muda. Já respiro

melhor. (...) São formas de combater também.

Edson, 11/02/2006

Quando eu cheguei até aqui, eu inda era uma pessoa muito doente. Muito nervosa,

muito depressiva, muito... A pele, eu num sei se você chega a lembrar... Era tudo ferida, minha pele... Eu num podia ficar no sol, começava a ferir... (...) Eu tinha doença de lupus. (...) Eu tomava muito mais remédio. Vários tipos de remédio. (...) Agora

eu... Tomo mais é chá de planta... Essas planta aí que eu planto, né? E o que eu mais gosto de fazer nessa fazenda é (...) plantar minhas horta, meus remédio. (...)

A gente é muito bem alimentado, porque tipo assim: quatro anos depois que eu tou aqui, morando aqui, nunca mais eu num comprei nem arroz, nem feijão, nem verdura. (...) Essas coisa assim eu comprava tudo, tinha que comprar de tudo. (...) Quando eu queria comer um couve eu tinha que comprar, um ovo eu tinha que comprar... (...)

Tenho tudo até, assim, fartura. (...) Eu tenho achado que pra mim, sair da cidade e

vim pra roça, foi (...) uma maravilha, né, foi bom demais. E a minha saúde, igual cê

tava perguntando, melhorou foi 100... Não, foi 200%. Num foi 100 não. (...) Foi a saída... (...) Eu agradeço mesmo o Movimento, depois deu ter vindo pra cá mudou muita coisa.

Maria de Lourdes, 26/10/2006

Inhantes deu tar nesse movimento eu ficava mais no hospital do que em casa.

Era direto no hospital. Direto no hospital! (...) Eu memo entrava, eu memo saía, eu memo internava, eu mesmo saía... (...) Foi muito tempo desse jeito, Ana. (...) Quando eu num tava queixando uma coisa era otra, quando num era uma coisa era outra, e aí

depois, quando eu entrei nesse Movimento, minha fia, cabou. Não senti nada mais

não. (...) Mas, inhantes de eu tar nesse meio dessas coisa aqui, já era, eu ir na

minha casa era visita pra mim!

Izabel, 27/09/2006

4.4 REFLEXÃO SOBRE O USO DA FITOTERAPIA E O USO DOS