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Implantação da Sala de Preparo de Fitoterápicos e do horto medicinal

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Implantação da Sala de Preparo de Fitoterápicos e do horto medicinal

De cima para baixo: Manjericão e Capeba

Tem que preparar assim um lugar pra nós já começá a fazer os remédio. (...) Porque na

verdade já tem muitas plantas aqui que dá pra preparar remédio. Porque ó procê vê. (...) Tem um manjericão, (...), ele tá com pé desse tamanho. Uma coisa mais linda aquelas folhona. (...) Tem hortelãzinho então, tem hortelã roxo, tem aquele outro negocio que fala que é novalgina. Tem (...) um monte de negócio aí. Já tá bom de usar. Pra fazer... Essa bicha aí, capeba. A Ana tem a receita da capeba, o tanto de remédio que da pra fazer da capeba assim. Carqueja. Muita carqueja aqui nois pode juntar na mão mesmo. Aquele... Chapéu-de- couro. Nossa, que tem na fazenda nossa ali (...) no baú. Naquele brejo do baú ali tem muito.

Maria de Lourdes, 31/07/2006

A PNPMF promove a inclusão da agricultura familiar nas cadeias e nos arranjos produtivos das plantas medicinais, insumos e fitoterápicos, estimulando o uso sustentável da biodiversidade nacional e também apoiando iniciativas comunitárias para a organização e o reconhecimento do conhecimento popular. Apesar da PNPMF ser um incentivo ao mercado interno de plantas medicinais (MAPA, 2006) e ter como uma de suas estratégias a disseminação de boas práticas de preparação de remédios caseiros, ainda não há legislação para as farmácias de fitoterápicos populares (BRASIL, 2006), e aqueles que se aventuram nessa empreitada passam por muitas dificuldades por não saber como são as condições adequadas para tal. Mesmo quando se deseja cumprir as normas, estas (ainda) inexistem.

A Sala de Preparo de Fitoterápicos será utilizada tanto para secagem de plantas quanto para preparo de medicamentos. Esses recursos serão de uso gratuito para a comunidade e de venda externa, para gerar renda para o assentamento. As plantas continuarão sendo secas, fragmentadas, embaladas e comercializadas. Travesseiros aromáticos serão também preparados, colocando-se plantas dentro de almofadinhas de pano. O trabalho que segue à coleta (secagem, armazenagem, fragmentação, beneficiamento, costura e embalagem) será realizado pelo mesmo grupo. Novas famílias poderão integrar-se ao projeto. Pretende-se inserir esses produtos no mercado mineiro,

especialmente na Loja da Reforma Agrária do MST, que no momento está localizada no SITRAEMG.

A Sala de Preparo de Fitoterápicos localizar-se-á no galpão da agroindústria de beneficiamento de cana-de-açúcar, próximo à horta de dois núcleos de base do assentamento, pois assim os/as trabalhadores/as aglutinar-se- ão, tendo em vista a formação futura de uma cooperativa no local que costurará todos esses três projetos (plantas medicinais, produtos da cana e produtos de horta) em um único. Essa cooperativa será gerida de forma igualitária pelos assentados que a

comporem. Outros/as

assentados/as serão envolvidos na adequação da sala, em trabalhos de

marcenaria e construção,

necessários para garantir a qualidade dos produtos.

Joyeux (1975) se perguntava: “Os trabalhadores realmente desejam gerir os instrumentos de

Setor Nacional de Saúde (2000)

produção e de troca? Se se lhes der à escolha entre a gestão indireta por intermédio do Estado e a gestão direta com todas as responsabilidades que pressupõe e a obrigação de assumir tanto os êxitos quanto os insucessos, escolherão essa última?” E respondia: “Talvez. Porém mais pelo lucro e pela possibilidade de se realizar no trabalho do que pela compreensão da necessidade de uma gestão igualitária”.

153 Os marxistas, muitas vezes como um meio de promoverem suas teorias, têm “ornamentado as massas com todas as virtudes”. Mas sabemos que os homens chamados a gerir suas cooperativas não serão subitamente tocados pela graça, e nem, nas palavras de Joyeux, “transformados pela varinha mágica da fada revolucionária em indivíduos de elevada consciência”. Serão homens à imagem daqueles que conhecemos hoje, com suas qualidades e defeitos, sua grandeza e mesquinhez, e com uma compreensão freqüentemente contraditória de seus interesses particulares. É um desafio do MST a conscientização dos/as trabalhadores/as para o estabelecimento de suas cooperativas.

O uso comunitário de recursos naturais, o uso de equipamentos produtivos indivisíveis ou a aplicação de recursos financeiros coletivos para atividades comuns aos assentados e assentadas que os organize em torno desse investimento tem sido induzido pelo MST. A cooperação produtiva é elemento chave na estratégia do Movimento, pois poderá contribuir na criação de condições materiais e sociais para a melhoria de vida das famílias assentadas. A participação e a convivência são estratégicos também para a formação dos/as trabalhadores/as (SPCMA, 2006b; ALBUQUERQUE et al., 2004).

O assentamento Ho Chi Minh também tem a seu favor o fato de que é o assentamento mais próximo à capital do estado, Belo Horizonte. A produção agropecuária ligada a agroindústrias, contando com a presença de mercados específicos, tende a se beneficiar dessa localização estratégica, conseguindo inserir-se nas cadeias produtivas (ALBUQUERQUE et al., 2004). Os produtos chegam a menor custo para o mercado consumidor, o que muitas vezes é fator imprescindível para a viabilização da produção.

É interessante ressaltar que o trabalho com produtos agrícolas ou correlatos (como as plantas medicinais) e a produção dos itens dos quais os/as assentados/as necessitam é igualmente um elemento para a estruturação do novo tipo de assentamentos que se tem pensado dentro do Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST. Essas estratégias visam a sustentabilidade das áreas (SPCMA, 2006b).

Até o fim do ano de 2007, estarão sendo também coletadas plantas cultivadas em horto, que começará a ser implantado quando a Sala de Preparo de Fitoterápicos estiver funcionando.

E teno a Ana lá fora, com o grupo TERRAS, vai aprendeno muito mais coisa e vai trazer pra ensinar pra gente, a gente vai formar esse horto, com fé em Deus, né? (...) Já tem o início. (...) Porque se tem aí um grupo de cinco, seis pessoas que queira a gente pode ter certeza que os outros se inclui depois. Nunca desanimar.

Marilene, 16/07/2006 Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2006), as plantas medicinais podem representar um componente importante no processo produtivo de agricultores familiares, pois têm um baixo custo de produção e rendimentos por área relativamente elevados. Além disso, essa é uma atividade pouco mecanizada e geradora de oportunidades de trabalho que podem ser planejadas e distribuídas ao longo do ano. Os dados do MAPA confirmam também o crescimento do mercado mundial de plantas medicinais.