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3.5. Os Arranjos Produtivos Locais Paranaenses

3.4.2 Caracterização dos Arranjos Produtivos Locais

3.4.2.4 Arranjo Produtivo Local de Cianorte

O APL de Confecções de Cianorte está localizado na Região Noroeste do Estado do Paraná, e abrange os municípios de Cianorte, Cidade Gaúcha, Guaporema, Indianópolis, Japurá, Jussara, Rondon, São Manoel do Paraná, São Tomé, Tapejara, Tuneira do Oeste, Nova Olímpia, Tapira e Terra Boa (IPARDES, 2006d). Na tabela 4 são expostos os municípios selecionados na caracterização do APL.

Tabela 4 - Municípios integrantes do arranjo produtivo local de confecções de Cianorte Município PIB Per Capta (R$

1,00) - 2015 Área Km² População Censitária Estimada -2016 IDH - 2010 Cianorte 30.248 809,232 69.958 0,755 Cidade Gaúcha 23.844 403,636 11.062 0,718 Guaporema 20.700 200,755 2.219 0,719 Indianópolis 86.448 122,187 4.299 0,724 Japurá 20.088 166,515 8.549 0,712 Jussara 28.652 207,709 6.610 0,718 Rondon 30.023 550,855 8.996 0,713 São Manoel do Paraná 20.011 96,186 2.098 0,725 São Tomé 26.398 217,391 5.349 0,725

Tapejara 25.935 599,324 14.598 0,703 Tapira 17.525 435,027 5.836 0,697 Terra Boa 21.474 325,656 15.776 0,728 Tuneiras do Oeste 18.633 698,433 8.695 0,695 Fonte: IPARDES (2018).

Com a decadência do ciclo do café na região, em 19759, o município de Cianorte decidiu apostar na industrialização como forma de amenizar os efeitos da crise causada pela decadência do modelo econômico de base agrícola (IPARDES, 2006d). O surgimento da indústria de confecções no local é datado do ano de 1977, quando uma família de libaneses, que já atuava no comércio de produtos do vestuário, decidiu abrir uma empresa para fabricação de peças próprias. Inicialmente, um dos filhos da família percebeu a abundante mão-de-obra local e, após realização de curso de corte e costura em São Paulo, capacitou pessoas para atuarem no segmento, recrutando-as em uma indústria criada por ele (BATISTA e ALVAREZ, 2007; LIMA, 2006). A experiência familiar bem-sucedida estimulou a abertura de novos negócios locais, que passaram a crescer em número e gerar novos postos de trabalho (IPARDES, 2006d).

Para Lima (2006), durante o período inicial da atividade na região, o processo de reestruturação da cadeia produtiva têxtil-vestuário, motivado pela busca pela redução de custos durante o período recessivo da economia brasileira, levou as grandes empresas paulistanas, predominantes no cenário nacional, a transferir suas unidades produtivas para localidades onde prevalecessem custos produtivos menores. Acredita-se que a mão-de-obra advinda da lavoura, através do êxodo causado pela crise do café foi a grande impulsionadora da indústria do vestuário no município de Cianorte10, justamente pelo baixo custo de remuneração (LIMA, 2006).

Com o passar dos anos, a atividade foi crescendo, marcada pela criação de instituições representativas das categorias do setor. Em 1986, foi fundado o Sindicato dos Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores da Indústria de Confecções de

9 Para Batista e Alvarez (2007, p. 66) as históricas geadas ocorridas neste ano...exterminaram as

plantações de café no Paraná, desencadeando desemprego e consequentemente a evasão da população rural que buscou em outras regiões melhores oportunidades de emprego.

10 Lima (2006) expõem que cerca de 70% dos funcionários presentes no setor de confecção,

Cianorte (SINDICOST) e em 1987, familiares da família pioneira da atividade na região criaram o Sindicato da Indústria do Vestuário de Cianorte (SINDVEST). Das relações entre trabalhadores e empresários, emerge o segmento faccionista dentro das próprias fábricas, a partir de orientações dadas por empresários locais aos seus funcionários, na tentativa de que eles passassem a executar parte da produção entre familiares, desonerando assim algumas das reinvindicações do SINDICOST (BATISTA e ALVAREZ, 2007).

A mesma família, no final da década de 1980 incentivou o surgimento do turismo de compras na região, replicando um modelo experimentado em São Paulo, fomentando excursões de lojistas de diversas cidades do Brasil à Cianorte a partir da construção de shoppings atacadistas, permitindo que fábricas e estabelecimentos locais pudessem comercializar seus produtos diretamente com seus revendedores (IPARDES, 2006; BATISTA e ALVAREZ, 2007). A partir disso surge a primeira instituição formal do APL, denominada Associação das Indústrias de Confecções e do Vestuário de Cianorte (ASCONVEST), com o objetivo de normatizar e controlar o sistema de vendas local, a Associação das Indústrias de Confecções. A ASCONVEST, em parceria com a prefeitura municipal do município e do SINDVEST foi a responsável por conceber e realizar a Feira de Exposição do Vestuário (EXPOVEST), que visa a apresentação das novas coleções das confecções locais, que ocorre na cidade de Cianorte durante o mês de setembro de 2019, quando completa sua 37ª edição11.

As décadas de 1990 e 2000 foram marcadas por sucessivas crises e por períodos de transição econômica no país. A abertura externa, ocorrida no início da década de 90, durante o governo Collor, submeteu a indústria local à concorrência externa, exigindo adaptação quanto a flexibilização de sua produção e barateamento de seus custos. A crise ocasionada pelo plano real, em 1995, gerou demissões massivas às empresas. Boa parte dos desempregados optaram por trabalhar em facções ou então em casa, recebendo trabalho que era terceirizado pela grande indústria local, o que se demonstrou uma nova alternativa para redução de custos

11 O evento está sendo divulgado no site Nfeiras, no seguinte link:

das empresas presentes no setor (LIMA, 2006). Com a retomada do crescimento no setor, houve limitação quanto a mão-de-obra. Um dos empresários localizados em Cianorte, através do desenvolvimento de parceria com municípios periféricos a cidade, resolveu investir em capacitação profissional, com o objetivo de fornecer mão-de-obra ao setor. A estratégia, mais tarde, foi expandida para outras cidades, recebendo apoio do executivo de municípios periféricos que passaram a investir em capacitação de mão-de-obra. Esses fatos criaram uma rede de fornecedores terceirizados, formados inclusive por ex-trabalhadores da própria indústria que se transformaram em empresários (BATISTA e ALVAREZ, 2007), o que levou a uma diversificação no formato do arranjo, que passou a ser formado em sua grande maioria por empresas de micro e pequeno porte (LIMA, 2006).

Nos anos 2000, o já consolidado arranjo, que agora envolvia além da cidade de Cianorte outros municípios participantes da região, passa por nova crise, dessa vez ocasionada pela baixa no preço do dólar, o que levou boa parte das indústrias e lojistas nacionais a importar produtos chineses, que apresentavam custos mais atrativos (LIMA, 2006). A indústria, marcada por relações de terceirização e pelo acirramento da concorrência também de estabelecimentos informais, continuou ainda, predominantemente, a representar grande parcela na geração de empregos locais (LIMA, 2006; IPARDES, 2006d).

Dentre os principais ativos institucionais destacados do APL, presentes nos relatórios e projetos de pesquisa feitos sobre a região de Cianorte, podemos citar o SENAI, o SEBRAE, a UNIPAR e a UEM, apesar destas últimas se apresentarem pouco integradas ao setor produtivo. (BATISTA e ALVAREZ, 2007; IPARDES, 2006d).