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A escolha por estudar o caso do setor de confecção paranaense, através da análise de dois arranjos produtivos locais do segmento se dá por três motivações principais: 1) a origem da atividade de confecção industrial em ambas as regiões se deu quase ao mesmo momento (entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980), iniciando em cidades centrais de ambas as regiões e posteriormente sendo

expandidas para a periferia regional. Isso possibilita uma compreensão mais acurada de como se deu a evolução da atividade em cada um dos arranjos; 2) o fato de ambos terem apresentado desempenho distintos quanto a criação de postos de trabalho formais e número de empresas abertas. Como ambos os arranjos apresentam semelhança quanto sua formação e estão submetidos ao mesmo ambiente macroeconômico, acredita-se que as dinâmicas relacionais estabelecidas em cada contexto podem ser as grandes responsáveis pelo resultado diverso e; 3) a possibilidade de realizar comparações entre as dinâmicas ocorridas, entre as redes estabelecidas nas regiões previamente demarcadas e os contextos institucionais apresentados, o que já foi, inclusive, objeto de estudos nas áreas de Economia, Políticas Públicas e Administração. Consequentemente, a análise estrutural proporcionará o entendimento de como o capital social se manifesta

Os dados utilizados na composição dos quadros desta seção foram retirados de duas plataformas governamentais disponíveis na internet. O valor adicionado fiscal da indústria, das atividades de confecção e total, o produto interno bruto per capita e o índice IPARDES de desempenho municipal foram retirados da base de dados disponibilizada pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), denominada Base de dados do Estado (BDEweb), acessada com login público, enquanto o número de estabelecimentos ativos e o número de empregos no APL foram retiradas da base de dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que incluem o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) e o Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS), acessada também online, com login público. Ressalta-se que não foi necessária nenhuma solicitação especial aos órgãos para obtenção do acesso às plataformas, estando ambas disponíveis livremente para acesso de pessoas físicas.

3.4.1 O Setor de Têxtil no Brasil - Um Breve Histórico

A indústria brasileira de manufaturas têxteis nasceu durante o período colonial brasileiro, a partir do desenvolvimento da cultura algodoeira na região Nordeste do país. Durante o século XVlll, diversas manufaturas rústicas passaram a se desenvolver nas regiões Nordestes e Sudeste, estimuladas pelo crescimento da produção do algodão. Entretanto, com a imposição do Alvará de 5 de janeiro de

17853, emitido no reinado da Rainha D. Maria l, proíbe-se a partir de uma medida arbitrária tomada pela Coroa Portuguesa toda atividade industrial no Brasil Colônia, cuja manufatura têxtil representava sua imensa maioria por 23 anos (NOVAIS, 2000; FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015).

A revogação da determinação da Coroa foi um efeito da chegada da corte portuguesa à capital brasileira da época, em janeiro de 1808, o que permitiu que, aos poucos, as atividades manufatureiras ressurgissem aos poucos no país. No entanto, o tratado de cooperação e amizade assinado em 1810 entre Portugal e Inglaterra, marco de mais uma ação retrógrada dos portugueses para com a colônia faz com que a setor agrícola ganhasse o favoritismo político sobre a indústria brasileira, que seguia com dificuldades para se estabelecer (FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015).

O setor de manufatura têxtil passa a obter maior representatividade na economia brasileira, assim como toda a indústria, a partir dos investimentos realizados por empresários do setor cafeeiro no início do século XX, com a política de estímulo à produção industrial, proposta pelo governo central (KON e COAN, 2009; FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015). Na década de 1940 a manufatura têxtil alcança o status de indústria madura, passando a representar 25% da força de trabalho 20% do total do Valor da Produção Industrial (VPI) do país (KON e COAN, 2009). As restrições impostas aos países envolvidos diretamente na Segunda Guerra Mundial contribuiu com o desenvolvimento do mercado interno brasileiro, além de aumentar as exportações em cerca de 15 vezes, permitindo que o país se tornasse, no período pós-guerra, o segundo maior exportador mundial no setor (FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015). Ao longo das três décadas seguintes o setor foi se desenvolvendo, e expandiu a sua atuação também com a produção de fibras sintéticas e artigos de moda, que se apresentaram como solução para o atendimento de públicos segmentados (FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015).

3 Segundo Novais (2000, p. 214) O alvará de 5 de janeiro de 1785...tem sido reiteradamente

tomado como a manifestação mais expressiva da persistência de uma política colonial de tipo mercantilista tradicional, por parte da Coroa portuguesa, a discrepar das tendências francamente reformistas da época das Luzes.

No início da década de 80, denominada “década perdida” 4, a crise econômica enfrentada pelo país evidenciou a obsolescência do parque industrial brasileiro. A indústria brasileira não foi capaz em competir tecnologicamente com Estados Unidos, Europa e Ásia, frente ao modelo de competição globalizada (FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015; KON e COAN, 2009). A abertura comercial e a introdução do Plano Real5, ocorridas na primeira metade da década de 1990, foram marcos que provocaram alterações no panorama competitivo do setor têxtil, composto principalmente por empresas de médio e pequeno porte. Na busca pela sobrevivência as indústrias buscaram efetivar investimentos em reestruturação produtiva, destinados principalmente para a aquisição e modernização dos parques de máquinas das indústrias (FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015; KON e COAN, 2009; ABIT, 2018).

A partir da década de 90 o setor passou por um grande processo de modernização, cujo objetivo era alcançar a competitividade necessária para enfrentamento da concorrência asiática, em especial a chinesa (FUJITA, MAYUMI e JORENTE, 2015). Entre 1995 e 2006 a modernização dos processos produtivos e do maquinário em busca de vantagens competitivas teve efeito negativo no número de postos de trabalho na última década, reduzindo-os em cerca de 20,4%. Em contrapartida, a produtividade média do segmento aumentou em cerca de 64,4% no mesmo período (SEBRAE, 2008). As mudanças competitivas ocorridas ao final século XX expuseram muitas das fragilidades estruturais das empresas do setor, levando-as a buscar por uma reorganização produtiva que consolidou estruturas no formado de arranjos produtivos (APL), de forma a permitir retração de custos e ganhos produtivos (TRINTIN e GONÇALVES, 2011).

Atualmente o Brasil está em quinto lugar entre os maiores produtores têxteis do mundo, estando atrás da China, Índia, Estados Unidos e Paquistão (DE

4 Para Carneiro (2002) a década de 1980 é denominada década perdida por ter sido marcada

pelo aumento da dívida externa dos países periféricos, reflexo de uma crise econômica mundial dentre os quais inclui-se o Brasil. O período foi caracterizado por um péssimo desempenho econômico, cuja a estagnação do PIB foi somada aos altos índices de inflação.

5 Como descrito por Batista e Alvarez (2007), a introdução do Plano Real, em junho de 1994 e a

intensificação da abertura comercial iniciada no governo Collor de Mello elevaram a competitividade dos produtos importados, o que exigiu adaptação da indústria nacional na busca por competitividade.

OLIVEIRA e DE LIMA, 2017). Embora o Brasil seja um dos grandes produtores de têxteis e vestuário, quase a totalidade do que é produzido acaba sendo consumido no próprio país, o que explica a baixa participação no comércio mundial do setor, que representa menos de 0,5% do total comercializado, o que coloca o país na 23ª posição no ranking de exportadores (ABIT, 2013).

Segundo dados do IBGE (2018), o setor de confecções, no Brasil, apresentou em 2016 uma receita líquida de vendas total de R$ 103.275 bilhões. Albuquerque (2017) afirma que a indústria têxtil tinha como previsão encerrar o ano de 2017 apresentando um crescimento de 3,5% na produção de vestuário e, com um faturamento superior a R$ 144 bilhões. A perspectiva da Associação Brasileira da Indústria Têxtil era de que 20 mil postos de trabalho fossem criados no setor até o final do ano de 2018, com um crescimento de 2,5% na produção do vestuário e 4% na produção têxtil.

3.4.1.1 Características do Setor

A indústria de têxtil é caracterizada por expressivo número de empresas, fruto da atratividade do setor, com amplo mercado a nível mundial, pelas barreiras tecnológicas e pela necessidade de investimentos não muito substanciais para instalação de novas unidades de produção (ABIT, 2013). Segundo a ABIT (2013) o Brasil possui uma das últimas cadeias têxteis completas de todo o ocidente, onde são produzidas desde as fibras utilizadas na produção de fios até as confecções. O setor, em 2013, reunia mais de 32 mil empresas, das quais 80% era composto por pequenos e médios empreendimentos, distribuídos no território nacional. 75% dos quase 1,7 milhões de funcionários empregados no setor trabalham no segmento de confecção, sendo em sua maioria mulheres (ABIT, 2013). Destaca-se ainda que o setor é composto em sua maioria por pequenas fábricas, sendo as que mais cresceram em número e em postos de trabalho gerados nos últimos anos (MARINI e SILVA, 2010).

Segundo a ABIT ( 2013), a recessão dos mercados consumidores tradicionais, causada pela crise econômica mundial, os países asiáticos (líderes mundiais de produção no setor) buscaram direcionar os excedentes de produção aos países

emergentes, dentre os quais inclui-se o Brasil. Estima-se que entre os anos de 2003 e 2013 a importação de vestuário aumentou 23 vezes, chegando a US$ 2.285 milhões de dólares anuais (ABIT, 2013).

Para Kon e Koan (2009), o setor têxtil é ainda marcado pela intensidade em mão-de-obra e mantém um número significativo de postos de trabalho no país. Bouças (2017) afirma que entre os meses de janeiro a julho de 2017 as indústrias têxtil e de confecção geraram aproximadamente 21,6 mil postos de trabalho, recuperando quase a totalidade de postos fechados durante o ano de 2016, quase 25 mil vagas. Os postos criados corresponderam a 53% do total de contratações realizadas por toda a indústria de transformação no país durante o mesmo período, o que denota a importância do setor para a economia do país. Segundo Prado (2018), com base em dados fornecidos pelo ministério do trabalho, a indústria têxtil no país gerou em janeiro de 2018 8,2 mil novos empregos.

No Paraná, o setor de confecção destaca-se pela grande concentração de empresas e de postos de trabalho nas microrregiões que abrangem os municípios de Maringá e Cianorte, com destaque ainda para os polos concentrados no Sudoeste do estado e em Apucarana (MARINI e SILVA, 2010). Em anos recentes o setor vem ganhando destaque quanto sua participação no número de empregos gerados a nível estadual, consequência da qualificação da mão-de-obra, em sua maioria feminina, que iniciam o trabalho como forma de complementar a renda familiar e que terminam por se especializar na atividade posteriormente (IEMI, 2013).