• Nenhum resultado encontrado

4.1 AS REDES SOCIAIS E OS RECURSOS DISPONÍVEIS NOS APLS

4.1.2 Sudoeste

A maior parte dos vínculos de suporte à atividade de confecção, estabelecidos entre os empreendedores da Região Sudoeste, são também informais. Isto evidencia a relevância dos vínculos familiares e de amizade no desenvolvimento das empresas do setor de confecção.

S6 afirma que quando precisa compartilhar problemas ou ideias ela o faz com sua família, da mesma forma que S3, que afirma que suas redes pessoais sempre lhe ajudaram a fazer bons negócios. Graças ao apoio de amigos que trabalham em duas grandes empresas da região (atuantes no setor químico e metalúrgico), S3 conseguiu fechar contratos para o fornecimento de uniformes às empresas.

Apesar da preferência das empresárias em acessar as redes informais, uma das entidades que representa os empresários do setor na região apresenta um grande potencial de mobilidade em suas redes. S4 afirma que o que diferencia o APL de confecção dos outros localizados na região (são 4 no total) é a sua capacidade de organização coletiva, que só é possível graças a liderança instituída por S5 (secretária executiva da entidade), “que bota ordem na casa”.

Para S4 a liderança estabelecida pela entidade permite que haja cooperação entre as pequenas e grandes empresas locais, percepção que é compartilhada também por S7. Em conversas com outros empreendedores (que não participaram das entrevistas) da cidade de Francisco Beltrão, foi possível perceber que os vínculos estabelecidos entre os empresários associados à entidade são fortes. A confiança é tanta que dois dos empresários convidados a participar do estudo afirmaram que a representante da entidade estava totalmente habilitada a falar em nome de ambos, recusando-se assim a conceder entrevistas.

A cooperação entre essas redes, porém, aparenta ser limitada aos participantes ativos da entidade supracitada. S6, que é associada à instituição, chega a afirmar que o “trabalho da ******* é péssimo, pois eles dificultam as coisas e

não há fiscalização nenhuma por parte deles”, afirmando em seguida que deseja se

desvincular da instituição em breve. S5, em contrapartida, cita espontaneamente em sua fala que as empresas da região de Pato Branco não são tão participativas,

dando a entender que os empresários que ali atuam estariam ligados a uma entidade de Curitiba que responderia suas solicitações. As falas de ambas podem ser tomadas como indicativos da existência de rivalidades entre as regiões em que se encontram os municípios mais representativos do APL analisado.

S3 afirma que, apesar de conhecer as instituições formais da região e o papel por elas desempenhado nunca recorreu a elas em busca de auxílio. Em sua fala é ainda possível perceber críticas a respeito do modelo estabelecido pelas instituições que dão suporte a atividade empresarial: “se eles soubessem tanto como, a empresa

[...] fazer uma empresa correta eles abririam a deles e seria [...] entendeu? Então, o que que eles querem? Captar [...] pra eles lá terem o deles lá, né? Mas a ajuda mesmo não adianta”. Desde a abertura de seu empreendimento, que contou com a

participação de seu esposo e de seu irmão, S6 recorre sempre aos contatos familiares quando necessita de suporte. Ela afirma que conhece as instituições de suporte ao empreendedor na localidade, elogiando (com base nos relatos que ouve) inclusive o trabalho realizado, mas, quando perguntada se já havia recorrido a alguma delas na busca por suporte, limitou-se a dizer que, como não necessitava de suporte externo, optou por não recorrer ao auxílio das instituições formais.

S1 afirma que as ações Pró-APL que envolvem de alguma forma todas as instituições formais organizadas no arranjo, hoje, são praticamente inexistentes, o que faz com que os atores acabem se dispersando. Com exceção do suporte constante dado pela instituição aonde S4 trabalha à entidade que representa os empresários na região, não há movimentações das outras institucionais, como as prefeituras, o estado e as universidades. S2 confirma o que é relatado por S1, ao afirmar que hoje “o setor empresarial [...] cada empresa tem que se virar. Nós

(prefeitura) não damos nenhum tipo de auxílio em nenhum setor, pra nenhum setor”.

S1 afirma que, no momento, percebe a universidade pouco atuante junto as empresas do setor, afirmando que não é capaz de listar no momento qualquer trabalho realizado junto a atividade de confecção na região.

A ausência do alinhamento de ações com o setor público, segundo S1, fez com que os vínculos de redes estabelecidos entre os atores locais fossem deteriorados. Para S5, muitos dos empresários que se desassociaram da entidade o

fizeram pela ausência de perspectivas quanto ao possível suporte estabelecido pelos governos locais e estadual que, segundo ela, não passou do discurso para a concretude. Para S4 e S7, isto é resultado da descontinuidade dos projetos desenvolvidos pelas gestões executivas do município, que são abandonados ou retomados após o período de transição, fato que ocorre também em nível estadual, conforme relatado por S4: “ah, tá louco, a gente tá desenvolvendo um trabalho aí de

APL, daqui a pouco muda o nome e desestrutura tudo e depois conversa com o empresário e ele nem sabe mais...”. Para S5, essas mudanças de conceito de

política não passam de “abobrinhas”. Ela afirma que o APL é um recorte geográfico e que independentemente da termologia empregada pelo estado continuará existindo.

S5, quando questionada sobre o momento econômico que o país vive, afirma que há muita insegurança dos empresários do setor em relação as perspectivas da macroeconomia brasileira. A própria instabilidade econômica, segundo ela, fez com que a frequência das reuniões na entidade e das atividades coletivas do setor diminuíssem no último ano. S7 afirma que a participação dos empresários nas ações organizadas em parceria com a entidade empresarial diminuiu muito nos últimos dois anos.

Entre os recursos disponíveis e acessados por meio das redes neste APL, podem ser destacados o suporte emocional e informações competitivas, além da formação técnica disponibilizada pelas instituições de apoio a atividade empreendedora. A entidade que representa os empresários do setor, em parceria com uma outra instituição formal localizada na região, ofertou em um projeto quinquenal uma grande diversidade de recursos passíveis de serem pleiteados pelos seus associados. Dentre os recursos ofertados, incluíram-se cursos de capacitação, consultoria e suporte técnico, além de visitas técnicas que estenderam a participação das empresas da região aos eventos nacionais. As empresárias entrevistadas, entretanto, mesmo com ampla divulgação realizada, manifestaram o desconhecimento das atividades organizadas no setor durante o período.

Ao serem questionadas sobre recursos acessados em suas redes, S3 e S6 afirmam que suas redes sociais pessoais permitiram, pela troca de experiências e a

possibilidade de identificar oportunidades de novos negócios. S3 foi estimulada a entrar na atividade de confecção por amigos, que faziam reclamações frequentes sobre a qualidade dos uniformes escolares produzidos na região. Destaca-se que ela não possuía experiência prévia no setor e com recomendações e conselhos obtidos de seus laços informais foi capaz de alinhar informações de mercado ao conhecimento necessário para abertura de sua empresa. S6 passou a produzir uniformes após duas amigas, que ocupavam cargo de gerência em duas empresas da região, provocarem-na sobre a possibilidade de se tornar uma fornecedora de suas organizações. As empreendedoras relatam também que receberam apoio emocional e motivacional dos amigos que lhes incentivaram a iniciar seus negócios, o que, segundo elas, foi essencial para que fossem encorajadas a enfrentar o desafio de empreender.

Para S4 a instituição em que trabalha oferta uma diversidade de recursos às empresas locais, que inicia “lá nas qualificações, onde qualificavam operadores de

máquinas de costura para poder atender as indústrias, em capacitação de supervisores, supervisores de produção e líderes e encarregados para capacitar esses...esses líderes de processo produtivo na parte de gestão”. O acesso aos

recursos é realizado por empresas, que buscam a entidade ou por meio de parcerias desenvolvidas com municípios da região. S4 relata que, no entanto, nos últimos anos a quantidade de treinamentos realizados em parceria com municípios vem diminuindo. A instituição não é capaz de bancá-los sozinha, necessitando de contrapartidas financeiras.

4.2 CONFIANÇA E INTENSIDADE NOS VÍNCULOS: O CAPITAL SOCIAL