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Palavras-chave: empreendedorismo cultural; gestão participativa de eventos comunitários;

pedagogia artística; identidade cultural local; tecnologia social.

Resumo: A capacitação de jovens artistas em empreendedores culturais, especialmente nos

contextos dos bairros periférico, é uma importante ação para o desenvolvimento tanto dos jovens quanto de territórios potencialmente criativos. No entanto, alcançar esses jovens por meio do ensino formal ou convencional apresenta muitas dificuldades, seja pela falta de ensino do empreendedorismo cultural nas escolas ou pela forma do ensino que repele os jovens das escolas. Carecemos de atualizações pedagógicas para alcançar as novas gerações em contextos de aprendizagem mais fecundos ou adequados. Esse artigo propõe uma introdução geral a uma tecnologia social, pois é voltado para a proposição de um saber que possa ser utilizado em comunidades para fomentar e desenvolver as forças empreendedoras locais no âmbito da cultura e das artes. Nesse trabalho, tratamos os empreendedores culturais como aqueles que são constituídos a partir da identidade cultural local, da coletividade e do impacto social provocado pelas suas atividades. Nesse sentido, o a identidade cultural local é o eixo estruturante do empreendedorismo cultural, pois é através dessa identidade que cada comunidade construirá formas de ensino e de eventos comunitários aqui propostos. A pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo cultural e a gestão participativa para a realização de eventos comunitários que estimulam o ensino são apresentadas. Implicações e orientações para aplicação do desenho da tecnologia social são formuladas e debatidas. Ao final, o trabalho afirma seu ineditismo ao pesquisar e discutir uma pedagogia artística que culmina na realização de um evento comunitário, como forma de capacitação e estímulo para o empreendedorismo cultural.

Key-Words: cultural entrepreneurship; participatory management of community events;

artistic pedagogy ; local cultural identity; social technology

18 Artigo a ser submetido para a RECADM : Revista Eletrônica de Ciência Administrativa. Por isso, o artigo segue as normas da APA exigida pela revista.

Abstract: Young artists’ training into cultural entrepreneurs, specially in a peripheral

neighborhoods contexts, is an important action for the development of both young people and potentially creative territories. However, reaching those young people through formal or conventional education presents many difficulties due to the lack of teaching of cultural entrepreneurship in schools or the way of teaching that repels young people in schools. We lack pedagogical updates to reach new generations in a more fertile or appropriate learning context. This article presents a general introduction to a social technology as it intend to propose a knowledge that can be used in communities to promote and develop local entrepreneurial forces within the culture and the arts. In this paper, we treat the cultural entrepreneurs as those who are made from the local cultural identity, the collectivity and social impact caused by their activities. In this sense, the local cultural identity is the structural axis of cultural entrepreneurship, it is through this identity that each community build means of education and community events proposed here. The artistic pedagogy for cultural entrepreneurship education and participatory management for holding community events that encourage teaching are presented. Implications and implementation’s guidelines for the social technology design are formulated and discussed. At the end, the paper states its originality in researching and discussing an artistic pedagogy that culminates in the realization of a community event as a way of training and incentive to cultural entrepreneurship.

Introdução

O objetivo e o diferencial da presente tecnologia é promover o ensino do empreendedorismo pelas artes, com fundamento na identidade cultural local, através de um processo de gestão participativa de um evento comunitário. O processo educacional ocorre em dois momentos: durante a pré-produção de um evento comunitário e durante o dia em que o evento comunitário acontece. A tecnologia social1920, nomeada de Sarau Empreendedor, se

19 A tecnologia social se compõe de uma dinâmica baseada no desenho geral da tecnologia, apresentada pelo presente artigo, em conhecimentos do empreendedorismo musical (CAMPOS et al., no prelo): da pedagogia através das artes para o ensino do empreendedorismo (CAMPOS, no prelo) e a gestão participativa de eventos comunitários (CAMPOS, no prelo). Além desse conjunto de artigos, um caso de ensino reforça a tecnologia (Campos & Davel, no prelo).

20 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia

para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:

http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. 2007.

desenha então através de três elementos: os conhecimentos sobre empreendedorismo cultural, a pedagogia com base na arte para o ensino do empreendedorismo e os conhecimentos sobre gestão de eventos comunitários, considerando a participação como elemento integrador da gestão. Tratamos nessa ordem os elementos, contudo, é possível inverter os elementos na aplicação da tecnologia social, a critério dos líderes que aplicarem ela. Especificamente, essa pesquisa propõe um saber que possa ser utilizado em comunidades para fomentar e desenvolver as forças empreendedoras locais no âmbito da cultura e das artes. Para propor uma tecnologia social desse caráter, o presente trabalho objetiva fornecer aos líderes comunitários, gestores, empreendedores, artistas ou quaisquer moradores de comunidades que tenham o perfil empreendedor, um conjunto de princípios, práticas e saberes que visam o poder transformador de um território, através de conhecimentos empreendedores, da pedagogia artística e da gestão de eventos, com fundamento na identidade cultural local, dimensão esta que permeia os três elementos. Por motivos didáticos, iremos nomear o público-alvo como “líderes”, mas outros profissionais estão incluídos no direcionamento desse trabalho, como já mencionado. Alertamos que os três elementos constituidores do Sarau Empreendedor devem ser aprofundados em outros trabalhos, pois o presente trabalho tem o objetivo de desenhar e instruir sobre a aplicação do Sarau de forma geral.

Nomeamos a tecnologia aqui proposta de “Sarau Empreendedor”, pela possibilidade de abrangência artística e educacional que um evento com esse caráter comporta. O Sarau, do latim serum, que significa "tarde", é historicamente utilizado por uma classe elitista, porém esse formato tem sido apropriado por diversos grupos de artistas de bairros populares no Brasil21 sendo atualmente mais conhecido pelas apresentações ligadas à literatura e, nesse contexto dos bairros populares, sendo reconhecido pelo forte compartilhamento de trabalhos ligados à identidade cultural local (Peçanha, 2012; Tennina, 2013). Destacamos para os líderes que aplicarem o Sarau Empreendedor, a informação de que nada impede que o Sarau seja adaptado para uma feira, um grande espetáculo, uma festa com caráter artístico e educativo, entre outras possibilidades que comportam a educação do empreendedorismo cultural na categoria do evento. Ressaltamos a importância de que a comunidade escolha o formato e o nome do “Sarau Empreendedor”, em uma decisão compartilhada, avaliando os prós e contras de cada nome e

21 http://saraudaonca.blogspot.com.br/; http://antigo.brasildefato.com.br/node/9808; http://www.blogacesso.com.br/?p=5264; http://periferiaemmovimento.com.br/tag/saraus/; https://catracalivre.com.br/sp/tag/sarau-da-cooperifa/

formato para o desenvolvimento educacional no empreendedorismo e o desenvolvimento cultural, econômico e local.

A tecnologia social então falará, na primeiro seção, sobre a importância do empreendedorismo cultural; na segunda seção será introduzido os desafios e as vantagens do ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural através das artes; na terceira seção será apresentado os elementos que compõem o Sarau Empreendedor; por fim, na quarta seção todos os elementos e processos da tecnologia são ilustrados para a aplicação da tecnologia social.

Entendemos por tecnologia social, a tecnologia que é “caracterizada pelos produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social” (Dagnino, 2012)22. Além de propor uma tecnologia, exemplificamos os processos do Sarau através de uma ilustração de uma aplicação do Sarau Empreendedor como forma de incentivar o sonho empreendedor coletivo, noção desenvolvida na presente tecnologia que possui como bases a formulação busca da realização desses sonhos (Dolabela, 2003). Vale pontuar que esses sonhos não são individuais, mas coletivos, pois quando são realizados, transformam não só uma carreira, mas uma cadeia de carreiras existentes em uma comunidade.

Podemos, portanto, considerar as seguintes questões com questões orientadoras para a configuração do Sarau Empreendedor: como o ensino de empreendedorismo cultural pode interessar, capacitar e estimular, de fato, os jovens? Como uma capacitação dessa vertente do empreendedorismo cultural pode desenvolver territórios potencialmente criativos e multiplicar empreendedores culturais? Esse trabalho então se justifica pela demanda de capacitação e estímulo de empreendedores de cultura no contexto de bairros periféricos, considerando as referências e práticas identitárias locais. Para o ensino do empreendedorismo cultural, uma área fundamentalmente coletiva, criativa, inovadora e que lida com aspectos constituintes da identidade cultural local dos sujeitos, uma capacitação artística e que entretém como o Sarau, fornece leveza e dinâmica para a aprendizagem dos conhecimentos inerentes à prática empreendedora no âmbito da cultura, quando pensamos que os jovens artistas são o nosso público-alvo (Almeida & Pais, 2013).

22 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler também: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma

estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:

http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. 2007.

A metodologia da pesquisa é qualitativa e se utiliza das técnicas de coleta de dados de entrevistas semiestruturadas de empreendedores culturais e de participantes de uma experiência de realização de um Sarau Empreendedor, bem como a análise de conteúdo (Colbari, 2014). Entrevistas e observações no campo foram realizadas ao todo com onze empreendedores musicais, vinte e três estudantes, quinze jovens da comunidade e quatro líderes sociais e culturais da comunidade do Nordeste de Amaralina, em Salvador, Bahia. O “Nordeste” é um território que abarca cinco bairros distintos (Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas, Chapada do Rio vermelho e Nova República) mas territorialmente próximos, sendo que cada bairro se considera parte do território do Nordeste. Apesar de ser um território com fortes manifestações culturais como o samba junino e o carnaval próprio do Nordeste de Amaralina, segundo o IBGE (2010), o território sofre com problemas relacionas ao desemprego, baixa renda, escolas e postos de saúde desestruturados, esgotos a ceú aberto e forte envolvimento com tráfico de drogas entre os jovens23.

A primeira versão da experiência Sarau Empreendedor ocorreu dentro desse contexto, que apesar de duro, possui diversas manifestações e iniciativas culturais e sociais24. O processo

de ensino e de realização do Sarau ocorreu durante cinco meses no ano de 2016, com o objetivo de ensinar conhecimentos relativos ao empreendedorismo cultural, através das artes e da gestão participativa de eventos comunitários, ao produzir um evento de caráter comunitário voltado para o estímulo e capacitação ao empreendedorismo cultural, bem como capacitar potenciais ou já empreendedores culturais para essa área, sempre com fundamento na identidade cultural local.

A primeira aplicação do Sarau promoveu capacitação para os jovens participantes através dos conhecimentos empreendedores apresentados de formas artísticas, durante toda a experiência de planejamento e execução do Sarau Empreendedor, até o dia do Sarau, onde participantes do início do projeto, artistas convidados e o público em geral, todos moradores do Nordeste de Amaralina, puderam ser estimulados para empreenderem suas artes, através de peças, curta-metragem, blogs, palestras e oficinas relacionados aos conhecimentos do empreendedorismo cultural.

1. Importância do Empreendedorismo Cultural

Destacamos que o empreendedorismo cultural é encarado nesse trabalho como resultado da soma entre o empreendedorismo social, o empreendedorismo coletivo e a identidade cultural

23 http://amnaluta.blogspot.com.br/

local. Ter em mente as dimensões sociais, coletivas e identitárias é fundamental para os líderes culturais aprenderem e ensinarem os conhecimentos relativos ao empreendedorismo cultural.

O empreendedorismo social é um elemento importante a ser considerado devido a sua capacidade e objetivo de gerar transformações sociais. O empreendedor social pode ser definido como o agente que possui como agenda as mudanças sociais, multiplicação das riquezas, dentro do sistema econômico vigente, o capitalismo (Casaqui, 2015). A criatividade está aliada a ideia de empreendedorismo social, pois se pressupõe que esse tipo de empreendedorismo deve promover multiplicação de recursos, mas também proporcionar inovações sociais (Casaqui, 2016).

O empreendedorismo coletivo converge com as definições de empreendedorismo social, pois os empreendedores coletivos são caracterizados como aqueles que conduzem um processo, voltado geralmente para empreendimentos de caráter social, juntamente com um conjunto de jovens que compartilham atribuições e tomadas de decisões (Rossi et al., 2006). Esse conceito pode ser ampliado quando pensamos que o empreendedorismo coletivo define que os princípios de cada empreendedor envolvido na proposta se encontram, sendo esses princípios o fundamento para desenvolvimento de todo o processo, do planejamento às tomadas de decisões importantes (Malo & Rodrigues, 2006).

O empreendedorismo, de forma geral, é vista nesse trabalho como um processo de relação de criação e absorção do que há de valor na comunidade (Anderson, 2000). A ideia é que o esse empreendedorismo tenha sua camada coletiva, contudo nada impede que um líder desponte como empreendedor, em um trabalho coletivo com a comunidade. A liderança pode ser exercida individualmente, respeitando o espaço em que ela ocorre e aos envolvidos no projeto. O empreendedorismo tanto social, como coletivo, no contexto comunitário, fazem sentido quando os líderes consideram a identidade cultural local, ou seja, quando esse empreendedorismo visa absorver o conjunto de práticas, hábitos, trabalhos, artes e qualquer outras produções que singularizem a comunidade, para assim poder auxiliar no desenvolvimento local. A identidade cultural local é o resultado de interação dos moradores com o bairro e com o mundo, ela é responsável por enaltecer as singularidades e potencializar o bairro nas áreas culturais (Campos & Davel, 2015).

Tendo em vista esse três elementos que constroem a noção utilizada de empreendedorismo cultural para a tecnologia social do Sarau Empreendedor, definimos o empreendedor cultural como um grupo de pessoas que mobilizam recursos (Limeira, 2008), possuem a criatividade e a inovação como características (Scott, 2009; Baron, 2007) para a mudança de uma realidade social (Malo, Rodrigues, 2006), visando a emancipação coletiva

(Rindova et al., 2009; Campos & Davel, 2015). O empreendedorismo cultural ao ser pensado no contexto de bairros periféricos do presente trabalho, então, pode ser definido como resultado do empreendedorismo social, pelo seu caráter de transformação social através da cultura, do empreendedorismo coletivo, pelas características de trabalho em redes, e com fundamento na identidade cultural local, pelo grande potencial que possui, seja como produção de empreendimentos culturais, assim como consumo desses empreendimentos.

A partir dessa construção, os líderes podem visualizar a importância de que o empreendedorismo seja aprendido pelos jovens que trabalham com a arte e a cultura. Ao aprenderem conhecimentos relativos ao empreendedorismo voltado para a área cultura, em formatos afinados com linguagens artísticas, os jovens poderão aprimorar suas carreiras e o bairro se desenvolver de forma mais veloz e sustentável, ao mesmo tempo que participam de ações coletivas em prol de um território, revelando as dimensões individuais e sociais como impactos previstos pelo empreendedorismo cultural. O referido campo, portanto, se mostra fundamental para diminuir a violência entre os jovens, o desemprego e a pobreza, além de fortalecer a economia criativa no contexto brasileiro e mundial25.

2. Desafios do Ensino-Aprendizagem do Empreendedorismo Cultural através das Artes

A presente tecnologia social possui a relevância de contribuir para suprir uma grande carência no campo do ensino do empreendedorismo: parcela considerável dos líderes de comunidades e jovens artistas possuem poucos conhecimentos sobre o empreendedorismo cultural, bem como de recursos pedagógicos sobre o ensino do tema. Percebemos que os espaços que promovem a educação formal, ou seja, alunos sentados, docentes em pé e uma sala fechada, vem perdendo cada vez mais força, portanto um evento comunitário do tipo aqui proposto, se apresenta como dinâmica e divertida, estimulando o aprendizado dos jovens artistas. Os formatos da educação formal, dificilmente possuem o conhecimento do empreendedorismo em seus currículos e, quando possuem, não educam os empreendedores ou potenciais empreendedores de uma forma atrativa, inovadora e pensando nas afinidades dos jovens, além de desconsiderarem a realidade local como um dos fundamentos para o processo educacional e assim exercendo uma proposta formal, quando ela ocorre, que não afeta positivamente o indivíduo, em especial o jovem (Duarte Junior, 2008; Larrosa, 2002).

25 A economia criativa é um importante fator, visto como o conjunto de atividades fundamentadas na criatividade, que desenvolvem cidades, territórios e bairros criativos, nos aspectos culturais, econômicos e sociais (De Bruin & Henry, 2011; Ferreira, 2014; Júlio, 2016; Reis, 2008).

Pensando nas especificidades do empreendedorismo e do público jovem, o contexto educacional que propomos, portanto, é a aprendizagem informal ou não-formal, que pode ser caracterizada por estar fora das aprendizagens formais, como currículos ou cursos profissionais, mas que pode ser estruturada para melhor orientar seu grupo (Coelho & Mourão, 2001; Fontes & Pero, 2009; Gomes & Silva, 2012; Livingstone, 1999).

Considerar a configuração do empreendedorismo cultural é uma das principais necessidades para a educação nessa área. Os processos educativos requerem a consideração da a realidade local do indivíduo (Freire, 2011). Considerar e tratar sobre empreendimentos do local, por exemplo, é um ótimo início para envolver os jovens artistas no ensino do empreendedorismo cultural. O sonho empreendedor (Dolabela, 2003) é outro poderoso instrumento para o ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural, pois ao estimular o compartilhamento dos sonhos de cada jovem participante, é possível que os sonhos sejam fundidos, estimulando a participação dos jovens no processo de aprendizagem, somando às ideias para ao Sarau Empreendedor, estimulando as carreiras dos participantes para além do Sarau e o desenvolvimento da comunidade. A educação então é vista como um processo relacional, nunca apenas da parte do jovem músico disposto a aprender sobre o empreendedorismo cultural ou dos líderes que podem ensinar os conhecimentos no processo de realização do Sarau. Em cada relação, novos desafios irão aparecer, por isso não existe receita pronta, mas sim um conjunto de orientações propostas nessa pesquisa.

Um dos desafios envolvendo o ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural consiste, portanto, na grande quantidade de conhecimentos necessários para a capacitação nessa área e na execução da pedagogia aqui proposta. Saber suavizar e tornar mais atraentes para os jovens o conhecimento, através de exemplos práticos, autores, manuais e documentos sobre os temas que dialoguem de forma mais direta com o jovem e principalmente através da aplicação da pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo é possível superar os desafios que ensinar e aprender os conhecimentos do empreendedorismo cultural possam apresentar. Outra saída pensada para os líderes comunitários é fornecer os assuntos de formas gerais, e se aprofundarem mais dos assuntos que os jovens artistas se interessem para desenvolver suas carreiras e suas comunidades. Para superar os desafios, é necessário que os líderes comunitários tenham em mente que é possível incluir diversas temáticas do conhecimento empreendedor nas ações artísticas e que todas essas ações valem tanto para a pré-produção do Sarau, como para o dia no Sarau Empreendedor.

Como desafios para o ensino do empreendedorismo cultural através das artes, pode-se pontuar, resumidamente, os seguintes aspectos: grandes quantidades de conhecimentos; atenção

à adequação da escolha dos conhecimentos para o ensino do empreendedorismo; atenção à adequação da escolha das linguagens artísticas para o ensino do empreendedorismo; ter em mente que o ensino-aprendizagem faz parte de todo o processo de pensar e executar o sarau; estimular a constante criatividade dos jovens artistas; lidar com a dinâmica que o público jovem demanda na educação.

Como necessidades para que o ensino do empreendedorismo cultural através das artes, seja efetiva: considerar a realidade local; estimular o trabalho coletivo; considerar as linguagens artísticas afinadas ao público-alvo; proporcionar aprendizagem durante todo o processo de ensino; objetivar o sonho coletivo; ouvir e tomar decisões de forma compartilhada.

3. Sarau Empreendedor: Uma Tecnologia Social de Ensino-Aprendizagem

O Sarau Empreendedor foi trabalhado como um instrumento que pode capacitar para o empreendedorismo cultural (Lounsbury & Glynn, 2001), estimular o potencial de emancipação (Rindova et al., 2009), trabalhar com a sociabilidade (Dandridge, 1986; Hjorth, 2004, 2013), promover o desenvolvimento identitário (Belo & Scodeler, 2013) e gerar resultados, agregar e trabalhar de forma coletiva (Guarinello, 2001). Todas essas ações são benefícios do Sarau Empreendedor para quem participa de todo o processo, e assim é capacitado para exercer o empreendedorismo cultural, bem como para quem participa apenas no dia do Sarau,