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ARTE E PARTICIPAÇÃO COMO PRINCÍPIOS DE APRENDIZAGEM PARA O

Resumo: O ensino e a aprendizagem do empreendedorismo são atividades de extrema

importância para a maior qualificação dos empreendedores. Apesar disso, os conhecimentos disponíveis sobre o ensino e a aprendizagem no empreendedorismo ainda são muito orientados para criação de negócios gerais, seguindo a lógica do empreendedorismo tradicional, por isso, pouco adequados ao empreendedorismo mais criativo, social e cultural. Este artigo tem vocação tecnológica42, pois objetiva fornecer um conjunto de práticas pedagógicas para ensinar e

aprender o empreendedorismo através da arte. A participação é destacada como dimensão integradora da arte, dos processos criativos e do empreendedorismo. Nosso artigo tecnológico, então, tem um caráter mais profissional do que acadêmico na medida em que busca formular um conjunto de práticas pedagógicas para empreendedores e educadores auxiliarem artistas a qualificarem suas carreiras e projetos. A metodologia qualitativa foi utilizada no trabalho para fundamentar as indicações da arte e participação como princípios de aprendizagem para o ensino do empreendedorismo. Ao fim da pesquisa, concluímos que com o presente artigo tecnológico, o empreendedor, educador e líder poderão ter ferramentas úteis para ampliar a prática do ensino e a aprendizagem do empreendedorismo.

Palavras-chave: empreendedorismo; educação empreendedora; pedagogia; arte; participação.

1 Introdução

O presente conjunto de práticas pedagógicas43 se destaca pela sua relevante contribuição para auxiliar na ampliação de uma grande carência no campo do empreendedorismo: parcela considerável dos empreendedores, educadores, líderes sociais, culturais e comunitários não possuem recursos pedagógicos para o ensino do tema. O contexto educacional onde ocorre esse déficit é a aprendizagem informal ou não-formal, que pode ser

41 Artigo a ser submetido para a Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação. Por isso, o artigo segue as normas da ABNTA exigida pela revista.

42 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia

para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:

http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. 2007.

43 O presente artigo faz parte de uma tecnologia social. Além desse artigo, outros três artigos compões a tecnologia social, sendo que um artigo apresenta o desenho geral da tecnologia (Campos & Davel, no prelo); um trabalho que trata dos conhecimentos do empreendedorismo musical (CAMPOS, no prelo) e outro artigo trata da gestão participativa de eventos comunitários (CAMPOS, no prelo). Além desse conjunto de artigos, um caso de ensino reforça a tecnologia (Campos & Davel, no prelo).

caracterizada por estar fora das aprendizagens formais, como currículos ou cursos profissionais, mas que pode ser estruturada para melhor orientar seu grupo (COELHO; MOURÃO, 2001; FONTES ; PERO, 2009; GOMES; SILVA, 2012; LIVINGSTONE, 1999). A atenção a esse contexto se justifica pela notória quantidade de vezes que os espaços de educação formais não educam os empreendedores ou potenciais empreendedores, desconsiderando a realidade local como um dos fundamentos para o processo educacional e assim exercendo uma proposta formal, quando ela ocorre, que não afeta positivamente o indivíduo (DUARTE JUNIOR, 2008; LARROSA, 2002). Além dessas questões, se percebe que pouco se sabe de práticas artísticas para educação no empreendedorismo.

A partir dessas considerações, pensamos em ferramentas pedagógicas que estejam afinadas com o caráter mais artístico, criativo, inovador e coletivo que o empreendedorismo vem demonstrando em suas áreas de atuação cada vez com mais frequência. Para fins didáticos, utilizaremos apenas o termo “educador” como público-alvo para aplicar esse conjunto de práticas pedagógicos proposto, contudo, qualquer interessado no tema (líderes, empreendedores, entre outros indivíduos) pode sim aplicar a presente proposta. O artigo então é organizado visando o formato mais pragmático possível, através de três seções: a arte e os processos criativos como ferramentas de aprendizagem no empreendedorismo; as estratégias de integração da arte e dos processos criativos na aprendizagem do empreendedorismo; e a participação como dimensão integradora da arte e dos processos criativos na aprendizagem do empreendedorismo.

Os estudantes devem aprender sobre diversos elementos do empreendedorismo para ampliar suas chances de realizar os seus sonhos. Conhecimento sobre as possibilidades de carreiras, amplitude de recursos possíveis, as vantagens e garantias trazidas pelos contratos e direitos autorais, como produzir um evento, a força da identidade local, entre outros conhecimentos são imprescindíveis para o aprendizado no empreendedorismo. A presente pesquisa não pretende exercer uma reflexão densa sobre as práticas e conhecimentos pedagógicos, mas sim ofertar ao educador indicações de recursos pedagógicos apropriados para aplicação do ensino do empreendedorismo tendo em vista as características presentes nos processos artísticos como o ludismo, a criatividade e a inovação. Ressaltamos que optamos por um leque de conhecimentos e indicações que não se propõem a adensar as diferenças de cada expressão artística, mas introduzir o educador inicial no processo de uma pedagogia artística para a educação do empreendedorismo, bem como o objetivo de contribuir com o maior número possível de arte-educadores.

A metodologia da pesquisa é de caráter qualitativa e conta com a revisão bibliográfica e com a técnica de coleta de informações baseadas em documentos e entrevistas semiestruturadas com dois empreendedores do estado da Bahia, com práticas na arte-educação e três arte-educadoras residentes no estado da Bahia, cada uma com prática em uma ou mais das seis expressões artísticas aqui trabalhadas. Os entrevistados foram escolhidos pela notória experiência nas práticas aqui trabalhadas. Os documentos (textos, artigos, livros, matérias na internet) selecionados foram escolhidos pelas suas possibilidades de aplicabilidade, a exemplo de sites que relatam experiências na pedagogia com base na arte e na participação. As entrevistas dos dois empreendedores com práticas na arte-educação foram partes realizadas face-a-face, partes registradas em áudio e partes em registro audiovisual, durando de trinta a cinquenta minutos cada entrevista. As entrevistas com as arte-educadoras foram realizadas via contato telefônico ou face-a-face, durando em média de quarenta a oitenta minutos. Os dados então foram analisados e articulados, tendo como resultado uma estruturação de forma a apresentar o conjunto de práticas pedagógicas para ampliar a educação no empreendedorismo.

Ao considerarmos a arte na aprendizagem do empreendedorismo, podemos, primeiramente, dizer que empreender tem diversos significados e, para chegarmos à ideia atual de empreendedorismo, houve uma história de mudanças sobre a ideia do que é o empreendedorismo (CAMPOS; DAVEL, 2015). Nessa pesquisa, partimos da ideia de que empreender possui o sentido, principalmente, de ser criativo para buscar soluções (BARON, 2007). A ideia de empreendedorismo compreendida nessa pesquisa vem sempre associada à noção de que o empreendedorismo pode ser visto como um instrumento não só para crescimento individual, mas também territorial e social (CAMPOS; DAVEL, 2015).

2 A Arte na Aprendizagem do Empreendedorismo

A arte, que vem do latim ars44, pode ser caracterizada pelas práticas com habilidade para realizar algo nos remetendo às formas artísticas como música, teatro, cinema, dança, fotografia, artes plásticas e literatura. A arte pode ser também definida como fonte de inspiração no processo de aprendizagem, fonte de conhecimento, fonte de terapia, fonte de interpretação, fonte de expressão e fonte de comunicação (DAVEL; VERGARA, 2007; DE BOTTON; ARMSTRONG, 2013). Para orientar a arte no ensino-aprendizagem do empreendedorismo, a presente seção está estruturada a partir de potenciais, vantagens e desafios de uso da arte e de suas expressões artísticas. É importante que o educador tenha em vista que

cada parágrafo desse trabalho possui a intenção de auxiliar não só nos conhecimentos, mas, principalmente, nas práticas educacionais orientadas ao empreendedorismo.

Para esse artigo, optamos pela arte-educação, dentre outras opções possíveis da arte na aprendizagem do empreendedorismo, por ser uma das formas mais práticas de meios para ensinar e, pensando no empreendedorismo como área também prática, seu uso se faz pertinente. Ao educador, cabe endossar que o conjunto de práticas pedagógicas aqui proposto não nasceu de uma hora para outra, mas surge através de um processo longo, de estudos e práticas educativas que nos apontaram novos caminhos. A arte-educação vem sendo utilizada, formalmente, desde a Lei 5.692/71 que apresenta o estudo das artes nos currículos formais das escolas (BARBOSA, 1989; DUARTE JUNIOR, 2008), tendo a Federação de Arte-educadores

do Brasil – FAEB45 como primeira entidade a nível nacional referente à área de arte-educação. Anísio Teixeira foi um dos nomes mais fortes na aplicação da arte-educação no Brasil, com a criação da escola parque em Salvador, Bahia (NASCIMENTO, 2009).

Destacamos a inovação em associar arte-educação ao ensino do empreendedorismo pelas seguintes razões: mobilização dos afetos, aprendizado com maior potencial de engajamento, possibilidade de uso da dimensão artística por se associar diretamente com o empreendedorismo cultural. O conjunto de práticas pedagógicas que propomos, portanto, não visa dar apenas assistência aos artistas, mas, de fato, empoderar e transformar carreiras artísticas, ao mesmo tempo em que visa estimular o auxílio desses artistas no desenvolvimento das suas comunidades. Considerando ainda que a educação ocorre durante toda a vida do sujeito e que o sujeito adulto merece a devida atenção quanto ao seu processo de ensino-aprendizagem (KOLB, 1984), a arte-educação vem como ferramenta potencial para o empreendedorismo, pois através dela, o artista pode, possivelmente, conquistar autonomia, construção identitária, valorização da cultura local e assim ser um sujeito transformador (SANTOS; BARROS, 2009; RIBEIRO, 2013).

A grande vantagem prática da arte para se educar no empreendedorismo consiste em dialogar diretamente com a cultura e suas diversas formas bem como estimular práticas inovadoras e criativas, sendo estas intimamente empreendedoras. A arte pode levar o sujeito a crescer, a motivar e capacitar profissionais para mudarem suas realidades (DAVEL; VERGARA, 2007; DUARTE JUNIOR, 2008). Um artista de bairro popular por exemplo, pode, através de elementos artísticos que lhes são familiares, se interessar e, assim, aprender muito mais sobre formas de conseguir recursos através das plataformas de recursos

coletivos ou sobre direitos autorais elementos ligados ao empreendedorismo e carreira artística. Com esses novos conhecimentos, um artista pode não só mudar sua realidade, mas de toda uma comunidade, gerando empregos, trabalhos e renda.

O educador deve ter em mente que a criatividade, a brincadeira, o momento em que o grupo de estudantes se conhece não é “perda de tempo”, mas, pelo contrário, é um momento de fortalecimento do processo de educação para o aprendizado do empreendedorismo. A arte pode ser percebida como um campo de ações que permite um relaxamento, engajamento e plenitude do indivíduo no processo de aprendizagem (OLIVEIRA, 2003).

Segundo o Institute of Play46, ONG de ensino que utiliza a arte para educação de crianças e jovens em Nova York (EUA), quanto mais se avança na educação, da vida infantil à vida adulta, menos engajado o estudante fica com relação ao sistema de ensino. Esse fato ocorre, pois, quanto mais se avança no ensino, o sujeito tende a se deparar com formas mais duras de aprender, ou seja, quase que estritamente racionais e, raras vezes, artísticas. O referido instituto possui a iniciativa de ser um laboratório que desenvolve a educação através da arte e das brincadeiras para tentar reverter esse quadro de desânimo dos estudantes no decorrer da vida e melhorar a qualidade de aprendizado, demonstrando um grande potencial e vantagem de se utilizar a arte. No contexto de comunidades periféricas em que diversos estudantes sofrem atentados violentos cotidianamente, a arte como forma de educação para o empreendedorismo pode atrair cada vez mais pessoas e fomentar o desenvolvimento das próprias comunidades.

No Brasil, O Instituto Casa Via Magia é um exemplo de formação de educadores através da arte-educação47. O Instituto transmite conhecimentos e práticas acerca da arte-educação no ensino formal, a fim de que o ensino-aprendizagem seja mais dinâmico para educadores e estudantes. O Neojiba - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia48 é um exemplo no Brasil de transformação social através da educação musical. Baseado no “El Sistema”, o Neojiba trabalha com fundamento na consideração das relações entre o indivíduo, a família e a comunidade e na visão da arte como direito social, sendo convertida em capacitações. A presente proposta pedagógica se inspira nessas iniciativas para formular uma pedagogia artística para o empreendedorismo.

Aliado às artes, podemos afirmar que a educação, a partir do sentido, da experiência (KOLB, 1984; LARROSA, 2002) e da criação de universos e mundos (KASTRUP, 2001), abre frentes diversas e possíveis para a educação no empreendedorismo (HJORTH, 2004). Um

46 http://www.instituteofplay.org/about/

47 http://www.viamagia.org/escola/adultos_formacaoprofessores.html 48 http://neojiba.org/historico/

exercício artístico, por exemplo, pode ampliar os horizontes profissionais de um artista, fazendo com que ele enxergue novas possibilidades profissionais com a instrução de como ele pode chegar “lá”.

Talvez o maior desafio para utilizar a arte para o ensino na aprendizagem do empreendedorismo (DAVEL; VERGARA, 2007) ocorra na tensão pré-estabelecida entre o dito formal (empreendedorismo) e informal (arte). A tensão ocorre entre a inserção da arte nos espaços de trabalho e as estratégias empreendedoras que focam certa ordem já estabelecida para os mesmos espaços (HJORTH, 2004; OLIVEIRA, 2003). A ambiguidade da arte no campo do empreendedorismo (SUTTON-SMITH, 1997) então pode ser sintetizada no conflito entre a noção de trabalho e de arte, pré-estabelecida, onde o trabalho é visto por muitos como algo estritamente sério e a arte como algo estritamente divertido. Ao educador, orientamos que é possível superar a barreira dessa noção para os jovens mais resistentes às atividades que envolvam a arte para o aprendizado do empreendedorismo com muito diálogo, paciência e perseverança. No diálogo, a escuta é imprescindível para que a participação dos estudantes ocorra e o engajamento aconteça de forma mais rápida possível. A paciência e perseverança são auxiliares para que o processo educacional transcorra até o fim, com êxito.

Outro desafio para o ensino através de áreas mais artísticas do empreendedorismo é pela novidade da proposta para muitos empreendedores e interessados no tema. Motivá-los a se engajarem em atividades com fundamento na arte, explicando passo-a-passo do que vai ser feito, sobre as vantagens e casos práticos que deram certo com a experiência na aprendizagem mais artística e criativa, são estratégias para motivar aqueles que forem aprender sobre empreendedorismo.

3 . Estratégias de Integração da Arte no Ensino-Aprendizagem do Empreendedorismo

Com fundamento nas potencialidades, nas vantagens e nos desafios do uso da arte no processo de aprendizagem do empreendedorismo e pensando no contexto informal ou não formal do ensino do empreendedorismo, estabelecemos sete expressões artísticas como elementos estratégicos de integração da arte no processo de aprendizagem do empreendedorismo, sendo elas: linguagem musical, linguagem teatral, linguagem audiovisual, linguagem da dança, linguagem fotográfica, linguagem das artes plásticas e linguagem literária. Faz-se importante ressaltar para o educador que, a cada expressão, é fornecido procedimentos gerais e alguns exemplos de aplicabilidade de cada expressão para o ensino e aprendizagem do empreendedorismo. Uma possibilidade aqui desenhada jamais deve ser executada apenas de uma forma pelo educador, pois cada grupo é único e os procedimentos pedagógicos devem ser

pensados conforme o grupo sempre tendo em vista à criatividade e a inovação de cada educador, afinal, a inovação é uma possibilidade de ser ativada por todos (AGUSTINI, 2014).

Destacamos a opção por diversas linguagens artísticas, ainda que de forma objetiva, pois a sinergia entre as linguagens e ampliação de possibilidades para o ensino do empreendedorismo. O intuito não é especializar em uma linguagem artística, mas oferecer um conjunto de possibilidades pedagógicas do ensino do empreendedorismo através das artes (JEFFCUTT, 2004).

3.1 Aprendizagem pela Linguagem Musical

A música, área artística muito adotada para o ensino de forma geral, vem sendo utilizada como potencial recurso pedagógico em diversas áreas de ensino como os estudos organizacionais, as artes, a educação, a psicologia, entre outros (CARVALHO, 1994; DAVEL; VERGARA, 2007; OLIVEIRA; STOLTZ, 2010; PORCHER, 1982; VYGOTSKY, 2001), pois ela tem o potencial de tornar um sentimento antes subjetivo, em coletivo tendo como função, além do aprendizado (DAVEL; VERGARA, 2007), a sociabilidade (CARVALHO, 1994; apud OLIVEIRA, M; STOLTZ, 2010; VYGOTSKY, 2001) e a capacidade de mobilizar diversas pessoas, desenvolvendo a concentração para a sua atividade (OLIVEIRA; STOLTZ, 2010).

Muitos projetos sociais, culturais e de desenvolvimento territorial utilizam a música como elemento de formação e encaminhamento profissional49, o que pode contribuir com ideias para o educador desenvolver seus trabalhos de ensino e aprendizagem do empreendedorismo com base na música. O Olodum50, banda baiana de Salvador (Bahia), é um forte exemplo de uso da arte na aprendizagem. No caso, a formação em música, principalmente para crianças, adolescentes e jovens adultos, fez com que o Olodum se tornasse mais do que uma banda, mas uma instituição promotora de ações político-sociais e geração de empregos (CARVALHO, 1994).

A primeira possibilidade de uso da música para o ensino do empreendedorismo seria a utilização da composição musical. O educador, após conhecer o grupo que irá participar das aulas sobre empreendedorismo, pensaria em composições de músicas sobre os assuntos. A composição musical oferta diversas maneiras de se desenvolver o ensino e a aprendizagem do

49 http://vivafavela.com.br/362-acoes-culturais-revelam-jovens-talentos-no-rio/; http://www.pracatum.org.br/; http://neojiba.org/; http://www.projetopalco.com.br/site/em-cena/index/q/jixw;

empreendedorismo. O gênero musical, ou gêneros musicais – deve(m) ser escolhido(s) de acordo com a realidade do grupo. Por exemplo, se o grupo tiver alguma ligação com o gênero tecnobrega, como boa parte de Belém do estado do Pará, seria interessante pensar em uma música que tenha o ritmo do tecnobrega; se o grupo tiver como referência majoritária o samba, se deve levar em conta esse aspecto. Os estudantes podem cantar as composições e assim ir refletindo sobre o assunto ensinado. O papel do educador é coordenar todo o processo organizando equipes - se for o caso - procedimentos, consultando os estudantes sobre o que eles acham, se eles possuem alguma contraproposta sobre o exercício, estipular o tempo da atividade previamente e controlar o tempo durante todo o período de ensino.

A segunda possibilidade de uso da música para o ensino do empreendedorismo seria a utilização e improvisação do rap. O educador, após conhecer o grupo que irá participar das aulas sobre empreendedorismo, solicitaria aos estudantes voluntários que improvisassem raps, um de frente para o outro, e, assim, fariam uma batalha de rap do empreendedorismo. O papel do educador é de novamente gerenciar todo o processo de aprendizagem, explicando, detalhadamente, o que é a batalha de rap, como ela deve ocorrer e quais os aprendizados que serão desenvolvidos nessa atividade.

3.2 Aprendizagem pela Linguagem Teatral

O teatro, área artística muito adotada pela arte-educação, vem sendo utilizada como potencial recurso pedagógico em diversas áreas de ensino como os estudos organizacionais, as artes, a educação entre outros (BOAL, 2009; DAVEL; VERGARA, 2007; MOREIRA; MARANDINO, 2015; OLIVEIRA; STOLTZ, 2010), por estimular a expressão de cada indivíduo, desenvolver o trabalho em grupo e fortalecer o exercício da escuta e da improvisação.

Muitos projetos sociais, culturais, educacionais e de desenvolvimento territorial, utilizam o teatro como elemento de capacitação e encaminhamento profissional51, o que podem contribuir para o educador desenvolver seus trabalhos de ensino-aprendizagem do empreendedorismo com base no teatro.

O teatro do oprimido é um teatro que se aproxima muito da possibilidade de aprendizagem do empreendedorismo pela linguagem teatral. A arte-educadora Rô Reys, diretora do Instituto Casa Via Magia, com mais de três décadas de experiência na arte-

51 http://www.afroreggae.org/oficinas-culturais/; http://www.projetopalco.com.br/site/em-cena/index/q/jixw; http://www.viamagia.org/instituto/instituto_formacao.php

educação e com experiência predominante na área do teatro, diz que o teatro do oprimido fornece metodologias coerentes com diversas realidades e grupos de estudantes, pois considera e desenvolve a identidade individual e coletiva através da realização do teatro (BABBAGE, 2004).

O teatro do oprimido (também chamado de teatro-fórum) é capaz de fazer o sujeito se enxergar como belo (BOAL, 2009), elevando sua autoestima e valorizando sua identidade. Esse tipo de teatro já pensa em um público-alvo para experimentar o teatro, e para isso busca conhecer os sujeitos e valorizá-los a partir do que são e do que possuem. Rô Reys relata uma experiência em que em uma comunidade indígena na qual os alunos não queriam nada que fizesse parte do universo deles. Achavam o lugar em que moravam “feio”, pois se comparavam com outros lugares “bonitos” para eles. Ao deslocar a sala de aula para a floresta e conseguir estimulá-los para as belezas do seu próprio espaço e da sua própria cultura, eles