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O sarau como tecnologia social do empreendedorismo cultural: a força da identidade cultural local

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL

CENTRO INDERDISCIPLINAR DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL

ISRAEL MARQUES CAMPOS

O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO

EMPREENDEDORISMO CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE

CULTURAL LOCAL

Salvador

2016

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ISRAEL MARQUES CAMPOS

O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO

EMPREENDEDORISMO CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE

CULTURAL LOCAL.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Multidisciplinar e Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social do Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social.

Orientador: Profº. Ph.D. Eduardo Davel

Salvador

2016

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Escola de Administração - UFBA

C198 Campos, Israel Marques.

O sarau como tecnologia social do empreendedorismo cultural: a força da identidade cultural local / Israel Marques Campos. – 2016.

178 f.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Davel.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de Administração, Salvador, 2016.

1. Empreendedorismo - Cultura. 2. Cultura popular. 3. Identidade social. 4. Cultura na arte. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. II. Título.

CDD – 338.04

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A Milton Júlio, Rafael e João Davi, minha família.

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ISRAEL MARQUES CAMPOS

O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO EMPREENDEDORISMO CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE CULTURAL LOCAL.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Multidisciplinar e Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social do Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, Universidade Federal da Bahia – UFBA.

Prof. Ph.D. Eduardo Paes Barreto Davel (orientador)

Doutor em Administração pela École des Hautes études commerciales, Canadá Universidade Federal da Bahia

Prof. Ph.D. Fábio Almeida Ferreira

Doutor em Radio, TV e Filme pela University of Texas - Austin, Estados Unidos Universidade Federal da Bahia

Prof. Ph.D José Marcelo Dantas dos Reis

Doutor em Sociologia pela Université de Paris VII - Dennis Diderot, França Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Profª. Ph.D Maria Amelia Jundurian Corá

Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Ricardo Castro

Gestor, maestro e professor do NEOJIBA - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia. Professor na HEMU - Haute Ecole de Musique Vaud - Valais - Fribourg

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a meu marido Milton Júlio e meus filhos Rafael e João Davi por todo o apoio nesse processo.

Gratidão ao professor Eduardo Davel, pela constante orientação, sabedoria e dedicação.

Obrigado às colegas de mestrado Fabiana Pimentel e Hilda Cezário pelas frequentes contribuições para o presente trabalho.

Obrigado às amigas Paula Calezani, Lucinda Hora e Marianna Schmidt pelas respectivas ajudas na revisão em língua inglesa, revisão em língua portuguesa e auxílio gráfico.

Agradeço ao Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS) e à Universidade Federal da Bahia, como universidade pública e gratuita, por esse importante Mestrado para o desenvolvimento da sociedade.

Obrigado ao Sesc/Bahia e ao Núcleo de Licitação por apoiarem meu ingresso no Mestrado.

Satisfação em agradecer a todas e a todos colaboradoras(es) diretos dessa dissertação, que além da contribuição, inspiraram fortemente esse trabalho: as arte-educadoras: Rô Reis (Casa Via Magia), Luciene Santos (Canastra Real) e Nadja Carvalho, a empreendedora social Monique Evelle (Desabafo Social), os músicos/produtores/empreendedores da cultura: maestro Ricardo Castro (Neojiba); Vovô do Ilê (Ilê Ayê); Aspri (RBF), Denny e Marquinhos (DM de Boa), Jorge Hilton (Simples Rap’Ortagem), Mr.Armeng, Dj Branco, Dj Mauro Telefunksoul, André T e Luciano Bahia, a professora Maria Suzana Moura, a comunidade do território Nordeste de Amaralina, aos jovens artistas e profissionais da cultura do Nordeste de Amaralina e aos estudantes de graduação do componente “Tópicos Especiais em Gestão Social 2015.2” da UFBA.

Agradeço, por fim, as(os) jovens, as mulheres, as pessoas pobres, as periferias, as(os) negras(os), as(os) LGBTs e a todos os grupos historicamente oprimidos ao provocarem e auxiliarem na construção de uma sociedade mais justa.

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A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta! Você vai carregar água na peneira a vida toda. Manoel de Barros

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CAMPOS, Israel Marques. O Sarau como Tecnologia Social do Empreendedorismo

Cultural: a Força da Identidade Cultural Local. 2016. 178 f. Dissertação (Mestrado) –

Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia.

RESUMO

A capacitação de jovens artistas em empreendedores culturais, especialmente nos contextos dos bairros periféricos, é uma importante ação para o desenvolvimento tanto dos jovens quanto dos territórios potencialmente criativos. No entanto, alcançar esses jovens por meio do ensino formal ou convencional do empreendedorismo apresenta muitas dificuldades, seja pela falta de ensino do empreendedorismo cultural nas escolas ou pela forma do ensino que repele os jovens nas instituições de ensino. Carecemos de atualizações pedagógicas para alcançar as novas gerações em contextos de aprendizagem mais fecundos ou adequados. Essa dissertação configura-se em uma tecnologia social, pois propõe um saber que possa ser utilizado em comunidades para fomentar e desenvolver as forças empreendedoras locais no âmbito da cultura e das artes. Tratamos os empreendedores culturais como aqueles que são voltados para a emancipação e a promoção de mudanças sociais, através de um trabalho coletivo, participativo e com fundamento na identidade cultural local. A tecnologia social se constitui através de três elementos: empreendedorismo cultural, a pedagogia artística e a gestão participativa. A dissertação busca contribuir na capacitação de empreendedores atuantes na dinamização da cultura a partir de um formato que é familiar e desejável aos jovens: o sarau, a arte, a sociabilidade comunitária e o lazer. Cada comunidade aplicará a tecnologia social de ensino do empreendedorismo cultural através das artes. Implicações e orientações para aplicação do desenho da tecnologia social são formuladas, apresentadas e debatidas.

Palavras-chave: empreendedorismo cultural; pedagogia artística; gestão participativa;

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CAMPOS , Israel Marques. O Sarau como Tecnologia Social do Empreendedorismo

Cultural: a Força da Identidade Cultural Local. 2016. 178 f. Dissertação (Mestrado) –

Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia.

ABSTRACT

The training of young artists into cultural entrepreneurs, especially in peripherical neighborhoods contexts, is an important action for the development of both young people and potentially creative territories. However, reaching those young people through formal or conventional education presents many difficulties due to the lack of teaching of cultural entrepreneurship in schools or the current way of teaching that repels young people in schools. We lack pedagogical updates to reach new generations in a more fertile or appropriate learning context. This dissertation proposes a social technology to be used in communities to promote and develop local entrepreneurial forces within the culture and the arts. We recognize as cultural entrepreneur those focused on emancipation and the promotion of social change thought participative and collective work based on local cultural identity. The social technology is composed by three elements: cultural entrepreneurship, artistic pedagogy and participative management. This dissertation highlights the contribution on the training of cultural entrepreneurs on a format that is familiar and desirable to young people: the “sarau”, art, community sociability and recreation. Local cultural identity is the basis of cultural entrepreneurship since it is through their now identity that each community will apply cultural entrepreneur teaching social technologies though the arts. Implications and guidelines for implementation of the social technology design are formulated, presented and discussed.

Keywords: cultural entrepreneurship; artistic pedagogy; participative management; local

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LISTAS DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS

Quadro 1 - Artigos e Seus Usos no Ensino-aprendizagem ... 16

Quadro 2 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores da Música... 32

Quadro 3 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores Gestores no Campo da Música ... 33

Quadro 4 - Roteiro para Entrevistas com Arte-Educadoras ... 34

Quadro 5 – Roteiro para Entrevistas com Jovens Artistas e Produtores Culturais... 34

Quadro 6 - Roteiro para Entrevistas com Jovens Artistas e Produtores Culturais participantes do Sarau Empreendedor... 36

Quadro 7 – Perfis dos Entrevistados... 35-37 Quadro 8 - Roteiro de Observação...38

Quadro 9 - Funções do Facilitador ... 39

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...17

1.1EMPREENDEDORISMOCULTURAL... ... 17

1.2 IDENTIDADE CULTURAL LOCAL...21

1.3ARTE COMOFONTEPARAAAPRENDIZAGEM ... ...25

1.4 GESTÃO PARTICIPATIVA DE EVENTOS COMUNITÁRIOS...26

2 METODOLOGIA DE PESQUISA ... 28

2.1DESENHOMETODOLÓGICO ... 28

2.2TÉCNICASDECOLETADEDADOS ... 29

2.2.1 Documentos ... 29

2.2.2 Entrevistas ... 30

2.2.3 Observação Participante ... 38

2.3ANÁLISEDOSDADOS ... 39

3 O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO EMPREENDEDORISMO CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE CULTURAL LOCAL...41

3.1 EMPREENDEDORISMOCULTURAL,APRENDIZAGEMEIDENTIDADE TERRITORIAL:ODESBRAVAMENTODEJOVENSMÚSICOSDENORDESTEDE AMARALINA(ARTIGO1) ... 42

3.2 ARTEEGESTÃOPARTICIPATIVAEMPROLDOEMPREENDEDORISMO CULTURAL:SARAUEMPREENDEDORCOMOTECNOLOGIASOCIAL(ARTIGO 2)...68

3.3 EMPREENDEDORISMOMUSICAL:CONHECIMENTOSEPRÁTICASPARA ALAVANCARACARREIRAEMPREENDEDORA(ARTIGO3) ... 95

3.4 ARTEEPARTICIPAÇÃOCOMOPRINCÍPIOSDEAPRENDIZAGEMPARAO EMPREENDEDORISMO(ARTIGO4) ... 118

3.5 GESTÃOPARTICIPATIVADEEVENTOSCOMUNITÁRIOS:PRINCÍPIOSE PRÁTICASCOMFUNDAMENTONAIDENTIDADELOCAL(ARTIGO5) ... 139

4 DISCUSSÃO E IMPACTOS ... 164 4.1 IMPACTOS TEÓRICOS...164 4.2 IMPACTOS SOCIOCULTURAIS...165 4.3 IMPACTOS SOCIOPROFISSIONAIS...165 4.4 IMPACTOS EDUCACIONAIS...166 CONCLUSÕES ... 167 REFERÊNCIAS ... 169

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INTRODUÇÃO

Percebe-se que muitas capacitações, formações e processos educacionais em geral carecem de novos formatos para a educação de jovens. Em especial, nota-se que jovens artistas muitas vezes não possuem perspectivas para fazerem da sua atividade, algo rentável, profissional ou, se pensam em perspectivas desses tipos, não sabem como alcançar seus objetivos.

A pesquisa trata do jovem artista, em especial o músico, objeto de pesquisa desse trabalho, no contexto de Salvador, no estado da Bahia, uma cidade considerada por alguns autores e pelo senso comum como uma cidade de caráter festivo e musical, tendo recebido o título da UNESCO no ano de 2015 de “Cidade da Música” 1. Considerando a cidade de

Salvador, a afinidade do jovem com a arte e consoante à necessidade de novas formas educacionais para os jovens, essa dissertação é caracterizada pela vocação de tecnologia social, pois possui como objetivo a proposição de um saber que possa ser utilizado em comunidades para fomentar e desenvolver as forças empreendedoras locais no âmbito da música, da cultura e das artes, sempre com fundamento e valorização da identidade cultural local. Ressalta-se que a tecnologia aqui construída foi também pensada para territórios que não tenham reconhecimentos ou grande histórico em arte ou produções culturais, pois a partir da educação empreendedora, através das artes e da gestão de eventos comunitários, é possível desenvolver aspectos culturais e artísticos na comunidade.

Espera-se que as pessoas aptas para a função de aplicar a tecnologia social sejam líderes, empreendedores, gestores, mobilizadores, agitadores culturais, artistas e educadores e que, ao aplicarem a presente tecnologia, capacitem e estimulem jovens músicos e artistas para empreenderem no campo da cultura. Destacamos que o próprio jovem pode e deve ser líder, gestor, empreendedor e também aplicar a presente proposta. Com fins didáticos, esse trabalho se refere, geralmente ao público-alvo, como “líderes”, compreendendo que os líderes podem possuir a competência ou o desejo de obter a competência de empreender, educar e administrar eventos comunitários. Nos artigos tecnológicos específicos (a organização dos artigos é explicada ao final dessa introdução), os tratamentos ao público-alvo podem mudar. Por exemplo, no artigo 4, referente à pedagogia artística, chamaremos o público-alvo apenas de “educadores”, tendo em vista que cada artigo cumpre objetivos específicos.

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A partir dessas considerações, o problema de pesquisa dessa pesquisa, então, se estrutura com a seguinte pergunta: como um sarau comunitário pode se tornar um instrumento de capacitação e estímulo de empreendedores culturais? A partir dessa questão, se desdobram as seguintes questões: como um processo de ensino-aprendizagem do empreendedorismo através das artes pode interessar e capacitar os jovens?

Percebe-se que muitos jovens são frequentadores de festas, eventos artísticos e saraus. Essas atividades dinâmicas, por vezes puramente artísticas, nos fazem crer que esses eventos são importantíssimos de serem considerados para uma capacitação aliadas ao que os jovens gostam. Pensando que a capacitação seria voltada para o empreendedorismo cultural e que o público-alvo da capacitação seriam jovens músicos e artistas em geral, a dimensão artística da tecnologia social ganha ainda mais importância.

O aspecto artístico e seus processos lúdicos, inovadores e criativos se apresentam como potenciais espaços para o empreendedorismo (KOLB, 2010), o que nos traz a ideia de sarau como o lócus criado através da arte que se propõe a ser um espaço de sociabilidade, de lazer e de capacitação e estimulo. O criar, se divertir, “curtir”, na linguagem de muitos jovens, é um atrativo, um motivador, um facilitador e um fortalecedor do ensino e difusão do empreendedorismo cultural.

A identidade cultural local foi trabalhada nessa dissertação, pois se compreende que não é possível o êxito de uma proposição de ensino do empreendedorismo cultural em um contexto de bairros periféricos, sem a consideração exata da importância da identidade cultural para isso. Percebe-se que, o sujeito contemporâneo possui, hoje, múltiplas identidades (HALL, 2011) e, através das entrevistas realizadas nessa pesquisa, nota-se que os projetos socioculturais bem-sucedidos em seus objetivos contaram com a consideração da identidade cultural local para o seu êxito, como a Pracatum, a Fábrica Cultural e o Ilê Ayê, que serão mais bem discutidos no decorrer desse trabalho.

Em síntese, as seguintes justificativas teóricas fundamentam a pesquisa:

• não foram encontradas em documentos, livros ou sites, propostas de capacitação e estímulo para o empreendedorismo, em específico o empreendedorismo cultural, que não fossem limitadas à pedagogia tradicional de sala de aula;

• uso reduzido de abordagens artísticas para a capacitação e estímulo para o empreendedorismo, conforme livros, documentos e experiências de ensino do empreendedorismo;

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• a pesquisa sobre sarau como tecnologia social, como será demonstrado no decorrer dessa dissertação, contribui para ampliar os tipos de estratégias de capacitação e estímulo do empreendedorismo, revelando a força da arte e seu potencial de transformação social quando utilizada junto ao público jovem.

Como meio de estímulo e capacitação, esse trabalho optou pelo estudo do empreendedorismo. Vale pontuar que, em meio a diversas conceituações de empreendedorismo, o recorte conceitual de empreendedorismo como um meio de emancipação, inovação e criatividade foi escolhido. O empreendedorismo então, nesse trabalho é definido como o esforço de criar novos ambientes econômicos, sociais, institucionais e culturais através da ação de diversos indivíduos (CALÁS et al., 2009).

Essa pesquisa se justifica, de forma geral, pela demanda de capacitação e estímulo voltados ao empreendedorismo cultural, considerando as referências e práticas identitárias locais, bem como pelo ineditismo de um estudo que proponha um sarau como processo educacional para o empreendedorismo cultural (CAMPOS; DAVEL, 2015).

Este estudo também se justifica pelo fato de podermos compreender, organizar e sugerir instrumentos de capacitação para jovens artistas de bairros periféricos para confirmar ou gerar novas questões a respeito do assunto. Desconfia-se que o espaço periférico é menosprezado por empresários e instituições de fomento da música, devido à cultura produzida nesses espaços periféricos ser associada como “menor” ou pela associação desses espaços com grupos marginalizados. Pensa-se, seguindo tendências de outros países e no Brasil, que o empreendedorismo cultural tem sido um caminho para a emancipação dos sujeitos, da cultura e dos bairros periféricos (DORNELES, 2014; EDMONDSON, 2008; SALAZAR, 2015).

Visando à capacitação e estímulo para o empreendedorismo cultural, com um formato específico para o público jovem, foram pensadas as seguintes justificativas educacionais, de caráter tecnológico, que fundamentam a presente dissertação:

• importância de capacitação e estimulo específicos para o desenvolvimento do empreendedorismo na economia criativa;

• importância de capacitação e estimulo específicos para o desenvolvimento dos jovens nos bairros de periferia;

• inexistência, até a publicação dessa dissertação, de pedagogia em ressonância com a cultura jovem e baseada na arte dentro do contexto do empreendedorismo cultural;

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• importância de encontrar estratégias para motivar e empoderar os jovens a se desenvolverem como empreendedores.

Como justificativa pessoal, esse trabalho é motivado pelo desejo do pesquisador em ser um dos elementos que auxiliem na transformação social, através da educação, do conhecimento e da arte. Assim como o empreendedorismo cultural pensado nesse trabalho, o pesquisador não visualiza o sentido de crescer individualmente sem colaborar com o crescimento coletivo, principalmente dos grupos historicamente menos favorecidos.

O objetivo geral deste trabalho consiste em propor uma tecnologia social que capacite e estimule jovens artistas a atuarem como empreendedores em ressonância com a identidade cultural local. Disso isso, esclarecemos que não há a intenção aqui de exercer um trabalho de adensamento teórico e crítico acerca das temáticas postas, contudo os processos sociais que perpassam os jovens artistas de periferias podem ser percebidos com destaques no decorrer da pesquisa, bem como a teoria que embasa os principais conceitos aqui utilizados. Por fim, especificamente, essa dissertação objetiva:

• identificar, descrever e categorizar os conhecimentos específicos do empreendedorismo na área de cultura e música, levando em consideração a importância da identidade cultural local;

• identificar, descrever e categorizar abordagens e práticas pedagógicas com fundamento na arte, no empreendedorismo e na gestão participativa;

• comparar e associar as práticas e abordagens pedagógicas (resultado do segundo ponto) aos conteúdos que capacitem e estimulem o empreendedorismo (resultado do primeiro ponto) para a elaboração de uma tecnologia social baseada em gestão participativa de eventos comunitários para o ensino do empreendedorismo através das artes.

• realizar, de forma coletiva, conforme o objetivo anterior, um sarau que estimule e capacite jovens para o empreendedorismo cultural em um território periférico.

A tecnologia social nomeada de Sarau Empreendedor se organiza na presente pesquisa, no formato de artigos, conforme o Quadro 1. Os artigos possuem caráter tecnológico, no intuito de transformar carreiras artísticas e territórios criativos. Em síntese, o artigo 1 tem o intuito de sensibilizar o leitor e introduzir ideias apresentadas nos demais artigos; o artigo 2 desenha de forma geral como foi construída e como funciona a tecnologia social; o artigo 3 apresenta os

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conhecimentos do empreendedorismo musical; o artigo 4 apresenta a pedagogia artística para o ensino-aprendizagem do empreendedorismo, através de linguagens artística; o artigo 5 retrata como operacionalizar a gestão participativa para a realização de um evento comunitário. A articulação desses artigos constitui a tecnologia social do Sarau Empreendedor, contudo, todos os artigos foram construídos para funcionarem também de forma autônoma.

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Quadro 1 - Artigos e seus usos no ensino-aprendizagem

Produtos Uso no ensino-aprendizagem Conteúdo

Artigo 1

(caso de

ensino)

Provocar interesse, reflexão e consciência sobre a o papel do empreendedorismo, do ensino do empreendedorismo e da identidade cultural local.

- Sensibilização para a necessidade da tecnologia proposta;

-Orientações ilustrativas para aplicação da tecnologia social;

- Apresentação introdutória de alguns conceitos chaves da tecnologia social, sendo eles a identidade cultural local, o empreendedorismo cultural e a pedagogia artística.

Artigo 2

(tecnológico)

Introdução à tecnologia social. Desenho geral da tecnologia social, orientações de como aplica-la e de como os principais elementos que compõem a tecnologia social se articulam. Ilustração da aplicação do Sarau Empreendedor, através da primeira experiência com a tecnologia social.

- A importância do empreendedorismo cultural; -Desafios no ensino-aprendizagem do

empreendedorismo cultural através das artes; - Passo-a-passo para aplicar a tecnologia social; - Gestão participativa do Sarau e seus processos; -Conteúdo do Sarau e seus processos;

-Pedagogia artística do Sarau e seus processos.

Artigo 3

(tecnológico)

Conhecer princípios, relevâncias, aplicações e fontes dos conteúdos empreendedores da música.

- Definição do empreendedorismo cultural e do empreendedorismo musical;

- Definição e indicação dos principais conteúdos a serem aprendidos para aplicação da tecnologia social.

Artigo 4

(tecnológico)

Conhecer a pedagogia artística proposta para o ensino do empreendedorismo. Conhecer possibilidades gerais de utilização de sete distintas linguagens artísticas. Destacar a importância da participação para o ensino do empreendedorismo.

- A arte a participação como princípios; - Estratégias de integração da arte no

ensino-aprendizagem do empreendedorismo;

- A participação como dimensão integradora da arte no processo de aprendizagem do empreendedorismo.

Artigo 5

(tecnológico)

Conhecer princípios e práticas da gestão participativa de eventos comunitários. Ilustração da aplicação do Sarau Empreendedor, através da primeira experiência com a tecnologia social.

- Princípios e práticas da gestão participativa de eventos comunitários

-Participação, identidade local e empreendedorismo cultural como princípios -As vantagens e dificuldades da gestão

participativa

- Recursos, parcerias, comunicação, marketing e riscos na gestão participativa.

Fonte: Elaboração do autor.

A pesquisa apresenta, portanto, a seguinte estrutura, dividida em capítulos: fundamentação teórica, metodologia, os cinco artigos que constituem a tecnologia social, discussão e impactos, conclusões e referências bibliográficas.

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CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesse capítulo iremos apresentar a fundamentação teórica que compõe a tecnologia social do Sarau Empreendedor: o empreendedorismo cultural, a identidade cultural local, a pedagogia artística e a gestão participativa de eventos comunitários. A fundamentação teórica tenta ser a mais objetiva possível, desde quando cada artigo traz mais elementos teóricos que sustentam cada elemento que compõe a tecnologia. Antes de adentramos nas teorias principais, se faz necessário definir, de forma sintética, o que entendemos por tecnologia social: a tecnologia que é “caracterizada pelos produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social” (Dagnino, 2012)2.

1.1EMPREENDEDORISMOCULTURAL

O empreendedorismo na idade moderna, pós-revolução industrial, portanto, é traduzido como possibilidade para crescimento, enriquecimento e emancipação individual. A dimensão era apenas a econômica. A atividade do empreendedorismo, da Revolução Industrial até à contemporaneidade, sofre uma grande transformação, sintetizada na seguinte sentença: “A consciência social substituiu o individualismo” (VRIES, 2010).

Na contemporaneidade, vários são os recortes que o campo do empreendedorismo ganha, porém o recorte conceitual de empreendedorismo, quando pensamos no campo cultural, como um meio de emancipação é o mais interessante quando buscamos dialogar este conceito com a ideia de “consciência social” e o conceito de identidade cultural local. O empreendedorismo cultural então, nesta pesquisa, é definido como o esforço de criar novos ambientes econômicos, sociais, institucionais e culturais através da ação de diversos indivíduos (CALÁS et al., 2009), é uma área disposta a promover rupturas e mudanças positivas, de sucesso (EDMONDSON, 2008) e de emancipação (RINDOVA et al., 2009), e com características de inovação e criatividade (HJORTH, 2013), realizando impactos sociais, através do trabalho coletivo, com fundamento na identidade cultural local .

2 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler também: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. 2007.

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O empreendedorismo cultural, recorte que iremos adotar em trechos do trabalho (podemos falar em empreendedorismo musical quando tratarmos especificamente do campo da música), é examinado como lócus principal de atuação dos artistas contemporâneos, no caso dessa dissertação, os músicos, que precisam encarar sua arte como negócio, e assim tornar-se um artista profissional (SALAZAR, 2015). A área do empreendedorismo cultural pode ser caracterizada como um campo que abarca e exige do empreendedor diversas qualificações artísticas e empresariais (ELLMEIER, 2003; LEADBEATER et al., 1999) ou como um processo de mediação entre os recursos já existentes em empresas e a criação de novas riquezas (LOUNSBURY, 2011).

O empreendedorismo cultural pode ser visualizado como uma atividade que não nega a dimensão econômica, mas possui a cultura como orientação e finalidade. Orientação, pois é a partir da cultura, especificamente da identidade cultural local, que empreender cultura faz sentido. É a singularidade de cada grupo e território que faz um empreendimento no âmbito da cultura ser uma referência e sustentável.

Historicamente, o empreendedorismo cultural de Salvador/Bahia tem fortes raízes na cultura afro-baiana e nos negócios da música (CARVALHO, 1994; DANTAS; FISCHER, 1993; MOURA, 2009; MIGUEZ, 1997). A identidade cultural local de Salvador é bem reconhecida nacionalmente e internacionalmente, sendo promotora de resistência cultural e econômica na cidade de Salvador (DANTAS; FISCHER, 1993). Essa identidade de resistência, associada às periferias e outros locais financeiramente pobres, devido à continuidade de processos de racismo contra o povo negro oriundo da escravidão, originaram projetos sociais e artísticos históricos na cidade, como o Olodum, que além da identidade cultural local, conseguiu estabelecer uma identidade ligada ao movimento musical global (CARVALHO, 1994; DANTAS; FISCHER, 1993). Na contemporaneidade, iniciativas como o Batekoo3 e o Sarau da Onça4 são expressões soteropolitanas marcantes pela estética negra, relação com a história da cidade de Salvador e conceitos ligados à identidade cultural local.

Voltando a história, o jovem músico e o público jovem ganham destaque no Brasil com a jovem guarda, movimento do rock brasileiro onde o mercado da música passou a diferenciar o público adulto do público jovem (DANTAS, 2015). Em um meio competitivo que se tornou o mercado da música jovem, empreender e gerir a cultura local tem se mostrado não só no

3 http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,batekoo-marca-o-fortalecimento-do-movimento-negro-no-brasil,10000058909

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Brasil, como nos EUA, como um caminho que gera bons frutos, tanto artisticamente como financeiramente (EDMONDSON, 2008).

Na perspectiva econômica, o mercado cultural acaba quebrando a separação entre economia e cultura, mostrando que a contemporaneidade coloca a cultura como protagonista na economia global, substituindo a era moderna da economia industrial para a era pós-moderna da economia da cultura (ELLMEIER, 2003).

Tendo em vista essa afinação entre economia, necessidade dos empreendedores culturais em formalizar e progredir os seus negócios, e a identidade cultural como influência e destaque nos empreendimentos cultural, o empreendedorismo cultural pode ser pensado como um caminho a suprir um déficit que ocorre na contemporaneidade em termos de economia, trabalho e emprego.

Um dos maiores desafios que o empreendedorismo cultural enfrenta, é a crise econômica global e, consequentemente, a crise no mercado cultural local, contudo ao mesmo tempo em que o desemprego hoje atrapalha na fluidez da economia da cultura, ele impulsiona os indivíduos, especialmente os jovens empreendedores, a buscarem soluções diversas para se desenvolverem, ampliando assim as possibilidades de trabalhos e desenvolvimento individual, territorial e social (DEHEINZELI, 2006).

Sob uma perspectiva de geração de trabalho, o empreendedorismo cultural pode ser um caminho para que muitos jovens desse contexto se tornem qualificados para ingressarem e/ou estarem qualificados no mercado de trabalho. Vale apontar que esse caminho não é “novo”, visto os incentivos recentes do governo brasileiro através do SEBRAE ao microempreendedorismo5, de iniciativas governamentais6 e das estratégias europeias de incentivar o empreendedorismo cultural a fim de aumentar os empregos nos países daquele continente (ELLMEIER, 2003).

Sobre o tema, é possível destacar que o desemprego não atinge todos os jovens da mesma forma. Segundo dados da OIT, os jovens de baixa renda, negros ou mesmo as mulheres com alta escolaridade, são os mais afetados pelo desemprego, tem piores condições de trabalho e possuem um grau de instrução muitas vezes sem atingir o ensino fundamental (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2014). A necessidade segue como

5 Lei Complementar 128, de 19 de dezembro de 2008, disponível em: http://www18.receita.fazenda.gov.br/legislacao/LeisComplementares/2008/leicp128.htm

6 https://raquelrolnik.wordpress.com/2016/08/04/lei-de-fomento-a-periferia-de-sp-inova-ao-reconhecer-a-dimensao-territorial-da-cultura/

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razão fundamental do jovem pobre para trabalhar, embora a OIT destaque outras dimensões, como a autonomia e a realização pessoal. Os conhecimentos empreendedores se fazem cada vez mais necessários para os jovens, pois a “inserção digna e ativa no mundo do trabalho e a geração de trabalho e renda através da economia popular e solidária, associativismo rural, e empreendedorismo”(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2014).

Com momentos de crise apontada no mercado formal7, o empreendedorismo cultural é apontado como uma tendência em termos de possibilidades de trabalho, principalmente entre as pessoas jovens (ELLMEIER, 2003; LEADBEATER et al., 1999). Ressaltamos no entanto, que o empreendedorismo não visa atuar na informalidade

Não só pelo desenvolvimento econômico, como também pela autonomia e realização pessoal, a juventude e o empreendedorismo estão sendo acolhidos pelas organizações públicas e privadas, quando se relacionam diretamente ou indiretamente com a economia e o trabalho. A cultura é objeto de investimento, justamente pelo fomento desses três campos que estão intimamente ligados a ela (LEADBEATER et al., 1999).

Conforme dados do MINC (2011), os setores criativos do Brasil vem crescendo anualmente, gerando bilhões de reais para a economia brasileira e ganhando cada vez mais representatividade no PIB brasileiro, vide a tabela abaixo:

Tabela 1 - Setores Criativos no Brasil

Fonte: Ministério da Cultura – MINC, 2011

7 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/01/1724881-brasil-pode-perder-ate-22-milhoes-de-vagas-formais-de-emprego-em-2016.shtml

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1.2IDENTIDADE CULTURALLOCAL

Para se falar da identidade cultural local, conceito entendido como fundamental para pensarmos no empreendedorismo cultural, se faz necessário conceituar identidade, para depois tratar do recorte espacial e do que entendemos por cultura nesse trabalho, examinando a identidade cultural local para, por fim, analisar a identidade cultural como fundamento do empreendedorismo cultural. A identidade pode ser pensada, sob o prisma sociológico, como algo continuamente em construção e reconstrução (CRAIB, 1998) e ao relacionar a identidade nacional, a identidade local e a identidade global como identidades promotoras de uma nova identidade híbrida, ou seja, uma identidade nova e em constante mudança (HALL, 2011). A concepção de identidade adotada nesse trabalho é de que esta pode e deve ser abordada através da interdisciplinaridade como a psicologia, sociologia, antropologia e os campos interdisciplinares como os estudos culturais (HOLLAND et al., 1998).

Tal qual o conceito de identidade, a cultura se apresenta como um conceito polissêmico, portanto possível de ser pensado sob diversas perspectivas. Pode-se adotar um conceito de cultura a ser ponderado: o conceito “diferencial” de cultura (BAUMAN, 2012).

Na perspectiva “diferencial”, “(...) o termo “cultura” é empregado para explicar as diferenças visíveis entre comunidades de pessoas (temporária, ecológica ou socialmente discriminadas).” (BAUMAN, 2012). Em outras palavras, “uma cultura” é (...) uma comunidade espiritual, uma comunidade de significados compartilhados. (BAUMAN, 2012)”.

A importância da cultura na configuração da identidade local é notória, visto que os indivíduos e grupos sempre são (re)formados como pessoas ou grupos através da cultura em que estão inseridos (HOLLAND, 1998). Essa referência é que solidifica uma base para que um negócio não surja apenas por uma necessidade econômica, mas de expressão e produção da sua própria identidade.

A identidade pode ser pensada então, como um caminho que nomeia as densas interconexões entre o íntimo e os locais públicos de práticas (HOLLAND et al.,1998). As identidades praticadas são construtos, frutos de vários contextos de atividades, como o mundo socialmente identificado, o mundo em que a atividade é o transmissor de mensagens e de localizadores de cada indivíduo no campo social (HOLLAND et al.,1998).

No campo da cultura, o investimento em si, é uma característica necessária ao indivíduo que trabalha com o mercado da cultura (NEFF, 2005), não só por sua estética, mas

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principalmente, por sua identidade. Conscientização, diálogo com os pares e qualificação profissional são necessários para os empreendedores culturais.

O território, portanto, quando visto como campo e produtor de desenvolvimento, nos demonstra o quanto o empreendedorismo cultural necessita beber da identidade cultural local para existir e ter razão de ser. A identidade cultural local não precisa do empreendedorismo para ser, existir, mas o contrário é necessário. Sem a identidade cultural local o empreendedorismo cultural vira uma reciclagem de ideias e negócios em um âmbito cultural monotemático. A identidade cultural local quebra monopólios culturais, expõe singularidades e reverte o perverso jogo de exclusão e desigualdade social, demonstrando o valor que a cultura possui.

Traduzindo para o objeto de pesquisa delimitado na presente dissertação, se os jovens artistas de periferia não se implicam no território, eles vão atrás apenas da mudança individual e não territorial. Para o engajamento com a comunidade, os jovens artistas de bairros periféricos podem conhecer a história daquele território, seus heróis e as conquistas dos seus moradores. A partir das apreensões desses jovens e da cultura musical, é possível que eles tenham mais chances de se engajarem na transformação positiva do seu território. As atividades criativas, portanto, são produtos de desenvolvimento não apenas individual, mas social e territorial, especialmente no caso do território, do desenvolvimento territorial local (LEADBEATER et al., 1999).

O recorte sócio espacial da periferia desse trabalho não é ao acaso. As diferenças entre o centro e as periferias brasileiras são visíveis e invisíveis. A diferença entre espaços nobilizados e espaços periféricos pode se constituir através da mercantilização do que há de mais precioso na cidade: o solo. Além do solo, há outra associação constante entre periferia, pobreza e marginalidade. Além desses aspectos, brevemente citados, Tanaka (2006) nos ajuda a entender a periferia a partir dos seguintes indicadores urbanísticos e habitacionais: infraestrutura; iluminação; rede de água e esgoto; tempo médio de deslocamento; traçado irregular das ruas e ausência de pavimentação; adensamento habitacional na moradia; condição de ocupação do domicílio. A periferia, portanto, é pensada para esse trabalho para além da noção geográfica da periferia, mas também social8. Nos árticos tecnológicos, no entanto, iremos utilizar a terminologia “bairros populares”, buscando abranger o maior número possível de

8 Para ampliar a discussão das periferias e suas discussões, ler: TANAKA, G. Periferia: conceito, práticas e discursos. Práticas sociais e processos urbanos na metrópole de São Paulo. 2006. 163 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

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territórios para aplicação da tecnologia social, já que muitos locais do Brasil não se consideram “periferias”, mas “comunidades”, “guetos”, “favelas”, “bairros populares”, entre outras terminologias.

A música, especificamente, foi escolhida como instrumento cultural foco dessa dissertação, pois “O processo subjetivo de apropriação da cidade evidencia-se na sua representação simbólica, (...) nos encontros festivos promovidos pela música” (OLIVEIRA, 2008, p.1).

Como um tipo de manifestação cultural, é possível dizer e trabalhar com a ideia de que a música serviu como pilar na constituição de formas de pensar e de se comportar, bem como a estruturação da cidade, dos centros e das periferias. A música também serviu e serve às sociedades para o entretenimento, para a comunicação e, como toda arte, para o poder e para a constituição de identidades. É também do poder que podemos compreender toda a dimensão política da música. Especificamente, ao estudarmos a música oriunda dos bairros periféricos e sua relação com um contexto cultural dominante, percebe-se que o mercado sempre esteve presente na música dita popular.

Ao visualizarmos o período pós-colonial no Brasil, podemos perceber melhor o que é a cultura musical hoje na contemporaneidade. Os negros, trazidos da África e os seus filhos, nascidos no Brasil, são escravizados por uma cultura genuinamente europeia, e a música reconhecida como erudita era um dos artifícios de imposição cultural da elite brasileira sobre os negros escravos. Tais negros produziram, com o aparato dos seus pais e ancestrais africanos, movimentos que iam contra esta cultura e a música fazia parte disto.

A presença de certos povos africanos era “problemática” e considerada motivo de atraso social e cultural. Durante décadas, foi praticada uma violenta repressão policial ao candomblé, à capoeira e ao samba que, mais tarde, foram assumidos como símbolos da cultura popular brasileira (SANTOS, 2006).

A cultura musical que possuímos hoje é também compreendida através da história e o panorama musical, a partir da música caribenha nos anos sessenta até a contemporaneidade brasileira. A complexidade da cultura musical que possui forças em diversos países, classes e culturas, permite visualizar que há identificação já na década pós II Guerra Mundial do que é considerado e constituído como “música boa” e “música ruim” pela sociedade moderna brasileira (MOURA, 2009).

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Na contemporaneidade, o hip hop9é um exemplo de vertente musical que exerceu e exerce influencia10 nos comportamentos, tendências musicais e mercadológicas nos EUA e também no Brasil. É bem verdade que nos EUA essa indústria já é bem estabelecida (EDMONDSON, 2008), enquanto, no Brasil, essa vertente se mostra mais sólida na cidade de São Paulo, mas crescente em diversas regiões do Brasil. Além do rap e da música negra em geral, o tecnobrega (SALAZAR, 2015), o samba e o pagode (FRYDBERG, 2011) são exemplos de ritmos oriundos dos bairros periféricos.

A música, por fim, foi escolhida como recorte de objeto de estudo nessa dissertação, pois não apenas possui a função de construir um imaginário coletivo da cidade (FRYDBERG, 2011), mas também, no caso da música produzida pelos jovens músicos de bairros periféricos, possui a função de construir, retratar ou resignificar o imaginário coletivo dos bairros periféricos.

Faz-se importante estudar os conceitos de juventude para que possamos compreender melhor quem são os jovens que estão inseridos no processo de criação das produções musicais nas regiões periféricas de Salvador. Acerca da problemática da juventude, Groppo (2000, p.12) conceitua para além do critério etário, ou seja, trabalha a juventude como uma categoria social que “tem uma importância crucial para o entendimento de diversas características das sociedades modernas, o funcionamento delas e suas transformações.” (GROPPO, 2000, p.8), o que permite a discussão sobre música, juventude e empreendedorismo cultural.

Pode-se problematizar a unicidade conceitual sobre juventude, pois um conceito único de juventude também seria problemático, pois assim como existem gêneros musicais diversos, existem jovens diversos (PAIS, 1996).

A música foi um dos pilares notáveis da constituição de identidades juvenis na história recente do Ocidente (PAIS, 1996). Nos bairros periféricos, a música tem força simbólica e constitui identidades e pertencimentos. Não há dúvidas de que, através das entrevistas e estudos, as manifestações musicais são hábeis no auxílio de constituição de uma identidade coletiva dos jovens onde as manifestações são estabelecidas.

9Compreende-se, nesse caso, o rap e a música negra nesse estilo como hip hop, mas se sabe que o hip hop é uma cultura maior que a própria música, abrangendo também expressões artísticas como o DJ, a dança, o grafite e, o quinto elemento, o conhecimento.

10 http://rollingstone.uol.com.br/noticia/estudo-britanico-diz-que-hip-hop-teve-mais-influencia-que-beatles-e-stones-nos-eua/

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Por fim, com a finalidade didática, considerando todas as ponderações teóricas expostas nesse trabalho acerca da juventude e, com fundamento na Lei.11.1290 de 30/6/2005, criada pela Secretaria Nacional de Juventude, define-se nessa pesquisa como jovem o cidadão ou cidadã com idade entre 15 e 29 anos.

1.3 ARTECOMOFONTEPARAAAPRENDIZAGEM

O presente trabalho se destaca também pela proposta de capacitar jovens artistas através de uma pedagogia artística (forma) e conhecimentos empreendedores (conteúdo). Para adequar a pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo, nos apoiamos no conceito que alia a arte e seus processos lúdicos e criativos ao trabalho, no caso, a capacitação para que seja facilitado o processo de educação, indo contra a corrente de muitas instituições formais que desvalorizam essas expressões (KOLB, 2010). A arte, que vem do latim ars11, pode ser caracterizada pelas práticas com habilidade para realizar algo, nos remetendo às formas artísticas, como música, teatro, cinema, dança, fotografia, artes plásticas e literatura. A arte pode ser também definida como fonte de inspiração no processo de aprendizagem, fonte de conhecimento, fonte de terapia, fonte de interpretação, fonte de expressão e fonte de comunicação (DAVEL; VERGARA, 2007; DE BOTTON; ARMSTRONG, 2013).

Para essa pesquisa, optamos pela arte-educação, dentre outras opções possíveis da arte na aprendizagem do empreendedorismo, por ser uma das formas mais práticas de meios para ensinar e pensando no empreendedorismo como área também prática, seu uso se faz pertinente. Ao líder, cabe endossar que o conjunto de práticas pedagógico aqui proposto não nasceu de uma hora para outra, mas surge através de um processo longo, de estudos e práticas educativas que nos apontaram novos caminhos. A arte-educação vem sendo utilizada, formalmente, desde a Lei 5.692/71 que apresenta o estudo das artes nos currículos formais das escolas (BARBOSA, 1989; DUARTE JUNIOR, 2008), tendo a Federação de Arte-educadores do Brasil – FAEB12 como primeira entidade a nível nacional referente à área de arte-educação. Anísio Teixeira foi um dos nomes mais fortes na aplicação da arte-educação no Brasil, com a criação da escola parque em Salvador, Bahia (NASCIMENTO, 2009).

A arte se mostra de fato uma ferramenta metodológica eficaz para a capacitação de jovens, pois se verifica que, através das linguagens artísticas, os conteúdos programáticos podem ser

11 http://www.dicionarioetimologico.com.br/arte/ 12 http://faeb.com.br/

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de fato compreendidos por crianças e jovens, muitas vezes ainda analfabetos funcionais depois de anos de escola (DEHEINZELIN, 2006).

A presente dissertação pretende investigar como a dimensão artística potencializa a aprendizagem, fundamenta-se assim a proposta de tecnologia social.

1.4 GESTÃO PARTICIPATIVA DE EVENTOS COMUNITÁRIOS

A presente dissertação se destaca também por promover o aprendizado da gestão participativa de eventos comunitários na prática com a realização do Sarau Empreendedor. Mas será que um sarau orientado para o estímulo e capacitação para o empreendedorismo cultural daria certo? Unir o lazer com algo que se propõe a ser educativo para o empreendedorismo cultural? Será possível reaplicar o alto nível de aprendizado alcançando pela arte na educação formal e nos ambientes organizacionais? Para que os conhecimentos de gestão participativa sejam ensinados, percebemos que os resultados da arte e seus processos criativos com o ambiente formal são de fato complementares e precisam coexistir harmoniosamente, pois há a criação de ambientes nos quais os membros podem ser criativos e produtivos (KOLB, 2010).

Para a construção da tecnologia social aqui proposta, é importante a compreensão da importância da participação nesse processo. Um sarau que capacite e estimule no seu processo de capacitação, bem como no dia em que ocorrer, deve ter uma ativa participação dos jovens da comunidade, caso contrário, há o risco do sarau gerar pouco efeito quanto aos seus objetivos. Os princípios que constituem a gestão do Sarau Empreendedor são definidos através da participação, identidade local e empreendedorismo cultural.

A participação (ARNSTEIN, 2002; BORDENAVE, 1983; NUNES, 2006) é vista como elemento fundamental para a gestão do Sarau empreendedor, pois mobiliza, engaja e produz um evento comunitário que atenda ao proposto. Se os jovens não participam da construção do evento comunitário, a educação, a arte, o lazer e até a presença do público podem ser comprometidos.

Se faz necessário pontuar que não existe receita para a participação, nem tampouco modelo ideal, o que tentamos fazer nessa seção é explanar tipos de participação para que líder fique atento durante o processo de realização do evento. Importante pontuar que a liberdade individual deve ser respeitada, já que as pessoas são distintas e algumas podem ter dificuldades ou pouco interesse em atividades de caráter coletivo. O diálogo é sempre uma boa saída para a resolução de conflitos.

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A identidade local é um princípio importante, pois essa identidade flui entre as pessoas oriundas e/ou moradoras de comunidades, muitas vezes sem os próprios moradores terem consciência dessa identidade. Povo de santo, católicos, músicos pagodeiros, músicos do hip hop e desenvolvimento de diversos empreendimentos culturais podem ser algumas das expressões de identidade local dos bairros periféricos.

O empreendedorismo cultural pode ser pensado como um princípio responsável por mobilizar recursos criativos e econômico-financeiros, articulando e organizando alguma comunidade (LIMEIRA, 2008). Para a gestão de um evento comunitário, ele tem o seu conceito construído nessa pesquisa, a partir da união das dimensões sociais (ARMANI, 2000; CASAQUI, 2016; LACRUZ, 2014 ; SILVA; PALASSI, 2009), dimensões coletivas (MALO; RODRIGUES, 2006), da identidade cultural local (CAMPOS; DAVEL, 2015) e com fundamentos nos aspectos de liderança na gestão de projetos (ARMOND; NASSIF, 2009 BAKER; COLE, 2014; LERMEN, 2003; ROLDAO,2000). Esse princípio é o responsável por ser uma referência no projeto compartilhado, é aquele que dificilmente se desanima, que baixa a cabeça ou que pensa em desistir. O desafio de gestores com características empreendedoras é multiplicar essas características para todas as pessoas colaboradoras do evento, articulando saberes e práticas que se somem ao evento.

A gestão participativa, tal qual a pedagogia artística, é fundamental quando pensamos na tecnologia social para o empreendedorismo. A pedagogia voltada para os conhecimentos empreendedores é fundamentalmente baseada no sonho estruturante do empreendedor coletivo (DOLABELA, 2003). Estímulos da ação coletiva (NUNES, 2006) e atividades pedagógicas para exercitar a participação (NUNES, 2006) devem ser apreendidas pelos aplicadores da tecnologia nas realidades de cada bairro e com cada grupo de jovens.

O líder que irá articular os jovens da comunidade deve saber quais são os papéis que lhe cabem nesse contexto (NUNES, 2006) e ouvir ao máximo cada sugestão, crítica e avaliação dos jovens participantes do processo de construção do sarau, bem como dos jovens que irão participar apenas no dia do sarau.

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CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA DE PESQUISA

A metodologia da pesquisa apresentada é definida como qualitativa de caráter exploratório e procura se basear em experiências de empreendedores culturais, líderes e mobilizadores sociais e culturais, jovens artistas, arte-educadores; textos relativos ao empreendedorismo no setor cultural e aplicação da tecnologia social em um território periférico. As técnicas utilizadas foram de coleta de dados via entrevistas semiestruturadas (ALVESSON, 2003, 2011; CASSELL, 2009; PATTON, 2002; VERGARA, 2009) com empreendedores culturais, análise de conteúdo (COLBARI, 2014) e observação participante.

O desenho metodológico foi construído através de conhecimentos empreendedores, da noção de empreendedorismo, empreendedorismo cultural, empreendedorismo musical, o ensino-aprendizagem dos jovens músicos através da arte e seus processos, a gestão participativa de eventos comunitários e, por fim, na articulação dos conhecimentos empreendedores, pedagogia artística e gestão participativa.

Para compor a tecnologia social, ocorreram os seguintes processos: percepção da necessidade de novas metodologias e tecnologias sociais voltadas ao empreendedorismo cultural para jovens artistas de bairros periféricos; identificação de ferramentas utilizadas em trabalhos/projetos/tecnologias sociais que perpassam o jovem artista, o bairro periférico e o empreendedorismo cultural, através de pesquisas teóricas e via técnicas; vivências e entrevistas a fim de apreender instrumentos e readapta-los à tecnologia social.

2.1 DESENHO METODOLÓGICO

A abordagem metodológica foi construída através da a)Revisão de Literatura; b) Entrevistas; c)Realização do Sarau Empreendedor; d) Reflexões sobre a experiência, conforme aas seguintes quatro etapas sequenciais:

 práticas do Empreendedorismo musical: entrevistas com empreendedores musicais; documentos sobre o empreendedorismo, empreendedorismo cultural e empreendedorismo musical;

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 a arte como pedagogia: entrevista com educadoras(es); documentos sobre arte-educação;

 aplicando o Sarau Empreendedor em uma comunidade: entrevistas com empreendedores musicais, culturais e sociais, com jovens artistas e estudantes de uma universidade; documentos sobre gestão participativa de eventos comunitários; articulação dos pontos 1 e 2 desse do desenho metodológico;

 refletindo sobre a aplicação do Sarau Empreendedor: articulação das reflexões da aplicação do Sarau com as ideias teóricas e dados coletados durante todo o processo de pesquisa.

2.2 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

As técnicas de coleta de dados são importantes para fundamentar, fortalecer e provocar o desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Foram utilizadas três técnicas de coleta de dados: análise de documentos, entrevistas semiestruturadas e observação participante.

2.2.1 Documentos

A análise dos documentos é uma etapa importantes a fim de ampliar o repertório teórico e prático das noções de empreendedorismo cultural e musical, ensino-aprendizagem e gestão participativa de eventos comunitários. Os documentos relativos ao empreendedorismo foram delimitados nos formatos de: livros e artigos de revistas universitárias e profissionais; documentos sobre organização como o SEBRAE, voltadas para o empreendedorismo no formato de relatórios, manuais, informativos e sites organizacionais;

O roteiro dos documentos, visando estabelecer o foco e organizar as informações necessárias à pesquisa, buscaram as definições, processos e etapas, recursos (financeiros, relacionais) e fontes de motivação da atividade empreendedora, bem como as práticas, técnicas e abordagens relativas à capacitação em empreendedores. Os documentos relativos ao empreendedorismo cultural e musical definidos foram: livros acadêmicos, artigos de revistas universitárias e profissionais, relatórios, manuais, informativos e sites organizacionais voltadas para o empreendedorismo da música;

O roteiro dos documentos relativos ao empreendedorismo cultural e musical buscou práticas que estimulem, capacitem, tipos de abordagens e técnicas, competências e saberes

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necessários, definições, características imprescindíveis à função, características do empreendedorismo cultural, em especial do empreendedorismo cultural, investigar a importância da identidade cultural local e/ou empreendedorismo cultural.

Tendo em vista a importância do ensino-aprendizagem para a tecnologia social aqui proposta, os documentos relativos ao ensino-aprendizagem de jovens são: livros acadêmicos, artigos de revistas universitárias e profissionais; documentos relativos às organizações voltadas para o ensino e aprendizagem de jovens, organizações na capacitação de jovens, como OI Kabum!, Pracatum, Transforma (Portugal), Fábrica Cultural, CRIA, Neojiba, Escola Casa Via Magia, relatórios, manuais, informativos e sites organizacionais. O roteiro dos documentos relativos ao ensino-aprendizagem de jovens buscou práticas, tipos de metodologias educacionais, práticas educativas juvenis e saberes necessários e experiências com ensino-aprendizagem de jovens.

Tendo em vista a importância da gestão participativa como saber para a construção de um evento comunitário, os documentos relativos à gestão participativa são: livros acadêmicos, artigos de revistas universitárias e profissionais, relatórios, manuais, informativos e sites organizacionais. O roteiro dos documentos relativos à gestão participativa de eventos comunitários buscou práticas, tipos de metodologias educacionais, práticas educativas juvenis e saberes necessários e experiências de gestão participativa de eventos comunitários.

2.2.2 Entrevistas

A técnica da entrevista do tipo semiestruturada é adotada com planejamento, escolha do(a) profissional entrevistado(a), pertinente ao presente trabalho, avaliação da disponibilidade da pessoa entrevistada e preparação de roteiro para realização de entrevista (ALVESSON, 2003, 2011; CASSELL, 2009; PATTON, 2002; VERGARA, 2009). A entrevista do tipo semiestruturada se caracteriza por combinar perguntas abertas e fechadas, com maior tempo para o entrevistado discorrer sobre o tema proposto, bem como permitir a espontaneidade e a cobertura mais profunda sobre os temas (ALVESSON, 2003, 2011; CASSELL, 2009; PATTON, 2002; VERGARA, 2009).

No campo do empreendedorismo cultural, em especial do empreendedorismo musical, foram escolhidos onze profissionais com base na experiência no campo ou jovens com atuação de mobilização/liderança em empreendedorismo cultural: Vovô do Ilê, DJ Branco, Jorge Hilton (Simples Rap’Ortagem), Aspri e Luciano (RBF), Mr. Armeng, Luciano Bahia, André T, Mauro Telefunksoul, Marquinhos e Denny (DM de Boa). O tipo das entrevistas escolhido foi

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semiestruturada e face-a-face, com duração de 50 minutos em média, através de gravação em áudio. Cada entrevista foi transcrita por completo tendo um roteiro previamente sido estruturado.

As questões construídas para as entrevistas procuraram extrair a experiência do empreendedorismo e mensurar a importância da identidade cultural local para tal inciativa. A entrevista contou com as seguintes questões, dividida em dois roteiros: o roteiro dedicado a todos os empreendedores da música e o roteiro dedicado aos empreendedores que também são gestores (Quadro 2 e Quadro 3).

No campo do ensino-aprendizagem, foram entrevistados três profissionais com experiências em atividades artísticas com jovens: Rô Reis (Casa Via Magia); Nadja Carvalho; Luciene Santos (Canastra Real); do tipo face-a-face, com duração de 50 minutos em média, gravação em áudio e transcrição da entrevista por completo. O roteiro das entrevistas referente às arte-educadoras contou com uma prévia estruturação (Quadro 4).

Foram entrevistados onze jovens artistas e produtores culturais de um território periférico, escolhidos com base na sua experiência artística e empreendedora. O roteiro de entrevistas com jovens artistas de territórios periféricos objetivou extrair das pessoas entrevistadas toda experiência no âmbito da música e do empreendedorismo que o jovem possui, bem como carências, necessidades e o que eles acham da ideia do Sarau Empreendedor (Quadro 5). Foram entrevistados doze jovens artistas e produtores culturais, sendo que sete participaram da primeira aplicação do Sarau Empreendedor, no intuito de avaliar a experiência do Sarau (Quadro 6). O perfil de todos os entrevistados (Quadro 7) não foi adensado nesse trabalho, pois o foco se concentrou nas falas que contribuem com a instrumentalidade da composição da tecnologia social.

Foram entrevistados vinte e três estudantes acadêmicos que vivenciaram a experiência de realização de uma gestão participativa do Sarau Empreendedor. O roteiro de entrevistas com os estudantes objetivou extrair das pessoas entrevistadas toda experiência no âmbito do ensino-aprendizagem do empreendedorismo através das artes e da gestão de um evento comunitário, após a aplicação do Sarau Empreendedor (Quadro 8). As funções do facilitador no processo do Sarau Empreendedor foram desenhadas e aprimoradas após a experiência da primeira aplicação do Sarau (Quadro 9).

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Quadro 2 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores da Música APRESENTAÇÃO

 Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA. Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo cultural.

Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas. QUESTÕES

 Qual é o percurso do músico para o empreendedorismo?

 Quais ferramentas empreendedoras podem ser úteis para a tecnologia social?  Quais instrumentos pedagógicos podem ser úteis para a tecnologia social?

 Quais são as orientações dos entrevistados para uma tecnologia social voltada para o público jovem de bairros periféricos?

 Você se considera um artista empreendedor?

Como você se tornou empreendedor?

 Qual foi o papel do seu bairro nisso? Ele tem um estilo (identidade) própria? Qual? Você poderia me fornecer um exemplo?

 É importante incluir a identidade cultural local (bairro) no empreendimento? Por que?  O que te motivou e continua te motivando a ser empreendedor no campo da cultura?  O que é necessário para o jovem querer empreender?

 Quais as etapas necessárias para se tornar empreendedor, como fazer, o que é necessário para que o jovem músico de periferia seja um empreendedor musical?

 Vale a pena empreender, você aconselha os jovens a fazer o que você fez?  Quais os elementos indispensáveis para se chegar no jovem músico de periferia?

 Você acha que um sarau como atividade que contenham capacitações poderia ser um tipo de profissionalização que chamasse a atenção dos jovens artistas?

 Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar? Fonte: Elaboração do Autor

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Quadro 3 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores Gestores no Campo da Música APRESENTAÇÃO

 Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA. Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo cultural.

Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas. QUESTÕES

 Qual é o percurso do músico para o empreendedorismo?

 Quais ferramentas empreendedoras podem ser úteis para a tecnologia social?  Quais instrumentos pedagógicos podem ser úteis para a tecnologia social?

 Quais são as orientações dos entrevistados para uma tecnologia social voltada para o público jovem de bairros periféricos?

 Como sua instituição surgiu?

 Qual foi a maior mudança da origem até a atualidade da sua instituição?  Como é composta a equipe de gestores e líderes da sua instituição?

 Quais são, atualmente, os trabalhos sociais mais importantes para a capacitação dos jovens de periferias realizados pela instituição?

 Quais são os trabalhos culturais mais importantes para a capacitação de jovens?  Como que sua instituição se mantém?

 Como vocês medem os impactos das ações sociais realizadas no território?

 Como você percebe a questão da capacitação na área cultural? Quais as principais necessidades do mercado musical hoje?

 No âmbito da área musical, quais as principais ferramentas para capacitar os jovens de bairros periféricos?

 Você acha que um sarau como atividade de capacitação e estimulo que chamasse a atenção dos jovens?  Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar?

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Quadro 4- Roteiro para entrevistas semiestruturadas com arte-educadoras APRESENTAÇÃO

 Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA. Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo cultural.

Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas. QUESTÕES

 Você se considera um arte-educador?... Se sim, como você se tornou arte-educador?

 Já trabalhou com jovens? Se sim, qual a importância?

 Quais são os grandes ganhos que a educação artística trouxe para a instituição/você nas suas experiências?

 Quais os desafios que as formações artísticas apresentam?

 Você possui experiências com educação tradicional? Quais as comparações possíveis entre as duas formas de educar?

 Quais os principais desafios que um sarau que se propõe a estimular e capacitar para o empreendedorismo pode ter, de acordo com sua experiência? É possível se divertir e capacitar?  O que capta e engaja o público jovem é um projeto? Quais os fundamentos mais valiosos para se

trabalhar com jovens?

 Qual a experiência com a capacitação e estimula empreendedora dos jovens que você possui?  O que é necessário para que o jovem músico de periferia seja um empreendedor musical?  Quais outras sugestões você daria para a tecnologia do sarau que capacita e estimula?  Quais os instrumentos artísticos e pedagógicos que podem ser úteis para a tecnologia social?  Como eles imaginam um sarau que se proponha também a capacitação?

 Quais as comparações entre a educação tradicional e a educação artística?

 Quais as orientações dos entrevistados para uma tecnologia social voltada para o público jovem de bairros periféricos?

 Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar? Fonte: Elaboração do Autor

Quadro 5- Roteiro para entrevistas com jovens artistas e produtores culturais APRESENTAÇÃO

 Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA. Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo cultural.

Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas. QUESTÕES

 Quais são as maiores dificuldades dos jovens artistas?  Como o jovem artista ganha dinheiro com sua arte?  O jovem artista conhece o empreendedorismo?

 O que o jovem artista acha de um sarau para divulgar sua arte e capacitar para o empreendedorismo?  Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar?

Referências

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