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TERRITORIAL: O DESBRAVAMENTO DE JOVENS MÚSICOS DO NORDESTE DE AMARALINA (ARTIGO 1)13

Resumo: Este caso estimula o ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural14,

considerando a importância da cultura, da identidade territorial, bem como os desafios, as necessidades e as potencialidades da arte na educação empreendedora. O caso relata a jornada desbravadora de jovens músicos que encontram produtores, músicos experientes, empreendedores e vão confrontando a possibilidade de serem empreendedores da música. Todavia, precisam lidar com vários desafios: pensar o empreendedorismo como algo coletivo, com necessidade de incluir as singularidades identitárias de seu bairro, Nordeste de Amaralina, em Salvador (Bahia) e com a necessidade de desenvolver uma qualificação adequada para realizar seus empreendimentos. A jornada é de desafios, surpresas e aprendizagens do que significa ser empreendedor da cultura. O caso pode ser útil tanto para gestores culturais, empreendedores artísticos, educadores, quanto para líderes comunitários que busquem fomentar o desenvolvimento local baseado na arte15.

Palavras-chave: empreendedorismo cultural, educação empreendedora, pedagogia artística;

identidade territorial, caso para ensino.

Abstract: This case promotes cultural entrepreneurship teaching/learning, considering cultural

importance and local identity as well as the challenges, necessities and art potentialities in an entrepreneur education. The case reports the pioneer journey of young musicians whom meet up producers, experienced entrepreneur musicians and face up the possibility of turning into music entrepreneur. However, they have to deal with several challenges: to think of entrepreneurship as something collective, the necessity to include their neighborhood’s identity singularity, Nordeste de Amaralina in Salvador (Bahia), and with the necessity to develop an appropriate qualification to execute their entrepreneur. The journey is mane of challenges,

13 Artigo a ser submetido para a RECADM : Revista Eletrônica de Ciência Administrativa. Por isso, o artigo segue as normas da APA exigida pela revista.

14 O presente caso de ensino reforça uma tecnologia social. A tecnologia é composta por quatro artigos, sendo que um artigo apresenta o desenho geral da tecnologia (Campos & Davel, no prelo); um trabalho que trata dos conhecimentos do empreendedorismo musical (CAMPOS, no prelo); um artigo trata da pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo (CAMPOS, no prelo) e um artigo que trata da gestão de eventos comunitários (CAMPOS, no prelo).

15 Esta caso para ensino retrata jovens músicos e se baseia em um estudo de caso realizado com a comunidade de Nordeste de Amaralina em Salvador (Bahia) a partir de entrevistas semiestruturadas, observação direta e documentos públicos e privados.

surprises and leaning what means to be a cultural entrepreneur. The study might be useful for cultural managers, artistic entrepreneurs, educators but as well for community leaders whom seek promote local development based on art.

Key-words: cultural entrepreneurship, entrepreneurship education, artistic pedagogy, shared

management, case for teaching.

1. Caso Para Ensino

1.1 Nordeste de Amaralina, o território que pulsa música

O território do Nordeste de Amaralina, considerado um território periférico da cidade de Salvador (Bahia), é formado por outros cinco bairros: Vale das Pedrinhas, Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho, Nordeste de Amaralina e Nova República. O local é conhecido pela grande atividade comercial, cultural, especialmente na área musical, porém, infelizmente, há muitos casos de violência e pobreza nos bairros pertencentes ao território do Nordeste.

Denny e Marquinhos, dois músicos consagrados em suas carreiras, que têm um projeto social com jovens do Nordeste de Amaralina chamado “DM de Boa”, pensam em ampliar o projeto deles, em conjunto com os jovens que já participam do referido projeto. O “DM de Boa” propõe trabalhar os aspectos sociais, ambientais e artísticos com jovens do território do Nordeste, buscando a inclusão e profissionalização de jovens na música, reciclando materiais para fazer os instrumentos de percussão e ensinando música. Para ampliar o projeto e auxiliar esses jovens já músicos para o empreendedorismo cultural, Marquinhos e Denny querem formar parcerias com artistas da comunidade, mas eles ainda não sabem com quem realizar uma parceria.

Próximo dali, Felipe, Dandara e Carlos, jovens moradores do bairro, conversam sobre o começo de uma banda. Cada músico tem 18 anos, acabaram de concluir a escola e sempre tiveram o sonho de começar uma banda. Eles nasceram e cresceram participando de festas, saraus, eventos com músicos, artesãos e artistas em geral. Carlos toca percussão, Felipe canta e Dandara toca cavaquinho.

Logo após criarem a banda, o trio de músicos decidiu juntar as poucas economias que cada um tinha e comprar um equipamento de som, parcelado em três vezes, para os futuros shows, pois ganharam instrumentos das mães. Após um mês de ensaios, os jovens conseguiram tocar em um barzinho na esquina da casa de Carlos. Combinaram com o dono que o cachê seria definido pela contribuição espontânea de cada pessoa que fosse ao bar. Eles tocaram vinte

músicas de pop internacional e três de samba, gênero musical que gostam e que é muito apreciado no bairro. Ao final da noite, eles receberam, no total, metade do que eles investiram em um equipamento de som, ficando frustrados e preocupados em como pagar a aquisição.

Felipe: Caramba, a gente tocou várias músicas que tocam na rádio, que tem clipes estourados na internet, mas o pessoal nem aplaudiu tanto.

Carlos: É verdade, cara. Parecia que eles gostaram mais de samba mesmo e eu achava que o povo só gostava de gringo...

Felipe: Pois é, pensando no futuro da nossa carreira, precisamos continuar cantando músicas pops, em inglês.

Após receberem metade do que haviam investido no equipamento, a banda pensou: como poderiam pagar o equipamento? Como ganharem dinheiro para ajudarem em suas casas? Qual seria o repertório da banda? Para pagarem o equipamento, Felipe, Dandara e Carlos resolveram que, além de tocarem na banda, iriam trabalhar como auxiliares administrativos de segunda a sábado, no mercadinho de um tio de Dandara. Na primeira semana de trabalho, eles perceberam que 44 horas de trabalho semanal ocupava muito tempo dos três, além de deixá-los cansados e frustrados pelo trabalho que não lhes dava prazer.

Certo dia, Felipe, Dandara e Carlos, após saírem do trabalho às 18:00, com o salário do mês, foram abordados por um jovem que apontou a arma para os três e ordenou: “Passem as carteiras, brothers”!

Felipe: Não temos dinheiro! Somos trabalhadores! Olha para nossa cara, olha pra nossa cor, é igual a sua, deixa a gente ir, por favor.

Indivíduo: Eu sei que vocês receberam o salário do mês, passem agora ou eu mato vocês! Os jovens músicos passaram as carteiras e o indivíduo saiu correndo. Carlos começou a chorar.

Carlos: O dinheiro para quitar o equipamento de som, se foi; o dinheiro para a marca da banda e para divulgar a banda, se foi! Muita gente da nossa idade está nessa do crime. Esse cara tocava violão em uma banda, aqui mesmo do bairro, mas o cantor virou traficante. Agora, ele e o ex-guitarrista roubam. Tá complicado.

Dandara concordou com a cabeça.

Dandara: A comunidade precisa de alguma ajuda. Poderia ser nós roubando outros jovens, se não tivessemos uma cabeça mais legal.

Felipe: Tá, Dandara, mas cada um com seus problemas. Vamos focar na nossa carreira, certo?

Todos fizeram silêncio e foram para suas casas de cabeças baixas. Pensaram em ir à delegacia de polícia, mas lembraram que a última vez que foram como vítimas, foram tratados como bandidos. Não sabiam o que fazer, por onde ir, muito menos como viver de música.

1.2 Empreendedores, nós?

Na noite seguinte, ainda muito tristes, os três músicos se reuniram em um barzinho do bairro. Eles observavam e comentavam sobre os moradores que passavam. Viam muitos artistas e gente que gostava de dançar samba nos shows, muitos comerciantes indo para suas casas com o que sobrou do dia, duas artesãs que tinham uma banquinha com suas produções, o movimento do bairro era grande.

Nesse momento, Denny e Marquinhos passavam, quando viram o trio de jovens.

Denny: Vocês são daquela banda de samba, não são?...

Carlos: Somos sim.

Marquinhos: Qual o nome de vocês?

Dandara: Eu sou Dandara, ele é Carlos e ele é Felipe.

Marquinhos: Então, pessoal, eu sou Marquinhos e ele é Denny. Estávamos querendo fazer um projeto junto, com jovens que já tem uma banda.

Felipe: Cara, desculpa, a gente foi assaltado ontem. Não queremos fazer projeto juntos com ninguém. Isso só vai dar trabalho desnecessário.

Carlos: É verdade. Podemos marcar esse papo para outro dia? Anote meu número aí. Denny e Marquinhos anotaram o número de Carlos, mas ficaram desanimados com a possibilidade de terem eles como parceiros, visto o tom em que eles foram recebidos. Estava difícil conseguir músicos para trabalhar com eles. No dia seguinte, Marquinhos ligou para Carlos, que marcou uma reunião com ele, Felipe e Dandara.

Denny: Então, que bom que vocês aceitaram nosso convite! A gente está pensando em fazer um edital juntos, para captar uma grana e ajudar ainda mais jovens, especialmente a galera que já mexe com artes, a tocar sua carreira, ganhar seu dinheiro, ampliar as possibilidades.

Carlos: Cara, é uma boa ideia! Aquele assalto que sofremos foi horrível, ainda mais porque era um cara jovem e músico, podia ser a gente ali.

Denny: Pois é, rapaz. Nós estamos perdendo outros artistas para a criminalidade. Por isso que queremos fazer um trabalho com artistas daqui, sabe? A gente pode empreender!

Carlos: Oxente16, Felipe. Empreender também é ganhar dinheiro! Denny e Marquinhos, muito obrigado pelo convite, o trabalho de vocês é ótimo, mas estamos focados em nossa carreira, como Felipe disse, beleza? Inclusive, pessoal, não podemos desanimar com o assalto! Vai rolar amanhã um show massa de samba, vamos curtir depois do trabalho!

Dandara: Poxa, Denny e Marquinhos, eu curti a proposta de vocês. Podemos pensar em uma parceria. Vamos curtir o show que Felipe falou, Denny e Marquinhos?

Denny: Pode ser, vamos nessa!

O show acontecia no Nordeste de Amaralina e, em certo momento, Denny chamou Marquinhos, Felipe, Dandara e Carlos para uma mesa, onde estava o famoso empreendedor da música e professor de empreendedorismo, Tubarão! Ele já morou um bom tempo em países latinos aprendendo e trabalhando com carreiras de artistas da música. Papo vai, papo vem, entre um samba e outro, eles trocaram muitas informações sobre dicas de como ganhar dinheiro através da internet, marketing, formalização de pessoa jurídica, orientações sobre a carreira e a importância da consideração da identidade da comunidade para o processo de empreender em uma banda, enfim, vários conhecimentos empreendedores. Felipe ouvia algumas coisas do papo, mas estava muito descrente e sonolento. Tubarão não parava de falar e falava de forma “difícil”. Em tom baixo, Felipe falava algo para Carlos.

Felipe: Como assim precisamos levar em conta a identidade da comunidade para que nossa banda tenha sucesso? O Nordeste está cada vez mais violento. Esse Tubarão, sei não, viu.

Tubarão, que falava, ouviu o comentário de Felipe.

Tubarão: Você é Felipe, certo? Então, Felipe, deixa eu te falar. Não é fundamental que você leve em conta a identidade da comunidade para ter sucesso, mas eu penso que você mora em um bairro, não é? Algum daqui do Nordeste?

Felipe: Sim, Tubarão. Moro no Vale das Pedrinhas.

Tubarão: Que ótimo, Felipe! Eu sou nascido e criado em outro bairro aqui de Salvador! Sei que o Nordeste é um local que possui muitos artistas e projetos empreendedores interessantes. Vejo pelos jornais que a violência é uma grande complicação para o Nordeste e muitos territórios periféricos. Cara, a identidade empreendedora está muito ligada a nós ,brasileiros. A identidade da comunidade é muito importante, precisamos considerar. No Nordeste de Amaralina, existem duas artesãs que fazem bonequinhas negras, com instrumentos percussivos, vocês conhecem? A negritude e a percussão fazem parte daqui, não é? Esse tipo de ação pode fazer muito bem ao bairro. Esse tipo de identidade, então, não é uma prisão. Pelo

contrário, oferece diversas pistas e joias para que vocês assimilem nos seus trabalhos artísticos. Ao considerarem características, práticas, competências entre outros elementos que compõem a identidade de uma comunidade, vocês estarão enriquecendo o trabalho de vocês. Ainda por cima, divulgando a comunidade para que a economia local seja desenvolvida!

Nesse momento, Felipe passou a assistir apenas o show, meio sonolento. Era muita informação, ele não estava acreditando muito nesse papo de “identidade da comunidade”. Bebeu um pouco demais e estava cansado do trabalho. Acabou cochilando.

Denny: Fantástico, Tubarão! Quer dizer que se a gente fala do nosso bairro nas nossas músicas ou pensa nele para compor nossa melodia, é possível que desperte um interesse maior das pessoas pela comunidade?

Tubarão: Claro, Denny! Se pessoas de fora do bairro vão até o bairro, isso quer dizer que a economia criativa, ou seja, toda a produção envolvendo arte e criatividade, assim como a economia geral, como a de comida, de bebida, pousadas entre outras vão ser aquecidas! Por exemplo, nas minhas andanças pelos países aqui da América do Sul, percebi que o que era rico na minha comunidade, era muito valorizado pelo pessoal de lá, porque era diferente para eles. Agora eu sempre fiquei ligado nas culturas de outros países, nas identidades das comunidades. Ia aprendendo para tentar melhorar ainda mais os meus trabalhos.

Carlos: Isso pode gerar um crescimento artístico maior, novos projetos e mais trabalho para o bairro.

Felipe: Muito legal essa música, Tubarão. Essas suas experiências me deram ideias para ajudar na nossa carreira.

Tubarão: Sim, Felipe! Mas, você tem que pensar também na identidade cultural da comunidade. Olha só quem tá chegando, Mr. Armeng, um artista que valorizo muito. Armeng, fala um pouco da sua história pro pessoal daqui. Eles estão com vários projetos.

Mr. Armeng: Oi, pessoal, tudo bem? Sou Mr. Armeng, canto, produzo música e cultura há alguns anos. No começo, foi muito difícil. Via oportunidades de conseguir financiamento para fazer show e CD, mas não sabia nem por onde começar a escrever um projeto. Denny e Marquinhos podem falar melhor sobre essas experiências!

Denny: Cara, todos temos algo para ensinar, não é? Sem saber como escrever um projeto, o que você fez?

Mr. Armeng: Rapaz, eu vi um concurso de música na TV. Reuni uma galera que fazia um som comigo, nos inscrevemos e ganhamos! Foi um concurso massa, porque aprendi muito sobre música e produção musical. Depois do concurso, passei a produzir minha música e de outros artistas do bairro. Corri atrás também de cursos na internet sobre produção cultural, para

começar a fazer eventos lá na comunidade. Fui metendo as caras, até conseguir ganhar um edital do Governo do Estado.

Felipe: Sensacional, Armeng! Quanto você cobra para produzir uma música para minha banda?

Mr. Armeng: Hoje não estou fazendo nenhuma produção musical. Estou focado na produção do meu novo CD e uma oficina de RAP e grafite que estou fazendo no bairro e nas escolas públicas de Salvador. Tem que ficar ligado em ajudar sua comunidade. Agora no início não é fácil. É muita ralação mesmo. Vida de empreendedor, até se ajeitar, quando é ajeitada, tem muitas dificuldades, como falta de dinheiro, de conhecimento, de parcerias. Ainda mais para o povo das quebradas, das periferias. Muita gente que deveria chegar, não está chegando. O truque é correr atrás e ser o que todo empreendedor deve ser: resiliente! Ou seja, se tomar uma porrada, cair, levantar e correr atrás!

Carlos: Interessante, Armeng. A gente tem dificuldades para focar na nossa carreira, porque a gente trabalha de segunda a sábado. Ficamos muito cansados, sabe? Tem as dívidas, a falta da grana...

Mr. Armeng: A diferença consiste em não ser derrubado pelas dificuldades. É preciso ajudar quem está começando quando vocês estiverem melhores, como Denny e Marquinhos fazem com o DM de Boa. Com o conhecimento que cada um de vocês já tem, vocês já podem ajudar outros jovens que não tem nenhuma noção do que fazer para a carreira musical dar certo. Felipe: Oxente, Armeng! A gente mal começou nossa carreira e já temos que pensar no outro?

Dandara: É verdade, Armeng. Dessa vez, vou ter que concordar com Felipe.

Denny: Pessoal, vocês têm que entender que ajudando a comunidade vocês também se ajudam. Todo mundo ganha!

Marquinhos: Claro, gente. Inclusive, eu e Denny estamos pensando em fazer um projeto para um edital do governo, para ensinar empreendedorismo para os jovens. Eu vejo que a música chama os jovens para o nosso projeto, mas como ensinar essas dicas de financiamento, marketing, como elaborar projetos? Uma fala assim como a sua é legal, mas, o dia todo, só de papo, eles não aguentam.

Tubarão: Uma boa é vocês unirem o que eles mais gostam, música e arte em geral, com empreendedorismo. Que tal?

Mr. Armeng: Boto fé no que Tubarão disse agora, o caminho é esse: ensinar na linguagem que nós artistas curtimos. A propósito, gente, foi um prazer estar aqui contribuindo para a carreira de vocês nesse papo. Lembrem sempre dos seus! Lembrem que a cultura do bairro de

vocês, da cidade de vocês é muito importante para vocês terem sucesso na arte. Deixa eu ir que

vou fazer um show do outro lado do bairro. Abraços!

Tubarão: Se ligaram, pessoal? A cultura, antes de tudo, é fundamental para que o empreendedorismo cultural tenha sentido. A cultura, além de estabelecer o empreendedorismo cultural, promove lazer, conhecimento e pode tirar jovens da violência, do desemprego, do ócio e da ignorância sobre diversos aspectos da vida e da sociedade. Hoje o bom empreendedor não é aquele que busca vencer sozinho. A vitória é de toda a comunidade. Contem comigo para o que precisarem. Olhem só, a banda vai começar a tocar.

O trio de músicos estava animado. No dia seguinte, os três se reuniram na casa de Carlos

e começaram a pensar nos próximos passos da banda.

Felipe: Pessoal, vamos logo pensar no site da banda. Vamos lançar, naquele site, a proposta de que Tubarão falou?

Dandara: Acho legal, mas, vamos considerar o Nordeste de Amaralina para a nossa banda? Eu acho que a gente podia colar com Denny e Marquinhos, poderíamos pensar um projeto de educação para o empreendedorismo, que tal?

Felipe: Isso a gente vê depois, o mais importante agora é a nossa banda. Temos que correr atrás do nosso, Dandara.

Carlos: Dandara, acho que Felipe está certo. Vemos, primeiro, o nosso caminho, depois, depois, dos outros.

Dandara: Felipe, você não se ligou ainda. Se começarmos apenas com a nossa banda, pensando nas nossas carreiras apenas, podemos até ter sucesso, mas, e a comunidade? Tubarão falou ontem no show sobre essa diferença entre um empreendedorismo, focado nos interesses individuais e o empreendedorismo cultural. Se liga você também, Carlos. Só depois que alcançarmos o sucesso vamos pensar em algo para o bairro? Só depois vamos considerar o bairro para que possamos acrescentar a identidade do bairro nas nossas músicas? Claro que cada um de nós fala algo do bairro, mas essa característica está muito fraca na nossa música, precisamos fortalecer a nossa arte e também o nosso bairro!

Felipe: Ótimo! Uma música que fala do nosso bairro. Daí chamaríamos mais atenção da mídia e poderíamos “bombar” na internet, na televisão!

Dandara: Sim, Felipe. Mas, também imagine se todos os músicos daqui soubessem das dicas que aprendemos, ontem, sobre empreendedorismo cultural? Pense na comunidade, amigo.

Felipe: A ideia é boa, mas não temos grana! Acordem!

Carlos: Cara, o que fazemos? Não tem como fazer um projeto sem grana. Como fica o material para as aulas? E o pagamento dos educadores?

Dandara: Agora vocês me pegaram, vamos precisar de ajuda.

1.3 Empreender é Desbravar

O trio de músicos marcou um encontro com Tubarão, depois de três tentativas frustradas, por conta dos compromissos profissionais dele. Conseguiram chamar também Denny e Marquinhos, com dificuldades, pois os dois estavam em uma final de turnê. No dia do encontro, Felipe e Carlos disseram que tiveram uma emergência e não poderiam comparecer. Tubarão também desmarcou em cima da hora. Denny, Marquinhos e Dandara se reuniram e papo vai, papo vem, levantaram possibilidades de recursos privados, públicos e coletivos. Ficaram de pensar que caminho seguir com Felipe, no próximo encontro.

No próximo encontro, após muito diálogo, a ideia do projeto para um edital público foi a mais votada. Dessa vez, Felipe, Carlos e Tubarão apareceram.

Felipe: Gente, eu acho a ideia de Denny e Marquinhos muito legal. Mas eu consegui um