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4.2 A CULTURA ORGANIZACIONAL NOS NÍVEIS DOS ARTEFATOS, VALORES DE

4.2.1 Artefatos

Segundo Schein (2009) os artefatos constituem o nível mais superficial e podem ser identificados até por pessoas que não estão inseridas numa determinada cultura. São artefatos: a arquitetura, móveis, layout, logomarca, materiais, instrumentos de trabalho, impressos, vestimenta, fardamentos, entre outros.

Com relação à arquitetura, é importante salientar que o HUOL tem 109 anos desde a sua criação. Muitas mudanças arquitetônicas aconteceram desde que uma casa de praia foi transformada no hospital hoje existente. Na história recente, as maiores mudanças arquitetônicas ocorreram com a construção do Centro de Diagnóstico por Imagem, inaugurado em 2002 e do Edifício Central de Internação, em 28 de maio de 2011, com investimento de R$ 21 milhões de reais4. Desde a contratualização com a EBSERH em 29 de agosto de 2013 nenhuma obra de grande vulto do ponto de vista arquitetônico foi realizada como exemplifica a fala de P3:

Eu cheguei ao hospital universitário em 95 (...), era um período crítico, mas quase todo sistema de saúde vivia (...), mas de lá de 95, eu acho que até 2000, houve muita evolução no cuidar, na administração anterior, eles demonstravam muito interesse em melhoramento, então assim, o padrão da (...) ambiência foi melhorado, as camas, tudo fluía ao que nós chegamos, ao nível máximo que nós chegamos até 2012, pelo menos a experiência que eu tenho, que eu tive a oportunidade de trabalhar nos setores que são de internação, também nesse período.

O mobiliário também evoluiu na história recente do hospital, acompanhando a estrutura arquitetônica. Isto é exemplificado quando P3 continua seu relato dizendo: “o padrão da (...) ambiência foi melhorado, as camas, tudo fluía ao que nós chegamos, ao nível

máximo que nós chegamos até 2012(...). Os ambientes estão bem instalados e até a entrada da empresa a gente só cresceu”.

Com relação ao layout, a percepção dos funcionários dos funcionários foi que não ocorreu mudança significativa com a contratualização: “a gente não teve essa percepção de diferença, de melhora de material, de layout de setor, mesmo porque depois que a EBSERH chegou, eles só se adequaram aos setores que já estavam lá (P13)”.

No entanto a logomarca do hospital teve uma mudança significativa, que foi sentida pelos trabalhadores. Os primeiros documentos, após a contratualização, continham o nome do hospital e também a logomarca da UFRN como retrata a imagem do documento a seguir5:

Atualmente, a logomarca da UFRN tem se tornado cada vez mais rara nos documentos, o que foi notado pelos participantes da pesquisa e também pode ser visto na Carta de Serviços ao Cidadão6, elemento de comunicação do hospital com o usuário, cuja imagem encontra-se a seguir.

5Imagem publicada em http://www.ebserh.gov.br/widget/web/huol-ufrn/noticias/- /asset_publisher/iPqb3vAMx4K8/content/id/420190/2015-06-comunicado-eleicoes.

Os participantes da pesquisa perceberam esta mudança e retratam com aparente incômodo como pode ser percebido nas falas de P5 e de P9:

A logomarca mudou sim, porque agora é EBSERH, a gente abre pra bater o ponto e você já vê que a logomarca é a estrutura do hospital, que sempre foi Onofre Lopes Hospital Universitário e em cima tem EBSERH e um helicopterozinho em cima como se essa empresa tivesse chegado de repente assim e surgisse do nada, isso não é verdade, o Onofre Lopes está aqui, o que, se mudou foi isso né? (P5)

De repente, quando a gente foi repor o material impresso na sala, já estava lá com a logomarca, inclusive até impressos pra gente solicitar férias, essas coisas, todo com a logomarca também da EBSERH, o que eu não acho também correto, mesmo que eu esteja dentro de uma instituição que esteja sendo gerida por ela (P9). Todos os impressos do HUOL apresentavam a logomarca da UFRN junto à logomarca do hospital, esse era um motivo de orgulho para todos os funcionários da instituição, como relata a fala de P10:

Até o papel não é mais o da UFRN e como a gente é da UFRN, vai alterar férias na UFRN, vai pro sistema da UFRN, por que é que eu tenho que preencher um papel que tenha a EBSERH? Do mesmo jeito são as escalas, se a escala, tem a escala dos servidores da UFRN e o da EBSERH, então cada um deveria ter o seu impresso próprio e o que eu sei é que a escala sai UFRN e EBSERH (P10).

Outro aspecto cultural diz respeito ao vestuário. O vestuário faz parte da vida simbólica de uma organização. Representam significados, condensando num objeto um conjunto complexo de possibilidades interpretativas que emergem de valores, pressupostos e ideias compartilhadas por um determinado grupo (PARDINI, GONÇALVES, KILIMNIK, 2008). No HUOL O cuidado com a vestimenta e apresentação pessoal era percebida e seguida como regra com por todos os servidores da equipe de enfermagem, sendo o vestuário parte da cultura do estar apto para o cuidado imediato, como podemos perceber na fala de P3 que é reforçada na fala de P4:

A gente tinha sim uma cultura do vestir, nós não entravamos nesse hospital com roupas curtas ou que transparentes, que pudesse chamar atenção do nosso doente (...) minimizava o adorno e mantinham-se os calçados e condições aptas a qualquer emergência, (...) eu acho o seguinte, no ambiente hospitalar nós estamos dentro de uma guerra, adentrou as portas do hospital você tem que estar apto às necessidades (P3).

A gente trabalhava no setor fechado e a gente tinha a vestimenta do setor fechado, se a gente precisava transferir paciente pra outro setor; ou sair do setor pra levar alguma coisa mais distante a gente teria que trocar a roupa e roupa branca e a gente não vê isso hoje, então isso era uniforme, tinha que ter uniforme né. A gente usava sapato branco, sapato de cor, jamais, era sapato fechado (P4).

E após a contratualização, referem-se ao vestuário como um impeditivo do bom cuidado ao paciente: “não justifica, não dão assistência rápida porque estava de calçado alto, de salto, sem a menor condição de na necessidade e na urgência correr, não justifica você não poder dar uma assistência porque o cabelo estava solto” (P3).

Um dos problemas relatados pelos entrevistados para que ocorresse a contratualização entre a UFRN e a EBSERH era a falta de material e que esse problema seria corrigido após a assinatura da mesma. Mas esse problema não foi corrigido, segundo relata P9:

Eu fiquei sabendo que a reitora aceitou esse contrato da EBSERH, porque eu ouvi ela mesmo falando, porque se ela não aceitasse não ia ter investimento nos hospitais, agora se é verdade, se não é verdade, eu não sei. Aí dizia que tudo ia melhorar, que ia ter material que ia ter rubrica direcionada pra isso, rubrica direcionada pra aquilo, que eles não podiam gastar em outra coisa, que agora ia ser tudo... Vinha um dinheiro que ia gastar com tudo, que as coisas não iam faltar. Mas não, as coisas estão faltando mais do que antes (P9).

Com relação aos materiais também com a chegada da EBSERH continuou faltando. Então a gente não teve essa percepção de diferença, de melhora de material (P13). Agora falta um material e passa a eternidade pra chegar e às vezes nem chega (P14).

Os materiais são parte das condições físicas e materiais de trabalho (BORGES et. al, 2013) ao mesmo tempo que são símbolos culturais porquê são meios de proporcionar a materialização do cuidado, esta por sua vez, amparada em pressupostos básicos para o corpo

de enfermagem. A falta de material parece ser percebida pelo grupo de entrevistados como desleixo com o cuidado ao paciente.

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