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4. ANALISANDO O PROCESSO DE REFORMA CURRICULAR NOS CURSOS DE LICENCIATURAS DA UVA

4.2 Mapeando os conflitos no processo de reforma curricular dos cursos de licenciaturas da UVA

4.2.3 Decisões curriculares nos cursos analisados

4.2.3.5 Articulação das formações pedagógica e específica

As entrevistas com os professores apresentaram três elementos que dificultaram o processo de reforma curricular no curso: a sensibilização do corpo docente para um envolvimento mais efetivo no processo, a aceitação de uma carga horária de formação pedagógica muito extensiva, exigida pelas Diretrizes Curriculares e a dificuldade em articular o conhecimento específico e pedagógico sem prejuízos a uma formação que proporcionasse conhecimentos específicos.

Eu acho que a primeira vez que verifiquei como dificuldade ao longo desse processo foi justamente sensibilizar as pessoas. (...) (Professor A/letras) A princípio era uma briga muito grande, porque a Pedagogia estava tomando conta. Até que ponto nós deveríamos ficar tantas horas (ofertando disciplina pedagógica), se o nosso aluno já tinha dificuldade de aprender Língua Portuguesa, a Inglesa e ainda dar, dentro das nossas horas, a formação pedagógica? Ai desembocava naquela contradição: na formação pedagógica eles vão entender tudo de metodologia, tudo isso daquilo, mas não vão ter o conhecimento teórico e aí como é que vai ficar? (PBL)

A dificuldade estava relacionada também em como articular conhecimento específico e pedagógico em uma carga horária que não ficasse muito extensa sem prejuízos a uma formação que proporcionasse conhecimentos da língua materna e estrangeira.

Primeiro a gente discutiu muito isso mesmo em conjunto, nós vamos querer um profissional só pra ser professor, se é licenciado pressupõe-se que seja um professor em língua materna e língua estrangeira (...) um aluno que tenha conhecimentos lingüísticos em todas as áreas (...) e ainda o conhecimento pedagógico, quer dizer q ele saiba dar aula (...) (PBL)

Somos quase todos bacharéis sem uma formação na pedagogia como dá conta dessa formação tão grande com tanta prática e estágio (...) (PAQ)

Mais de 70% do colegiado aprovou o novo projeto, mas na hora de fazer os programas das disciplinas cada um fez a sua do jeito de antes... nada mudou... aí eu disse: peraí! o currículo é novo não podemos fazer as mesmas ementas e tal... é que os professores não queriam pensar suas disciplinas dentro das novas diretrizes, entende? (PAEF)

No currículo do curso de Educação Física a articulação do conhecimento pedagógico com o específico apresenta-se em diferentes momentos articulados: no

módulo três do núcleo de formação comum, nos módulos do IESC, no Estágio Supervisionado e nas Atividades Complementares.

No currículo do curso de Química, a articulação apresenta-se de forma estanque reservada aos componentes curriculares ofertados pelo curso de Pedagogia ou no componente da Prática e Estágio Supervisionado.

No curso de Letras, além dos componentes curriculares ofertados pelo curso de Pedagogia, existem momentos reservados no currículo denominados Práticas de Pesquisa, Trabalho de Conclusão de Curso e Atividades Complementares em que são privilegiados conhecimentos de natureza pedagógica.

As decisões curriculares nos cursos analisados indicam que os mesmos buscaram caminhos diferentes para articular o conhecimento específico com o pedagógico. Em algumas situações, apresentam avanços; em outras, ainda resistem em romper com a estrutura curricular tecnicista.

A partir dos dados descritos nesse capítulo, é possível identificar conflitos que são latentes no processo de reforma curricular da UVA. Esses conflitos serão analisados no capítulo seguinte, com o objetivo de caracterizar a racionalidade pedagógica configurada no processo de recontextualização do discurso oficial das DCN´s no contexto da prática institucional da UVA e o sentido de mudança nele presente.

Todos os cursos optaram por uma carga horária e tempo superior ao mínimo recomendado pela Resolução CNE/CP 02/2002 (3.200 h e 3 anos). O argumento dos cursos de que o tempo estipulado não seria suficiente para contemplar todas as disciplinas consideradas necessárias à formação. Considerando que o aluno atendido por esses cursos não disponibiliza mais de 4h diárias de estudo na instituição, pois a grande maioria são trabalhadores e moram fora da cidade de Sobral, não haveria como mudar os horários tradicionalmente ofertados.

Constatamos, de forma implícita, que a idéia de que a formação inicial é o que vai proporcionar uma formação profissional de qualidade. Não há, nos discursos dos professores, a perspectiva de formação continuada. Essa descrença na formação continuada fica subentendida quando os professores argumentam que em menos de 4 ou 5 anos não é possível ensinar todo o conhecimento necessário a uma formação de qualidade e, também, na ausência de propostas de formação continuada nos projetos pedagógicos dos cursos analisados.

A exigência de elaboração de um projeto próprio para licenciatura obrigou os cursos a se desfazerem da antiga estrutura em que os currículos contemplavam um tronco comum de disciplinas técnico-cientificas e as disciplinas pedagógicas eram agregadas caso o aluno optasse por fazer uma licenciatura. A legislação atual induz a uma estrutura curricular na qual a formação pedagógica é inserida e articulada com a formação especifica sempre, o que vem a caracterizar-se como uma licenciatura desde o início do curso.

Há uma preocupação comum em todos os cursos analisados, a de que o professor sairia sem uma formação de pesquisa, além de restringir a atuação dele ao ensino e não à pesquisa.

A determinação de uma carga horária para Prática de Ensino, Estágio Supervisionado e dimensão pedagógica47 para os cursos de licenciaturas foram os

aspectos destacados pelos cursos em relação as DCN´s. Não foram mencionados os eixos curriculares e as competências referentes à formação pedagógica propostos pela Resolução CNE/CP 01/2002. Observamos que os cursos analisados desprezaram essa resolução, exceto o curso de Química, que transpôs os princípios e eixos curriculares contidos nesta, mas não os expressaram na sua nova organização curricular. A Resolução CNE/CP 02/2002 que definia questões mais objetivas de operacionalização

47 A resolução CNE/CP 01/2002 no artigo 11, em seu parágrafo único, apresenta: “Nas licenciaturas em

educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental deverão preponderar os tempos dedicados à constituição de conhecimentos sobre os objetos de ensino e nas demais licenciaturas o tempo dedicado às dimensões pedagógicas não será inferior à quinta parte da carga horária total” (grifo nosso).