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Expansão da formação do professor no ensino superior: de política pública para interesse privado

2. FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA UNIVERSIDADE: AMBIGÜIDADE DE SABERES E REGULAÇÃO ESTATAL

2.1 Saber pedagógico na formação do professor

2.1.2 Expansão da formação do professor no ensino superior: de política pública para interesse privado

A exigência de diploma de licenciado para o exercício do magistério secundário não conseguiu aplicação plena, pois sucessivas leis continuaram a admitir exceções à regra. Segundo Cacete (2002), em 1958, dos 4.149 professores registrados no Ministério da Educação e Cultura para o exercício no magistério secundário, apenas 724 eram diplomados por Faculdades de Filosofia; 3.425 eram formados em outros cursos, cujos diplomas eram, via de regra, adaptados, mediante complementação pedagógica. Com o crescimento do ensino secundário, as faculdades de Filosofia atendiam apenas uma pequena parcela da demanda de professores; o restante era recrutado entre os candidatos formados pelas escolas normais ou por algum curso de nível superior.

O processo de expansão das faculdades de Filosofia é, até 1950, relativamente lento. Conforme Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (1950), em 1949 eram 22 as Faculdades de Filosofia que funcionavam no país. Sendo 7 em universidades oficiais (do Brasil, Bahia,. Minas Gerais, Paraná, Recife, Porto Alegre e São Paulo), 5 em universidades privadas, todas católicas (PUCs do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de Campinas e duas em São Paulo) e 10 em escolas isoladas. Essas faculdades eram distribuídas por apenas 8 Estados e o Distrito Federal.

O número significativo de faculdades de Filosofia católicas é fruto da disputa, nesse período, entre elites católicas pelo controle da educação, em especial do ensino superior já legislado pelas leis orgânicas de Francisco Campos29. Para Fernandes (1962, p.230), essas escolas se constituíam em “meros centros de transmissão escolástica de conhecimentos, divorciados da pesquisa básica, dos padrões verdadeiramente modernizados de ensino e da busca criadora do saber original”.

As Faculdades de Filosofia – tanto as particulares quanto as oficiais, é mister que se diga – deixaram de preencher suas funções institucionalizadas. Entre os profissionais que deveriam preparar, acabaram formando apenas docentes para o ensino secundário e normal, em regra de modo acentualmente precário e insustentável. (FERNANDES, 1962, p.230))

No modelo original das faculdades de Filosofia, não estava prevista a profissionalização, mas uma formação científica para pesquisa. Formar “apenas docentes para o ensino secundário” - esta citação enfatiza o desprestígio da faculdade de Filosofia que se distanciava de suas funções originais. A formação de professores passou a ser vista como um desvio de função frente aos seus objetivos iniciais, conferindo à Faculdade de Filosofia em nível menor. Percebe-se que o curso de formação de professores vai assimilando a condição de “inferioridade”, de nível “menor” e os aspectos didático-pedagógicos negligenciados nesse processo.

Para Teixeira (1969), a expansão do ensino superior brasileiro se deu muito mais pela multiplicação de escolas do que pela ampliação das já existentes. O autor justifica, entre outros aspectos, a forma de constituição da escola pelo agrupamento de cátedras únicas, ficando a sua expansão impedida pelo fato de haver um único catedrático para cada matéria do currículo. Criados o catedrático e o currículo único do curso, cada escola não podia crescer além da capacidade individual do catedrático. Multiplicar os alunos seria imediatamente deteriorar o ensino, pelo aumento da relação professor aluno. A ampliação só se podia fazer com a criação de uma nova escola.

29 A reforma educacional de Francisco Campos que reorganizou todo o sistema educacional atingindo

todos os níveis de ensino definiu, pela primeira vez, o formato legal ao qual deveriam obedecer as universidades a serem organizadas no Brasil. Nessa legislação, ficou reconhecida a liberdade da iniciativa para a constituição de estabelecimentos próprios, ainda que sob supervisão governamental.

As faculdades de Filosofia acabaram por se multiplicar isoladamente; assim respondiam à pressão por ensino superior de uma sociedade em processo de mudança, com crescente aspiração a esse nível de ensino. Essa demanda foi altamente explorada pelas novas classes médias urbanas em formação. Inicialmente foi uma demanda pela ampliação do ensino publico secundário, criando conseqüentemente condições para pressão no nível subseqüente, ou seja, o superior. Essa pressão se traduzia pela procura de novos cursos, particularmente os das faculdades de Filosofia. Em 1954 essas instituições contavam com o maior número de estabelecimentos no país. O período de 1945-1961 consolida o ensino superior privado no país (Sampaio, 2000), sendo que, entre 1955 e 1960, os cursos fundantes das instituições privadas isoladas são basicamente voltados para a formação de professores secundários através da criação de faculdades de Filosofia, Ciências e Letras.

A estratégia das instituições privadas de se expandirem via faculdades de Filosofia só foi possível frente às condições que já vinham se estabelecendo no processo de expansão do ensino superior caracterizado pela ampliação da rede de ensino secundário, associado ao fato dos cursos de formação de professores serem de baixo custo, pois “a precariedade do corpo docente, a indigência de instalações e bibliotecas e a forma como foram estruturados seus cursos respondem pela condição inferior da grande parte dessas faculdades.”(Sucupira, 1969, p.269), colocando a formação dos professores na categoria dos “cursos fáceis” – fácil de instituir e fácil de formar.

De acordo com Cacete (2002), em 1957 dos 28 cursos de formação de professores secundários no país, ministrados em faculdades de Filosofia Ciências e Letras, 21 eram em instituições particulares. Dos 1.991 alunos matriculados nesses cursos, 1.401 estudavam em instituições particulares, sendo a maioria dessas instituições católicas. Os cursos de formação de professores em faculdades de filosofia se realizavam predominantemente em Universidades, e em 1957, dos 28 cursos existentes, 15 eram em universidades e 13 em instituições isoladas. Praticamente 50%

em estabelecimentos que formavam professores concentravam-se em faculdades isoladas. No entanto, a partir de 1960, a política de expansão do ensino privado se acentua no regime militar em faculdades leigas.

Os principais motivos que levaram à expansão destas faculdades foram: a grande demanda de professores leigos, a expansão da rede escolar, a carência de interiorização do ensino superior e a facilidade na criação dos cursos por não demandarem de laboratórios, biblioteca especializada e profissionais qualificados.

Nesse sentido, as faculdades de Filosofia não conseguiram cumprir adequadamente seus objetivos fundadores e muito menos se constituírem como escola de formação consistente de professores. Como instituições voltadas à formação do