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Articulação dos espaços verdes no Planeamento Urbano Sustentável.

Ao se verificar a importância dos espaços verdes no ambiente urbano, como amenidade ambiental, como suporte de recreio e lazer, como potenciador da economia local e global, e como uma das componentes essenciais da morfologia urbana, importa saber como estes podem ser articulados no processo de planeamento, tendo em vista o potenciar dessa diversidade de funções no tecido urbano.

Esta perspectiva de intervenção passa necessariamente, pelo conhecimento e valorização das múltiplas tipologias de verde presentes no meio urbano. Tal como

96 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ Hough (1998) refere, verifica-se uma dicotomia entre os jardins ou parques públicos de desenho formalista aos quais, se dá prioridade às questões estéticas, e a vegetação urbana que se pode encontrar nas partes mais recônditas da cidade; se a primeira paisagem apresenta uma menor conexão com a dinâmica dos processos naturais, a segunda representa a vitalidade dos processos naturais e sociais.

Com a crescente preocupação da integração dos espaços verdes no ordenamento e planeamento urbano, surge o conceito de estrutura verde que engloba todo o espaço revestido por vegetação e que pode ser classificada de principal ou secundária (Quadro 4.2), de acordo com as seguintes características (Magalhães et al., 1992):

• Estrutura verde principal: referente à estrutura ecológica urbana, constituída pelos espaços de maior dimensão e impacto na cidade, que representam pólos de articulação com a paisagem envolvente (jardins, parques urbanos e suburbanos, zonas desportivas, hortas urbanas, recintos especiais como, jardins zoológicos, parques de atracções e exposições, etc.).

• Estrutura verde secundária: diz respeito ao espaço verde integrado nas áreas tipológicas edificadas, constituindo a extensão da estrutura anterior no interior do contínuo urbano e integrando os espaços de menor dimensão mais directamente relacionados com a habitação e equipamento colectivo. (jardins de bairro ou quarteirão, zonas verdes escolares, zonas de recreio infantil e juvenil, etc.).

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ESTRUTURA VERDE URBANA TIPO DE UTILIZAÇÃO RECOMENDAÇÕES GLOBAIS DE PLANEAMENTO ESTRUTURA VERDE PRINCIPAL (integrada no contínuo natural) Utilização máxima

Parque da cidade (zonas verdes especiais, espaços verdes didácticos, feiras, exposições, etc.)

20 m2/ habitante

Parque urbano (espaços verdes ligados ao

equipamento escolar de saúde, desportivo, cultura, etc.)

Utilização média Parque sub-urbano Desporto livre Hortas urbanas Parques de campismo Zonas de merendas Utilização mínima

Zonas de protecção (em relação às zonas industriais, às infra-estruturas de transporte, aos ventos, etc.) Zonas de protecção às linhas de drenagem natural das águas pluviais Matas de protecção Zona agrícolas Cemitérios ESTRUTURA VERDE SECUNDÁRIA (integrada no contínuo construído) Utilização máxima

Espaços para recreio infantil (0-5 anos)

10 m2/ habitante

Espaços para recreio infantil (6-9 anos) Espaços para recreio juvenil (10-16 anos) Espaços para idosos e adultos

Espaços para convívio e encontro (praças arborizadas, alamedas, jardim público, etc.)

TOTAL 30 m2/ habitante

Quadro 4.2: Estrutra verde urbana e suas características. Fonte: Magalhães et al., 1992.

A estrutura verde urbana deve ser concebida como um sistema contínuo e hierarquizado de espaços, consubstanciando-se no conceito de “Continuum naturale”, tal como, foi consagrado na Lei de Bases do Ambiente (Lei nº11/87, artº5), como sendo “o sistema contínuo de ocorrências naturais que constituem o suporte da vida silvestre e da manutenção do potencial genético e que contribui para o equilíbrio e estabilidade do território. Assim, pretende-se que a paisagem envolvente penetre na cidade de modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções que vão desde o espaço de lazer e recreio ao de enquadramento de infra-estruturas e edifícios, aos espaços de elevada produção de frescos

98 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ agrícolas e à protecção e integração de linhas ou cursos de água com seus leitos de cheia e cabeceiras” (Magalhães et al., 1992).

Associado ao conceito de Estrutura verde surge o conceito de Estrutura ecológica urbana devido, à necessidade de se introduzir uma nova abordagem de intervenção na cidade contemporânea, capaz de responder às expectativas de seus usuários de contextos sociais diferenciados, assim como, aumentar a sua capacidade de suporte em termos lúdicos, cénicos e ambientais.

“Enquanto a estrutura verde engloba todo o espaço revestido por vegetação, a estrutura ecológica constitui um subsistema da estrutura verde, integrando as áreas mais sensíveis e representativas dos ecossistemas presentes.” (Magalhães, 2001) Pretende-se com a Estrutura Ecológica Urbana criar um “continuum naturale” integrado no espaço urbano, de modo a dotar a cidade, de uma forma homogénea, de um sistema constituído por diferentes biótipos e corredores que os interliguem, representados, quer por ocorrências naturais, quer por espaços existentes ou criados para o efeito, que sirvam de suporte à vida silvestre (Magalhães, 2001).

A Estrutura ecológica Urbana é constituída por áreas que visam assegurar ambas as componentes, física e biológica, dos ecossistemas, como o intuito de garantir as funções dos sistemas biológicos, o controlo dos escoamentos hídricos e atmosféricos, e o conforto bioclimático (Telles, 1997).

Como instrumentos da Estrutura Ecológica Urbana, “os corredores verdes são estruturas lineares da paisagem, de dimensões variáveis, com um metabolismo uno, contínuo e ecologicamente congruente. Constituem um sistema diversificado, protagonizado pelo coberto vegetal, que integra o solo, elementos de água, animais silvestres e utilizadores humanos” (Marques, 2004).

A criação, promoção e conservação de corredores verdes assenta na definição de unidades de paisagem que possam ligar-se entre si de modo a constituírem uma rede viva que se estenda da escala local até à escala global, cumprindo o objectivo

99 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ do “continuum naturale” e assumindo uma ligação entre os diferentes espaços da cidade e as linhas estruturantes.

A continuidade que define o propósito dos corredores verdes, permite estabelecer um metabolismo unificador da paisagem, conferindo dimensão e qualidade sistemática aos espaços verdes da cidade, distinguindo-se de outras estruturas verdes isoladas e, por isso, de carácter pontual (Marques, 2004). Segundo o mesmo autor “a necessidade de corredores verdes é tanto maior quanto mais densamente edificada e impermeabilizadas for a paisagem, pois é nessa situação que as principais funções naturais da paisagem estão comprometidas, limitando a qualidade de vida das populações”.

4.5 Síntese conclusiva.

Constatando a enorme taxa de urbanização, verificada em todo o mundo, e a escassez e delapidação dos recursos naturais, o desenvolvimento sustentável põe esperança num novo modelo de desenvolvimento que assegure o futuro das novas gerações. Assim a necessidade da organização espacial da cidade através de um planeamento sustentado opera necessariamente em bases de opção política, social, económica, ambiental e cultural, surgindo a necessidade e a procura do conceito de cidade sustentável.

Para que este conceito se traduza no Território é importante recorrer ao planeamento ambiental, pois, o contexto ecológico influencia os seres humanos e a consequente construção da cidade.

O desenvolvimento sustentável da cidade será atingido quando for compreendido enquanto ecossistema. Assim este ecossistema assume no seu todo uma estrutura, como base de desenvolvimento entre as suas componentes. Transpor o conceito de sustentabilidade ecológica para a paisagem passa pela aceitação da existência de um suporte físico e biológico primordial, sobre o qual se instalou determinada comunidade humana, e que o funcionamento desse suporte tem que ser assegurado sob pena de a comunidade que nele vive vir a sofrer graves danos na

100 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ sua qualidade de vida e na utilização de recursos indispensáveis. Este pressuposto significa que a utilização da paisagem tem que ser feita com o conhecimento científico do seu suporte ecológico, submetendo-se às leis do funcionamento dos ecossistemas. A satisfação das necessidades dos seus utilizadores deve processar-se dentro dos limiares da capacidade de resiliência, ou seja, da capacidade de garantir a permanência desse suporte, no presente e no futuro (Magalhães, 2003).

Após a Análise da importância e articulação dos espaços verdes no planeamento urbano, importa saber que processos e acções se desenvolveram para um planeamento urbano sustentável. Análise que será abordada no próximo ponto, através do novo processo de Planeamento Urbano defendido por Amado (2005).

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5 PROCESSOS E ACÇÕES DE APLICAÇÃO DO