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Espaços Verdes e a qualidade do Ambiente Urbano

Após análise evolutiva dos espaços verdes, podemos constatar que estes começaram a ganhar expressividade no planeamento urbano devido a preocupações estéticas e higienistas com o intuito de melhorar a salubridade do espaço urbano, ou então, como forma de atribuir uma componente natural no tecido urbano. Desde o final do século XIX que se compreende a importância dos espaços verdes no meio urbano assim, importa perceber de que modo se relacionam com a sua qualidade.

Em 1972, aquando da Conferência de Estocolmo a qualidade ambiental das áreas urbanas começou a ser discutida, tendo o conceito de ambiente urbano seguido um percurso evolutivo semelhante ao do conceito mais abrangente de ambiente.

A crescente preocupação com a qualidade do ambiente ao nível urbano levou à publicação de “O Livro Verde do Ambiente Urbano” pelo conselho de Ministros do Ambiente da UE em 1990, que analisa os problemas ambientais que se fazem sentir nas cidades europeias. Esta preocupação surgiu por serem as áreas urbanas as maiores fontes de poluição, apesar de todas as vantagens e importância que lhe são inerentes.

Neste, surge a separação dos problemas que afectam as áreas urbanas em três grupos. O primeiro refere-se à poluição urbana: ar, água, ruído, resíduos e solo. O segundo grupo compreende o ambiente construído: estradas, ruas, edifícios, espaços abertos e áreas recreativas. E por fim o terceiro remete-se para aspectos relacionados com a Natureza: espaços verdes e habitats naturais na cidade.

Para Partidário (1993), o conceito de qualidade do ambiente urbano deve ser analisado através de duas perspectivas distintas. Uma está relacionada com o bem-estar ambiental e como contra-ponto à natureza económica do conceito de bem-estar, a autora atribui uma conotação mais social, incluindo aspectos como o conforto humano e a saúde pública. A segunda vertente relaciona-se com a

85 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ sustentabilidade do ambiente urbano nomeadamente com os limiares de utilização dos recursos naturais e do espaço quer seja físico, ecológico, económico, social e político.

O ambiente urbano é constituído por dois sistemas intimamente inter-relacionados: o “sistema natural” que engloba o meio físico e biológico (solo, vegetação, animais, água, etc.) e o “sistema antrópico” que inclui o Homem e as suas actividades, de forma que o ambiente urbano interage com o ambiente natural e os reflexos das actividades humanas podem ser visto em ambos (Mota, 1999). A qualidade de vida nas cidades é assim também afectada pela transformação da sua estrutura histórica e da deterioração da paisagem urbana. Estes problemas têm raízes comuns nas tendências actuais de expansão urbana e na separação das funções urbanas.

Na sequência do Livro Verde sobre o Ambiente Urbano (CCE, 1990), novos relatórios foram elaborados para verificar de que modo evoluiu o processo “Ambiente para a Europa” e transmitir novas medidas para a melhoria do ambiente na União Europeia.

Nos relatórios SOE (State of Environment) intitulados "Europe's Environment: The Dobris Assessment" (EEA, 1995) e “Europe's Environment: second assessment” (EEA, 1998) os problemas ambientais fundamentais da Europa estão agregados em 12 temas sendo um deles relativo ao tema Ambiente Urbano. Neste tema, o relatório Dobris, de 1995, introduziu o conceito de ecossistema urbano e forneceu uma estrutura de análise deste ecossistema baseada em três categorias (qualidade do ambiente urbano, padrões urbanos, e fluxos urbanos) com o objectivo de avaliar a sustentabilidade do ambiente urbano europeu a nível local, regional e nacional.

A qualidade ambiental corresponde aos atributos do estado do ambiente que influenciam as condições de vida e saúde dos habitantes; os padrões urbanos correspondem à estrutura do ecossistema urbano; e os fluxos correspondem às entradas de energia, água e materiais no sistema onde são processados e transformados em fluxos de saída que devem ser absorvidos (fluxos constituídos por emissão de gases, resíduos líquidos e sólidos, ruído, calor). Analisando o

86 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ quadro seguinte (Quadro 4.1), verificamos que as zonas verdes constituem um dos atributos necessários para que se promova a qualidade do ambiente urbano e que o Planeamento Urbano é uma política de resposta válida.

O ordenamento estrutural e do território estão a ser reconhecidos cada vez mais como poderosos instrumentos para melhorar a sustentabilidade das cidades. Muitas cidades europeias estão a estudar várias formas de integrar os princípios ecológicos nos planos de ordenamento do território e no planeamento de transportes (EEA, 1995).

Categorias de análise

Qualidade do Ambiente Urbano

Padrões Urbanos Fluxos Urbanos

Qualidade do ar Qualidade do ambiente sonoro Zonas verdes Biodiversidade Tráfego rodoviário Estrutura demográfica Padrões de uso do solo Padrões de mobilidade Infra-estruturas Estilos de vida Materiais Energia Emissões Águas residuais Resíduos sólidos Políticas de resposta Agenda 21 Local Planeamento Urbano Gestão ambiental Instrumentos económicos Monitorização /notificação.

Quadro 4.1: Quadro de avaliação do ambiente urbano e de políticas de resposta. Fonte: adaptado da EEA, 1995.

No relatório final de Contribuição para a formulação de políticas públicas no horizonte 2013 relativas ao tema Ambiente e Prevenção de Riscos (EEP, 2005), verifica-se que os principais problemas urbanos (ruído, qualidade do ar, stresse) são provocados na sua grande maioria pela dificuldade de mobilidade e situações de congestionamento, face ao uso intensivo do automóvel, um problema que se vem agravando nas últimas décadas.

87 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ O relatório (EEP, 2005) refere ainda que, o aumento da população nas cidades provocou uma procura de espaço urbano, resultando no aumento da área impermeabilizada, na ocupação de espaços verdes e fragmentação de habitats. Estes factores potenciam efeitos nefastos para a população nomeadamente, no risco de cheias e na má qualidade do ar, e consequente diminuição da qualidade da vida urbana.

Deste modo, é de compreender que as medidas propostas para o próximo quadro de programação para a melhoria do ambiente urbano sejam a sustentabilidade da mobilidade urbana, a criação de espaços verdes e corredores ecológicos, e a promoção da agenda 21 Local.

Constata-se que o meio urbano vê assim melhorada a sua qualidade através da existência de espaços verdes e da optimização da sua qualidade ecológica, visto que, promovem a melhoria do microclima urbano, contribuem para a reciclagem de compostos urbanos, manutenção da qualidade da água, redução dos níveis de ruído e funcionam como locais de escape para repouso e contemplação da Natureza (EEP, 2005).

Contudo este mesmo relatório (EEP, 2005) refere ainda que os espaços verdes e os corredores verdes, apesar de todas as vantagens que apresentam, continuam sem referências estratégicas e de planeamento adequados. Verifica-se a necessidade de os integrar num processo de Planeamento urbano, que integre todos os benefícios que lhe são inerentes. Como tal, no ponto seguinte serão abordadas as principais funções e benefícios dos espaços verdes no ambiente urbano, procurando perceber a sua integração no processo de planeamento urbano