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Conceitos para a cidade actual.

Desde o final do século XX que o planeamento urbano procura solucionar os problemas que a Revolução Industrial introduziu nas novas cidades, tentando reorganizá-las através de modelos pré-concebidos que por vezes privilegiavam a tradição, noutras o rendimento e noutras a reintegração da cidade com o campo. Modelos utópicos que por diferentes razões fracassaram e que no entanto continuam a ser amplamente utilizados.

“A primeira e mais óbvia observação a respeito das cidades é que elas são como um organismo, absorvem recursos e emitem resíduos. Quanto maiores e mais complexas forem as cidades, maior também será a sua dependência das áreas circundantes, e a sua vulnerabilidade em relação às mudanças à sua volta. As cidades são, ao mesmo tempo, a nossa glória e a nossa predição”, Richard Rogers (2001).

A população das cidades tem vindo a aumentar gradualmente ao longo dos tempos, tendo dado um grande salto após a Revolução Industrial. Em 1930, a população mundial residente nas cidades era aproximadamente de 2 mil milhões e, segundo o relatório “Situação da População Mundial 2007” do Fundo das Nações Unidas para a População, chegaria aos 3,3 mil milhões em 2008, ultrapassando

28 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ pela primeira vez na História da humanidade a população rural. Até 2030 espera-se atingir a marca dos 5 mil milhões. O relatório diz ainda: “viver nas cidades é bom, mas que é preciso refrear o ritmo do crescimento urbano” e que "existem claras evidências de que a urbanização pode desempenhar um papel positivo no desenvolvimento social e económico." Isto porque as cidades, segundo o relatório, garantem o acesso mais barato a bens, infra-estruturas e serviços, e facilitam a diminuição do índice de pobreza, oferecendo mais oportunidades para um desenvolvimento sustentável. "As pessoas percebem intuitivamente as vantagens da vida urbana. Isso explica por que milhões se mudam para as cidades todos os anos" (Relatório da Situação Populacional Mundial, 2007).

Embora o Relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) procure encontrar pontos favoráveis no crescimento das cidades, não deixa de ser verdade que, quanto maior o número de habitantes mais graves são os problemas. Por exemplo, o facto mais importante, no que diz respeito ao aumento da população da cidade, é o aumento da degradação ambiental a vários níveis: solo, qualidade do ar, água, poluição, alterações climáticas, recursos renováveis e não renováveis e destruição da biodiversidade. Outros dos problemas intrínsecos às cidades referem-se à sua perda de identidade e consequentemente perda da coesão social, derivado da rápida evolução, enquanto cidade, desde a pequena vila até à cidade de hoje. O intenso tráfego que promove a criação de grandes vias que “rasgam” e dividem a cidade, limitam a livre circulação pedonal e consequentemente a vida social.

O relatório referente à poluição atmosférica na Europa (1990 – 2004) demonstrou que, apesar da redução das emissões, das elevadas concentrações de partículas em suspensão e do ozono troposférico, estes factores são causadores de muitos dos problemas em muitas cidades e áreas circundantes. As partículas em suspensão são geralmente reconhecidas como a principal ameaça para a saúde humana resultante da poluição atmosférica. Facto relevante aparece nas estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), que diz que, cerca de 100 000 mortes anuais, podem estar associadas à poluição do ar ambiente nas cidades europeias, reduzindo num ano a esperança média de vida13.

29 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ De referir também que de todos estes parâmetros depende a economia, uma vez que, a qualidade de vida das populações, desde a disponibilidade de emprego até à justiça e equidade social, está associada às condições económicas da cidade, assim como, o aspecto social está dependente dos aspectos ambientais. Funciona como um ciclo vicioso e para que todas as componentes funcionem nenhuma deve ser colocada de parte ou menosprezada.

“É uma ironia que as cidades, o habitat da humanidade, se caracterizem como o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade do planeta”, Richard Rogers (2001).

De uma forma resumida e tomando por base a informação disponível na Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS), verificamos que os problemas actuais de desenvolvimento são na sua grande maioria problemas globais, devendo servir de orientação para desafios à sustentabilidade, tal como se verifica no seguinte quadro.

30 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________

Quadro 2.3 – Problemas e desafios da cidade actual.

Fonte: Dados recolhidos na ENDS: http://www.portugal.gov.pt.

Com objectivo de responder aos problemas mencionados a cidade actual terá de ser idealizada de forma a absorver o aumento do crescimento urbano e ainda, a tornar-se auto-sustentável. De acordo com Herbert Girardet (1996) a solução está

Problemas actuais.

Temas globais para um Desafio à sustentabilidade.

Progressos económicos e sociais notáveis

associados à globalização foram

conseguidos em partes do mundo, nomeadamente na Ásia, e coexistem com situações de pobreza e a exclusão social, sendo de referir o elevado número de pessoas sem acesso a condições mínimas de subsistência, excluídas do mercado do emprego, nomeadamente em regiões como a África;

Erradicação da pobreza, como a promoção do desenvolvimento social, da saúde e de uma utilização e gestão racional dos recursos naturais;

Um acelerado processo de urbanização, realiza-se em paralelo a uma crescente ameaça das alterações climáticas; escassez de água doce e inerentes consequências na saúde e segurança alimentar; perda de biodiversidade generalizada; desflorestação acentuada, intensificação dos processos de desertificação e erosão dos solos aráveis; crescente poluição e degradação dos mares e oceanos, e destruição dos seus recursos; aumento das situações de risco e acidentes; presença crescente de substâncias perigosas no ambiente e dificuldade em controlar as fontes de poluição e a ausência de padrões de produção e consumo sustentáveis.

A promoção de padrões de produção e consumo sustentáveis, onde se faça uma dissociação entre o crescimento económico e as pressões sobre os ecossistemas, no sentido de uma maior eco-eficiência da economia; A conservação e gestão sustentável dos recursos;

O reforço da boa governação a todos os níveis, incluindo a participação pública;

Os meios de implementação, incluindo a capacitação, a inovação e a cooperação tecnológica

31 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ na busca de um metabolismo circular nas cidades no qual, o consumo é reduzido através da implementação de eficiência e a reutilização de recursos é maximizada.

Segundo Richard Rogers (2001), é na cidade que ocorre grande parte da produção e do consumo, e maioritariamente, através de processos lineares de produção, causadores de poluição e consumidores de recursos não-renováveis (Figura 2.8). Como tal, estes processos lineares terão de ser substituídos por processos circulares de uso e reutilização, permitindo aumentar a eficiência urbana e reduzir o seu impacto no meio ambiente (Figura 2.9).

Figura 2.8:Metabolismo linear.

Fonte: Richard Rogers (2001).

Figura 2.9:Metabolismo circular.

32 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ “ (…) o objectivo da sustentabilidade numa cidade é a redução do consumo de recursos naturais e da produção de resíduos, melhorando simultaneamente a sua vivência, de tal forma que se adapte melhor às capacidades dos ecossistemas locais, regionais e globais” (Newman, 1999).

A cidade funciona então como um organismo vivo e a sua maior ou menor densidade dependerá da capacidade de produzir, reciclar e reutilizar no seu interior. Assim, os espaços verdes, componente estruturante da malha urbana, adquirem particular importância na sustentabilidade do lugar, pois será através destes que aspectos como drenagem atmosférica, aquíferos naturais e espaços públicos de interacção social se manterão consistentes e funcionais.

“Para atingir um desenvolvimento sustentável, as questões ambientais devem transformar-se no ponto central no processo de tomada de decisões dentro dos sectores governamental e industrial. Para tal, deve-se procurar melhores informações relativas ao impacto ambiental do desenvolvimento económico. O objectivo final deveria ser a integração da contabilidade ambiental e económica nas contas nacionais”. (Governo da Grã-Bretanha, Boletim Oficial, Janeiro 1994)

Considerando os problemas verificados na cidade e a mais-valia de um planeamento urbano eficaz, através de um metabolismo circular tendo presentes os conceitos de cidade compacta e de sustentabilidade, importa também perceber como evoluiu o Planeamento Urbano no caso concreto de Portugal, analisando posteriormente a evolução das políticas da cidade na UE e quais as medidas adoptadas para a promoção de uma melhor vida urbana, tanto a nível local como a nível global, transportando-as para a realidade nacional.