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Desenvolvimento Sustentável | o conceito.

3.1 Conceitos Teóricos.

3.1.4 Desenvolvimento Sustentável | o conceito.

Em 1987 o conceito de um “Desenvolvimento Sustentável” surgiu com maior expressão no relatório denominado “Our common future”, conhecido também como Relatório de Bruntland. Este relatório defendia que “Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades”. As críticas à sociedade Industrial que se verificavam nos relatórios anteriores e que causaram algum desconforto na crítica da comunidade internacional, não se verificam neste relatório, verificando-se sim uma “demanda no crescimento tanto em países industrializados como em subdesenvolvidos ligando a superação da pobreza nestes últimos, ao crescimento contínuo dos primeiros”28.

O relatório parte de uma visão complexa das causas dos problemas socioeconómicos e ecológicos da sociedade global, sublinhando a interligação entre economia, tecnologia, sociedade e política e chamando também atenção para

60 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ uma nova postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as gerações seguintes como dos membros contemporâneos da sociedade actual. O relatório apresenta uma lista de medidas a tomar ao nível nacional: limitação do crescimento populacional; garantia da alimentação a longo prazo; preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; aumento da produção industrial nos países não industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; controlo da urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores; satisfação das necessidades básicas. O Relatório Brundtland define também metas a serem atingidas ao nível internacional, tendo como agentes as diversas instituições internacionais: as organizações do desenvolvimento devem adoptar a estratégia do desenvolvimento sustentável; a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antárctida, os oceanos e o espaço; as guerras devem ser banidas; a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável.

A sustentabilidade, seguindo os preceitos do Relatório Brundtland, pode ser compreendida como um processo de mudança que considera diferentes dimensões, entre as quais se destacam a ecológica, a económica e a social, além da institucional, sendo a interacção entre essas diferentes dimensões o grande objectivo do desenvolvimento sustentável que, no entanto, se tem mostrado difícil de atingir. De referir que a dimensão social, só em 1995, após a Cimeira Social de Copenhaga, passou a fazer parte integrante deste conceito.

A sustentabilidade ecológica pode-se definir como a capacidade de um sistema (ou ecossistema) em preservar o seu estado ao longo do tempo, mantendo, parâmetros de volume, de taxas de alteração e de circulação invariáveis ou que os faz flutuar ciclicamente em torno de valores médios. Ao introduzir o homem no processo, a sustentabilidade ecológica pode ser entendida como a capacidade de uma dada população de ocupar uma determinada área e explorar os seus recursos naturais sem ameaçar, ao longo do tempo, a integridade ecológica do meio ambiente no qual está inserido.

61 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ Costanza (1994) define três diferentes políticas para a obtenção da sustentabilidade ecológica: uma taxa sobre a destruição do capital natural, com o objectivo de reduzir, ou mesmo de eliminar a sua destruição; a aplicação do princípio poluidor-pagador, para incentivar os produtores a melhorar seus procedimentos; um sistema de impostos ecológico, que permita aos países, a aplicação das duas políticas anteriores sem obrigar os seus produtores a procurar outros lugares, na tentativa de manter a sua competitividade.

A sustentabilidade ecológica exige um conhecimento específico sobre os processos de desenvolvimento para que se possam visualizar e reconhecer alterações no sistema, como a consequência da acção humana com influência no ambiente, que com o sistema capitalista se mostrou altamente invasivo, isto é, além de se analisar a dinâmica socioeconómica é preciso uma compreensão detalhada da constituição física do sistema. Dessa forma, uma estratégia a ser seguida em tal processo deveria contemplar a integração dos aspectos ecológicos nas políticas de desenvolvimento socioeconómicas; formulação de estratégias preventivas; demonstração dos benefícios para o desenvolvimento com base em políticas ecológicas correctas (Rees, 1993).

Assim, podem ser identificados ao menos dois critérios básicos para sua operacionalização: no caso dos recursos renováveis, a taxa de utilização deve ser equivalente à taxa de recuperação do recurso; para os não-renováveis, a sua taxa de utilização deve ser equivalente à taxa de substituição do recurso utilizado.

Colocada em termos estritamente económicos, a sustentabilidade poderia ser definida ao utilizar-se o conceito de renda de Hicks (1980): trata-se da quantidade máxima que um indivíduo pode consumir num determinado período de tempo sem reduzir o seu consumo no futuro. Segundo esta definição, o seu cálculo, medido em termos de produto nacional, deve ser feito incluindo a riqueza e os recursos ambientais de um país. Na sua não-observância, a medição não indicaria o grau de sustentabilidade.

Muitas são as empresas que ainda não encaram a problemática ambiental e a entendem apenas como um entrave para o desenvolvimento de seus negócios,

62 Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental_________________________ uma vez que a natureza ainda continua a prover todos os recursos necessários para seu empreendimento. No entanto, a partir do momento em que esta passa a oferecer limites para sua exploração, por esgotamento do recurso ou pelo excesso de resíduos produzidos, configura-se uma situação também de insustentabilidade económica, ainda que essa manifestação se torne realidade a médio e longo prazo. Quando essa situação é ampliada a um nível global, a insustentabilidade de toda a estrutura económica torna-se patente e o horizonte temporal tende a diminuir.

A sustentabilidade social, por sua vez, procura a melhoria na qualidade de vida da população e baseia-se na implementação de critérios de justiça distributiva (melhor distribuição de renda, bens e serviços) e na universalização da cobertura de educação, saúde, habitação e previdência social, com o intuito de diminuir as diferenças sociais e as taxas de pobreza.

Desde o Relatório Brundtland, que os analistas da problemática ambiental têm reconhecido que pobreza e degradação ambiental são realidades interdependentes, que caminham juntas, e precisam ser compreendidas e abordadas de forma integrada, na busca de um equacionamento mais adequado. Segundo Sachs (1986), se a degradação ambiental agrava as condições de vida dos mais pobres, a pobreza destes conduz a uma exploração predatória dos recursos naturais, fechando um ciclo perverso de prejuízos socio-ambientais.

A sustentabilidade social é alcançada quando os custos e os benefícios são distribuídos de forma adequada tanto entre o total da população actual (equidade intrageneracional) quanto entre as gerações presentes e futuras (equidade intergeneracional). No ponto de vista social, os agentes sociais e as instituições sociais desempenham um papel muito importante na obtenção do desenvolvimento sustentável, por meio de uma correcta organização social que permite a selecção de técnicas adequadas do ponto de vista ambiental, além de direccionar investimentos para o desenvolvimento do capital humano que, no limite, viabiliza a coesão social e a sustentabilidade social do sistema.

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