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Articulação institucional: possibilidades e desafios à prática dos/as Assistentes Sociais

4. A CONVIVÊNCIA FAMILIAR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: LIMITES E DESAFIOS DA

4.4 O processo interventivo dos/as Assistentes Sociais nas Instituições de Acolhimento

4.4.4 Articulação institucional: possibilidades e desafios à prática dos/as Assistentes Sociais

Os dados evidenciados ao longo desse estudo, mostram a complexidade do trabalho do/a assistente social nas instituçõe de acolhimento para crianças e dolescentes, uma intervenção que necessita extrapolar os limites institucionais e procurar parcerias e articulações externas para realizar um atendimento que objetive responder às exigências do indivíduo nas suas diferentes dimensões. Entretanto, a concretização deste processo é uma conquista e acompanha as dísputas, posições e projetos divergentes e existentes na sociedade.

Desta forma, apesar do ECA e as novas normativas estabelecerem a consolidação do Sistema de SGD42, oa/as assistentes sociais entrevistados salientaram dificuldades a partir da fragilidade da rede; da burocracia e lentidão da instituição e da Justiça, conforme as falas seguintes:

O que limita é quando tem família que a gente não sabe nem o que fazer, porque aqui é só criança e a adolescente, aí vem a secretaria e permite uma família entrar aqui, aí vem a preocupação para onde vai, porque não tem nem para onde ir (Assistente Social A).

O que limita é eu diria que essa inclusão com a família e o que contribuem é uma articulação extra estado para auxiliar no trabalho. (Assistente Social B).

Os entraves democráticos (Assistente Social L).

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Para o ECA o SGD é uma articulação integrada das instituições públicas e da sociedade civil com o objetivo de aplicar as normativas referentes à criança e ao adolescente. O SGD constitui-se de três eixos: promoção, controle e defesa e envolve diferentes atores como Poder Judiciário, Ministério Público, Hospitais, Escolas, entre outros.

A demora do sistema judiciário e a fragilidade da rede de atendimento (Assistente Social M).

A fragilidade da rede (Assistente Social N).

Diante de tais dados, verifica-se que, de fato não há uma articulação e integração efetiva entre diferentes políticas e setores, inviabilizando a proposta do SGD e, assim, o atendimento integral e prioritário à criança e ao adolescente.

A realidade fere os dispositivos descritos nos artigos 86 e 87 do ECA, “a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” (BRASIL, 1990, p. 11). A fragilidade da rede e a dificuldade no que tange aos encaminhamentos para a família, mostram o atendimento precário das políticas sociais e falta de intersetorialidade entre as políticas que executam ações pontuais, seletivas e limitadas nas suas abrangências.

Para Junqueira (2004 apud MIOTO; NOGUEIRA, s/d) a intersetorialidade objetiva superar a visão fragmentada das políticas públicas, permitindo a integração de serviços e setores institucionais, tendo em vista às necessidades da população, “[...] a articulação entre sujeitos de diferentes setores sociais e, portanto, de saberes, poderes e vontades diversos para enfrentar problemas complexos” (p.7).

O imperativo das ações burocráticas postas em primeiro lugar impede ao profissional direcionar seus esforços sobre atividades que propiciariam o fortalecimento dos laços familiares e a convivência familiar entre crianças e adolescentes e seus familiares ou em famílias substitutas, dificultando o processo de reintegração familiar. Destacam-se também os discursos que mostram a dificuldade entre o/a profissional e as famílias, evidenciando, mais uma vez, a complicação do trabalho:

Os pais que, às vezes, querem se livrar dos filhos, querem que eles fiquem aqui; os meninos que não querem mudar, se envolvem com drogas e aí acabou! (Assistente Social M).

São as barreiras colocadas pelas próprias famílias, que diz na maior cara de pau que não quer, e eu acho que nem um bicho teria coragem de abandonar um filho dessa forma (Assistente Social C).

É o próprio trabalho com as particularidades das crianças (Assistente Social M).

O trabalho com o ser humano é a longo prazo, não há receita pronta. Às vezes existem reintegrações precipitadas (Assistente Social N).

Diante do exposto, tais resultados refletem o drama da sobrevivência das famílias brasileiras e a complexidade da intervenção profissional. No entanto, as falas dos/as assistentes sociais M e C mostram, mais uma vez, a culpabilização da família, pois não há um questionamento ou indagações sobre as razões ou motivos que levam uma família a negligenciar ou desfazer-se da prole, e o amor filial é compreendido como algo natural e não socialmente construído. O estudo da francesa Badinter (1985) mostra que o amor materno é o resultado de possibilidades sociais, econômicas, históricas e que “o sentimento de amor materno depende de ocasiões propícias ao apego” (p.14).

No que diz respeito aos aspectos que favorecem o trabalho na instituição, os/as profissionais salientaram a contribuição devido às parcerias realizadas com as instituições; os cursos profissionalizantes para os/as usuários/as; a disponibilidade da Prefeitura e do Estado e o cargo ocupado, conforme as falas a seguir.

O que contribui é uma articulação extra do Estado para auxiliar no trabalho (Assistente Social B).

O que contribui são alguns cursos para as crianças, aí eles já matriculam, e também, se falta alguma comida, gás... é resolvido muito rápido, pelo fato de ser municipal (Assistente Social C ).

As parcerias, mesmo com dificuldades e a equipe, mesmo sem pedagogo (Assistente Social D).

O apoio incondicionado da Prefeitura, principalmente da Secretaria (Assistente Social L).

Pra mim maravilhoso, por que não tem ninguém que pegue no meu pé, porque eu sou a coordenadora e a assistente social (Assistente Social F).

Os resultados contradizem o que foi levantado anteriormente e apontam um direcionamento mais político. Desta forma, observa-se que o lugar e a posição social do falante prevalecem, limitando e norteando o que deve ser dito. Lembre-se que o/a assistente social ocupa uma posição hierárquica na instituição e na divisão social do

trabalho, dependendo disto para sua sobrevivência.

[...] são muitos os elementos que exercem uma influência sobre o modo como o texto que produzimos é organizado. Ele designa esse conjunto de elementos (ou de parâmetros) de “contexto de produção” e inclui nele tanto o contexto físico como o contexto sociosubjetivo (SILVA; MELO, 2006, p. 56). (Grifos dos autores)

Nesses termos, o cargo ou função desempenhada pelo/a assistente social orienta a sua fala e, também, sua prática, o que determina sua integração à ordem estabelecida na instituição e, reafirmando as palavras de Iamamoto (2012), um estranhamento do/a profissional diante do contexto social e da própria situação de trabalhador assalariado. Utilizando uma expressão de Antunes (2011), há uma

desidentidade do/a profissional com a classe trabalhadora, com a classe-que-vive- do-trabalho.

Os dados levantados podem ser respaldados pelas palavras de Iamamoto (2012), Mota (2012) e Guerra (2011) ao asseverar que o/a profissional é um trabalhador assalariado que luta pela própria sobrevivência e organiza sua rotina de trabalho a partir de uma conjuntura de insegurança e instabilidade.

No tocante à existência de relações ou parcerias com outras instituições, a totalidade das respostas confirmou que a instituição procura a rede de serviços para realizar os encaminhamentos, entretanto 41,6% asseveraram que a relação não é oficial, mas depende da demanda existente. As instituições mais procuradas são: Sistema Judiciário; Secretaria Municipal de Assistência Social, Saúde e Educação; Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC); entidades filantrópicas ou outras organizações existentes na rede de proteção, bem como o Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) para realizar tratamento psicológico.

A procura da rede de serviço indica a preocupação e necessidade da instituição em articular o trabalho com crianças e adolescentes envolvendo outras instituições, principalmente os serviços e programas existentes no município. Entretanto, o acesso aos serviços, projeto e programas, não pode efetivar-se a partir do discurso filantrópico, caritativo e de favor, conforme a fala do/a assistente social:

Sim, a gente procura a parceria com outras entidades, mas não oficialmente, é mais pela simpatia (Assistente Social F).

Por conseguinte, às relações de clientelismo ou “troca de favores” que marcaram a formação histórica e política do país permanecem até os dias de hoje. O discurso confirma, mais uma vez, que as políticas sociais e, principalmente, a política de Assistência Social são apreendidas como favor e ajuda para os setores mais pobres da população e não como direito que deve ser garantido e universalizado.

Assim sendo, a “prioridade absoluta”, preconizada no artigo nº 4 do ECA e que estabelece o atendimento prioritário das crianças e adolescente nos diferentes serviços e programas está longe de ser concretizada!

No que tange à responsabilidade para efetuar a articulação entre

serviços e programas, os/as profissionais afirmaram que não há alguém específico

para esta atividade, conforme as respostas a seguir:

Se fosse responsabilidade seria da coordenadora e depois do coordenador adjunto (Assistente Social C).

Geralmente o assistente social (Assistente Social D).

Quem faz esse trabalho é o técnico, mas dependendo da situação, também o coordenador da casa ou do serviço de acolhimento (Assistente Social H).

Não tem um responsável fixo. É a gente (Assistente Social N).

Os discursos evidenciam que não há um responsável, mas que a procura de um determinado serviço depende da demanda posta naquele momento ou naquela situação. Por conseguinte, o/a assistente social sendo responsável pelas ações e atividades referentes à criança e ao adolescente e suas famílias, fica encarregado desta relação com a rede de atendimento.

Entende-se que o conhecimento e a informação sobre a existência ou não de determinados serviços, programas ou instituições é de suma importância para o/a assistente social, que precisa planejar ações e tecer relações para o andamento do trabalho e, no caso em que existe carência de determinado serviço, procurar de forma coletiva suprir demandas necessárias, influenciando decisões administrativas e de gestão. Contudo, esse trabalho deve ser planejado e partilhado pela gestão, conforme sinaliza a fala do assistente social C, citada anteriormente, numa perspectiva de qualificar e organizar o trabalho institucional.

4.4.5 Condições de trabalho do/a Assistente Social nas Instituições de