• Nenhum resultado encontrado

4. A CONVIVÊNCIA FAMILIAR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: LIMITES E DESAFIOS DA

4.4 O processo interventivo dos/as Assistentes Sociais nas Instituições de Acolhimento

4.4.5 Condições de trabalho do/a Assistente Social nas Instituições de Acolhimento

Para além das condições estruturais do trabalho analisadas anteriormente, este item se detém à interpretação dos dados alusivos às condições da natureza e dos vínculos de trabalho dos/as assistentes sociais. Circunscreve-se às variáveis referentes às horas de trabalho; vínculo empregatício; faixa salarial; existência de outros empregos e riscos à saúde do trabalhador.

Desta forma, no que tange às horas de trabalho, as respostas dos/as profissionais confirmaram 30 horas semanais, entretanto, quando necessário, existe a possibilidade de superar a carga horária, acarretando uma sobrecarga de trabalho, de acordo com a leitura dos enunciados apresentados:

Acho que tem sobrecarga de trabalho, fico preocupada e quando chego em casa fico lembrando o tempo todo de algumas situações (Assistente Social A).

Fico a semana inteira, às vezes até o sábado e o domingo (Assistente Social L).

Há muitas necessidades. Depende da gravidade e da emergência da criança e do adolescente (Assistente Social M).

A diminuição da carga horária semanal (Lei nº12. 317/2010) sem redução de salário foi, sem dúvida, uma conquista da categoria. O entendimento deste ato é resultado de uma luta do CFESS/CRES e “deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora, porque contribui para a garantia de melhores condições de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos/as” (CFESS, 2011).

Todavia, percebe-se que a redução da carga horária não acompanha uma diminuição das atividades desenvolvidas pelo/a profissional, o que gera acúmulo de trabalho a ser executado. Ainda, o limite da carga horária, associado à baixa remuneração e o vínculo empregatício instável, pode estimular a procura de outros empregos, aumentando funções e atividade e, por isso, prejudicando uma intervenção refletida e de qualidade.

acompanhada de outros fatores como o abatimento do tempo de trabalho, o aumento do salário, a estrutura física adequada para o desempenho das atividades, o vínculo empregatício estável, assim por diante. No entanto, essas mudanças não aconteceram, tendo em vista que, o Gráfico 6 confirma que dentre os/as doze profissionais entrevistados/as, o maior percentual (58,40%) revelou que não possui

vínculo empregatício estável. Ainda, dois assistentes sociais sinalizaram possuir

carteira assinada; um/a afirmou desempenhar o exercício profissional sem contrato formalizado e um/a desenvolve o trabalho voluntariamente. Ressalta-se que somente um/a profissional realizou concurso público.

Gráfico 6 – Vínculo empregatício dos/as profissionais entrevistados/as. João Pessoa/PB, 2012.

Fonte: Primária

Esta realidade comprova a precariedade do trabalho do assistente social nas instituições de acolhimento: temporário, provisório e sem nenhum direito garantido. Com certeza, estas condições afetam consideravelmente o desenvolvimento do trabalho, uma vez que a falta de estabilidade faz com que o/a profissional não seja totalmente autônomo/a e independente para realizar suas funções, mas submisso às normas da instituição e do mercado, tendo em vista a disputa por trabalho para a própria sobrevivência.

sindical, o que não deixa de sinalizar incapacidade dos sindicados em aglutinar os trabalhadores precarizados, o que compromete o envolvimento político-organizativo da categoria e uma defesa eficaz da classe trabalhadora e de seus direitos. Uma disputa coletiva e de classe transforma-se em lutas individuais e particulares.

Os dados do Gráfico 7 mostram a retribuição adquirida pelos/as assistentes sociais, comprovando que o percentual mais expressivo (50%) indica o ganho de um salário e meio. Ainda, ressalta-se que 41,60% ganha entre dois a cinco salários mínimos e um/a profissional adverte não possuir retribuição, tendo em vista sua condição de voluntário/a.

Gráfico 7 – Renda salarial dos/as profissionais entrevistados/a. João Pessoa/PB, 2012.

Fonte: Primária

Com base nesses dados, adverte-se a pouca valorização dada ao trabalho desenvolvido pelos/as assistentes sociais, uma realidade histórica que entende a prática profissional como atos caritativos e de benevolência, exigindo apenas “boas moças dedicadas e vocacionadas”. Pelo contrário, o processo interventivo é um trabalho extremamente complexo, que demanda uma intervenção refletida e crítica,

tendo em vista o rebatimento da questão social no cotidiano dos indivíduos.

Os resultados revelam as péssimas condições de trabalho do/a assistente social nas instituições de acolhimento para crianças e adolescentes: “[...] desemprego ampliado, precarização exacerbada, rebaixamento salarial acentuado, perda crescente de direitos, esse é o desenho mais frequente da nossa classe trabalhadora” (ANTUNES, 2011 p.106).

Essa realidade é confirmada pelos/as assistentes sociais ao alegarem como elementos limitadores do trabalho o péssimo salário e a precarização do emprego, conforme as fala a seguir:

O que limita é por trabalhar com contrato, aí já não posso cobrar tanto (Assistente Social C).

Questão financeira (o salário é baixo) e sem segurança nenhuma (Assistente Social I).

A questão financeira mesmo, a legalização dos trabalhadores (Assistente Social D).

Há sobrecarga de trabalho, não tem carro, má remuneração, não tem estrutura e não há respeito com o profissional (Assistente Social H).

As respostas evidenciam claramente a relação existente entre as condições do trabalhador e o resultado de suas atividades comprometido, devido à falta de direitos trabalhista e com baixa remuneração. O Serviço Social encontra-se em uma situação de total desamparo, enfrentando um trabalho complexo, se deparando com situações de violência, miséria e embrutecimento dos indivíduos devido à falta de uma vida digna. Um trabalho sem nenhuma proteção ou outros recursos e amparo em caso de acidentes ou ameaças. A busca e a competitividade pelo emprego fazem com que o trabalhador aceite certas condições de trabalho como horas extras e salários baixos.

Também a precariedade do trabalho do/a profissional pode incentivar a buscar alternativas para melhores condições de vida. Todavia, no que tange à

existência de outros empregos, os dados evidenciaram que somente 33,3%

dos/as profissionais desenvolvem outros trabalhos, o que pode sinalizar a dificuldade dele/as no mercado de trabalho.

elevar seu padrão de acumulação, afeta consideravelmente os trabalhadores, não somente os que trabalham diretamente no sistema produtivo, mas também aqueles que atuam no setor de serviços, como o/a assistente social, que vem perdendo seus direitos conquistados ao longo dos anos.

Os dados levantados confirmam as palavras de Iamamoto (2012), Mota (2012) e Guerra (2011) ao asseverar que o/a profissional é um trabalhador assalariado que luta pela própria sobrevivência e organiza sua rotina de trabalho a partir de uma conjuntura de insegurança e instabilidade.

O último indicador refere-se à ocorrência de momentos de desgaste físico

ou mental do/a profissional e as respostas revelaram a vivência do sintoma de

estresse devido ao trabalho. Para o psiquiatra Myers (2006),

O estresse é um processo pelo qual avaliamos e lidamos com as ameaças e desafios ambientais. Os eventos de nossas vidas fluem através de um filtro psicológico e quando o estresse for prolongado pode aumentar nosso risco para a morte e para um dos quatro principais problemas de saúde atualmente: doença cardíaca, câncer, acidentes vasculares encefálicos e doença crônica pulmonar (MYERS, 2006, p.386).

Nesses termos, o estresse é um índice que remete à saúde do trabalhador, causando riscos que podem prejudicar a própria saúde. O/A assistente social é um trabalhador que lida diariamente com as expressões da questão social, como sujeito ativo e passivo.

Há que se considerar também, neste contexto, o resgate das relações sociais desumanizadas, arquitetada cotidianamente pela aspereza do individualismo e da competitividade capitalista, e que se expressão no sofrimento humano como adoecimento, doença, incertezas e dores, e na falta de perspectivas associadas à precariedade na qualidade do atendimento oferecido e desinteresse com a vida humana (SARRETA, 2008, p. 3).

Os pequenos problemas acumulados no dia a dia, o contato diário com sofrimentos, misérias e angústias, associados à falta de condições adequadas para o desenvolvimento das atividades e à competitividade no mercado de trabalho, afetam consideravelmente o/a assistente social que, se não perceber o sinal de esgotamento físico e psicológico, irá sucumbir à doença e prejudicar de forma

irreparável a própria saúde.

4.4.6 Organização política dos/as Assistentes Sociais que atuam nas