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Organização política dos/as Assistentes Sociais que atuam nas Instituições de Acolhimento

4. A CONVIVÊNCIA FAMILIAR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: LIMITES E DESAFIOS DA

4.4 O processo interventivo dos/as Assistentes Sociais nas Instituições de Acolhimento

4.4.6 Organização política dos/as Assistentes Sociais que atuam nas Instituições de Acolhimento

Conforme foi sinalizado ao longo do estudo, o/a profissional que trabalha no campo da política social ocupa um espaço contraditório, onde perpassam disputas coletivas entre projetos divergentes. Nesses termos, torna-se fundamental para o/a assistente social que trabalha nas instituições de acolhimento envolver-se nos diferentes ambientes políticos, fóruns, redes e movimentos, acompanhando as mudanças no que tange aos direitos da criança e do adolescente, principalmente nesta conjuntura histórica em que “torna-se evidente as inspirações neoliberais da política social brasileira frente às necessidades sociais da população, revelando sua direção seletiva e fragmentadora, centrada em situações limite em termos de sobrevivência [...]” (YAZBEK, 2009, p. 111). A participação nestes espaços permite articular aliança junto à categoria e outras profissões e, principalmente, junto às famílias e aos usuários dos serviços, construindo coletivamente “propostas de resistências”, através do confronto e da socialização de informações.

A partir disso, foi questionado no que tange à participação dos/as

profissionais nos Conselhos de Direitos ou Conselhos de Políticas Públicas ou

outros espaços de discussão. Os dados confirmam que 41,7% dos/as assistentes sociais afirmaram ter participado nos Conselhos de Direitos da Criança e Adolescente, Assistência Social e Saúde e a totalidade dos/as profissionais afirmaram participar na rede de articulação ligada à Vara da Infância e a REMAR.

Destaca-se que os Conselhos de Direitos ou de Políticas Públicas, são órgãos colegiados, permanentes, paritários e deliberativos, com a responsabilidade de elaborar, fiscalizar e avaliar políticas públicas, conforme o Art. 88 do ECA:

I. Criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurados a participação popular paritária por meio de organizações representativa, segundo leis federal, estaduais e municipais;

II. Criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político administrativa;

IV. Manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;

V. Integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de aceleração do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional;

VI. Mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade. (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2012, p.41).

Os Conselhos atuam em nível municipal, estadual e federal e se configuram como instrumentos de participação da sociedade civil organizada, exercendo o controle sobre a efetividade das políticas públicas e o direcionamento de recursos financeiros.

Entretanto, a participação nesses espaços de poder, em que perpassam diferentes ideologias e, por isso, se configuram como locus que refletem a diversidade de interesses da sociedade, exige indivíduos éticos e críticos, que permita a construção coletiva de estratégias para a efetivação de demandas prioritárias segundo as exigências da população e, por conseguinte, estimulando uma participação maior e o protagonismo por parte dos segmentos mais desfavorecidos.

Este ainda é um processo em construção no Brasil, tendo em vista uma sociedade historicamente penetrada pela “mandismo”, marcada por ditaduras e pela exclusão da população pobre sobre qualquer decisão que lhe diz respeito. Por conseguinte, a participação do/a assistente social nos referidos Conselhos, principalmente no Conselho de Direito da Criança e do Adolescente, é de suma importância na perspectiva de viabilizar o controle social e contribuir para que o processo aconteça de forma democrática e participativa a partir do envolvimento das crianças, adolescentes e suas famílias.

No que tange à participação e/ou relação dos/as assistentes sociais

com o CRESS, a totalidade das respostas assinalaram que se limita ao pagamento

da mensalidade. Lembra-se da importância do CRESS como órgão fiscalizador da profissão e representando os interesses gerais e individuais dos/as assistentes sociais (artigo 7, § 2º). Ainda, são deveres do/a profissional:

Artigo 13º - São deveres do Assistente Social:

privadas, onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar os usuários ou profissionais;

b. denunciar, no exercício da profissão, às entidades de organização da categoria, às autoridades e aos órgãos competentes, casos de violação da Lei e dos Direitos Humanos, quanto a: corrupção, maus tratos, torturas, ausência de condições mínimas de sobrevivência, discriminação, preconceito, abuso de autoridade individual e institucional, qualquer forma de agressão ou falta de respeito à integridade física, social e mental do cidadão [...] (BRASÍLIA/CFESS, 1993).

Portanto, a participação dos/as assistentes sociais nos debates, discussões e atividade do Conselho torna-se imprescindível, ocasionado reflexões acerca da intervenção nos diferentes espaços ocupacional, levantando questionamentos sobre as limitações e imposições da instituição empregadora, possibilitando articulação maior com a categoria e a construção de propostas e intervenções junto ao órgão, numa perspectiva de materialização do projeto ético e político da profissão.

No entanto, evidencia-se a dificuldade do CRESS em tornar-se um instrumento coletivo e participativo, viabilizando o acesso dos/as profissionais no espaço de discussão e deliberação. Esta realidade aprofunda o distanciamento existente entre os/as profissionais que atuam na implementação de políticas sociais públicas e os debates e discussões existentes no seio da categoria e que visam fortalecer o projeto ético político numa perspectiva crítica. É inegável a importância de ampliar a discussão sobre a intervenção profissional, como se fortalece e se concretiza através da relação entre as dimensões éticas, políticas e teórico metodológicas.

No que tange à participação dos/as assistentes sociais em eventos

científicos ou seminários e encontros da categoria, as respostas sinalizaram maior

expressividade na frequência nos Seminários relacionados à criança e ao adolescente. Portanto, o/a profissional se aproveita exclusivamente destes espaços de confrontos para aprofundar aspectos relacionados ao trabalho na instituição, existindo pouca participação em congressos específicos da categoria profissional e, ainda, menor participação em eventos científicos. A realidade apresentada confirma o que foi salientado anteriormente, e evidencia a distância entre a Universidade, as instâncias organizativas da profissão e o cotidiano profissional, fortalecendo o pensamento de que teoria e prática são categorias que se opõem.

categoria possibilitariam um confronto e um diálogo entre profissionais que atuam no cotidiano, no atendimento direto aos usuários e o conjunto de trabalhadores que lidam com a produção de conhecimento nas Universidades, viabilizando um processo organizativo mais abrangente e estratégias coletivas em vista de um melhor atendimento à população e a materialização do projeto ético político.