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Nos estudos em torno do conceito de signo, há uma separação entre o léxico e a gramática, ao passo que nos estudos enunciativos afirma-se que ambos necessitam trabalhar juntos.

Essa articulação é essencial segundo Culioli, pois “Não existe categoria gramatical sem componente lexical, do mesmo modo que não existe léxico que

não comporte propriedades formais de ordem gramatical. Em resumo, toda gramática é gramática lexical.”58

(1999a, p. 163)

Além disso, ao se passar de uma língua a outra, não é possível encontrar correspondência entre o léxico e a gramática e nem todos os marcadores serão categorizados do mesmo modo em todas as línguas, por esse motivo, essa distinção não encontraria fundamento teórico.

Rezende defende que ao descrever subsistemas acaba-se deixando de lado os conceitos de movimento e instabilidade, tão importantes para uma proposta de ensino que articule língua e linguagem:

Quando descrevemos subsistemas, mudamos apenas a dimensão do objeto enfocado mas não conseguimos escapar do conceito de sistema, de estrutura ou de unidades de língua estáticas e determinadas que levam a uma desarticulação do léxico com a gramática e, por sua vez, dos arranjos léxico- gramaticais com o sujeito que produz texto de línguas. Sabemos que para o ensino, cujo objetivo principal é o desenvolvimento prático de produção de textos (leitura e redação), tal desarticulação é desastrosa. (REZENDE, 2006, p. 12)

Em nossa concepção de ensino de língua estrangeira trabalharemos, então, com os conceitos de léxico e de gramática de forma articulada.

Tendo explicado, então, a perspectiva de ensino de língua estrangeira que queremos abordar e qual o enfoque que gostaríamos de dar ao estudo da gramática para o processo de aprendizagem, passaremos então às análises que nos permitirão dar um suporte às questões que fomos levantando no desenvolvimento desse trabalho.

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Tradução nossa do original: « Il n’existe pás de catégorie grammaticale sans composante lexicale, de même qu’il n’existe pás de lexique qui ne comporte pás de propriétés formelles d’ordre grammatical. Bref, toute grammaire est grammaire lexicale. »

V ANÁLISES

Tendo consciência da importância dos processos de linguagem para o aprendizado, apresentamos as considerações essenciais sobre a Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas, bem como as metodologias de ensino de línguas estrangeiras mais comumente utilizadas ao longo dos tempos e, por fim, abordamos o modo como a gramática é acoplada a esses conceitos.

Acreditamos ter preparado, assim, o leitor para nossas análises nas quais esses conhecimentos serão fundamentais para uma visão mais reflexiva do processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, no qual o aluno deve refletir sobre o próprio “pensar”, para poder chegar a significados e construir sua identidade.

Tendo em vista nosso foco (a importância da atividade de linguagem no ensino de uma língua estrangeira) selecionamos enunciados contendo o verbo da língua francesa faire em sua construção para proliferar suas significações.

Da mesma maneira que o linguista dá abertura ao movimento entre o ponto invariante e as variâncias de significado ao decidir estudar a língua sob uma perspectiva enunciativa, igualmente o aluno realiza essas manipulações quando explora as possibilidades dentro da família parafrástica de determinado enunciado, mesmo sem ter consciência desse processo invisível na busca pela compreensão.

Nossa escolha por esse verbo se deve ao fato de faire ser altamente polissêmico, como comprova Alain Rey na apresentação de um importante dicionário de língua francesa chamado Le Petit Robert 1 (1981, p. XIV), colocando-o entre os mais ricos da língua francesa, pois além de ser caracterizado como um verbo altamente polissêmico é também cheio de sinônimos.

Essa questão traz consigo a dificuldade de tradução de faire que acaba sendo construída a cada enunciado de acordo com sua condição de contextualização.

Como neste trabalho parafrasearemos traduções possíveis dos enunciados em francês que contenham o verbo faire, incluiremos nossas versões em língua portuguesa para facilitar o entendimento e as análises.

Assim, fomos buscar tanto no dicionário o Novo Aurélio XXI definições para o verbo fazer quanto nas gramáticas de língua portuguesa as formas com as quais costuma ser classificado.

Isso porque o correspondente mais imediato para faire seria fazer, mas percebemos que suas formas de utilização são diferentes dadas as línguas nas quais estão inseridos: nem sempre faire pode ser traduzido por fazer.

Na Gramática de usos de Maria Helena de Moura Neves encontramos o verbo fazer sendo classificado como causativo afirmativo indicando uma condição suficiente. A autora exemplifica com o enunciado:

Os jesuítas (...) FIZERAM que o Brasil fosse envolvido pela corrente revolucionária. (NEVES, 2000, p.41)

Segundo Neves, num enunciado afirmativo, com um desses predicados na oração principal, o complemento é indicado como sendo factual.

Nas gramáticas francesas também encontramos o verbo faire sendo considerado como causativo, além de outras formas de utilização. Colocaremos algumas das classificações a seguir (5.2).

É necessário fazer neste ponto uma observação importante. Como nosso objeto de estudo é o verbo faire, os dados do verbo fazer encontrados em nossa pesquisa serão apenas a título ilustrativo para que possamos de certa forma comparar a utilização de um e outro.

As traduções em língua portuguesa não servirão, então, como suporte de nosso trabalho, pois nesse caso estaríamos nos distanciando de nosso objetivo.

Nosso enfoque será dado às construções do verbo em língua francesa. A seguir, apresentaremos como se classifica o verbo faire, no entanto meramente como base às nossas análises: no dicionário (5.1) e em gramáticas

(5.2) antes da seleção de algumas ocorrências do verbo (5.3) para movimentá- las e tentar ir além dos significados etiquetados.