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Após enfocarmos o verbo faire pela ótica do dicionário e da gramática, decidimos esclarecer os procedimentos metodológicos que nos guiarão no decorrer das análises dos enunciados selecionados.

Como já dissemos, nossa escolha pelas ocorrências com faire deve-se ao fato do verbo ser altamente polissêmico e por ser um operador altamente produtivo gerando léxicos variados em língua francesa.

Essa característica nos permite perceber a abrangência desse verbo, pois assume uma significação diferente conforme seu contexto enunciativo e seu complemento.

Nossa proposta não era abarcar todas as possibilidades de significação de faire, apenas tentar tornar um pouco mais visível o quanto a atividade de linguagem é complexa, dada sua importância ao tratarmos de ensino (tanto o de língua estrangeira quanto o de língua materna).

Da mesma maneira não nos propomos elaborar nenhum material didático, pois o essencial é o modo pelo qual o material é trabalhado. Entretanto, acreditamos que ter esses conceitos em mente pode ser muito produtivo para sua composição.

Assim, é fundamental que o professor tenha consciência desses processos e que possa dominar bem a teoria para aprimorar sua prática. Por esse motivo, alunos de Licenciatura em Letras, que pudessem entender o quanto a linguagem influencia no processo de aprendizado, poderiam ampliar suas visões a respeito do ensino.

Um bom educador deve, então, trabalhar de modo a possibilitar a atividade epilinguistica e a parafrástica dos alunos, em vez de utilizar técnicas mais tradicionais como o ensino de gramática e de tradução que acabam dificultando o desenvolvimento da criatividade do aluno.

Nossa meta é comprovar essas afirmações por meio das análises com o verbo faire abordando ao máximo suas características, como objetivávamos ao início desta dissertação de Mestrado.

Desse modo, é essencial nos focarmos no texto (e em sua forma) e em seu contexto enunciativo.

Selecionamos alguns enunciados com base em nossas intuições sobre o verbo e buscamos formalizá-las por meio de análises com base na Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas.

Realizamos, desse modo, um trabalho epilinguístico e parafrástico no qual proliferamos os significados. Modulamos as ocorrências por meio de nossa própria experiência, comparando-as, sem classificá-las.

Encontramos pontos em comum que perpassavam por mais de um enunciado:

9 Presença de um movimento que caracteriza a transformação de um estado a outro (valor de resultativo);

9 O ato de fazer com que determinada coisa aconteça, se realize (valor de causativo);

9 Grande produtividade como verbo operador podendo ser determinante do complemento ou determinado por ele.

Essas aproximações entre os enunciados possibilitou-nos organizá-los de maneira que pudéssemos observar os valores semelhantes e verificar em que se distanciavam também.

Como nossa intenção não era a de classificar os enunciados, dado ao fato da teoria ser transcategorial, não foi fácil agrupá-los para encontrar as convergências e divergências. Dependendo do que decidíssemos privilegiar (contexto, estrutura, significado) verificávamos uma característica diferente a respeito do vocábulo.

Entretanto, consideramos essas dúvidas essenciais para a construção de nosso trabalho. Por meio de uma análise detalhada e de nossa experiência chegamos a conclusões importantes, porém que não se encontram totalmente fechadas e que podem se abrir a novas leituras.

Os significados foram refinados de modo a tornar visível a atividade inconsciente característica da linguagem, sempre mantendo o foco em faire.

Essa centralização é difícil de se obter, contudo procuramos nos fixar em nossos objetivos, utilizando a totalidade das construções somente como uma ponte para observar como se relacionam com o verbo escolhido.

Cabe destacar também que, do mesmo modo que colocamos algumas explicações da gramática portuguesa apenas para auxiliar o leitor que não compreende língua francesa a entender as relações a que visamos nesta dissertação, também as traduções colocadas em língua portuguesa a respeito do verbo faire foram somente utilizadas de modo ilustrativo.

Em algumas traduções que não encontravam correspondente direto em língua portuguesa colocamos um asterisco (*), apenas para que o leitor que não tenha nenhum conhecimento em língua francesa possa acompanhar o desenvolvimento de nossas ideias.

Esse mecanismo de faire como gerador de léxico é extremamente produtivo em língua francesa, assim como o verbo fazer em língua portuguesa que também assume inúmeras significações e poderia também ser muito rico em material de estudo.

Apesar da riqueza da marca escolhida para nossa pesquisa, tivemos que nos ater a trabalhar apenas com alguns exemplos do verbo em língua francesa.

Caso tentássemos fazer um trabalho contrastivo entre a língua francesa e a portuguesa, a grande profusão de construções seria um objetivo inalcançável para uma dissertação de Mestrado.

Assim, embora possamos perceber claramente a possibilidade de fazer um estudo desse tipo no futuro, devido à grande quantidade de material encontrado, nos fixamos somente em observar as variadas relações do verbo em sua língua de origem, utilizando as traduções, como já dissemos, apenas como orientação ao leitor leigo em língua francesa.

Nosso trabalho também aponta para a possibilidade de elaborar, futuramente, um trabalho experimental com estudantes que desejam obter o título de Licenciatura em Letras.

Seria interessante comprovar com esses alunos universitários como eles utilizam os processos de parafrasagem e a atividade epilinguística em busca de entender uma significação.

É importante que, como educadores que serão no futuro, tenham em sua formação esse tipo de experiência para que possam despertar também seus alunos para essa consciência.

Infelizmente em nossa dissertação de mestrado não pudemos abordar toda essa riqueza proporcionada por nosso material. Entretanto, acreditamos ter feito um recorte importante.

Embora esse exercício tenha sido efetuado por nós, do nosso ponto de vista, o esforço realizado pelo falante para decifrar um significado em sua própria língua materna é semelhante ao processo de aprendizado em língua estrangeira.

Desse modo, trabalhamos com as análises por meio de nossa própria experiência de modo a atingir nossos objetivos e demonstrar a essencialidade do trabalho com a linguagem que está no cerne dos processos de compreensão.