• Nenhum resultado encontrado

O importante para a teoria não são as categorias, mas sim entender como o ser humano categoriza.

Assim, a TOPE não passa pelas formas categorizadas, mas trata de noções, valendo-se de categorias dinâmicas que permitem construir a representação.

O valor de uma marca (aspectual, modal e temporal) é dado pela sua possibilidade de se encaixar em certos contextos relacionando as palavras.

Segundo Culioli, “Uma categoria gramatical se define como a correspondência entre um conjunto de operações sobre um domínio nocional complexo e os marcadores dessas operações.”49

Assim, uma categoria gramatical é definida a partir de como o linguista organiza a correspondência entre uma noção gramatical e um jogo de marcadores.

Passaremos agora a estudar esses domínios relativos às operações. a) Determinação

As operações de determinação são um conjunto de operações elementares que estão relacionadas às operações quantitativas/ qualitativas, bem como às operações de extração, flechagem e varredura.

Segundo Culioli (1999b, p. 37) tão vago quanto o termo determinação é distinguir palavras como definidas (artigo definido, artigo indefinido, pronomes indefinidos) e determinantes (artigos, possessivos, etc.) como seus significados pudessem ser aprendidos intuitivamente. Mas essa crença é considerada por ele uma ilusão.

Na verdade, para determinar um termo é importante considerar sua localização.

49

Tradução do original : « Une catégorie grammaticalese définit comme la correspondence

entre un ensemble d’opérations sur un domaine notionnel complexe et les marqueurs de ces

b) Modalidades

Segundo Groussier e Rivière (1996, p. 120), na teoria enunciativa distinguem-se quatro ordens de modalidades:

1) São consideradas modalidades fundamentais. Trata-se da asserção (afirmativa e negativa) e a interrogação, do hipotético, da injunção (imposição) e da modalidade performativa.

2) Nessa segunda ordem estão: o provável, o possível, as modalidades epistêmicas (probabilidade e eventualidade).

3) Modalidades apreciativas: julgamento favorável, desfavorável, de normalidade ou anormalidade.

4) Modalidades do sujeito do enunciado: vontade, limitação (obrigação, necessidade), propriedade do sujeito (capacidade, latitude, permissão). As modalidades qualificam a relação do sujeito do enunciado ao restante da léxis.

c) Aspecto

“Na determinação aspectual, o enunciador indica como e em qual medida seu próprio ponto de vista modifica a apresentação do processo predicado.” 50

Não há uma lista definida de quais são exatamente as marcas aspectuais, porém podemos citar apesar, está chegando, já, quase, ainda e muitos outros advérbios, etc.

As marcas aspectuais entram na trajetória da construção da representação como uma força desencadeando o processo, criando, assim, a expectativa de um resultado. Nesse trajeto é possível encontrar obstáculos (impedimentos para que a ação não se desenvolva) ou facilitações.

Assim, através das marcas aspectuais caminha-se para a estabilidade, visto que se encontram na instabilidade da construção do significado.

50

Tradução do original : « Dans la détermination aspectuelle, l’énonciateur indique comment et

dans quel mesure son propre point de vue modifie sa présentation du procès prédiqué. »

Culioli nos explica que essas marcas não são etiquetas, são traços de operação. É necessário reconstruir as operações que permitem a esses agenciamentos de marcadores funcionarem como eles trabalham na atividade de linguagem.

d) Diátese

Esse termo é utilizado na TOPE para denominar a categoria de voz. Culioli afirma que diátese é um “termo mais geral que o de voz”51 e traça um paralelo entre os problemas relativos à diátese aos de aspecto, afirmando que “são problemas referentes à relação entre a orientação de uma relação predicativa e o sistema aspectual.”52 E que, “po

r outro lado, a diátese diz respeito ao instinto, aos estados subjetivos internos (necessidades; emoções).”53

51

Terme plus general que celui de voix, (CULIOLI, 1999a, p.151) sobre a diátese

52Ce sont des problèmes qui portent sur la relation entre l’orientation d’une relation prédicative et le système aspectuel. (idem, ibidem, p.151)

53

Tradução nossa do original em francês: « En outre, la diathèse concerne la propension, les

III ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

Apresentamos anteriormente conceitos essenciais da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas.

Nosso enfoque foi destacar tanto aqueles que nos auxiliariam em nossa proposta de ensino mais reflexiva, no qual a complexidade da linguagem, a atividade epilinguística, o conceito de paráfrase e de desambiguização são fundamentais, quanto àqueles que serviriam como ferramentas para a análise de nossos enunciados.

Embora Antoine Culioli não trate diretamente do ensino de língua estrangeira em sua teoria, a riqueza de seus estudos em relação à atividade de linguagem nos oferece um excelente material de estudo para enfocar o tema.

Iniciaremos esse item com uma breve retrospectiva de Bohn (2001) para explicar como os conceitos dos processos de aprendizagem foram evoluindo de acordo com as crenças dos indivíduos (3.1).

Na sequência apresentaremos os principais métodos que, segundo Leffa (1988), marcam uma primeira fase da história do ensino de língua estrangeira: o de gramática e tradução (3.2.1), o direto (3.2.2), o de leitura (3.2.3) e o audiolingual (3.2.4).

Segundo Leffa cada um desses métodos surgiu como uma reação ao anterior.

Assim, enquanto no método de gramática e tradução a língua estrangeira era apreendida por meio de informações dadas na língua materna do aprendiz, no método seguinte (o direto) a língua materna era proibida de ser utilizada e a língua estrangeira deveria ser aprendida por ela mesma.

Na abordagem direta, então, a ênfase era dada ao desenvolvimento da habilidade oral.

O grande problema é que, frequentemente, acabava-se regredindo ao método de gramática e tradução devido às dificuldades encontradas na sala de aula em se trabalhar o método direto.

Na sequência passou-se, então, a se concentrar unicamente na habilidade de leitura dos alunos, principalmente por meio de extensas listas de vocabulários, de modo totalmente oposto à abordagem audiolingual que veio em seguida enfatizando a capacidade de desenvolver a língua oral do aluno.

Criava-se uma ilusão de que tudo o que não havia funcionado na metodologia anterior pudesse ser corrigido com uma nova fórmula, que resolveria todos os problemas de aprendizagem de línguas.

Entretanto, segundo Leffa, essas abordagens são falhas na medida em que, em situações reais de comunicação, os alunos não conseguiam colocar em prática o que haviam aprendido na sala de aula e dialogar com os falantes nativos.

O grande equívoco é não estimular o aluno a pensar: enfoca-se na forma e na repetição de estruturas o que torna o processo de aprendizado muito mecânico e não se detém aos significados.

Ao se automatizar o processo de aprendizagem, não se permite ao aluno refletir sobre a língua aprendida, exatamente o contrário de nossa proposta.

Ainda segundo esse teórico essas abordagens de ensino de línguas foram acompanhadas por uma crise intensa na qual nasceram variados métodos:

9 Sugestologia de Lozanov: focada no ensino das quatro habilidades ao mesmo tempo e nos fatores psicológicos da aprendizagem;

9 Método de Curran ou aprendizagem por aconselhamento: aplicação de técnicas de terapia em grupos;

9 Método silencioso de Gattegno: o processo de aprendizagem era centrado em bastões coloridos e o professor quase nem falava;

9 Método de Asher: baseado em comandos dados pelo professor ao aluno, a atenção era voltada para que este pudesse ouvir e entender muito antes de se preocupar com a prática oral.

9 Abordagem natural ou Modelo do Input: aplicação da teoria de Stephen Krashen.

E afirma que em meio a essa profusão de teorias, como uma reação ao método audiolingual, surge a Abordagem Comunicativa (3.3) marcando um novo ciclo na história do ensino de línguas.

Ao perceber a necessidade da inserção do sujeito no processo de aprendizado, há muitas tentativas posteriores de inovação (3.4.1, 3.4.2, 3.4.3, 3.5, 3.6), assim como a nossa também.

Desse modo, enfocaremos o tema por uma perspectiva enunciativa (3.7, 3.7.1, 3.7.2) sustentada pela complexidade da linguagem.