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7 - Modelo Teórico – Atividades Neoacadêmicas - Vivenciais

7.1. Atividades Neoacadêmicas Vivenciais

7.1.4. As Abordagens Pedagógicas Convergentes

Nesse sentido, a Biodanza, enquanto terapia de trabalho voltado para a materialização desse princípio basilar - a vida como centro das coisas e de tudo - estimula o desenvolvimento pleno dos potenciais humanos na busca e no encontro de uma vida harmonizada com esse princípio (por meio de cinco canais de expressão, adrede detalhados: a vitalidade, a criatividade, a sexualidade, a afetividade e a transcendência), de maneira a integrar todos os potenciais que estão, como na célula viva, inter-conectados e em sinergia biunívoca. Uma parte não existe ou não se desenvolve plenamente sem a outra e tudo que existe no geral (no universo e no corpo) existe no particular (na célula) e o particular contém, integralmente, o todo ( 77 ).

disseminação, no sentido da popularização cultural, foi na época abortada e perseguida pela ditadura militar (no final dos anos 60). A sua proposta de Conscientização e Mudança, parte de uma visão político-social e leva em conta a realidade sócio-histórica do indivíduo, sem medo e neutralidade, buscando a transformação da sociedade. O educando já traz saber (expressão dos oprimidos), constatando-se que ninguém ensina a ninguém, ninguém aprende sozinho e a aprendizagem se dá em comunhão (e daí a dialética do diálogo e do conflito).

O maior paradigma da Educação Libertadora é o amor entre os homens que justifica a defesa de uma sociedade mais justa e igualitária, onde as pessoas se organizam em torno do círculo de cultura que aproxime a todos por igual, pois, assim como na formação de um grupo de pessoas ligados pelas mãos numa roda (que é o movimento inicial da Biodanza), não há começo nem fim dos figurantes, todos se encontram de mãos dadas, em círculo e em condição de absoluta igualdade, uns diante dos outros, sem primazia de quem está no começo ou no final da corrente. Na roda, assim como na vida, só se estabelece mudança de ordenamento pela disponibilização de conhecimento uns para os outros, pelo franqueamento de saberes, que restabelece a igualdade ou na falta dela mantém ou restabelece a desigualdade entre as partes.

Na roda, segundo a tradição das rodas xamânicas, a pessoa deixa a mão esquerda com as palma voltada para cima, para receber a energia que vem do grupo através da pessoa à sua esquerda, que por sua vez, a sobrepõe com sua própria mão. Essa energia que vem do grupo, cada um soma à sua própria e a repassa através da mão direita, que sobrepõe a mão esquerda de quem está do lado direito e transmite as energias somadas, a do grupo e a própria. Assim, todos recebem e todos cedem, ninguém deixa de receber de todos e cada um dá a todos, sem início e sem fim, infinitamente e mesmo com os olhos fechados, todos se olham de frente.

Por outra parte, as pesquisas de Jean Piaget, por sua vez, orientam-se no sentido de compreender mais bem a criança ou o ser humano que dela resulta - já que o “homem é filho da criança”, como costumava dizer Manoel de Almeida ( 78 ) .

O esforço para o seu pleno desenvolvimento, muito mais do que aperfeiçoar os métodos pedagógicos ou educativos, é tanto mais exitoso se a ascensão cognitiva é realizada com ampla interação do sujeito com o meio. Essas idéias influenciaram o construtivismo, adotado por vários educadores. Por construtivismo, entende-se a atividade de construção do indivíduo pela descoberta, pela invenção, pela busca de significado, afeto, desfrute, prazer na realização e na descoberta, como expressão de liberdade. O professor é tão-somente um parceiro que orienta diante de estruturas de conhecimento não pré-determinada: cada educando constrói seu próprio processo de aprendizagem por investigação e experimentação, prazerosamente, como experiência única em sua jornada de ampliação da consciência. Nunca há uma ação puramente intelectual (sentimentos singulares intervém na solução de uma questão matemática, como o senso de harmonia e estética do agrupamento de equações, assim como não há atos que sejam puramente afetivos, pois que eivado está o amor de compreensão e entendimento. Porque, “todo conhecimento é construído socialmente, tendo por base as reações humanas, pois na ausência do outro, o homem não se constrói com a identidade de homem” ( 79 )

Na Educação Holística pressupõe-se que se eduque para a plenitude e a pessoa é visualizada como um todo complexo, requerendo-se vê-la sob o aspecto da saúde do corpo, do equilíbrio emocional, da acuidade racional, e dos valores espirituais, para que se desperte e se mantenham os valores humanos. Orienta-se para o mundo exterior e para o mundo interior das pessoas, aproximando a ciência das tradições espirituais, integrando a artes, as religiões e a filosofia, juntando-se o inseparável: a natureza, a sociedade e o homem. Trata-se de adotar a transdisciplinaridade para a percepção de todo o conjunto pelo seus diferentes matizes e ângulos de visão. Cuidar de si, de mim, é cuidar do Universo inteiro. Cada parte de um sistema contém a informação holográfica completa do sistema

78 Ver a respeito, Almeida, Manoel José de. Plano de Organização da Granja Escola Caio Martins: PMMG.Minas Gerais. Belo Horizonte, 1948.

79 Ver a respeito, Lev Vygotsky, in Cadernos de Pedagogia Integradora, Recife, 2000.

biológico e físico, e novamente as idéias matrizes e os princípios axiomáticos do Mental, da Correspondência e da Polaridade, de Trismegisto ( 80 )

Na Educação Biocêntrica tem-se a própria sacralização da vida, a partir de princípios que emergem da própria vida, quando a defesa da vida não se restringe à do ser humano que necessita viver num universo saudável, mas sim da vida sustentável deste universo. Vamos ao longo de nossa vida nos adaptando com todo tipo de violência presente em toda parte: no urbanismo e na arquitetura excludentes do homem, nas ruas, no campo, na poluição sonora eletrônica e dissociada, no trabalho alienante, na exploração do homem pelo homem, na coisificação do sexo, no autoritarismo do professor, na banalização da propensão à corrupção política, na replicação dessa estrutura apocalíptica, na escola, nas nossas relações imediatas, no trabalho e na nossa vida como um todo.

O princípio biocêntrico tem como ponto de partida a vivência do Universo organizado em função da vida instintiva (de geração, reprodução e adaptação) vegetal, animal e mineral (que também possui um ciclo de vida numa freqüência imperceptível pelos sentidos normais) e nas dimensões de consciência mentais, emocionais e espirituais.

Cada um está sujeito a processos de regulação próprios e a movimentos que unificam todas manifestações de vida. O instinto é inerente e inato, e sua perversão, repressão e desorganização é causada pelas patologias individuais e sociais, cabendo redespertá-lo em sua natureza essencial, orientando e edificando a expressão dos nossos impulsos primordiais, restaurando as bases naturais da vida segundo uma identidade saudável.

A Educação Biocêntrica é o processo de reeducação do viver, onde o educando aprende, não somente pelo cognitivo, e pela linguagem, mas também pela percepção, pelo sensorial, pelo emotivo, pela intuição, enfim, pelo vivencial, onde a consciência incorpora-se ao âmbito da emocionalidade. O mundo afetivo do educando passa a incorpora-ser o que move a auto-aprendizagem e quanto mais prazerosas as situações mais se reforçam os processos de acumulação, abandonando-se a cultura da perpetuação do erro, da culpa, do castigo, do medo e da infelicidade crônica.

80 Trismegisto, Hermes – Ibid, pág.s 17, 37, 49.

Cada indivíduo gera uma nova civilização, porque o que o acalenta individualmente civiliza coletivamente, transcendendo a própria cultura que é finita. A relação homem-homem que deixa de ser restrita e passa a ser vinculada à cultura universal, à totalidade da vida, que se movimenta segundo uma danza cósmica em permanente oscilação, pois só há crescimento e expansão no movimento incessante.

Homem e mulher se anjilizam e se tocam movidos pelo amor despojado e incondicional, pois vivenciam simultaneamente sua dupla identidade de gênero, em processo de permanente mutação, ainda que conservando suas identidade singulares e únicas, pois que cada um nada mais é que fagulha estelar em meio ao todo e como parte do eterno fogo unificador.

Pelo Biocentrismo a pessoa deve ser induzida a mover-se por suas próprias pernas, por conta própria, de perceber-se a si mesma e à realidade envolvente, sendo ela própria a referência de sua percepção, da sua auto-aprendizagem de suas relações e ações e, como sujeita de sua realidade, pode reinventá-la a cada instante através da esperança, da alegria, do medo, da dor, do prazer e do gozo redivivos por intermédio da danza, da poesia, do canto, da cultura-técnica de manipulação do barro, da pedra ou do papel, recriando-se e reinicializando-se, sempre, a partir do conflito, da carícia e da ação política em bases poéticas, mas com engajamento e compromisso comunitário, solidário e real. Na vivência do ser, as pessoas sentem, amam incondicionalmente, se deixam tocar e tocam genérica e não pontualmente, livres dos receios e dos tabus.

Com o desenvolvimento da sensibilidade, cada pessoa ao expressar seus potenciais considera os potenciais e o ritmo de crescimento de cada outra pessoa e sincronizam-se uns com os outros em sintonia com o universo e se entrecruzam nos níveis da auto - regulação da vitalidade, da descoberta da sexualidade, da exaltação da criatividade, da franquia da afetividade e da entrega calada à transcendência, que as vinculam e as integram entre si, as realizam e as induzem a estados de plenitude com o todo.

É a parte sã de cada um que vem à tona e, em seu esplendor, ofusca a parte doentia. A dúvida cede espaço para a solução.

Como, adequadamente citado por Ruth Cavalcanti ( 81 ), sintetizando o psicólogo Cezar Wagner, que o Princípio Biocêntrico ultrapassa o cenário ou pano de fundo holístico, a tendência de o todo manifestar-se na diversidade e esta, por conseguinte revela, em sua potencialidade, o todo:

“ - Arremete-nos para uma percepção diáfana da vida, manifestada hierofanicamente em todas as coisas e só é possível de ser abarcada pela vivência integradora, lugar de pulsação imanente, transcendente. A grandeza da vida encontra-se no cotidiano, no trabalho, no prazer, no encontro entre as pessoas, na luta contra toda forma de opressão, na aceitação plena dos corpos desnudos entre estrelas. Não é uma atitude passiva frente à realidade e sim ativa, criativa, corajosa e amorosa: toma como referência não os valores de uma cultura, mas o sentir-se vivo com o sentido maior de nossa existência e da vida coletiva.”

E., como pontifica Toro:

“ – O desenvolvimento evolutivo se realiza à medida em que os potenciais genéticos encontram opções para expressar-se através da existência. Podem ser obstruídos ou estimulados ao entrar em contado com o meio ambiente ...”