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Foram colocados, os entrevistados na pesquisa, de forma deliberadamente errática (poder-se-ia dizer, randômica, pois entremeando-se questões mais reais e outras mais imaginativas para conferir espontaneidade e não condicionar pré e pós-atitudes), diante da complexa questão de priorização (até a 5.ª opção por importância) quanto à crucial indagação de seu momento atual (vide próxima tabela).

Isto, mais que outras questões, causou um certo “desconforto”, quase 10% do universo se manifestou de forma indicativa do mal-estar ou desagrado em expor-se desta forma, num questionário, um pouco menos os Buscantes (6,8%), havendo mesmo quem duvidasse da pertinência de um tal questionamento ou de sua propriedade para avaliar processos e trajetórias de busca. Em termos globais, no universo pesquisado, 11,9%

encontra-se “buscando instruir-se ou em aprender coisas novas”, naturalmente como resultado de que todos encontram-se numa atividade de docência ou de aprendizado, ainda que num nível de pós-graduação, em ramais diferenciados da área de turismo, em si, fortemente transdisciplinar, incluindo-se aí desde os que, como vimos, buscam refletir sobre a sofisticação de um conceito como o de “hospitalidade” até os que se instrumentam com a especialização nas técnicas do Marketing, de Segurança Alimentar ou visando pesquisar e ensinar tais assuntos. Enfim, a motivação é variada, mas todos encontram-se buscando informação e saber.

Mas, nisso, nesse buscar de saber, os Buscantes conseguem fazê-lo com maior intensidade – 15,9%, confirmando a característica da turma de Hospitalidade, que de todas é estatisticamente a mais Buscante, ainda que haja Buscantes em todas elas, mas, como examinado anteriormente (Vide Sessão 4.2. Aplicação da Pesquisa: Composição do Universo Amostral por Áreas do CET)

T – 19 - O Momento de Busca de Cada Um

Neste momento atual, você visa basicamente?

Buscante Simpatizante Refratário Total

Categorias Você visa basicamente

% % % %

1 instruir-se ou aprender coisas novas 7 15,9 29 13,0 12 8,9 48 11,9 2. obter desenvolvimento espiritual 6 13,7 20 9,1 8 5,9 34 8,5 3. consolidar as conquistas pessoais 6 13,7 17 7,6 5 3,7 28 7,0

4. viver uma paixão profunda 4 9,1 13 5,8 9 6,7 26 6,5

5. dispor de saúde 4 9,1 29 13,0 14 10,4 47 11,7

6. dispor de segurança 3 6,8 4 8,1 11 8,1 18 4,5

7 dispor de conforto 2 4,5 18 8,1 10 7,4 30 7,5

8. desagrada expor-se neste questionário - - 4 6,8 6 4,4 10 9,9 9. desfrutar prazer e curtição 3 6,8 7 3,1 14 10,5 24 6,0

10. obter sucesso material 1 2,3 11 4,9 12 8,9 24 6,0

11. manter a vida, valores e crenças como estão - - 12 5,4 10 7,4 22 5,5 12. melhorar a produção no emprego 1 2,3 8 3,6 10 7,4 19 4,7

13. fazer novos amigos 3 6,8 17 7,6 6 4,4 26 6,5

14. simplesmente ocupar-se 2 4,5 2 0,9 - - 4 1,0

15. passear por aí sem muito rumo 1 2,3 3 1,3 - - 4 1,0 16. não tem muita idéia do que fazer 1 2,3 4 1,8 2 1,5 7 1,7 17. conseguir melhores níveis de remuneração - - 11 4,9 6 4,4 17 4,2

44 100,0 223 100,0 135 100,0 402 100,0

Total % 10,9 55,5 33,6 100,0

Obs. 1. Ocorrência de pontuação para até 5.ª opção Fonte de Dados:

Pesquisa Aplicada nos Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu da UnB/CET – “Hospitalidade & Religiosidade”

- Um Encontro Estratégico no Planalto Central do Brasil - Fernando J. de Almeida - Setembro de 2003

Os Simpatizantes, buscam mais o conhecimento que as demais opções postas, entretanto menos intensamente que os Buscantes, evidenciando o seu relativo menor envolvimento e despojamento e mesmo descomprometimento com um processo de mudança e a preferência pela adoção de uma natureza de conhecimento mais pragmática, como passível de ilação a partir de cruzamentos. Os Refratários também buscam conhecimento – 8,9% , mas como 4.ª opção, aparentemente depois de saciada a busca de prazeres mais materiais e evidenciando a necessidade de equipar-se com o conhecimento, de natureza mais instrumental, que os habilite a manter ou reproduzir os elevados padrões de desfrute e consumo material que a maior remuneração, decorrente do melhor preparo, pode bancar.

A situação de os Buscantes assumirem uma posição diametralmente oposta aos Refratários, e tendo aspectos em comum com os Simpatizantes e esses, outros aspectos em comum que os aproximam dos Refratários, fica muito clara no gráfico apresentado a seguir, onde tais variações confirmam essas tendências comportamentais de forma marcante. O gráfico está construído de tal forma que as opções estejam ordenadas da maior percentagem até a menor, até esgotar-se a categoria em questão, passando para a outra, segundo o mesmo ordenamento e assim sucessivamente. Assim, ficam evidenciados pontos de comportamento contraditório e os comuns a todos, e entre duplas de categorias, permitindo o exame para cada variável ou para cada categoria isoladamente, ao fazer-se variar os comportamentos, demonstrando, ao final, que o modelo de categorização foi construído segundo critérios de conceituação suficientemente

“resistentes”, podendo dar conta do universo de explicações multivariadas e não é fechada, porque os grupos se interpenetram, como no tecido natural que se tem na vida real.

Por ser inerente ao instinto de auto-sobrevivência, chega a ser uma unanimidade a busca por “dispor de saúde” – pois todas as categorias buscam-na, mais fortemente os Simpatizantes (13,0%) e os Refratários (10,4%) e apenas como 4.ª opção, os Buscantes (9,1%). Certamente, os cruzamentos evidenciam que a saúde preferencial dos Buscantes é a obtida por métodos alternativos, como será observado, na seção de Oferta, nas tabulações entre alternativas tradicionais e não-convencionais e evidenciada na mais forte busca por terapias antiestresse e por exercícios psicofísicos que mantenham a flexibilidade. No outro extremo, os Refratários, buscam a saúde alopática e a ginástica do físico que potencialize o tônus muscular e garanta corpos mais

“sarados”. A “Saúde” é uma busca comum a todos, o que varia é a natureza dessa busca.

Em termos globais, a “busca de espiritualização” ocupa uma terceira posição de cogitações das pessoas – 8,5% do universo, depois da instrução e da saúde. Nesse processo de busca de desenvolvimento espiritual, confirmando os critérios para a delimitação e categorização dos grupos, os Buscantes são os que mais se identificam com essa opção – 13,7%, na 2.ª posição da categoria, tão forte e coerentemente, quanto a busca no sentido de “consolidar suas conquistas pessoais” - também com 13,7% das opções na categoria, no que, aliás, apenas esses encontram-se mais fortemente investidos. É como se a conquista última, de natureza pessoal, fosse, transpessoal, e envolvesse um salto de qualidade, a ascensão no sentido do auto-conhecimento, superando-se o indivíduo ancorado no ego e fazendo-o transcender o material ou transmutando-se da paranóia na qual todos nos encontramos em maior ou menor grau e transformando-a ou transubstanciando-a, num processo de mudança e conversão, num estado qualitativamente mais depurado, metanóico, ainda que tão confuso e dicotômico quanto, mas no contexto do qual consegue-se percebê-lo em seus contornos, potencialidades e ambivalências com maior consciência e lucidez. Os Simpatizantes - com 9,3% aproximam-se pelo alto, com os Buscantes, também buscam a espiritualização, ainda que como uma 2.ª opção, o que é muito num universo povoado majoritariamente por jovens como o é o nosso universo. Os Refratários, como esperado, não buscam essa opção por deliberação, mas podem a ela chegar, induzidos ou a reboque dos valores que têm em comum com os Simpatizantes.

Por osmose, agregam-se por similitude, os Refratários – 8,1% e Simpatizantes – também 8,1%, ao se

“prodigalizar segurança”, como conceito amplo que envolva a capacidade de auto-defesa e fortalecimento dos sentidos, que podem ser abrangidos em atividades de lutas marciais harmônicas e anti-agressivas, de conteúdo mais defensivo ou zen, como o são o Aikidô e a Capoeira Angola, antecipando-se às cogitações que se fará na Oferta, na discussão das modalidades mais apropriadas de se trabalhar a aquisição de consciência por vias marciais.

Os Simpatizantes estão sempre, como atestam esses e outros dados, “meio no meio”, e se ligam nestes termos, com o “conforto” – 8,1% - com um certo grau de acomodação, de tal forma a caracterizar que

dançam a dança apenas conforme a oportunidade de cada momento e nisso superam até mesmo os Refratários e naturalmente os Buscantes, para quem a existência de excesso de conforto poderia quem sabe

“comprometer ou desviar” o compromisso de busca e o centramento na conquista da elevação, ao se associar despojamento e simplicidade à depuração das virtudes espirituais..

Nos extremos, é notável a ligação dos Buscantes com a “busca de uma paixão profunda” como se sem ela não houvesse solução, parafraseando as postulações popularizadas da literatura psicanalítica da modernidade 37 evidenciando a disposição de ruptura permanente com o passado e a disposição para viver o presente, o aqui e o agora, e como tal, para se entregar a uma paixão profunda 38. Independentemente de a pessoa se sentir livre ou não para tal entrega, talvez a manifestação d disposição para tanto esteja envolvendo, nisso, até mesmo os que já vivem a tal paixão profunda – e a cultuam pelo processo em si, não pelo resultado, mas como garantia de continuar vivendo essa paixão profunda, ou uma paixão profunda a cada dia.

Trata-se aqui da típica postura do iniciado, do que não se vê pronto e está sempre iniciando alguma coisa, pois terminá-la, ficar ou esgotar-se nela, seria morrer por antecipação, sendo imprescindível viver-se uma nova alternativa de vida, vivendo cada momento como “se fosse o último”, apaixonando-se pela vida, por si e pelo outro, qualquer que seja esse. E nisso, os Buscantes são únicos, e a tem como 4.a. opção de seu atual momento de busca, acima da média, de apenas 6,5%. Nesse particular, os Refratários, numa faixa etária certamente mais elevada, mais que os Simpatizantes, ainda esperam ser abençoados com uma paixão talvez ainda não intensamente vivida – 6,7%.

É coerentemente forte, também, entre os Buscantes, a disposição em “fazer novos amigos” – 6,8% e também “de desfrutar prazer e curtição” – 6,8%, já que com lucidez, não é ocioso, desprovido de significado e sofisticação, essa forma de externalização ponderada da alegria de viver. Mas, isso de curtir prazerosamente é o atributo que mais caracteriza o Refratário, é o que mais curte a vida – é sua primeira opção existencial - 10,5%, e nisto só os Buscantes os entendem, porque provavelmente também gostam disto, ainda que não apenas disto.

Dentre os Buscantes não há ninguém que gostaria de “manter a vida, os valores e as crenças como estão”, mas do outro lado, cerca de 7,4% dos Refratários tem isso como um norte, o que de certa forma ressalta que a delimitação comportamental, o divisor de águas de antagônicas opções de vida, enfim valores que incidem diretamente em todo o processo de conformação da oferta e conseqüentemente nas técnicas de Marketing, de tal forma segmentar com pertinência o apelo mais atraente para cada quem que se queira atrair, seja por razões mercadológicas, seja por razões ideológicas.

37 Freire, Roberto. “Sem Paixão não Há Solução” – “Ame e dê Vexame”

38 Não há questionamento formal na pesquisa para permitir o cruzamento dessa opção com o estado civil, formal ou não da pessoa que faz opção por viver uma paixão profunda.

HOSPITALIDADE & RELIGIOSIDADE