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As Atividades/Instrumentos de Recolha em aula com vista à Consciencialização

No documento QUE MÚSICAS FALAMOS (páginas 62-66)

Parte III Procedimentos adotados no Estudo de Caso

III.3. Análise de dados

III.3.7. As Atividades/Instrumentos de Recolha em aula com vista à Consciencialização

Nas duas sessões de entrevista em formato focus group, (V. Transcrições, Anexos 19A e 19B) a resposta às questões constantes do guião das entrevistas (Anexo 8) ocorreu de forma ordeira e em sintonia com uma reflexão que se pretendia orientada e estruturada. Contudo, a ordem das questões sofreu em ambas as sessões ligeiros desvios ao guião (na Sessão Um (S.1) não se colocaram as questões 3,11 e 16 enquanto na Sessão Dois (S.2) falharam as questões 4 e 6), uma vez que se tentou evitar quebrar a desejada espontaneidade, tendo-se contudo quebrado o protocolo aquando da substituição de dois dos entrevistados na primeira entrevista, fato devidamente justificado no documento de transcrição da mesma.

Por este fato, optou-se por manter, para efeitos de análise dos dados, o número de respondentes (doze, seis alunos na primeira sessão e seis na segunda) como inicialmente previsto, uma vez que nem aos dois alunos substituídos nem aos dois alunos que os substituíram lhes foi retirada qualquer valência opinativa. Em termos quantitativos, ainda que para a primeira questão se tenha obtido catorze respostas, não se considerou a coabitação de duas delas, ocorrida somente quando é solicitada uma autoavaliação quanto a uma identidade intercultural, como elemento deturpador na leitura da informação.

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A análise dos dados recolhidos por meio das entrevistas permitiu o registo de 114 ocorrências enquadráveis no conjunto de categorização das respostas, sendo que 65 se verificaram nas SCP e 49 nas SCE. O quadro seguinte apresenta o número de ocorrências em cada subcategoria e a distribuição pelas questões analisáveis do guião.

Cat. Questões 1/2 SCP/SCE Questões 3/4 SCP/SCE Questões 5/6 SCP/SCE Questões 7/8 SCP/SCE Questões 9/ 10 SC P/SCE Questões 11/12 SCP/SCE Questões 13/14 SCP/SCE Questões 15/16 SCP/SCE Totais A1 1 / 5 -- / 2 1 / 5 14 A2 1 / -- 1 A3 -- / 3 -- / 1 -- / 2 1 / -- -- / 1 2 / 5 -- / 1 16 A4 5 / -- 1 / -- 3 /-- 9 A7 3 / -- 3 / -- 4 / -- 11 / -- 3 / -- 1 / -- 4 / -- 1 / -- 30 A11 1 / -- 2 / -- 1 / -- 1 / -- 5 K5 2 / 1 1 / -- 4 K8 1 / -- 1 / 1 1 / 3 1 / -- 2 / -- 10 K10 -- / 2 -- / 1 2 / 5 10 S6 -- / 4 -- / 1 -- / 2 -- / 1 -- / 1 1 / 2 12 S9 2 / -- 1 / -- 3 Tts: 12/14 5 / 1 5 / 4 16 /6 9 / 9 1 / 2 12 / 12 5 / 1 114

Figura 14 – Quadro de registo de ocorrências nas categorias de análise e distribuição pelas questões das entrevistas focus group

As somas mais elevadas encontradas numa leitura horizontal da tabela verificam-se nas categorias A1, A3 e A7 (Respeito pelo Outro, Reconhecimento de Identidade e Flexibilidade Comportamental), com 14, 16 e 30 ocorrências, a marcar uma presença significativa destas atitudes ao longo de uma boa parte das entrevistas. Estão numericamente favorecidas, numa leitura na vertical, as q.1 e 2 com 26 ocorrências, mostrando que os alunos foram mais produtivos na avaliação e definição de si próprios e as q. 7 e 8 com 22 ocorrências e as q.13 e 14 com 24 demonstrando uma abordagem afetiva aos instrumentos de trabalho utilizados nas aulas de inglês e

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na experiência em que participaram. Por outro lado, ficaram mais vazios os campos das q. 11 e 12 pelo que não terá ficado totalmente claro para muitos dos alunos os contornos da experiência à qual foram submetidos e a eficácia desta com esses mesmos instrumentos. Contudo, “sinto uma grande evolução em vir pr’aqui porque estou a abordar um assunto que eu não abordava…é sobre as culturas”(S.1/p.11/l.299- 300), “a stora vai à Internet põe uma música (…) é um bocado mais prático” (S.2/p.10/l.281-284), quando solicitados para se pronunciarem sobre a mesma, são transcrições a reter.

Através de uma close reading das transcrições verificou-se que, na reação à primeira questão, metade dos informantes responde “ainda não descobri” ou “não me lembro” quando lhes é pedido que se enquadrem numa identidade intercultural, sendo que os restantes 50% assumem-na argumentando ter algumas características. Note-se aqui que as respostas dos que não se encontram “interculturalmente” são ainda assim expressivas, assinalando a presença de um processo cognitivo e de descoberta de si próprios e salientando a categoria S6 (Capacidade de Descoberta e Interação) na qual se inserem tais reações.

O teor do acima exposto vem ao encontro do verificado, por via do inquérito Ser ou não ser Intercultural, em que 53,6% da população respondente admite possuir traços interculturais ao colocar-se nas posições de maior proximidade a uma identidade que prevê a valorização da diversidade humana, o respeito, a tolerância e a consciência da natureza das diferenças culturais (frases 7, 9, 14 e 15 do inquérito). Resultados corroborados pelos recolhidos na parte II do Test&Survey: Comparing and Sharing onde se contam 65,6% e 68,7% nas opções para cinco pontos a destacar as competências ‘Empatia’ e ‘Respeito pelos Outros’.

Tratando-se de averiguar o efeito da exploração de canções e da autobiografia na aula de inglês em benefício de uma aprendizagem intercultural e de promover as aptidões comunicativas a esse nível, as respostas à solicitação que aponta para uma reflexão sobre os instrumentos de trabalho em sala de aula mais eficazes para a consciencialização desta temática foram claras e expressivas. Todos os alunos, excetuando um, indicaram a música como instrumento mais eficaz: “ [A música] é mais motivante” (S.1/p.18/l.507).

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Quando questionados sobre qual a canção que se revelou mais influente para essa tomada de consciência, a canção de Sting “An Englishman in NewYork” sobre a qual os alunos ponderaram no questionário Test&Survey Comparing and Sharing não deixou de ser mencionada. Os alunos terão sentido que as capacidades de descoberta e interação e de interpretação e relacionamento terão nesse momento de abordagem ao texto musicado sido acionadas de alguma maneira.

Em resposta à q.13 que solicita uma reflexão sobre a influência da AIE na construção de uma identidade intercultural neles próprios podemos afirmar que este instrumento educacional terá aberto a alguns o caminho para a sua consciência de alteridade e sentido de culturalidade: “nós conseguimos perceber se já tivemos experiência intercultural” (S.1/p.19/l.536), “porque partilhamos na nossa autobiografia a outra pessoa porque estamos a partilhar uma cultura que essa pessoa teve” (S.1/p.19/l.543-545), “fez-me recordar momentos que eu já tinha passado … abordar situações que a gente não tinha visto na mesma perspetiva “(S.1/p.19/l.555-557), ”ajuda a perceber como é que as outras pessoas vivem porque nós acabamos por ter de escrever sobre isso” (S.2/p.17/l.520-521).

Ter, por iniciativa dos alunos, tais conclusões como ponto de chegada parece ter atendido ao ponto de partida da professora-investigadora que tomou como objetivo da ELTL: tornar explícitos os valores daqueles que estudam a língua alvo aquando de uma interação com o Outro e não o de mudar esses mesmos valores, salvaguardando assim a posição valorativa no ensino da língua, como já dito anteriormente.

No que diz respeito a ser ou não a aula de inglês o espaço mais propício para a discussão de assuntos relacionados com a interculturalidade, q.4, dos doze alunos questionados oito estabeleceram uma ligação com a utilização das canções em inglês: “as músicas14

que a professora escolhe têm um tema e nós depois também a partir desse tema adaptamos as coisas do dia-a-dia” (S.2/p.14/l.419-420) ; “[o inglês] é uma língua internacional dá para abordar várias culturas” (S.1/p.17/l.463-467).

14 Não se procede neste trabalho a uma problematização dos conceitos de música e canção sendo que o

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Efetivamente, comentários como: “acho que as músicas puxam mais por nós” (S.1/p.10/l.306), “a stora queria que nós soubéssemos como é que o cantor fez a música o que é que ele passou, interagirmos com a música” (S.2/p.11/l.310-311 ),“a música agora na sociedade é principalmente para a malta jovem é quase tudo” (S.2/p.11/l.317-318) surgem na resposta à solicitação para estabelecer uma comparação entre tipologia de aulas em que o recurso às novas tecnologias e à elaboração de trabalhos de tradução das letras das canções são valorizados.

Um dos elementos culturais mencionados como fazendo parte da vida quotidiana de cada um dos respondentes é o tipo de música e as canções, nesta perspetiva, é compreensível o interesse manifestado pelos alunos no instrumento de trabalho que se constituiu como um dos pilares adotados no presente estudo de caso para a promoção da aprendizagem intercultural.

No documento QUE MÚSICAS FALAMOS (páginas 62-66)

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