• Nenhum resultado encontrado

As bases conceituais do Direito Ambiental

No documento Download/Open (páginas 117-122)

1 A PROPÓSITO DAS ORIGENS DO HOMEM E DA NATUREZA À

3.2 As bases conceituais do Direito Ambiental

Atualmente, esse ramo do direito possui várias interpretações, conceitos e vertentes. Nesse sentido, Antunes (apud SILVA, 2010, p. 41) salientou que o Direito Ambiental pode ser definido como um Direito que se desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio ambiente, direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente. Além do mais, orientou que tais vertentes

[...] existem, na medida em que o Direito Ambiental é um direito humano fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais. Mais do que um direito autônomo, o Direito Ambiental é uma concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra, transversalmente, em todos os ramos do Direito. O Direito Ambiental, portanto, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e uma dimensão econômica que devem harmonizar sob o conceito de desenvolvimento sustentável.

A noção conceitual de Direito Ambiental, Meio Ambiente e Ecologia precisam ser esclarecidas, haja vista que possuem diferentes acepções terminológicas.

3.2.1 Meio Ambiente

O Artigo 3°, da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981), define meio ambiente como sendo o conjunto de “[...] condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

O referido artigo prolonga outras definições inerentes ao meio ambiente, quais sejam:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...]

II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem- estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

O texto legal anterior conceitua meio ambiente, degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos ambientais. Esse conceito, na ótica de diversos estudiosos, encontra-se ultrapassado, pois entendem que o Meio Ambiente deve ser considerado nos seus aspectos Natural, Artificial, Cultural e do Trabalho.

A par do acima exposto, o meio ambiente pode ser classificado em natural, artificial, cultural e do trabalho:

a) Meio Ambiente Natural: elementos que existem mesmo sem influência do homem, ou seja, é o solo, a água, o ar, a fauna e a flora.

O meio ambiente natural é aquele que ao falar esse termo já é remetida a idéia do que seja, inclui a atmosfera, biosfera, água, solo, fauna e flora do território.

É exigido um equilíbrio mútuo entre todos esses componentes para que todos eles sejam preservados e se mantenham sem serem destruídos (MARQUES, 2012, p. 21).

b) Meio Ambiente Artificial32: espaço construído pelo homem, na interação com a natureza. São as edificações e os espaços públicos abertos.

Já o meio ambiente artificial, envolve o ambiente modificado, as cidades onde são inclusos tanto edificações particulares quanto as públicas. Este espaço urbano necessita de desenvolvimento e, portanto de cuidados por parte da sociedade e Estado (MARQUES, 2012, p. 21).

c) Meio Ambiente Cultural33: espaço construído pelo homem, na interação com a natureza, mas que detém um valor agregado especial. É o patrimônio histórico, arqueológico, artístico, paisagístico e cultural.

Ou seja, o meio ambiente cultural, envolve tudo aquilo que é histórico, característico de um povo, costumes populares que mesmo não sendo palpáveis e sim subjetivos, mas que necessita de proteção para sua perpetuação de geração a geração (MARQUES, 2012, p. 21).

d) Meio Ambiente Trabalho34: Entende-se por Trabalho o local que o ser humano desempenha suas atividades laborais.

Para Marques (2012, p. 21) o meio ambiente do trabalho é o

[...] ambiente onde as pessoas desenvolvem suas atividades diárias, seja remunerada ou não, mas precisa oferecer segurança e boas condições para a execução de suas atividades, portanto esse tipo de meio ambiente, envolve as questões de salubridade do meio e a ausência de condições que afetem tanto física como psicologicamente a qualquer trabalhador.

A partir da incursão nas vertentes de meio ambiente, vale reforçar que o direito ambiental se constituiu com a finalidade de normatizar a promoção do equilíbrio entre todas as partes envolvidas em qualquer um desses meios.

O meio ambiente é um bem jurídico, assim como tantos outros bens. E, nesta condição, é valorado positivamente pela sociedade, pois visa a garantia da proteção

32 O meio ambiente artificial está previsto nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988. 33 Meio ambiente cultural é elencado nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988.

34

O meio ambiente do Trabalho está previsto nos artigos 7, inciso XXIII e 200, inciso VIII, ambos da Constituição Federal de 1988.

ambiental e, consequentemente, qualidade de vida para a sociedade, de modo perene (MORAES, 2006).

3.2.2 Ecologia

Como dito anteriormente, meio ambiente é conceito que comporta os aspectos natural, artificial, cultural e do trabalho. Em um contínuo, tem-se a ecologia, que é a ciência que estuda as relações dos seres vivos, portanto, existe diferença entre meio ambiente e ecologia.

Milaré (2007, p. 107) explicitou que ecologia é a ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e

[...] com o seu meio físico. Este, por sua vez, deve ser entendido, no contexto da definição, como o cenário natural em que esses seres se desenvolvem. Por meio físico entendem-se notadamente seus elementos abióticos, como solo, relevo, recursos hídricos, ar e clima. O termo ecologia foi cunhado em 1866 pelo biólogo e médico alemão Ernst Heinrich Haeckel (1834-1917), em sua obra Morfologia geral dos seres vivos, como proposta de uma nova disciplina científica, a partir dos radicais gregos oikos (casa) e

logia/logos (estudo). Ecologia é, assim, o “estudo da casa”, compreendida

em sentido lato como o local de existência, o entorno, o meio.

Em Reimer (2006, p. 11-12), encontra-se a etimologia do termo ecologia, qual seja:

Como originário do grego oikos, ecologia tem a ver com a casa como espaço comum de vida. Ecologia, pois, é uma ciência que estuda a ‘casa’ em suas diversas formas de organização e manifestação, podendo o termo ter acepções distintas: ‘ecologia ambiental’, ‘ecologia social’, ‘ecologia mineral’, etc.

Posta a explicação anterior, entende-se que ecologia é o estudo da casa, o estudo dos seres vivos que estão em contínuo contato e desenvolvimento.

O Direito Ambiental é um ramo do Direito Público que regula as relações entre homem e meio ambiente. Tem por objetivo principal instituir o desenvolvimento sustentável e garantir o preceito constitucional do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Para Lima (2010, p. 28), a relação entre meio ambiente e direito é inquestionável

[...] uma vez que o Direito Ambiental é um ramo do direito, o qual regula as relações entre homem e meio ambiente, visando o surgimento de um novo modelo societário, considerando homem e natureza como um todo, devendo desenvolver-se de maneira sustentável respeitando seus limites, tendo em vista que ambos formam um elemento único. O homem está inserido na natureza e, preservando-a, estará preservando, também, a própria espécie.

Quanto a Mukai (1994), o Direito Ambiental é um conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a “[...] vários ramos do direito reunidos por sua função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao meio ambiente”.

Silva (1995, p. 21), por sua vez, dirigiu o seu raciocínio na busca de assentar o Direito Ambiental em campo específico do Direito. Nesse afã, entendeu que esse ramo do Direito dispõe de autonomia

[...] dada a natureza específica de seu objeto – ordenação da qualidade do meio ambiente com vista a uma boa qualidade de vida – que não se confunde nem mesmo se assemelha com o objeto de outros ramos do Direito. Tem conotações íntimas com o Direito Público, mas, para ser considerado tal, talvez lhe falte um elemento essencial: seu objeto não pertine a uma entidade pública, ainda que seja de interesse coletivo. Quem sabe não seja ele um dos mais característicos ramos do nascente conceito de Direito Coletivo, ou talvez seja um novo ramo do Direito Social.

Partindo do fato de que o Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado penetra no direito maior, que é a vida, o Direito Ambiental mantêm conectividade com outras áreas dessa ciência e influencia os diferentes ramos do ordenamento jurídico, no que diz respeito ao sentido ambientalista. Nesse caso, toma vulto a preocupação com os recursos naturais e a busca de instrumentos normativos para auxiliar esse novo ramo no combate aos danos ocasionados na natureza. A interpretação dos demais setores deve ser feita no sentido de garantir a realização e não prejudicar os preceitos veiculados pela legislação ambiental (LIMA, 2010).

Por oportuno, e por força da argumentação estabelecida neste tópico, vale a pena recorrer à definição de Araujo (2012, p. 53), ao ensejo da definição do ramo do Direito em questão. Para ele, o Direito Ambiental

[...] seria um conjunto de regras que protegem o ambiente onde todos estão inseridos, sendo um dos elementos que compõe, fazendo com que as presentes e futuras gerações possam utilizá-lo de maneira sustentável, usufruindo, assim, de um ambiente ecologicamente equilibrado.

O Direito Ambiental relaciona-se com diversas áreas do saber humano, como a biologia, a física, a engenharia, o serviço social, dentre outras. É, portanto, um Direito de cunho multidisciplinar, que busca adequar o comportamento humano com o meio ambiente em sua volta. Outra característica do Direito Ambiental é o de o mesmo ser um direito difuso35, ou seja, pertence a todos os cidadãos.

No documento Download/Open (páginas 117-122)