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Escorço Histórico do Direito Ambiental Brasileiro

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1 A PROPÓSITO DAS ORIGENS DO HOMEM E DA NATUREZA À

3.1 Escorço Histórico do Direito Ambiental Brasileiro

Nesta atualidade, intensificou-se o debate sobre degradação ambiental, desenvolvimento sustentável e demais assuntos relacionados ao meio ambiente. As preocupações com o Direito Ambiental, no Brasil, remontam-se ao seu descobrimento. A legislação portuguesa da época possuía várias regras protetivas do meio ambiente. Todavia, tais normas não eram observadas nas terras brasileiras. Para os que aqui vieram, o que importava era a conquista da terra e exploração dos recursos naturais.

Acerca da legislação ambiental aplicada no período do descobrimento, Machado (apud, SILVA, 2010, p. 43) fez o seguinte comentário:

Escassa proteção jurídica não significa nenhuma proteção. Veja-se, por exemplo, que nas Ordenações Afonsinas “foi compilada a ordenação determinada pelo rei D. Afonso IV, que proibia o corte deliberado de árvores frutíferas, tipificando esse ato como crime de injúria ao rei, demonstrando- se, desde então, uma grande preocupação com a proteção florestal. Por ordem do Rei Dom Manuel, em 1514 foram compiladas e atualizadas as ordenações Manuelinas. Nelas, encontravam-se regras de proteção ambiental, a proibição de caça e perdizes, lebres e coelhos com redes, fios, ou outros meios e instrumentos capazes de causar dor e sofrimento na morte desses animais; a proteção de crias e a preservação da vida das abelhas na comercialização de suas colméias. Em um dos regimentos do Governo Geral, implantado em 1548 por Dom João III, consta a reafirmação do monopólio da Coroa Portuguesa sobre o pau-brasil, cuja extração deveria ser feita ‘com menor prejuízo da terra’”.

Na mesma linha de raciocínio, Wainer (apud, NARDINI, 2000, p. 31) afirmou que, em 1521, vieram à luz as Ordenações Manuelinas, uma espécie de atualização das Ordenações Afonsianas, em que os dispositivos de proteção às árvores foram preservados. A caça de

[...] determinados animais como coelhos, lebres e perdizes era proibida em determinados lugares (Ord. Manuelinas, Liv. V, Tit. LXXXIV) além de serem vedados instrumentos de caça que causassem a morte de animais com dor

e sofrimento. O legislador preocupou-se com as abelhas proibindo a comercialização de colméias por vendedores que não houvessem preservado a vida desses insetos (Liv. V. Tit. XCVII). Com relação ao corte das árvores frutíferas, a legislação evoluiu estabelecendo ao lado das severas penalidades, o pagamento de multas distintas de acordo com o valor das árvores abatidas (Tit. V. Liv. C).

Nesse período, havia muita preocupação com os recursos naturais e era notória a sua razão, pois que representavam fonte de riqueza. Tal fato pode ser comprovado nas Ordenações Filipinas, já que previam pena gravíssima ao agente que cortasse árvore ou fruto. O transgressor ficava sujeito ao açoite e ao degredo para a África por quatro anos, se o dano fosse mínimo. Caso contrário, o degredo seria para sempre (MORAES. A. 2000).

A partir de 1.548, o Governo Geral do Brasil passou a expedir regimentos, ordenações, alvarás e outros instrumentos legais, razão pela qual se pode afirmar que esse período corresponde ao marco inicial do nascimento do nosso Direito Ambiental brasileiro. Posteriormente, sob o domínio espanhol, ocorreram as aprovações das Ordenações Filipinas, no dia 11 de janeiro do ano de 1603, que também disciplinou matérias de cunho ambiental (LIMA, 2010).

No ano de 1605, surgiu a primeira lei de proteção da floresta brasileira e Nardini (2000, p. 33), assim historiou:

A primeira lei que protegeu a floresta brasileira foi o “Regimento sobre o pau-brasil” editado em 12 de dezembro de 1605. Tal lei não protegia a floresta em si mas sim os interesses comerciais da Metrópole ao estabelecer penas bastante severas para aqueles que cortassem a madeira sem expressa licença real. A preocupação não era preservacionista. Era Comercial.

As autoridades daquela época já se atentavam para a preservação ambiental, no entanto, essa preocupação tinha o fito econômico, pois as riquezas naturais brasileiras eram imensas e toda legislação do período visava resguardar os recursos naturais segundo os seus valores financeiros. Não havia a consciência de que a natureza poderia sofrer com as condutas desregradas por parte do homem.

A argumentação anterior se esteia em Palma (2002, p. 28-29), conforme segue: “É fato que, devido a interesses de caráter puramente econômico, o meio ambiente [no Brasil] sofreu perniciosas transformações, o que, em consequência, acarretou a mais reles subjugação da natureza”.

Quanto à evolução do Direito Ambiental Brasileiro, cita-se Lima (2010, p. 26), que assim a descreveu:

No dia 13 de março do ano 1797, fora expedida uma Carta Régia que se preocupava com a defesa da fauna, das águas e dos solos. O primeiro Regimento de Cortes de Madeiras, estabelecido em 1799, já previa rigorosas regras para a derrubada de árvores. José Bonifácio, em 1802, recomendou o reflorestamento da costa brasileira [...] No ano de 1808, emergiu, na cidade do Rio de Janeiro, o Jardim Botânico, contendo área de preservação ambiental, considerada nossa primeira unidade de conservação [...] D. João VI, na intenção de evitar a retirada e contrabando de Pau-Brasil expediu, no dia 09 de abril de 1809, uma ordem, prometendo liberdade aos escravos que denunciassem contrabandistas de madeira. Posteriormente, surgiu o Decreto de 03 de agosto de 1817, proibindo o corte de árvores nas áreas que circundam o Rio Carioca, situado na cidade do Rio de Janeiro.

A legislação aplicada no Brasil era moderna para o período, e pode-se afirmar que as Leis daquela época eram mais severas do que a legislação atual. O legislador se preocupava com os recursos naturais, chegando ao ponto de prometer liberdade aos escravos que denunciassem os contrabandistas de madeira.

Com a passagem do Brasil Colônia ao Império, foram criadas novas leis e Lima (2010, p. 26) relatou o fato, conforme se pode ler no trecho a seguir transcrito:

No ano de 1850, com o advento da Lei nº 601, mais conhecida como a primeira Lei de Terras do Brasil, que considerava crime punível com prisão, de 02 (dois) a 06 (seis) meses, e multa, para derrubada de matos ou o ateamento de fogo. Inovou, significativamente, no uso do solo, disciplinando a ocupação do território, atenta à invasões, aos desmatamentos e aos incêndios criminosos. Estabeleceu, ainda, a responsabilidade por dano ambiental fora do âmbito da legislação civil. Além das sanções penais, o infrator submetia-se a sanções civis e administrativas.

Nota-se apreço na defesa das terras e florestas brasileiras, porém, a preocupação com a ocupação do solo, com as invasões e com os desmatamentos, cuja contrapartida recaía na imposição de responsabilidade por dano ambiental, nas sanções civis, administrativa e penal, são fruto da necessidade de proteger um bem economicamente valioso, em detrimento do foco preservacionista.

Na fase republicana, surgiram novas Leis como consequência da nova forma de pensar, como imposição do momento político que vivia a Nação brasileira. Críticas às Políticas Públicas que não previam preocupação ambiental começaram a surgir. Nesse panorama, foi criada a primeira reserva florestal do Brasil em 1921, no

antigo Território do Acre. Este acontecimento foi relatado por Lima (2010, p. 27), assim:

No dia 28 de dezembro de 1921, surge o Serviço Florestal do Brasil, posteriormente substituído pelo Departamento de Recursos Naturais Renováveis, e este, por sua vez, pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF e, atualmente, pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.

No que se refere à defesa ambiental, nasceram os primeiros códigos de proteção dos recursos naturais (florestal, de mineração, de águas, de pesca, de proteção à fauna). A imposição de limites ao exercício do direito de propriedade surgiu com o Código Florestal de 1934.

Nesse período, foram instituídos os Códigos destinados à proteção do meio ambiente. Cabe destaque ao Código Florestal, ao Código de Águas, ao de Pesca, ao Código de Mineração, dentre outros. Um dos mais importantes dispositivos legais que surgiu nesse período foi o estabelecimento da Política Nacional do Meio Ambiente, por meio da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,

[...] com a instituição da polícia administrativa ambiental. Entre as medidas adotadas está a exigência do Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo Relatório (EIA/RIMA), para a obtenção de licenciamento em qualquer atividade modificadora do meio ambiente (LIMA, 2010, p. 27).

Essa Lei definiu as medidas de gestão a serem tomadas pela Administração e, concomitantemente, estabeleceu um arranjo institucional entre os diferentes órgãos públicos encarregados da defesa ambiental, conhecido como Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

Antunes (2010, p. 45) definiu o SISNAMA assim: “É o conjunto de órgãos e instituições que, nos níveis federal, estadual e municipal, são encarregados da proteção do meio ambiente, conforme definido em lei”.

Sem dúvida, a Política Nacional do Meio Ambiente é fundamental para o Direito Ambiental brasileiro, pois apresenta princípios, diretrizes e objetivos a serem seguidos por todos os órgãos responsáveis pela proteção dos recursos naturais.

Outra Lei importante, no contexto de preservação da natureza foi a que instituiu a Ação Civil Pública e Lima (2010, p. 28) atentou para a sua relevância, de acordo com o texto transcrito, a seguir:

A edição da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, com a instituição da Ação Civil Pública, foi mais um passo considerado importante para assegurar a preservação ambiental, além de conferir maior participação do cidadão no

processo de garantia do bem ambiental. Este instrumento de proteção ao meio ambiente possui um alcance amplo, podendo ser interposto não apenas em desfavor do Estado, mas em face dos particulares que causem danos aos bens ou valores protegidos, podendo, ainda, não só anular atos, mas exigir obrigação de fazer e não fazer.

A Constituição Federal de 1988 reservou um capítulo para o meio ambiente, por isso ficou conhecida por “constituição verde”. Cumpre ressaltar que as constituições que antecederam a de 1988 não se preocuparam, tanto quanto esta, com a proteção do meio ambiente.

O artigo 225 da CF/1988 prevê que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem de todos, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, para as gerações atuais e vindouras.

Com o crescimento da população e consequente degradação dos recursos naturais, a legislação objetiva proteger a fonte de sobrevivência do homem. Essa preocupação, no dizer de Lima (2010, p. 24) nasce concomitantemente com a criação dos seres vivos e vem evoluindo, ao passo que a humanidade prospera.

A evolução da legislação ambiental foi lenta, o direito ambiental surgiu no Brasil em decorrência da necessidade de proteção dos recursos naturais, porém, com o desígnio de proteger um patrimônio, ou seja, com finalidade econômica.

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