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2 NECESSIDADE DA PRÁXIS HUMANA DO TRABALHO-LAZER:

2.3 LAZER ENQUANTO NECESSIDADE DA PRÁXIS HUMANA E AS

2.3.1 As condições objetivas do trabalho na formação econômica

Um dos pressupostos do trabalho assalariado e uma das condições históricas do capital é o trabalho livre e a troca de trabalho livre por dinheiro, com o objetivo de reproduzir o dinheiro e valorizá-lo; de o trabalho ser consumido pelo dinheiro – não como valor de uso para o desfrute, mas como valor de uso para o dinheiro. Outro pressuposto é a separação do trabalho livre das condições objetivas de sua efetivação – dos meios e do material do trabalho. Isto significa, acima de tudo, que o trabalhador deve ser separado da terra enquanto seu laboratório natural – significa a dissolução tanto da pequena propriedade livre como da propriedade comunal da

82 Sem desconsiderar as demais contribuições, principalmente de Marx - Formações

econômicas pré-capitalistas e Manuscritos Econômico-Filosóficos, nessa seção, expomos os estudos e pesquisas de Otto Alcides Ohlweiler (foi professor da UFRGS, nascido em 1914), por se tratar da produção de um brasileiro, cuja elaboração de síntese é importante para esse texto. A produção tratada tem quatro volumes. A obra apresenta uma descrição fluente da trajetória do ponto de vista histórico da evolução das relações do homem com a natureza e dos homens entre si na vida social, sustentado por estudos concebidos no materialismo histórico, que nos permite pela necessidade de síntese de uma tese, conceber os elementos essenciais para expor uma base histórica material ontológica do trabalho-lazer.

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Considerando os autores das obras que nos apropriamos, destaco os estudos em Marx, em que preservo o marco dos dados que me permitiram reconhecer na base do materialismo histórico dialético, o mecanismo geral de todas as transformações que correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das forças produtivas materiais, ou seja, o desenvolvimento periódico de conflitos entre as forças produtivas e as relações de produção. Esta análise que Marx estabelece, segundo Hobsbawn (2006, p. 15), não constitui “história” em sentido estrito, pois tenta apresentar na análise da evolução social, as características de toda teoria dialética. Portanto, para compreender o conteúdo da história na sua forma mais geral e de maneira em que os dados históricos se sucedem, nos apropriamos da leitura de Marx (1987, 2002, 2006) para compreender o trabalho na formação econômica capitalista; na fase mais avançada do capitalismo trazemos Lênine (1979, 2007) a partir da teoria do imperialismo, fase superior do capitalismo que gera conseqüências agonizadoras para a classe trabalhadora; em Ohlweiler (1987) apontamos elementos que caracterizam o advento das relações sociais capitalistas, a manufatura, as revoluções burguesas e a afirmação do capitalismo; de Lajugie (1979) nos apropriamos das bases dos sistemas econômicos, considerando aspectos da economia fechada à economia de troca, a economia de mercado capitalista. Esses dois historiadores nos oferecem dados para desvendar dimensões mais detalhada da realidade. Vale destacar, que apresentamos os autores pela prioridade que damos à consideração de aprofundamento das pesquisas, enquanto marcos que permitiram releituras de fundo sobre os dados e fatos históricos em determinados momentos de seus estudos.

terra assentada sobre a comuna oriental (MARX, 2006, p. 65).

Tomamos esses pressupostos de Marx (1987) para estabelecer um ponto de referência de onde partimos para as explicações que se seguem. Nessas duas formas do trabalho, o relacionamento do trabalhador com as condições objetivas de seu trabalho é o de propriedade, pois para Marx (idem, p. 65), “esta constitui a unidade natural do trabalho com seus pressupostos materiais”. E, ainda acrescenta: “o trabalhador tem uma existência objetiva, independentemente de seu trabalho. O indivíduo relaciona-se consigo mesmo como proprietário, como senhor das condições de sua realidade”. Em Marx (1987 p. 169):

“a essência subjetiva da propriedade privada, a propriedade privada como atividade para si, como sujeito, como pessoa, é o trabalho”. (...) Sob a aparência de um reconhecimento do homem, a economia política, cujo princípio é o trabalho, é muito mais a conseqüente negação do homem, na medida em que ele próprio não se encontra em uma tensão exterior com a essência exterior da propriedade privada, mas sim se tornou a essência tensa da propriedade privada. O que antes era ser-

exterior-a-si, exteriorização real do homem, converteu-se

apenas no fato da exteriorização, em estranhamento. Se essa economia política começa, pois, sob a aparência do reconhecimento do homem, de sua autonomia, de sua atividade própria, etc., ao transferir a essência mesma do homem à propriedade privada, não pode ser condicionada pelas determinações locais, nacionais, etc., da propriedade

privada, como um ser que existia fora dela, isto é, se esta

economia política desenvolve uma energia cosmopolita, geral, que derruba todas as barreiras e todos os laços, assim tem de rejeitar em seu desenvolvimento posterior essa hipocrisia e tem de aparecer em seu cinismo total “84. (Grifo do autor)

Para expor uma síntese do percurso histórico em que se estabeleceram às relações pré-capitalistas, apresentamos o que caracteriza as bases do sistema industrial capitalista, que aprofundam suas determinações históricas, quando iniciam no século XII e XIII, como formas de atividades econômicas;

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Marx (1987, p. 170) expõe que a economia política se desenvolve despreocupada de todas as contradições aparentes; que a sua doutrina a envolve numa condição mais unilateral e, portanto, mais aguda e tendo conseqüentemente o trabalho como a única essência da riqueza, ao provar a desumanidade das conseqüências dessa doutrina, em oposição àquela originária, que dá o seu último golpe mortal ao modo de existência individual, natural, independente do movimento do trabalho, da propriedade privada e fonte de riqueza – a renda da terra -, que era a expressão da propriedade feudal já totalmente economificada incapaz, portanto de resistir à economia política.

logo após, apresentamos dados que evidenciam como as bases do sistema capitalista vão sofrendo mudanças ao longo da história, na medida em que avança forças que amadurecem as suas relações, que ao converterem em sujeito a propriedade privada, ao mesmo tempo fazem do homem a sua essência, de modo que a contradição da realidade corresponda de forma perfeita à essência contraditória, tomada como princípio. Segundo Marx (1987, p. 170) “a realidade dilacerada da indústria confirma o próprio princípio

dilacerado em si mesmo, muito longe de refutá-lo, pois seu princípio é

justamente o princípio dessa dilaceração.” (Grifo do autor)

Para promover a objetivação do conhecimento acumulado, considerando os elementos essenciais que não nos levassem a excessiva teorização de revisão dos estudos, nos valemos de dados que estabelecem aproximações mais concretas da realidade, buscando significados da ação humana que constrói a história, pois segundo Marx (1999, p. 39):

o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver para poder ´fazer história´¨. Mas para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos.

Nas forças que se desenvolveram as formações econômicas pré- capitalistas da produção material, a indústria desenvolveu-se sob a forma de indústria artesanal ou pequena indústria domiciliar, ou seja, caracterizando-se pela reunião de fatores de produção entre as mãos de uma mesma pessoa, que fornecia a um só tempo, capital e trabalho. Segundo Lajugie (1979, p. 31), de início, o artesão é um simples trabalhador a domicílio, modelando as matérias primas. Logo, torna-se um produtor independente, trabalhando por sua conta e vendendo seus produtos. É uma produção que prevalece mais a qualidade que a quantidade, pois as dimensões das explorações e o estado limitado da técnica impedem um maior desenvolvimento. O trabalho, segundo Marx (1987, p. 171),

ainda não é entendido na sua generalidade e abstração, está ligado ainda a um elemento natural particular, à sua matéria; é conhecido apenas em um modo particular de existência natural e determinado. Por isso, ainda é uma alienação

determinada, particular do homem, da mesma maneira que

seu produto é apreendido ainda como uma riqueza determinada, que depende mais da natureza do que do próprio trabalho. A terra é conhecida aqui ainda como um modo de existência natural, independente do homem, e não como capital, isto é, como um momento do próprio trabalho. (...) Mas, ao reduzir-se o fetichismo da antiga riqueza exterior, que existia apenas como objeto, a um elemento natural muito simples, e ao reconhecer-se a sua essência, ainda que parcialmente, em sua existência subjetiva sob um modo particular, está já iniciado necessariamente o passo seguinte, de reconhecer a essência geral da riqueza e elevar por isso, a

princípio o trabalho em sua forma mais absoluta, isto é

abstrata. (Grifo do autor).

A princípio, a produção do trabalho era, portanto, suficiente, apenas, para assegurar a expansão das trocas; as trocas, por conseguinte, vão se intensificando em grandes proporções para a época; a princípio no plano local, depois no terreno nacional e internacional, o que faz gerar o comércio.

Nessa época, considerando-se as relações de produção, a condição do tempo de lazer, ou seja, tempo disponível para outras atividades que não o trabalho e obrigações familiares, eram vividos ainda sobre o controle dos artesãos, que ainda tinham a liberdade de disponibilizar seu tempo de existência, pois ainda não trabalhavam sob a égide da exploração das necessidades impostas pelo capital. Os artesãos, então, só produziam para o mercado local e amiúde, sob encomenda. Vivia-se uma economia de necessidades locais conhecidas e, portanto, vivia-se um tempo de liberdade para escolher o que fazer, quando não havia trabalho. As bases da economia não eram apenas de trocas, mas de vendas, sem exigências maiores sobre a produtividade. Segundo Marx (1987, p. 175),

tanto o material do trabalho como o homem enquanto sujeito são, ao mesmo tempo, resultado e ponto de partida do movimento (e no fato de que têm de ser este ponto de partida reside justamente à necessidade histórica da propriedade privada). O caráter social é, pois o caráter geral de todo o movimento; assim como é a própria sociedade que produz o homem enquanto homem, assim também ela é produzida por ele. A atividade e o gozo também são sociais, tanto em seu

modo de existência, como em seu conteúdo; a atividade social

e gozo social. A essência humana da natureza não existe senão para o homem social, pois apenas assim existe para ele

como vínculo com o homem, como modo de existência sua para o outro e modo de existência do outro para ele, como elemento vital da efetividade humana: só assim existe como fundamento de seu próprio modo de existência humano. (Grifo do autor).

Mas, pouco a pouco, conforme explicita Lajugie (1979, p. 32), aumentam as dimensões das empresas artesanais e amplia-se o mercado. Passa-se, bruscamente, por imposição do mercado, de pequeno estabelecimento familiar a uma oficina que concentra um maior número de assalariados, avolumando-se os negócios e apela-se para os mercadores intermediários, que passam a comprar toda a produção, revendendo-a em outro mercado – nacional e internacional. É quando surgem as grandes feiras, congregando compradores e vendedores que passam a alimentar o comércio permanente em grandes períodos de tempo. O crédito, de acordo com Lajugie (1979, p. 33), começa a desenvolver-se. Surgem, então, bancos privados e grandes financistas que passam a ocupar lugares privilegiados nos poderes dos Estados e na política internacional. Posteriormente, no século XIV, surgem os bancos públicos que tiveram um papel fundamental na criação do papel-moeda; finalmente, surgem as bolsas, que se tornaram rapidamente centros ativos de transações sobre as moedas e os valores.

Sobre as relações de trabalho, a economia urbana, segundo Lajugie (1979, p. 34), embora não seja um regime inteiramente de coerções, de trabalhos forçados, é um regime de profissões fechadas e organizadas. O acesso à profissão não é livre. Os princípios do corporativismo medieval caracterizavam-se por uma estreita regulamentação profissional, que incidia sobre o comércio e a indústria. Havia a escolha dos misteres, o seu exercício e as relações entre patrões e obreiros. O exercício da profissão está, naquela época, segundo Lajugie (1979, p. 35), subordinado as regras limitadas, que fixavam as condições de produção (processos de fabricação, matérias-primas a utilizar) e os limites de cada profissão. As condições de trabalho se estabeleciam por relações entre empregadores e assalariados, regulamentadas pelas corporações. Seus dirigentes fixavam unilateralmente a duração do trabalho e os salários. As greves eram proibidas. Foi imposta à disciplina e regulação do tempo dos trabalhadores, que passou a regular a duração da jornada de trabalho, impondo rigorosa supervisão pelo patrão (detentor dos

meios de produção), às produções, que iniciaram a partir de processos que negavam aos trabalhadores a dimensão de totalidade dos processos provenientes de movimentos geradores dos produtos concretos.

Em uma breve transição, a esfera de organização do trabalho tratou de alterar os trabalhos tradicionais do artesão, que passou a ser dividido e subdivido e, então, cada parte isolada foi distribuída de modo a ser executada em série por um conjunto articulado de trabalhadores parcelados. Esse processo funda as bases da divisão do trabalho, que simplificou as operações dos trabalhadores, convertendo-as em movimentos elementares; a especialização e o aprimoramento das ferramentas propiciadas por aquela mesma divisão do trabalho facilitaram sobremodo a substituição dos instrumentos manuais pela máquina (OHLWEILER , 1987c, p. 23).

Do ponto e vista social, uma paralela evolução substitui as relações de acordo dos mestres e oficiais, por contatos mais densos e tão logo, hostis, gerados pelas seguintes determinações: 1. aumento da evolução técnica da indústria, gerando desentendimento entre empregadores e assalariados; 2. os mestres de ofícios tendem a constituir castas fechadas, criando obstáculos dos oficiais atingirem a mestria (cedida aos filhos e parentes); 3. acentua-se a incompatibilidade entre um regime corporativo estratificado egoísta e as necessidades de um regime móvel e progressista. As contradições de um regime infiel aos seus princípios caminham para a ruína. Vemos que nesse estágio das relações que sustentam a produção da existência, já nos encontramos longe da economia fechada da família primitiva ou do domínio feudal, ou segundo Lajugie (idem, p. 38), mas em plena economia da troca, ou mais exatamente, na fronteira entre a economia de necessidades e a economia de troca.

Segundo Lajugie (1979, p. 36), as forças de interesses manipulados pelos sentimentos religiosos são poderosas na Idade Média. Os repousos dominicais, impostos pela igreja, antes que a legislação civil com ele se preocupe, favorecem a possibilidade de um tempo disponível aos trabalhadores assalariados, para além do tempo de trabalho.

A rápida expansão do uso das máquinas a vapor originou grandes parques fabris, com novas frentes de produção: indústrias de produção de equipamentos ferroviários e barcos, que revolucionaram os meios de

transporte, bem como a indústria pesada de fabricação de máquinas e tudo isso exigindo uma grande extração da natureza de crescentes massas de ferro, carvão e outros minerais e materiais. E assim, afirmou a Inglaterra sua hegemonia industrial por meio de um determinado padrão tecnológico que gerou o caminho principal para aumentar a exploração do trabalhador assalariado, que favorecia ao capitalista (dono dos meios de produção). Com uma nova base técnica instituída pela máquina a vapor e pelo tear, configura- se o que tem se chamado de Primeira Revolução Industrial; a ciência e a tecnologia se tornam propriedades do capital, e assim o capitalismo passou a operar em sua base real.

Embora Marx (2002) reconheça em sua obra – O Capital - o advento do trabalho fabril como o limiar de uma nova era, não deixa de ficar profundamente apreensivo, com a introdução das máquinas-ferramentas no processo de trabalho. Destaca: “O instrumental de trabalho, ao converter-se em maquinaria, exige a substituição da força humana por forças naturais, e de rotina empírica, pela aplicação consciente da ciência” (Marx, 2002, p. 442). E acrescenta:

O capital faz o operário trabalhar, agora, não com a ferramenta manual, mas com a máquina que maneja os próprios instrumentos. Um primeiro exame põe em evidência que a indústria moderna deve aumentar extraordinariamente a produtividade do trabalho, ao incorporar as imensas forças naturais e a ciência ao processo de produção; o que não está claro, entretanto, é se essa elevada produtividade não se realiza a custa de maior dispêndio de trabalho. Como qualquer outro elemento do capital constante, as máquinas não criam valor, mas transferem seu valor ao produto, ela constitui um componente do valor do produto.

O que Marx reconhece é que na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve de ferramenta; na fábrica, serve a máquina. Do trabalhador, procede ao movimento do instrumental de produção que precisa ser ativado e acompanhado; na fábrica, eles se tornam complementos vivos de um mecanismo morto que existe independente deles (Marx, 2002, p. 482). As conseqüências imediatas da produção mecanizada sobre o trabalhador recaem na condição humana de se incorporar a esse organismo mecânico, que segundo Marx (2002, p. 451 - 466) gerou: 1. A apropriação pelo capital das forças de trabalho suplementares – o trabalho das mulheres e das crianças. A

força muscular sendo supérflua, a maquinaria permite o emprego de trabalhadores com membros mais flexíveis e assim, o capitalista utiliza o trabalho de mulheres e crianças. O trabalho obrigatório tomou lugar dos folguedos infantis e do trabalho livre realizado em casa regido pelos costumes das famílias; 2. Prolongamento da jornada de trabalho – a maquinaria sendo um instrumento que passa a aumentar a produtividade do trabalho, pela diminuição do tempo necessário à produção de uma mercadoria, é também, o meio mais potente para prolongar a jornada de trabalho em circunstâncias extenuantes, além dos limites estabelecidos pela natureza humana. Marx (2002, p. 260) coloca que “a maquinaria gera novas condições que capacitam o capital a dar plena vazão a essa tendência constante que o caracteriza, cria novos motivos para aguçar-lhe a cobiça por trabalho alheio”.

A maquinaria a serviço do capitalismo cria, para atender aos seus interesses, a tendência de efetivar sem medidas, o prolongamento do dia de trabalho, revolucionando os métodos de trabalho, o caráter do organismo de trabalho coletivo e as condições da existência humana relativas ao tempo e espaço de viver necessidades outras.

Ao promover o prolongar desmedido da jornada de trabalho, o capital, portanto, recruta camadas da classe trabalhadora que antes lhes era inacessível e ao dispensar trabalhadores substituídos pelas máquinas, produz a população trabalhadora excedente, que se torna compelida em toda e existência a submeter-se à lei do capital.

Segundo Marx (2006, p. 122),

na Idade Média os cidadãos de cada cidade eram obrigados a se unir contra a nobreza proprietária da terra, para preservar a própria pele. A ampliação do comércio, o estabelecimento de comunicações levou cidades isoladas a conhecer outras cidades, que tinham afirmado os mesmos interesses na luta contra idêntico antagonista. Das muitas corporações de habitantes de burgos nasceu, gradualmente a classe dos burgueses. As condições de vida de cada habitante dos burgos tornaram-se existente e do modo de trabalho determinado por este, condições comuns a todos eles independente de cada indivíduo. (...) Quando as cidades começaram a estabelecer associações, estas condições comuns evoluíram para condições de classe, as mesmas condições, o mesmo antagonismo, os mesmos interesses necessariamente geraram costumes semelhantes por toda a parte.

A revolução da base técnica permite ao capital a divisão e organização do trabalho85 de maneira a atender aos seus métodos, faz gerar a qualificação, mas também a desqualificação do trabalhador. Ocorre, assim, um reordenamento de todo a estrutura societária, acentuando um fosso entre as classes fundamentais86, no caso, a burguesia e o proletariado87, nos marcos do capitalismo liberal, onde a concorrência, baseada na liberdade de comércio e produção, encontra sua forma de regulação de mercado.

Deste contexto de realidade nasce à era da mais-valia absoluta, ou seja, aumento do prolongamento da jornada de trabalho, o que fazia o trabalhador exaurir suas forças, colocando no trabalho que lhe era estranhado, todas as suas condições vitais. Em condições adversas, os trabalhadores, homens, mulheres e crianças vendiam 16 a 18 horas diárias da sua força de trabalho. Nessas condições dadas, segundo Marx (2002, p. 201),

o proprietário da força de trabalho é mortal. Se tiver de aparecer continuamente no mercado, conforme pressupõe a contínua