• Nenhum resultado encontrado

AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS PRÁTICAS DO CASO EM ESTUDO

6 DO ACIDENTE DE TRABALHO EM OBRA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO NO BAIRRO DA JATIÚCA MACEIÓ

6.1 AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS PRÁTICAS DO CASO EM ESTUDO

Apesar de todos os relatórios, que apontavam a culpa da empresa e das audiências realizadas junto à PRT19, não foi possível se chegar a um denominador comum e a assinatura de um TAC – Termo de Ajuste de Conduta junto aquela procuradoria.

A Empresa alegava que o valor pedido a título de danos morais coletivos decorrentes de acidente de trabalho, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil

52 reais), eram exorbitantes, assim como a multa da cláusula penal no importe de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e ofertou R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) e multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) global e R$ 1.000,00 (mil reais) por trabalhador, o que foi recusado pela Eminente Procuradora Regional do Trabalho, Dra. Carla Pereira Cruz da Silva, que ingressou com Ação Civil Pública em face da empresa e do Estado, tombada sob nº 0000362-07.2018.5.19.0005.

Nesse ínterim, os espólios dos obreiros vitimados no sinistro já haviam ingressado com uma Reclamação Trabalhista tombada sob nº 0000108- 37.2018.5.19.0004, que resultou na homologação de um acordo entre as partes, segundo o qual a empresa pagaria a cada herdeiro o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), incluindo-se nesse montante todas as verbas rescisórias decorrentes do evento morte do obreiro por acidente de trabalho.

A ACP proposta pela PRT19 também resultou em acordo homologado segundo o qual a empresa se comprometeu em pagar R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) a título de danos morais coletivos, em 24 (vinte e quatro) parcelas mensais iguais a R$ 20.833,34 (vinte mil, oitocentos e trinta e três reais e trinta e quatro centavos) em conta judicial, sendo a primeira parcela paga em 28/02/2019 e a última em 31/01/2021, com cláusula penal no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por descumprimento do acordo que prevê a aplicação integral da NR33. O acordo prevê ainda a majoração da cláusula penal para R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) em caso de descumprimento que resulte em acidente de trabalho, duplicada se resultar em lesão grave ou gravíssima e triplicada se ocorrer o evento morte.

Apesar dos valores pagos pela empresa, o Estado encontra-se completamente alheio a esses acordos homologados, não lhe cabendo qualquer responsabilização, apesar de ser o tomador de serviço e, portanto, fiscal direto da execução dos serviços que levaram a óbito dois obreiros inocentes. O certo é que dois obreiros, pais, filhos e irmãos, perderam suas vidas pela negligência da empresa que deixou de cumprir com as normas trabalhistas e auferiu considerável lucro em suas atividades quando deixou de fornecer o equipamento mínimo necessário à manutenção da vida de seus trabalhadores.

53 Conforme estudado acima, é notória a responsabilidade pelos acidentes ocorridos no ambiente de labor, a responsabilização perpassa tanto pelos terceirizados como pelo tomador de serviços. Pois, o ordenamento jurídico existente tem seguidos a mesma lógica, a de amparar o trabalhar pelos infortúnios ocorridos no ambiente de trabalho.

Sendo assim, é crescente o uso da terceirização pela máquina pública no país, tendo como um dos maiores objetivos a redução dos gastos públicos e a eficiência dos serviços prestados pelos terceirizados à população. No entanto, o uso de serviços terceirizados não redime o Ente Público de possíveis indenizações referentes aos acidentes de trabalho ocorridos nas empresas terceirizadas.

Desta forma, como citado acima, a ideia de imputar ao empregador a obrigação de ressarcir os empregados pelos danos sofridos, pois a empresa é a primeiro a ser favorecida pela realização das atividades desenvolvidas pelo empregado no ambiente laboral. Sendo assim, também visualizamos que o tomador de serviço se beneficia com trabalho do outro, sendo assim coerente a responsabilização pelos danos sofridos pelo trabalhador.

Diante do exposto, entendemos que é obrigação da empresa em propiciar ao trabalhador um ambiente benéfico, sadio, fora de qualquer risco, e desta forma proporcionado um ambiente totalmente salutar, para saúde do empregado. Devendo assim o empregador seguir as normas regulamentadoras, que preconizam o uso de instrumentos que possam proporcionar um ambiente sadio e protegido para o empregado, contudo não foi notório na empresa estudada, que por não cumprir efetivamente os dispostos legais ocasionou o evento lamentável.

Sendo assim, os acidentes de trabalho continuam acontecendo, como, por exemplo, doenças que lesionam o trabalhador, doenças da exposição de agentes maléficos a saúde, acidentes que acarretam até a morte. Tudo isto poderia ser evitado ou minimizado se o empregador utilizasse de forma correta e regular os elementos de proteção ao trabalhador.

Consequentemente, defendemos a responsabilização da empresa quanto aos prejuízos causados ao trabalhador, por sua negligência, no tocante as normas de proteção do trabalhador, como também a responsabilização subsidiária do Ente Público, por compreender que é obrigação deste não somente em contratar a

54 empresa terceirizada, todavia fiscalizar para que se faça cumprir os dispositivos legais de segurança, evitando assim que acidentes e doenças do trabalho não venham ceifar a vida de outrem. Pois o Ente Público tem o dever de fiscalizar os serviços prestados pela terceirizada, como também fiscalizar os pagamentos das verbas trabalhistas, dando segurança à tomadora de serviços em relação a possíveis ações trabalhistas.

Em consequência, se o tomador de serviço escolher uma empresa que ofereça um ambiente de trabalho seguro para os trabalhadores e uma efetiva fiscalização tanto nos serviços prestados quanto no pagamento de encargos sociais, o Poder Público será beneficiado, pois deixará de responder por inobservância das cláusulas contratuais

REFERÊNCIAS

ALAGOAS. Ministério Público do Trabalho em Alagoas - PRT 19ª Região - Procuradoria Regional do Trabalho da 19º Região. Relatório de Inspeção – (IC): 116.2018.19.000/0-24. Maceió, 2018.

BARROS, Alice M. Curso de Direito do Trabalho. 5 ed. São Paulo: LTR, 2009. BOSKOVIC, Alessandra Barichello. Acidente do Trabalho: conceito e espécies. Disponível em: http://www.dallegrave.com.br/artigos1.asp?id=30. Acesso em: 01 nov. 2018.

BRASIL. Código civil (2002). 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

BRASIL. Constituição Federal 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 abr. 2018.

BRASIL. Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/del5452.htm. Acesso em: 16 abr. 2019.

BRASIL. Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm. Acesso em: 16 abr. 2018.

BRASIL. Lei nº 8.212 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível

55 em: http//www.planalto.gov.br/SISLEX/pagina/42/1991/8213.htm. Acesso em: 11 out. 2018.

BRASIL. Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 16 abr. 2019. BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 16 abr. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Portal da Saúde, Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde - RENAST. Centro de Referência à Saúde do Trabalhador (CEREST). Brasil: Ministério da Saúde, 2013.

BRASIL. Ministério do Trabalho e do Emprego, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho (FUNDACENTRO). Brasil: Ministério do Trabalho e do Emprego, 2018.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho. NR 1 Disposições Gerais Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em: 11 out. 2018.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho. NR 5 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Disposições Gerais. Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em: 11 out. 2018.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho. NR 6 Equipamento de Proteção Individual. Disposições Gerais Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em: 11 out. 2018. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho. Manual de auxílio na interpretação e aplicação da norma regulamentadora n. 35 - trabalhos em altura: NR-35 comentada. Brasília: SIT/DSST, 2012.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 33 - Espaço Confinado Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2018. Disponível em:

http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR33.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2018.

BRASIL. STF, Pleno, RE 760.931/DF DJe

2/5/2017. Disponível em: https://portal.trt3.jus.br/internet/jurisprudencia/incidentes- suscitados-irdr-iacarginc-iuj-trt-mg/downloads/IUJ/Acordao_0011608.pdf .Acesso em: 13 out. 2018.

BRASIL. STF, Pleno, RE 958.252/MG, rel. min. Luiz Fux, j. 30/8/2018. Disponível em:

56 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProce

sso.asp?incidente=4952236&numeroProcesso=958252&classeProcesso=RE&numer oTema=725 >. Acesso em: 13 out. 2018.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista 18719-

48.2010.5.04.0000. 1ª T. Relator Ministro. Vieira de Mello Filho. DJ 30/09/2011. . Disponível em:

http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1807 3&revista_cadern o=25. Acesso em: 13 out. 2018.

BRASIL. TRT-3 - Recurso Ordinario Trabalhista RO 00063201309703002

0000063-65.2013.5.03.0097 (TRT-3) Data de publicação: 13/06/2016. Disponível em https://trt-3.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/349186460/recurso-ordinario-trabalhista- ro-63201309703002-0000063-6520135030097. Acesso em: 13 out. 2018.

BRASIL. TST - RR: 793017720045150045 79301-77.2004.5.15.0045. Relator: Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 15/08/2012, 6ª Turma. Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/431860477/recurso-de-revista-rr-

3551620145020009/inteiro-teor-431860524?ref=juris-tabs. Acesso em: 13 out. 2018. CAIRO JÚNIOR, José. O acidente do trabalho e a responsabilidade civil do empregador. 4. ed. São Paulo: LTr, 2008.

CAMPOS, Armando Augusto Martins. CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes: uma nova abordagem. São Paulo: Senac. 2004.

EHRHARDT JÚNIOR, Marcos. Em busca de uma teoria geral da responsabilidade civil. Publicado em: 12/03/2014. Disponível em:

http://www.marcosehrhardt.com.br/index.php/artigo/2014/03/12/em-busca-de- umateoria-geral-da-responsabilidade-civil. Acesso em: 10 abr. 2019.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Método, 2008.

GOMES, Elaine. Terceirização de serviços na administração pública à responsabilidade da administração pública pelos débitos trabalhistas inadimplidos pelo empregador em face dos empregados nos contratos de terceirização. 2013. Disponível em:

http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/2256/Monografia_El aine%20Cristina%20Gomes.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 16 abr. 2019.

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 12. ed., São Paulo: Saraiva, 2008.

MINISTÉRIO DO TRABALHO e Emprego Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Estado de Alagoas – SRTE/AL. Análise de Acidente do Trabalho. 2018. N. do RI 30287263-9. Disponível em:

http://prt19.mpt.gov.br/servicos/movimentacao-de-procedimentos. Acesso em: 18 abr. 2019.

57 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenização por acidente do trabalho ou

doença ocupacional. 5 ed. São Paulo: LTr, 2009.

PANTALEÃO, Sergio Ferreira. EPI - Equipamento de Proteção Individual - não basta fornecer é preciso fiscalizar. Atualizado em 11/01/2019. In: Guia trabalhista.

Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/epi.htm. Acesso em: 23 abr. 2019.

PEREIRA, Carlos André Studart. Da responsabilidade do Estado e seus contratado em caso de realização de obras públicas realizadas em rodovia federal. In:

Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 03 dez. 2013. Disponível em:

http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.46022&seo=1. Acesso em: 14 maio 2019.

PINTO, Helena Elias. Responsabilidade civil do Estado por omissão. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

SILVA, Marcelo Gonçalves da. A generalização da terceirização. O Projeto de Lei 4330/2004. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 123, abr. 2014. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo _id=14695&revista_caderno=25. Acesso em: 23 abr. 2019.

SILVA, Margarete Gomes de Oliveira. Terceirização no âmbito do serviço público federal: obrigatoriedade contratual das terceirizadas treinarem seus funcionários. 2005. Disponível em:

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/141084/Margarete%20Gomes% 20de%20Oliveira%20Silva.pdf?sequence=4. Acesso em: 16 abr. 2019.

SILVA, Nilson Amaral. A Responsabilidade civil do empregador nos acidentes de trabalho. 2012. Disponível em: http://ftp.unipac.br/site/bb/tcc/tcc-

3c279a96cb97fc484bb7274104b6509b.pdf. Acesso em: 16 abr. 2019.

SOTO, Leila Mirian Pinheiro. Responsabilidade civil do tomador de serviço nos acidentes de trabalho. 2009. Disponível em:

https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/download/587/425. Acesso em: 10 abr. 2019.

TEIXEIRA, Márcia Cunha. A invisibilidade das doenças e acidentes do trabalho na sociedade atual. In: Revista de Direito Sanitário, v. 13, n. 1, p. 102-131, Mar./Jun.2012. São Paulo: USP, 2012.

TNH1 MACEIÓ. Homem morre e outro desaparece após acidente em galeria de esgoto. Publicado em: 27/01/18 - 12h46. Disponível em:

https://www.tnh1.com.br/noticia/nid/homem-morre-e-outro-desaparece-aposacidente- em-galeria-de-esgoto/. Acesso em: 19 abr. 2019

58 Análise do Acidente elaborada pelos técnicos do Ministério do Trabalho e do Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador de Maceió

Ao realizar a Análise de Acidente do Trabalho emitida pelo auditor do Ministério do Trabalho e do Centro de Referência em saúde do Trabalho – Cerest Regional Maceió constou-se que:

1 Curso e Treinamento na empresa: Os funcionários não tiveram treinamento na sua função e sobre Saúde e Segurança no Trabalho - SST. 2 Atestado Médico Ocupacional: Foi constatado que possuíam ASO admissional, periódicos conforme preceitua seu PCMSO. Porém, não havia no PCMSO e nem nos ASO qualquer tipo de informação sobre exames complementares específicos para empregados que façam intervenção em espaço confinado.

3 Descrição do local do acidente: Trata-se de um Poço de Visita em via pública para recebimento de esgoto.

4 Preservação do Local do Acidente: Devido ao fluxo constante de água no local e o risco de entrar neste local confinado, não foi possível extrair informações mais precisas sobre a dinâmica do acidente.

5 Descrição do Local do Acidente: Trata-se de poço de visita de esgoto, em