• Nenhum resultado encontrado

IMPLEMENTAÇÃO DA PESQUISA

3.3. Pressupostos da Lingüística Aplicada

3.3.1. As diferenças individuais do aprendiz

Uma breve observação de um grupo de aprendizes de língua estrangeira já seria suficiente para se constatar que, mesmo num grupo homogêneo (mesma faixa etária) há um desenvolvimento lingüístico distinto para cada aprendiz. Até que ponto as diferenças individuais, entre as quais a idade está incluída, fazem com que os aprendizes progridam por caminhos diferentes de desenvolvimento na aprendizagem de uma língua estrangeira ainda não está claro. Também não há consenso se existe uma única diretriz de desenvolvimento à qual todos os aprendizes seguem. As diferenças individuais simplesmente refletem quão rapidamente, ou até que ponto distinto, aprendizes específicos progridem por um mesmo caminho comum (LITTLEWOOD: 1999).

Segundo Littlewood (Op. cit), existem dificuldades na investigação das causas das diferenças. Diferentes critérios têm sido usados para definir e medir proficiência numa L2/LE. Fatores não-lingüísticos que consideramos propensos a afetar a aprendizagem lingüística nem sempre podem ser medidos. Mesmo que os vários testes existentes fossem satisfatórios e apontassem uma correlação entre proficiência e um fator não-lingüístico, não há ainda como saber se uma relação direta entre causa e efeito esteja envolvida. Ainda, mesmo se tal relação existir, é difícil definir qual fator é a causa e qual é o efeito, uma vez que um fator tende a influenciar o outro.

Littlewood (Op. cit) considera as diferenças individuais como um conjunto de fatores que fazem com que algumas pessoas sejam melhores que outras na aprendizagem de línguas e as classifica em motivação, oportunidade e habilidade para aprendizagem.

Para ele, a natureza da motivação determina se o aprendiz se envolverá em uma tarefa ou não, quanta energia ele devota a ela e por quanto tempo ele persevera na aprendizagem. Inclui a força individual, a necessidade de sucesso e rendimento, a curiosidade e o desejo de estímulo e novas experiências. A necessidade comunicativa e as atitudes em relação à comunidade da segunda língua ou língua estrangeira seriam os fatores mais importantes na aprendizagem de uma língua.

As oportunidades de aprendizagem também influenciam na aprendizagem de uma língua estrangeira, especialmente se tomarmos um aprendiz motivado como padrão. Entre o que

Littlewood considera como oportunidade de aprendizagem, ele apresenta quatro aspectos da influência sobre a proficiência: as oportunidades que existem para o uso da LE/L2, o clima emocional das situações de aprendizagem, o tipo de língua a qual o aprendiz é exposto e os efeitos da instrução formal.

As habilidades que fazem com que alguém aprenda um idioma estrangeiro incluem fatores cognitivos, personalidade e idade.

Ellis (1994) classifica as diferenças individuais em fatores gerais e pessoais. Os fatores pessoais são características idiossincráticas. São heterogêneos por definição. O autor agrupa esses fatores em dinâmicas de grupo, atitude em relação ao professor e técnicas individuais de aprendizagem. A ansiedade e a competitividade entram nas dinâmicas. Os resultados da análise da competitividade em diferentes aprendizes de línguas de Baley (1983 apud ELLIS, Op. cit), mostram que, de acordo com o modelo apresentado, a auto-imagem do aprendiz em comparação com outros aprendizes pode tanto prejudicar quanto melhorar a aquisição da segunda língua. Quando a comparação resulta em uma auto-imagem negativa, pode haver ansiedade prejudicial ou benéfica. Quando ela é prejudicial, os aprendizes podem reduzir ou abandonar os esforços de aprendizagem. Quando ela é benéfica, eles aumentam os esforços a fim de se compararem mais favoravelmente com outros aprendizes de forma que a aprendizagem é melhorada. Quando a comparação resulta em uma auto-imagem positiva, isso funciona como estímulo e ele continua a mostrar esforço e melhorar cada vez mais a aprendizagem.

As atitudes em relação ao professor e ao material didático parecem divergir de acordo com o estilo de cada aprendiz. Ao passo que alguns preferem professores que dão espaço aos alunos, outros preferem aqueles que estruturam as tarefas de aprendizagem de uma maneira mais rígida. Ainda há aqueles que preferem ver o professor como o informante sistemático, metódico. Ainda, alguns aprendizes parecem conseguir lidar com a pressão externa, outros, não. De uma forma geral, portanto, parece haver uma tendência da necessidade dos aprendizes simpatizarem com o professor e que este deva, em certa medida, predizer o que deve ser feito. Em relação aos materiais didáticos, parece haver uma resistência por parte dos adultos a terem um livro-texto imposto. Preferem ter uma variedade de materiais e a oportunidade de usá-los de uma maneira individualizada. As técnicas individuais de aprendizagem consistem em diferentes estratégias utilizadas por diferentes aprendizes com um único objetivo. Por exemplo, para reter vocabulário,

alguns aprendizes recorrem a listas, outros, a associação de palavras com o contexto ou a prática do vocabulário o máximo possível.

Os fatores gerais são variáveis características de todos os aprendizes, que podem ser modificáveis (a motivação, por exemplo) e não-modificáveis (a aptidão, por exemplo). Possui uma dimensão social que é externa em relação ao aprendiz e que pode corresponder tanto à relação aprendiz-nativo quanto à relação aprendiz e outros falantes de sua língua materna. Outra dimensão dos fatores gerais é o aspecto cognitivo, que é interno. Diz respeito à natureza das estratégias de resolução de problemas usadas pelo aprendiz. Outra dimensão, a afetiva, também é interna ao aprendiz. Está relacionada com as respostas emocionais apresentadas pelas tentativas de aprender uma LE/ L2. Todos os fatores gerais envolvem, em graus diferentes, dimensões sociais, cognitivas e afetivas e formarão o estilo de aprendizagem de línguas. São complexas e difíceis de definir. A aptidão, por exemplo, é primeiramente cognitiva, mas envolve aspectos afetivos e sociais; a personalidade é basicamente afetiva, mas também social e cognitiva. A idade, de acordo com Ellis, envolve os três aspectos, que são igualmente relevantes.