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IMPLEMENTAÇÃO DA PESQUISA

1: nota 8 2: nota 7 3: nota 2 4: nota 6 5: SRO

4.1.3. Outras descobertas e constatações

4.1.3.1. O conceito de envelhecimento das alunas e o reflexo na aprendizagem

Nossas leituras em Gerontologia Social e o fato de que a forma de envelhecimento da geração contemporânea estar mudando fez surgir uma questão intrigante: haveria alguma influência entre a concepção de envelhecimento do aprendiz e seu desempenho na aprendizagem de LE?

A Gerontologia Social indica que a concepção de envelhecimento é idiossincrática e isso também pudemos constatar. Quando perguntamos às alunas como elas encaravam o processo de envelhecimento obtivemos as seguintes respostas:

Aluna- participante

Respostas da pergunta 8 do QA: Como você encara o processo de envelhecimento?

A1 Com muita tranqüilidade. Às vezes até esqueço a idade que tenho. A2 Com naturalidade. Uma fase importante em nossas vidas.

A3 Encaro como um processo normal, em que devemos ir aprendendo a desapegar dos bens materiais, assim como das pessoas que estão ao nosso redor.

A4 Encaro o processo de envelhecimento com a maior naturalidade, pois para não envelhecer só há uma solução, é morrer jovem.

A5 Encaro com naturalidade e como uma etapa da vida, sendo a última. Também encaro com realidade, com alegria e muito amor no coração. É uma etapa que temos que manter a vida ativa. (Grifo nosso)

A6 Declaro normal, muito bem. A7 Normal.

A8 Maravilhosamente.

A9 “Eu acho normal. Estou bem com saúde e com a memória.” (sic) Quadro 4.9: respostas à pergunta 8 do QA.

O conceito individual é importante para a autovalorização. Tal conceito faz parte da afetividade e da diferenças individuais do aprendiz, apontadas pela LA como importantes no ensino/aprendizagem de LE. É possível ainda que de acordo com o ponto de vista adotado, a forma de a pessoa encarar a vida (velhice como etapa vital) determine até que ponto ela se envolverá em uma atividade de aprendizagem. O que pudemos constatar em nosso estudo, foi que

as alunas-participantes possuem uma concepção positiva, porém realista, do processo de envelhecimento e buscam em atividades como a aprendizagem de um idioma estrangeiro conservar a vitalidade dessa fase da vida.

Com base na pergunta anterior, indagamos as alunas se elas acreditavam se existiria alguma relação entre a sua concepção de envelhecimento e o seu desempenho em atividades de aprendizagem do espanhol. Observamos que houve um mal-entendimento da pergunta pela maioria das participantes. Percebemos que a maioria entendeu concepção de envelhecimento, que é particular, por processo de envelhecimento. Por se tratar de uma questão secundária em nosso trabalho, decidimos não refazer a pergunta nas entrevistas. As respostas foram as seguintes:

Aluna- participante

Respostas da pergunta 10 do QA: Você acredita que exista uma alguma relação entre a sua concepção de envelhecimento e o seu desempenho em atividades de aprendizagem do espanhol?

A1 Não apesar de ter que me esforçar mais para que uma pessoa mais jovem, pois talvez em decorrência da idade, às vezes a memória me falha.

A2 Será? Não acredito no envelhecimento do poder do conhecimento, no entanto sei que por ter várias atividades tenho pouco tempo para dedicar-me. Acredito que continuamos com grande capacidade. (Grifo nosso)

A3 Acho que sim. Porque hoje gosto de me sentir desafiada a realizar algo. (Grifo nosso)

A4 Não. Eu acho que se estudasse mesmo pra valer, eu aprenderia mais do que quando eu era mais jovem. Devido à experiência que já tenho em todas as áreas da vida.

A5 Creio que não. O corpo envelhece, mas a mente não. Por isso continuo estudando e aprendendo espanhol, mesmo porque gosto muito. (Grifo nosso)

A6 Não, nenhuma.

A7 Não.

A8 Não. Nada

A9 Acredito sim.

Quadro 4.10: respostas à pergunta 10 do QA

As repostas acima e um comentário adicional de A5 no questionário revelam que elas não vêem nenhum empecilho em continuar se envolvendo em atividades intelectuais:

(QA - A5)

“É bom que as pessoas procurem sempre fazer o que gostam independente de qual seja a idade.”

Tivemos também a curiosidade de perguntar se as participantes consideravam ofensivo ser chamado pelo termo “velho”, “idoso” ou “terceira idade”, como elas gostariam de ser chamadas e por quê. Essa pergunta visava a entender até que ponto a crença de que os termos citados são realmente pejorativos ou é só uma questão de visão. Em Gerontologia, por exemplo, o termo velho é usado desprovido de qualquer conotação pejorativa, mas em outros contextos, pode ser afrontoso. As respostas indicam que é uma questão subjetiva. As respostas indicam que o mais importante é a forma como o termo é utilizado e não o termo em si. Uma das alunas, inclusive, citou a popular gíria usada pelos jovens (do Distrito Federal, pelo menos), “velho” ou “véi”, como exemplo de que o termo “velho” nem sempre é insultuoso. No dia-a-dia de quem lida com pessoas da terceira idade, a forma de tratamento correta pode evitar embaraços e ofensas. Porém, cabe a cada profissional descobrir como cada grupo ou pessoa reage a certos termos e usar a forma mais conveniente.

Aluna- participante

Respostas da pergunta 9 do QA: Você considera ofensivo ser chamado pelo termo “velho”, “idoso” ou “terceira idade”? Como você gostaria de ser chamado? Por que?

A1 Não considero ofensivo, desde que o chamamento seja feito com respeito e não em tom pejorativo.

A2 Considero a palavra “velho” pejorativo para um ser humano. “Idoso” ou “Terceira Idade” fica melhor. Gostaria de ser chamada pelo meu nome.

A3 Não, não considero ofensivo. Acho que “idoso” soa melhor.

A4 Não. Posso ser chamada de “velha”, “idosa” ou “Terceira Idade”. Porque todos estes adjetivos são apropriados para a minha idade.

A5 Gostaria mais do termo: “mais vividos”. Na realidade, os termos que usam não me ofende e não altera nada minha vida.

A6 Nenhuma me ofende.

A7 Não. Mas ser chamado “Terceira Idade” acho mais elegante. A8 Não, de maneira alguma.

A9 “Estou contente em ser velha, gostaria que me chamasse de velha ou idosa. Porque acho normal envelhecer, ser velha.”

Quadro 4.11: Respostas à pergunta 9 do QA

As alunas participantes desta pesquisa são pessoas positivas, bem-humoradas e de bem com a vida. Estão envolvidas em outras atividades sócio-culturais, como A5, que faz parte de dois grupos de terceira idade e afirmou estar na melhor fase de sua vida.

4.1.3.2: A importância das relações afetivas no processo/ ensino aprendizagem de LE para a terceira idade

Embora uma das perguntas de pesquisa deste trabalho inclua o tema da afetividade (“os motivos”), descobrimos que a questão da afetividade é muito marcante em se tratando de aprendizes da terceira idade. Desde os motivos para se aprender um idioma estrangeiro até como isso irá se processar em sala de aula, passamos constantemente por questões afetivas. Isso foi averiguado de forma ainda mais intensa através dos dados coletados com os professores (seção 4.2). Aliás, como vimos no capítulo 3, a Lingüística Aplicada ressalta a importância das relações afetivas no processo ensino/aprendizagem.

Aluna- participante

Respostas da pergunta 7 do QA: Quais são as suas impressões/ sentimentos sobre as suas aulas de espanhol?

A1 As aulas são ótimas. Considero-as como um lazer, além de aumentar nossos conhecimentos, funcionam como um relaxamento. (Grifo nosso)

A2 Tenho excelente impressão, pois são aulas onde ficamos bem à vontade com o professor.

A3 As aulas e também o professor me agradam muito.

A4 Gosto muito das minhas aulas de espanhol, pois gosto muito dos meus professores. Acho eles muito compreensivos e competentes.

A5 Gosto muito das minhas aulas de espanhol, e estou aprendendo bem a língua espanhola. O ambiente é tranqüilo e somos um grupo bastante alegre.

A6 Boas. A7 Boa. A8 Ótimas.

A9 Para mim as aulas de espanhol são boas. (sic) Quadro 4.12: Respostas à pergunta 7 do QA

4.1.3.3. A função da família

Embora algumas das alunas afirmem que sua família não teve nenhuma influência na decisão de estudar uma LE, vimos na seção 4.1.1, sobre os motivos das alunas estarem estudando uma LE, que em alguns casos há uma influência. O caso de A4, que pretende se comunicar melhor com os parentes de sua futura nora; A7, cujo filho mora na Espanha e A9, que pretende usar seus conhecimentos na LE em viagens familiares. Durante as aulas observadas constatamos que uma dos temas mais recorrentes é a família. Algumas das alunas-participantes afetivamente afirmam possuir o apoio e incentivo da família para estudar uma LE, o que pode ser observado no quadro 4.12:

Aluna- participante

Respostas da pergunta 11 do QA: A sua família desempenha/ desempenhou algum papel na sua decisão de estudar uma língua estrangeira?

A1 Não. Todo interesse partiu de mim e de uma grande amiga que me incentivou. A2 Não. Sempre desejei dedicar-me a estudar língua, mas faltava-me tempo. Tinha

outras prioridades.

A3 Não. É uma coisa que vem da minha adolescência. 11-17 anos: estudei inglês; 19- 22: estudei inglês; 18-19: estudei alemão; enquanto trabalhava: estudava inglês e lia em espanhol; dos 45 até hoje: estudo espanhol; dos 50 até hoje: estudo francês. A4 Não. Eles nem sabiam que eu tinha me matriculado no curso de espanhol, quando

comecei a estudar. Contudo, ficaram, muito felizes quando souberam, principalmente a minha filha. (Grifo nosso)

A5 Não. Estudo línguas estrangeiras porque gosto e também porque viajo não só no Brasil como no exterior. Portanto, torna-se necessário saber uma língua estrangeira.

A6 A minha filha. (Grifo nosso)

A7 Não. Como decidi, minha família me incentiva muito. (Grifo nosso) A8 Não.

A9 Não eles nem sabe que estudo espanhou. (sic)Quero fazer uma surpresa para eles. Talvez, viajo para Estados Unidos e lá almoçaria num restaurante espanhou. (sic) Isto é a surpresa. Pedirei um almoço espanhou. (sic). (Grifo nosso)

Quadro 4.13: Respostas à pergunta 11 do QA