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As escolas de formação de professores e o paradigma da escola tradicional

Ball (1994) evidencia que uma educação infantil de qualidade produz efeitos positivos sob o ponto de vista social e educacional em todas as crianças, mas refere que para que isso aconteça, se deve considerar, conjuntamente com o papel dos pais e com a natureza do currículo, a qualidade dos profissionais: “ the calibre and training of the

professions involved in childcare and early learning are the key determinant of high- quality provision”.

Ao reflectirmos sobre a importância da educação infantil compreendemos a superior importância de que se reveste a formação de professores. Parece-nos claro o desafio das escolas actuais ao exigirem que os jovens sejam versáteis, acima de tudo mestres na arte de aprender. Mas, segundo Cabral (2004) a escola tradicional não está habilitada a fazê-lo. Centralizada no ensino e baseada essencialmente na transmissão de conhecimentos/conteúdos, a escola tradicional não se coaduna com a formação de profissionais da aprendizagem.

Este investigador, pretendendo chamar a atenção de todos os agentes da acção educativa para a necessidade de uma reforma, apresenta os pressupostos segundo os quais se baseia o ensino tradicional. Considera ele três pressupostos fundamentais:

“1 – Na sala de aula existem dois tipos distintos de pessoas: as que sabem – os

professores, e as que nada sabem – os alunos;

2 – Os alunos são vistos como recipientes vazios prontos a serem enchidos pelos professores;

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3 – O ensino e a aprendizagem, sobretudo a nível secundário e superior, são dimensionados pelos conteúdos a serem transmitidos, existindo assim uma grande barreira entre o elemento activo e trabalhador – o professor, e o elemento passivo e receptor - o aluno. A criança, o adolescente, o adulto-aluno são assim vistos como seres a serem moldados, enformados, doutrinados nos saberes e práticas que constituem o programa de estudos." (p:8)

Esta visão de Cabral (2004) aponta para a formação de profissionais concebidos para um mundo do trabalho estável e prescrito. Alerta-nos, no entanto, para a realidade de que o mundo hoje tem características completamente diferentes, exigindo profissionais pró-activos. Se esta é uma realidade em todas as profissões, ela é ainda mais premente no ensino. Na formação de professores a visão tem de ser efectivamente activa, dinâmica, revolucionária no sentido lato do termo. Ensinar pressupõe uma constante reflexão sobre práticas que não têm somente efeito imediato: os nosso alunos serão os futuros professores e por isso cada vez mais a necessidade de ensinar tendo como base, não os conteúdos mas os valores.

Nas Escolas de Formação é urgente que os profissionais que formam os futuros professores tenham uma postura diferente daquela que protagonizava Montaigne. Pensamos que as estratégias devem ser adequadas e o ritmo do aluno deve ser respeitado. Montaigne dizia: “ O nossos professores nunca cessam de gritar aos nossos

ouvidos, como se estivessem a deitar água por um funil, e a nossa única tarefa é repetir o que nos foi dito. Quereria que o professor mudasse de prática, e desde o princípio, de acordo com a capacidade da mente entregue ao seu cuidado, começasse a exercitá-la, conduzindo-a a novas experiências, deixando-a escolher e discernir por ela própria: uma vezes aclarando-lhe o caminho, outras deixando-a encontrar o seu próprio caminho. Não quero que o professor pense e fale sozinho; quero que ele ouça o seu aluno, falando depois.” (Montaigne,citado por Cabral 2004, p:11)

Pensamos que o papel das escolas de formação de professores deve ser pioneira nas reformas do ensino de forma a que os futuros professores possam ir cada vez mais sensibilizados e treinados para estes objectivos e proporcionar aos seus alunos, em tenra idade uma visão larga e abrangente da realidade, permitindo-lhe a constante reflexão sobre a realidade e a capacidade de a alterar. Pérez (1999) diz, referindo-se ao ensino da linguística nas escolas que, se deve ensinar linguística ao mesmo tempo que se desperta nos alunos a curiosidade pelos fenómenos comunicativos considerados na sua

Um Novo Olhar Sobre o Método de Leitura João de Deus

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diversidade e realidade. Esta temática, como qualquer outra, deve ser sempre associada às vivências dos alunos, levando-os a uma reflexão sobre as diferentes áreas de aprendizagem. Quer isto dizer que, quando se ensina uma língua e a sua estrutura a futuros professores devemos partir de enfoques comunicativo-funcionais repeitando a natureza interindividual das línguas. A referida autora diz ainda que as línguas actuam como intérpretes da realidade, das experiências e dos fenómenos extralinguísticos. E isto é verdade porque são compostas pelos elementos que representam essas realidades que são os signos linguísticos. Assim, quanto melhor preparados estivererem os futuros educadores e professores nesta área tão impostante do desenvolvimento das crianças, melhor será o seu dsempenho do desenvolvimento da proficiência leitora.

Para Sim-Sim (2001) “ensinar a ler eficazmente implica possuir um nível

elevado de conhecimento da língua em que se ensina a ler, o professor deve ter uma sólida compreensão dos conceitos que subjazem ao desenvolvimento de competências que resultam de processos de aquisição natural e espontânea, como são a compreensão e a expressão oral, e dos processos e estratégias pedagógicos que devem enformar a aprendizagem da competências secundárias, como são a leitura e a expressão escrita

Quanto mais forem informados e formados, os professores e todos os profissionais de educação mais estarão capacitados para delinear e desenvolver estratégias apropriadas às características e conhecimentos de cada criança, desta forma serem capazes de promover uma aprendizagem de competências literácitas mais sólidas e produtivas.

Nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, (1997, p:15,16), podem ler-se os grandes objectivos nacionais para a educação em Portugal

- Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança…;

- Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade das culturas…;

- Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola…;

- Estimular o desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas características individuais …;

- Proporcionar à criança ocasiões de bem-estar e de segurança…;

- Incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de efectiva colaboração com a comunidade

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Então diremos, subscrevendo Cabral (2004, p:13) “ É difícil a uma escola

tradicional atingir estes objectivos. Urge transformá-la.”

Após a análise destes trabalhos, podemos concluir que é grande a preocupação dos investigadores quanto ao papel da escola e dos outros parceiros sociais, como são pais, os professores e as instituições escolares, na aquisição da leitura e da escrita das crianças em idade escolar ou pré-escolar. Encontramos relações entre o insucesso escolar e o fraco desempenho em leitura. Será importante a forma como se aprende a ler? Qual o método mais eficiente? Como se processa a aquisição desta competência? De que forma o Método de Leitura João de Deus pode contribuir para esta temática?

Sabendo que mais importante que o método é o modelo usado no processamento da leitura que cada aluno faz e que influencia a sua capacidade leitora, iniciamos o próximo capítulo sobre os Modelos de Leitura e de uma forma global abordaremos as características dos métodos a eles subjacentes.

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