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AS ESCOLAS PÚBLICAS EM PRINCESA/PB: FORMAS DE ESCOLARIZAÇÃO /1920-

Neste capítulo, apresentamos as escolas públicas primárias que funcionaram no município de Princesa entre os anos de 1920 e 1930. Nesse período, a instrução primária dessa localidade era ministrada em cadeiras isoladas elementares, rudimentares e em um grupo escolar.

As cadeiras isoladas eram escolas de classe única, sem seriação e nomeadas de acordo como lugar onde ficavam: elementares, se localizadas nas cidades; rudimentares, nas vilas, nos distritos e nas povoações, apesar de, no período estudado, a instrução em Princesa contar com essas duas formas de escolarização: as escolas isoladas e o grupo escolar. Para este estudo, priorizaremos a análise sobre as cadeiras isoladas, foco da nossa pesquisa, que eram bem mais numerosas que os grupos escolares e, no caso de Princesa, instruíram a maioria da população, poiseram espalhadas por todo o território, o que facilitava o acesso dos indivíduos. Também temos que considerar que a cidade só passou a contar com um grupo escolar a partir de 1928.

Na acepção que adotamos, compreendemos a escolarização inserida num contexto político e social, razão por que é importante apresentar a cidade de Princesa, considerando a sua situação política e econômica no período de 1920 a 1939, bem como o conflito armado que se desencadeou nessa cidade em 1930.

2.1 - O SURGIMENTO DE UMA CIDADE

Princesa fica a cerca de 420 km da capital paraibana e foi elevada à categoria de cidade em 18 de novembro de 1921, por meio do decreto nº 540, assinado pelo então governador, Solon de Lucena (A UNIÃO, 1922, p.123). Pertencia ao antigo município de Piancó e, mesmo já tendo representante na Assembleia Legislativa, desde o final do Século XIX, só conseguiu ser emancipada na segunda década do

Século XX. Assim, Princesa tornou-se cidade sob a tutela do então deputado estadual, José Pereira, que herdou do pai, o Coronel Marcolino Pereira Lima, o comando político dessa região, após sua morte em 1905.

Com um território original de cerca de 2.180 km², que deu origem às cidades de Manaíra, São José de Princesa, Tavares, Juru4 e Água Branca5, em 1930, segundo o Almanaque do Estado da Paraíba de 1932, chegou a ter 26.762 habitantes. Dessa forma, Princesa passou a ser cidade com um vasto território e um único chefe político, que controlava todo o território que lhe pertencia, a partir das relações familiares e de compadrio. Sua economia girava em torno da agricultura, e sua cultura principal era o algodão, que acumulou capital e contribuiu para que o lugar adquirisse posição de destaque no estado, condição que atravessava os limites paraibanos e se ramificava pelo estado vizinho de Pernambuco (LEWIN, 1993; GURJÃO, 1984; CAMINHA, 1981; MARIANO, 1999 ; JUSTINO FILHO,1997).

Considerado, segundo Lewin (1993), como um dos políticos com mais influência na década de 1920, José Pereira comandou o município de Princesa com

base em um discurso que defendia a modernização6 como elemento constitutivo de

possíveis mudanças a partir do desenvolvimento da economia. Essas atitudes, de alguma forma, construíram um imaginário popular, em grande parte da população, de um grande líder político, redentor e defensor dos interesses da cidade durante o conflito armado de 1930.

A historiografia sobre Princesa indica que a cidade teve sua época áurea na década de 1920, com a expansão da cultura do algodão, que fez a cidade crescer economicamente e promoveu algumas transformações, como o uso da energia

4O município de Juru passou por algumas denominações, durante o período em estudo.

Porém, até 1937, denominava-se Barra e, a partir dessa data, até o termino desta pesquisa, passou a se chamar Ibiapina.

5 Esses municípios emanciparam-se ao longo do Século XX: Tavares e Água Branca, em

1959; Juru, em 1960; Manaíra, em 1961, e São José de Princesa, em 1994.

6 Compreendemos a definição de modernização a partir das orientações de Galliza (1993). A

autora defende a tese de que, na Paraíba da Primeira República, a inserção de indústrias e a produção de riquezas só beneficiaram poucos e não fizeram grandes mudanças na vida e nas condições de existência das classes trabalhadoras. Essa defesa corrobora a tese de Mariano (1999) que, ao tratar a modernidade na cidade de Princesa, utiliza-se da expressão símbolos da modernidade, que foram implantadosa partir de 1920, como consequência do poder econômico pelo cultivo e comércio, principalmente do algodão.

elétrica, a urbanização, a construção de fábricas de beneficiamentos do algodão, a produção de vinhos e aguardentes, as casas comerciais, que ofereciam os mais variados produtos, os bancos, as agências de automóveis e as construções de açudes. Além disso, os grêmios literários, os clubes desportivos e o cinema são citados como criações desse período (MARIANO, 1999). Para essa autora, Princesa tinha ares de cidade moderna, e essa condição poderia ser visualizada nas vestimentas e nos modos como parte de sua populaçãose comportava. Essa modernização pode, muitas vezes, ser compreendida através da mediação do favorecimento. Por exemplo: a energia elétrica fora instalada em 1916, primeiro no distrito de Patos de Irerê – reduto da família Pereira – e, depois, foi instalada na sede do município. Algumas dessas ações eram mais para prover de conforto as famílias abastadas do que uma ação política em prol da população da cidade.

Para Galliza (1993, p. 199), a Paraíba se modernizou, entre 1880 e 1930, sem desenvolvimento, já que privilegiava apenas uma pequena parcela da população, ou seja, as oligarquias dominantes:

Durante a Primeira República, a Paraíba conheceu uma modernização sem desenvolvimento. Ocorreram mudanças mais de caráter quantitativo do que qualitativo; não estruturais, embora as estruturas fossem abaladas. Não foram registradas mudanças substanciais nas relações de produção, nem os segmentos mais pobres da sociedade foram beneficiados amplamente. A Paraíba, pois, modernizou-se parcialmente.

Analisando o processo de modernização em Princesa, pareceu-nos que essa cidade não fugiu à regra do que Galliza (1993) demonstrou que aconteceu no restante do estado, como no exemplo, já citado, a energia elétrica foi instalada, primeiramente, no distrito de Patos de Irerê, pelo Coronel Florentino, que mandou importar um motor da Alemanha para fornecer energia para o conforto de sua esposa – francesa – e, depois, foi distribuída para seus parentes e apadrinhados, demonstrando o que Lewin (1993) chamou de rede de parentela, em que os benefícios eram disponibilizados para os que faziam parte dessa rede. Isso fortaleceu a chamada política do favor.

TABELA 1 - PROPRIEDADES QUE FIRMARAM ACORDO DE COOPERAÇÃO COM A