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EDUCAÇÃO PRIMÁRIA E PODER EM PRINCESA-PB / 1931-

Neste capítulo, faremos uma abordagem sobre as mudanças no processo de escolarização do município de Princesa, em virtude do conflito armado de 1930, considerando o panorama político do estado e o deslocamento do centro do poder local. Analisaremos, ainda, as consequências da unificação da educação pública e a tendência de centralização, como resultado do novo sistema político recém-instalado no país, com a chegada de Getúlio Vargas à presidência do Brasil.

3.1 - O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DE PRINCESA/PB APÓS 1930

Em Princesa, as escolas cresceram consideravelmente entre os anos de 1920 e 1930. Em 1918, a cidade contava com duas cadeiras rudimentares de terceiracategoria29, sendo que, ao final de 1920 já contava com um grupo escolar, além de nove cadeiras isoladas rudimentares e elementares mantidas pelos governos estadual e municipal.

Na década de 1930, houve um crescimento menor do número de escolas públicas mantidas pelo estado nesse município. As cadeiras isoladas que o estado mantinha, a partir de 1931, eram o somatório das já existentes antes desse período, com a criação de mais três e a acoplação das três cadeiras mantidas pelo município com unificação do ensino primário na Paraíba, através do decreto nº 33 de 11 de

dezembro de 1930 (JORNAL “A UNIÃO”, 1930 p.8). Com esse decreto, as escolas

primárias das localidades rurais de Alagoa Nova, Cachoeira de Minas e São José passaram a ser custeadas pelo estado e não mais pelo município de Princesa.

Decreto Nº 33 de 11 de dezembro de 1930

Unifica o Ensino publico primario do Estado da Parayba.

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O interventor federal do Estado da Parayba, attendendo à necessidade da unificação do ensino publico primario, como medida imprescindível a sua methodização e melhor diffusão, attendendo a que as escolas primárias mantidas pelos municipios não apresentam a efficiência desejada além de outros motivos, pela falta de uma

orientação única, que controle tecnicamente o ensino

nellasministrado;

Decreta

Art. 1º – O ensino publicoprimario em todo o Estado, a partir de 1º de janeiro de 1931, constituirá a serviço exclusivamente estadual

subordinado as leis do Estado.

§ único – A secretaria do interior, justiça e instrucção publica expedirá as necessárias instrucções as cadeiras actualmente mantidas pelos municipios.

Art. 2º – As prefeituras recolherão mensalmente aos cofres 20% da respectiva arrecadação, destinados à instrução publica e assistência infantil, revogada a disposição contraria que os obrigava a contribuir com 10% de sua receita para a constituição da caixa de conservação e construção de estradas e rodagens.

Art. 3º – Revogam-se as disposições em contrário.

Palacio do Govêrno do Estado da Parayba, em João Pessoa, 11 de Dezembro de 1930, 42º da Proclamação da Republica.

Antenor Navarro Flodoardo Lima da Silveira

(JORNAL “A UNIÃO”, 12 DE DEZEMBRO DE 1930, p. 17).

A tendência de centralizar as ações governamentais não foi um caso isolado da Paraíba. As reformas educacionais e a centralização política foram características marcantes da nova ordenação brasileira, a partir de 1930, com a tomada de poder do presidente Getúlio Vargas. A reforma da educação de Francisco Campos, em 1931, pela primeira vez no país, estabeleceu diretrizes nacionais ao ensino no Brasil, estruturando organicamente o ensino secundário, comercial e superior, além de seriar o currículo e estabelecer a obrigatoriedade do ensino primário, que passaria a ser estruturado em dois ciclos: um fundamental, de cinco anos, e um complementar, de dois anos.

Para a Paraíba, as alterações do decreto 873, de 21 de dezembro de 1917 (A UNIÃO, 1918) - modificado através do decreto 1.484, de 30 de julho de 1927 (UNIÃO, 1927) - prescreveu o ensino primário de quatro anos, mais dois anos do ensino complementar. Ao catalogarmos as notícias, matérias e documentos sobre a instrução pública do estado da Paraíba, que foram publicados nas páginas do jornal

“A União”, percebemos que os exames finais dos grupos escolares sofreram uma

modificação, a partir do ano letivo de 1936. Até 1935, os grupos escolares, principalmente da Capital e de algumas cidades do interior, publicaram os resultados dos 1º, 2º, 3º e 4º anos do curso primário e 1º e 2º anos do curso complementar. Já no ano seguinte, incluiu-se nessas publicações o 5º ano do ensino primário (JORNAL “A UNIÃO”, 1931-1939).

A partir de 1936, o estado da Paraíba passa a ofertar instrução primária de cinco anos, seguindo o modelo adotado da Capital do país (JORNAL “A UNIÃO”,

1935, p.8). No ano de 1937, na secção “Vida Escolar”, do Jornal “A União”, traz a

publicação dos resultados do 5º ano do curso primário do Grupo Escolar Gama e

Melo (JORNAL “A UNIÃO”, 1937, p.8). Assim, essa cidade agora passa a ofertar o

curso primário de cinco anos. Não encontramos nenhum documento que comprovasse que, em 1936, o grupo escolar de Princesa ofertasse o curso primário de cinco anos, como determinou a reforma da instrução pública da Paraíba de 1935 (JORNAL “A UNIÃO”, 1935, p.8). Além do curso primário, o grupo escolar passou também a ofertar o curso complementar. Inferimos, com base na documentação encontrada, que o curso complementar passou a ser ofertado no grupo escolar a partir de 1937, já que, nesse ano, encontramos, além da publicação do resultado final do 1º ano do referido curso (JORNAL “A UNIÃO”, 1937, p.8), a cobrança da Diretoria da Instrução do estado da Paraíba do envio da folha complementar do ano letivo de 1937 do 1º ano do curso complementar do Grupo Escolar Gama e Melo (JORNAL “A UNIÃO”, 1938, p.6)

A reforma educacional do estado da Paraíba data de 1917, através do decreto nº 873, de 21 de dezembro desse ano, e foi reformulada em 1927, com o decreto nº 1.147, de 30 de julho, que modificou alguns artigos do regulamento de 1917, sem grandes alterações no que se refere ao curso primário, objeto deste estudo. A grande mudança na educação paraibana ficou para o início da década de 1930, com

a unificação do ensino primário e com a reforma do ensino primário de 1935, que propôs que a instrução pública na Paraíba seguisse o modelo prescrito pelas leis da

capital do país (JORNAL “A UNIÃO”, 1935), seguindo a tendência do novo regime

político de centralização das ações. Após a unificação do ensino primário na Paraíba, no município de Princesa, o percentual recolhido aos cofres do estado era superior ao que a cidade vinha empregando anteriormente à unificação do ensino primário, mesmo assim, de 1931 a 1939, não houve ampliação do número de escolas, ainda que, em outros municípios, isso tenha ocorrido.

No primeiro semestre de 1931, o estado da Paraíba criou 121 novas cadeiras isoladas, através do decreto nº112, de 19 de maio de 1931 (JORNAL “A UNIÃO”,

1931, p. 8). Dessas, nenhuma fora instalada em Princesae foram contemplados vários municípios sertanejos como Patos, Sousa, Cajazeiras, Piancó, Conceição,

Teixeira. Os municípios que os líderes políticos apoiaram a chamada “Revolução de

Princesa” ficaram fora, como Catolé do Rocha, do ex-governador João Suassuna e Princesa, de José Pereira.

QUADRO 4. CADEIRAS ISOLADAS MANTIDAS PELO ESTADO DA PARAÍBA EM