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As estruturas regulatórias alternativas que foram consideradas

No documento A formação da advocacia contemporânea (páginas 84-86)

6.— Aos novos Advogados.

3. As estruturas regulatórias alternativas que foram consideradas

Como observado, a conclusão principal da crítica de Clementi em 2004 foi que o modelo regulatório existente para serviços jurídicos era falho, sendo os arran- jos descritos como uma ‘confusão’. Clementi focou, em particular, as estrutu- ras regulatórias e administrativas dos principais agentes reguladores (e órgãos profissionais para advogados contenciosos e consultivos) que acreditou serem inapropriados para as tarefas regulatórias, e estavam sujeitos a um sistema muito complexo e inconsistente de fiscalização regulatória.18 De modo geral,

criticou o fato de não haver quaisquer princípios ou objetivos claros, subjacen- tes ao sistema regulatório.

Ao se referir a essas questões, Clementi propôs uma vistoria da estrutura regulatória para serviços jurídicos. Primeiramente, ele estabeleceu seis obje- tivos para um novo agente regulador dos serviços jurídicos.19 Esses objetivos

incluíam: manutenção do Estado de Direito; melhorias no acesso à justiça para todos; proteção e promoção dos interesses dos consumidores; promoção da competição na prestação de serviços jurídicos; estímulo a uma profissão jurídi-

17 Department of Constitutional Affairs, 2005. The Future of Legal Services: Putting Consu-

mers First’. Outubro de 2005.

18 Clementi relatou, por exemplo, que: “A sociedade jurídica é supervisionada em várias das suas funções pelo superintendente; boa parte do trabalho da Bar Council e do trabalho do

Council for Licensed Conveyancers, do Institute of Legal Executives by the Department for Constitutional Affairs; do Office of the Immigration Services Commissioner by the Home Offi- ce; do Chartered Institute of Patent Agents by the Department of Trade and Industry; e do Faculty Office by the Archbishop of Canterbury.” Veja D Clementi, 2004. Review of the Regu- latory Framework for Legal Services in England and Wales. Dezembro de 2004, página 2.

19 Ao definir esses objetivos regulatórios, Clementi esboçou um paralelo com a abordagem que havia sido adotada para a regulação de serviços financeiros recentemente criada, a Au- toridade de Serviços Financeiros (FSA). Esse órgão foi abolido logo após a crise financeira de 2008.

ca efetiva, forte e confiante; e, finalmente, a promoção da compreensão pública dos direitos legais dos cidadãos. Em segundo lugar, ao se referir aos proble- mas associados à ‘confusão regulatória’, Clementi estabeleceu, e avaliou, vários ‘modelos’ de regulação que ficaram posteriormente conhecidos como Modelos A, B e B+. Seguem, resumidamente, as características de cada modelo:

• O modelo A envolvia a remoção de todas as funções regulatórias dos ór- gãos profissionais. Essas funções seriam então transferidas e executadas por um novo agente regulador estatutário, que interagiria diretamente com os prestadores dos serviços jurídicos.

• O modelo B envolvia a separação da responsabilidade das funções re- gulatórias entre os órgãos profissionais e também a criação de um novo regulador estatutário, que seria responsável por garantir a fiscalização consistente de todos os órgãos profissionais diretamente.

• O modelo B+ envolvia também a separação das funções regulatórias, po- rém exigia especificamente que os órgãos profissionais separassem suas funções representativas da classe ou jurídicas da sua função regulatória, com arranjos administrativos separados. Esse modelo envolvia, portanto, a criação de novos agentes regulatórios de nível profissional, para dife- rentes áreas (advogados contenciosos, advogados consultivos, etc.), que estariam sujeitos à supervisão, por um novo regulador estatutário. Clementi então estabeleceu o que ele considerava serem as várias vanta- gens dos diferentes modelos regulatórios propostos. Em relação ao Modelo A, estavam entre os benefícios específicos da abordagem: a estrutura regulatória seria independente daqueles que estaria regulando (por exemplo, advogados); e a criação de um único regulador estatutário simplificaria o sistema regulatório, fornecendo um fórum transparente para lidar com os conflitos nos objetivos re- gulatórios, provavelmente dando origem a uma maior consistência e coerência em termos de autorização, supervisão e investigação, bem como estabelecendo padrões claros de treinamento e entrada. Quanto ao Modelo B+, Clementi iden- tificou também inúmeros benefícios em potencial. Especificamente, a responsa- bilidade pela fiscalização e regulação diária seria mantida no nível profissional e haveria talvez um aumento no comprometimento dos profissionais com altos padrões; deixaria a responsabilidade regulatória direta no nível profissional (e não a investiria em um regulador estatutário), garantiria a manutenção do prin- cípio de que a profissão jurídica é independente do governo; e evitaria os riscos associados com a colocação de todas as funções regulatórias dentro de um úni- co órgão, e, especificamente, o risco de que um único agente regulador pudesse se tornar algo grande e difícil de administrar. Outra vantagem prática do Modelo

B+ seria que, por manter alguns aspectos dos arranjos regulatórios existentes, talvez envolvesse uma transição política menos onerosa.

Após receber sugestões sobre as vantagens e desvantagens dos diferen- tes modelos, Clementi recomendou a adoção do Modelo B+ e o estabeleci- mento de um novo arranjo corregulatório entre o público e a autorregulação, envolvendo a criação de um novo agente regulador fiscalizador estatutário (o Conselho de Serviços Jurídicos — Legal Services Board) e de vários novos re- guladores ‘independentes’, de nível profissional (como a Autoridade Regulado- ra de Solicitadores — Solicitors Regulation Authority e o Quadro de Advogados — Bar Standards Board). Ao recomendar esse modelo, Clementi enfatizou a necessidade de basear-se nas forças do sistema regulatório atual em vez de começar o trabalho do início, observando:

“Ao analisar a força dos argumentos dos diferentes modelos, fica claro que o modelo B+ se basearia no atual sistema em uma proporção maior que o modelo A. É verdade que, se começásse- mos do início, sem contar com o histórico de órgãos profissionais com bases fortes, seria possível concluir que o modelo A deveria ser escolhido por sua clareza e flexibilidade. Mas mesmo aqueles que são críticos com o que observam, quanto a natureza de au- tosserviço presente nos arranjos atuais, que são profissionalmen- te baseados, reconheceriam forças nos novos modelos. O sistema atual produziu uma profissão forte e independente que opera, na maioria dos casos, com altos padrões, habilitada a competir inter- nacionalmente e de sucesso. Essas forças sugeririam que as falhas do sistema, identificadas no Estudo de Escopo e abordadas nessa crítica, deveriam ser resolvidas mais por uma reforma que comece por onde nós estamos, e não do começo.”20

4. As mudanças introduzidas com o Ato dos Serviços Jurídicos

No documento A formação da advocacia contemporânea (páginas 84-86)