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Considerações finais

No documento A formação da advocacia contemporânea (páginas 142-145)

Formação Contínua e Conversão de Carreira: na Trilha da Geração Y

IV) Considerações finais

No mercado do direito não é fácil desenvolver um caminho de sucesso. Isso ocorre muito mais porque o novo perfil exigido do profissional do direito não necessariamente está presente e consciente nos diversos advogados.

Mais do que nunca, é preciso desenvolver competências e habilidades que vão além da técnica jurídica e pensar em boas e eficazes estratégias de ma- rketing jurídico, de forma criativa e inovadora. De um lado, o marketing pode potencializar fortemente a capilaridade da marca do escritório no mercado e, de outro, ter regramentos e restrições que devem ser seriamente observados pelos advogados. São exemplos visíveis destas restrições o Código de Ética e Disciplina da OAB, assim como o seu Estatuto.

O fato é que os advogados já têm se dedicado a pensar mais em estra- tégias de marketing jurídico. Boa parte dessas estratégias ainda é constituída de forma amadora e acaba se confundindo com o mero marketing pessoal. De todo modo, é inegável que o marketing jurídico implica atitude. Trata-se da atitude que o advogado deve assumir não somente em relação ao mercado, concorrentes, stakeholders, clientes, funcionários, veículos de comunicação, mas também em relação a si próprio.

Não há dúvidas de que o mercado está abarrotado de profissionais do di- reito. Porém, aquele que conseguir se destacar apresentando uma marca forte e um serviço de qualidade, transparência e ética estará milhas à frente. Uma boa dose de paciência é importante, afinal, a atividade de diferenciação, de construção de respeito e de consolidação de uma marca é, em regra, de longo

prazo. E, mesmo para aqueles que já possuem confiabilidade no mercado, se não houver sensibilidade às mudanças e incorporação de inovações, prova- velmente irão fracassar com o passar do tempo. Palavras como criatividade, transparência, ética, inteligência e planejamento merecem destaque. Se desen- volvidas com a seriedade necessária, elas podem converter o negócio em algo sustentável e estável ao longo do tempo.

Aquele que se propõe a debruçar seriamente sobre isso não deve desper- diçar o tempo imaginando como seriam as coisas se fizesse isso ou se imple- mentasse aquilo. O refletir é apenas um dos passos que conduzem à ação e não pode ser um fim em si mesmo. Quanto mais inovadora for a ação concreta, maior a probabilidade de ela receber destaque neste mundo disputado do di- reito. Definitivamente, precisamos cada vez mais do marketing jurídico!

“The first thing we do, let’s kill all the lawyers.”

Não há vida em sociedade sem o Direito. O artigo 133 da Constituição da República Federativa do Brasil declara:

“Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sen- do inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.”

Sem o advogado, não haveria justiça. Os advogados são os alicerces do sistema, na medida em que protegem as leis em vigor. Traduzem para o cliente assistido a apreensão de estratégias retóricas, os ditos, os não ditos e os inter- ditos presentes nos textos jurídicos. A advocacia não é apenas uma profissão, mas uma função de altíssima importância social.

A advocacia é uma das atividades mais antigas do mundo. De fato, o ad- vogado desde cedo tornou-se essencial ao funcionamento da civilização e sua evolução. Desde os primeiros registros do exercício da advocacia antes de Cristo, na Suméria, até os dias de hoje, passando pela Grécia antiga, a ad- vocacia foi se adaptando às suas épocas e se organizando de acordo com o momento no qual se inseria.

Atualmente, a advocacia passa por um período de maturação dentro das mudanças do conhecimento humano. A era digital, a exploração espacial, a globalização econômica e financeira, ainda que incipientes, deixam antever um futuro para um mundo que, embora imprevisível, será certamente bem dife- rente de tudo o que Homem já fez até hoje. Os campos para exploração de novas oportunidades pelos advogados são amplos. O interessante momento

1 Otto Eduardo Fonseca de Albuquerque Lobo é sócio sênior de MFRA desde 2005. Atua nas áreas de Direito Societário, mercado de capitais e recuperação judicial e falência. Trabalhou em Stroeter e Royster Advogados Associados à Steel Hector & Davis LLP, de 1997 a 2005. Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Graduação em Direito em 1995. Com mestrado pela University of Miami School of Law, LL.M. (Mestrado em Direito Comparado), em 1999. Pós-graduado pela COPPE / UFRJ, MBP em Óleo e Gás, 2003. Pon- tifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Administração de Empresas, 1986-89. Pro- fessor de Direito Societário e mercado de capitais da Fundação Getulio Vargas (graduação e pós-graduação). Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Coor- denador do Livro “World Insolvency Systems” e autor do capítulo sobre Brasil, com capí- tulos de diferentes países — 2008. Autor do artigo “The Application of the New Brazilian Bankruptcy Law and Proposed Reforms Our Experience in the Acquisition of a Distressed Asset — The Varig Case”, capítulo do Livro International Business Transactions with Brazil. Autor do capítulo do Brasil da “Americas Restructuring Guide” —Pricewaterhouse Coopers — Globe White Papers — 2008. Coautor do livro The FraudNet World Compendium on Asset Tracing and Recovery.

de progresso da sociedade contemporânea torna o advogado uma figura im- prescindível na vida de qualquer empresa ou indivíduo.

Não obstante toda esta revolução, ainda mantém o advogado o jeito tradi- cional de atuar. A palavra e a escrita continuam sendo as ferramentas principais de trabalho. Enquanto profissional autorregulado, o advogado é, em boa parte, um empresário liberal, com suas obrigações decorrentes dos serviços legais que presta, bem como da captação de novas oportunidades de negócios, alia- dos a um marketing pessoal.

Nesse sentido, embora se registre aqui e ali incompreensão decorrente de posições assumidas em defesa do cliente, a importância de assessoramento legal cresce vertiginosamente. O enunciado que inaugura este artigo, de auto- ria do anarquista Dick, personagem de Henrique VI, peça histórica de William Shakespeare, evoca uma das mais famosas citações do Bardo, e uma das mais equivocadas. Registre-se que, na realidade, Dick é um seguidor fiel do rebelde Jack Cade, que ambicionava subir ao trono por meio da distorção da lei e da ordem. Shakespeare pretendeu assim elogiar o papel dos juristas na manuten- ção da justiça.

Qualquer que seja o modo de ver da advocacia moderna, existe uma ca- racterística dominante: o advogado tem de saber e conhecer Direito, porém não pode pretender conhecer apenas o Direito. Cada vez mais se exige do ad- vogado o conhecimento profundo de matérias fora do âmbito da sua formação básica. Poder-se-ia até dizer que num mercado de trabalho tão competitivo, especialmente na advocacia, são esses fatores que permitem uma maior dife- renciação.

No documento A formação da advocacia contemporânea (páginas 142-145)