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As mudanças introduzidas com o Ato dos Serviços Jurídicos de

No documento A formação da advocacia contemporânea (páginas 86-89)

6.— Aos novos Advogados.

4. As mudanças introduzidas com o Ato dos Serviços Jurídicos de

As recomendações da crítica de Clementi foram adotadas pelo governo do Reino Unido, no Ato dos Serviços Jurídicos de 2007 (o Ato). Em termos de arquitetura regulatória para serviços jurídicos, a abordagem adotada pelo governo do Reino Unido foi baseada no Modelo B+. Um novo agente regulador — conhecido como Conselho de Serviços Jurídicos (Legal Services Board — LSB) — foi criado pelo ato e a ele foram dados vários objetivos, o que incluía a regulação econômica, a promoção da competição, a educação, a proteção dos direitos, a representação

20 D Clementi, 2004. Review of the Regulatory Framework for Legal Services in England and

da classe, e o controle da permissão de acesso à profissão. Especificamente, os oito objetivos da LSB, de acordo com o Ato dos Serviços Jurídicos de 2007, são:

• Proteger e promover o interesse público;

• Apoiar o princípio constitucional do Estado de Direito; • Melhorar o acesso à justiça;

• Proteger e promover os interesses dos consumidores;

• Promover a competição para serviços jurídicos não reservados; • Encorajar uma profissão jurídica diversificada e forte;

• Aumentar a compreensão pública em relação aos direitos e deveres le- gais dos cidadãos; e

• Promover e manter a adesão aos princípios profissionais.

Uma importante tarefa do LSB é a supervisão e a fiscalização do trabalho dos oito agentes reguladores (ou ‘Reguladores Aprovados’) que são diretamen- te responsáveis pela regulação das profissões jurídicas que operam na Inglaterra e no País de Gales. Os oito reguladores aprovados são: O Law Society (para advogados consultivos); o Bar Council (para advogados contenciosos); o Master of the Faculties; o Council for Licensed Conveyancers; o Institute of Legal Exe- cutives; o Chartered Institute of Patent Agents; o Institute of Trade Mark Attor- neys e a Association of Law Costs Draftsmen21. Como observado na seção 3, um

elemento-chave do Modelo B+, como recomendado pela crítica de Clementi, foi a requisição de que os órgãos profissionais separassem suas funções regulató- rias das suas funções representativas, e introduzissem arranjos administrativos independentes para cada atividade. Portanto, além dos oito agentes reguladores aprovados citados acima, que são também responsáveis pela representação dos profissionais do direito em cada área, há cinco órgãos ‘Reguladores Indepen- dentes’ adicionais. Eles incluem: a Solicitors Regulation Authority; o Bar Stan- dards Board; o ILEX Professional Standards Limited; o Intellectual Property Re- gulation Board e o Costs Lawyer Standards Board. O Ato de Serviços Jurídicos de 2007 também criou um Departamento de Reclamações Jurídicas (Office of Legal Complaints), que, por sua vez, criou a Legal Ombudsman. O objetivo des- se órgão é oferecer aos consumidores de serviços jurídicos acesso a um corpo independente para as reclamações relativas à prestação dos serviços jurídicos.

Até agora a discussão focou as mudanças da arquitetura e da estrutura regulatória que foram introduzidas na sequência do Ato de Serviços Jurídi-

21 Nota da revisora: optamos por não traduzir os termos que expressam os nomes dos agen- tes reguladores das profissões jurídicas na Inglaterra e no País de Gales porque compreen- demos que nenhum termo tem correspondência no sistema brasileiro e seriam mal traduzi- dos para o português.

cos Legais de 2007. Há outra mudança importante e controversa contida no Ato, relacionada à remoção das restrições sobre as possíveis estruturas para o estabelecimento de negócios advocatícios. Essa mudança era direcionada às antigas questões relativas às autoridades concorrentes e outras, observadas na seção 2, referentes às estruturas de negócio por meio das quais os serviços jurídicos eram prestados, que foram consideradas indevidamente restritivas. O ato autorizou dois novos tipos de escritórios jurídicos. Primeiro, que as Práticas Disciplinares Jurídicas (Legal Disciplinary Practices — LDPs) podem ser realiza- das por advogados de diferentes especialidades, e até 25% por não advogados, quanto a prestação dos serviços jurídicos. Segundo, e com efeitos a partir de data posterior, o ato promoveu a autorização de Estruturas de Negócios Alter- nativos (Alternative Business Structures — ABS’s),22 negócios jurídicos perten-

centes ou gerenciados por não advogados, bem como práticas multidisciplina- res — podendo prestar serviços jurídicos e outros.

Talvez, não de forma surpreendente, a introdução de um regime de auto- rização para as ABS fosse controversa, e haveria oposição considerável mani- festando-se contrariamente a essas disposições do Ato dos Serviços Jurídicos de 2007. Aqueles que desaprovaram o novo regime destacaram as restrições existentes sobre as estruturas dos escritórios jurídicos (particularmente aque- las relacionadas ao envolvimento de não advogados), justificadas com base no argumento de que eles garantiam a responsabilidade e independência da pro- fissão jurídica, e que isso mantinha a confiança do consumidor no direito. Espe- cificamente, foi argumentado que permitir parcerias multidisciplinares poderia levar ao aparecimento de conflitos de interesses,23 mas, conforme os arranjos

existentes, a qualidade dos serviços poderia ser elevada, uma vez que todos os sócios dos escritórios de advocacia seriam pessoalmente responsáveis e, portanto, quaisquer pareceres, seus ou os fornecidos por seus sócios, pode- riam ser igualmente considerados negligentes. De maneira geral, foi levantada a discussão de que ao conceder a permissão para o envolvimento de não ad- vogados, particularmente do capital externo, haveria riscos de que a ‘cultura’ dos escritórios de advocacia e as profissões jurídicas fossem enfraquecidas. Finalmente, alguns expressaram a preocupação de que as mudanças pudessem ter impactos reputacionais adversos para as profissões jurídicas, a partir do

22 A Law Society definiu uma Estrutura de Negócios Alternativos nos seguintes termos: “Uma

ABS é uma organização regulada que fornece serviços jurídicos e possui alguma forma de envolvimento de pessoas que não são da área jurídica. Esse envolvimento pode ser tanto no nível de gerenciamento (por exemplo, como sócio, diretor ou membro); ou dono (por exemplo, um investidor ou acionista).” Veja o website da Associoação de Advogados: <

http://www.lawsociety.org.uk/advice/articles/setting-up-an-abs/>

23 Veja sobre esse assunto a decisão do Tribunal Europeu de Justiça no processo C-309/99,

Wouters [2002] ECR, I-1577 paras [97]-[110], e, em particular, a opinião de Mr Advocate

desenvolvimento da chamada “Lei Tesco”24, que tinha como resultado a entra-

da de grandes supermercados, e outros tipos de escritórios não tradicionais, dentro do cenário dos prestadores de serviços jurídicos.

Entretanto, outros apoiaram fortemente a remoção das restrições sobre a estrutura e organização dos escritórios jurídicos. Referiam-se aos potenciais impactos adversos que tais restrições podiam ter na entrada, na competição e na inovação na prestação de serviços jurídicos. Foi também argumentado que tais restrições aumentaram os custos das transações, por não permitir aos escritórios jurídicos diversificar o risco, ao oferecerem uma variedade de atividades, e por não permitir que os escritórios trocassem internamente in- formações/conhecimento em relação a um cliente específico. Finalmente, ao permitir que as firmas acessassem fontes externas de capital e financiamento, elas aumentariam sua habilidade de inovar e poderiam investir além, chegando a níveis que não poderiam ser alcançados de outra forma, por exemplo, através de financiamento por fontes internas de capital.

No documento A formação da advocacia contemporânea (páginas 86-89)