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Capítulo 3 O Desenvolvimento das Euroregiões

3.2.2 As euroregiões e as comunidades de trabalho

As cooperações transfronteiriças se referem aos acordos de cooperação entre governos locais de territórios contíguos que se traduzem numa região transfronteiriça, embora existam vários tipos de cooperações transfronteiriças, o que faz necessário verificar aspectos típicos desta atividade que as distinga de outras. Em função disto, existem três questões relevantes: 1) a dimensão geográfica política: as cooperações transfronteiriças são associações políticas pequenas, diferente das comunidades de trabalho que costumam ser formadas por cinco ou mais governos regionais; 2) a intensidade da cooperação, considerando a capacidade de atuação da organização transfronteiriça (euroregião, por exemplo) e seu nível de autonomia em face do governo central e demais órgãos governamentais; e 3) os tipos de atores políticos envolvidos (que podem ser locais, como municípios, ou governos regionais, como províncias e condados).

Considerando a dimensão geográfica política, as euroregiões podem ser diferenciadas das comunidades de trabalho, que surgiram depois, entre 1975 e 1985, são oriundas de uma cooperação entre vários governos regionais que podem ser estender por vários Estados. Como exemplos, têm-se o Arge Alp18 e o Alpe-Adria19. A estrutura das comunidades de trabalho é normalmente formada por assembléias, comissão executiva, grupos de trabalho e secretarias (Aykaç, 1994). Todavia, suas atividades se concentram mais em realizar declarações políticas e realizar trocas de informações e experiências. Apesar de não haver um objetivo central para implementar certas políticas públicas,

17 www.eurocities.org 18 http://www.argealp.org/it/ 19 http://www.alpeadria.org/

algumas comunidades de trabalho já conseguiram receber investimentos da União Européia.

Um problema de distinção entre a euroregião e as comunidades de trabalho é que o termo “euroregião” se tornou muito utilizado e difundido na Europa, o que fez com este se tornasse mais difícil de definir do que a idéia de comunidade de trabalhos. Devido a esta popularização do termo sob crivo, existem algumas comunidades de trabalho que se denominaram como euroregiões (como é o caso da euroregião dos Cárpatos)20.

No sentido original, a euroregião representa um acordo de cooperação entre governos locais em territórios contíguos, em uma fronteira, pertencentes a diferentes Estados. Esta forma de cooperação já é tradicional em algumas partes da Europa como na fronteira da Alemanha com a BENELUX, tipo de cooperação criado após a Segunda Grande Guerra. Tanto o termo (euroregião) como euregio são utilizados no mesmo sentido. No que diz respeito à organização, as euroregiões possuem um conselho com presidente, grupos de trabalho com objetivos definidos e secretarias em comum. O conceito de euroregião diz respeito tanto a uma identidade territorial formada pela região dos governos locais em cooperação transfronteiriça como a instituição política, normalmente reconhecida pela sede de sua secretaria. Em face das questões legais, as cooperações podem adotar diferentes formas dependendo dos requerimentos realizados pelas legislações nacionais dos governos envolvidos. O tamanho da euroregião costuma ter um raio de cem quilômetros no máximo e, aproximadamente, poucos milhões de habitantes, com raras exceções.

Apesar da euroregião, após seu surgimento, ter sido redefinida em termos por tratados internacionais, sua identidade provavelmente não se encontra completamente definida, visto que, a cada novo acordo de cooperação transfronteiriça, surgem novos tipos de euroregião. Em alguns casos, por exemplo, temos governos que não são municipais, mas governos de regiões como províncias e condados. Também existem euroregiões de que agências de desenvolvimento de governos centrais, câmaras de comércio e outras instituições fazem parte. A organização também pode ser diferente da

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estrutura original. Com base na idéia original de euroregião e nos tratados do Conselho da Europa, o termo euroregião deve-se referir somente a cooperações transfronteiriças em uma dimensão geográfica política pequena, com uma estrutura organizacional e atores políticos definidos - como na definição de Denters, em que a cooperação euroregional é pautada por cooperações no nível subnacional entre governos que estão situados na fronteira. (Denters, 1998).

Buscando distinguir os diferentes tipos de euroregiões, é preciso considerar a intensidade da cooperação. A idéia de intensidade dessa cooperação se refere ao nível de autonomia que as organizações transfronteiriças conseguem por meio dos governos locais, como no caso da Teoria dos Estados (em que uma federação possui uma intensidade de cooperação muito maior do que uma confederação de Estados).

Para verificar a intensidade de cooperação entre os acordos existe uma lista de critérios indicados pela Associação das Regiões de Fronteira na Europa21 e União Européia. Essa lista define que uma euroregião com alta intensidade de cooperação possui uma estrutura transfronteiriça integrada de longa duração com uma forte negociação para decisões políticas conjuntas. No que diz respeito à organização, ambos os governos locais estão submetidos a um mesmo acordo legal, possuindo uma secretaria permanente em comum e destinando, para os trabalhos, seus próprios recursos. Em termos de prática política, a cooperação precisa ser estruturada em uma estratégia de desenvolvimento em longo prazo, focalizando todas as políticas públicas em função das necessidades do dia a dia da sociedade.

Existe ainda na geografia política a hipótese de que as euroregiões formadas por governos locais (como prefeituras) possuem uma maior integração em face das euroregiões constituídas de governos regionais, como condados, mas essa hipótese até agora não foi verificado cientificamente.

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