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Considerações sobre as regiões e cooperações transfronteiriças

Capítulo 3 O Desenvolvimento das Euroregiões

3.3.2 Considerações sobre as regiões e cooperações transfronteiriças

A lista de euroregiões demonstra que houve, realmente, uma difusão da idéia de euroregião durante a década de 1990. Isto provavelmente se deve à reestruturação das relações entre os Estados europeus com o fim da Guerra Fria, de modo que as políticas nacionais dos Estados europeus junto às políticas regionais da União Européia dinamizaram as cooperações transfronteiriças.

A influência dos Estados europeus se deve principalmente pela organização política do seu território que, apesar de diferente em cada Estado, garante a existência de governos regionais que são os atores políticos das cooperações transfronteiriças. Considerando os aspectos históricos, podemos afirmar que, em princípio, a euroregião foi um fenômeno típico da Alemanha, lugar onde a concepção de cooperação transfronteiriça surgiu. Além disso, é um Estado que possui suas fronteiras quase que completamente cobertas por cooperações transfronteiriças. Logo, na Alemanha, a euroregião conseguiu legitimidade política para que, depois, pudesse encontrar sua legalidade. Mas não devemos deixar de considerar que as atividades políticas internacionais entre governos nacionais e regionais também estimulou a produção de euroregiões.

A seguir, observe-se a distribuição dessas regiões na Europa: centralizadas, no 1º mapa, na Alemanha e, no 2º, na Polônia:

Figura 1: Euroregiões da Alemanha.

Figura 2: Euroregiões da Polônia.

Fonte: Euroregion Śląsk Cieszyński.

Assim, podemos estabelecer alguns pontos importantes na dinâmica das euroregiões. Em primeira instância, faz-se necessário que os Estados possuam governos regionais reconhecidos legalmente, pois não seria possível juridicamente uma cooperação transfronteiriça entre um governo regional em certo Estado com o país vizinho. E, apesar de algumas cooperações transfronteiriças começarem de modo informal - para que haja uma real cooperação, incluindo a estrutura política - é preciso o reconhecimento legal das atividades transfronteiriças seja pelas legislações nacionais ou por algum tratado internacional (como na Convenção de Madri). Além disso, a catalisação das cooperações transfronteiriças pode ser estabelecida por meio de contatos em conferências internacionais de governos regionais e de financiamento via União Européia.

No que diz respeito à influência das políticas regionais da União Européia em face das euroregiões, há uma grande discordância. Ela se manifesta principalmente porque, na prática, quem apoiou primeiramente o surgimento das cooperações transfronteiriças foi o Conselho da Europa e, somente mais tarde, a União Européia passou a utilizar esta instituição junto às suas políticas de desenvolvimento e integração.

Atualmente a União Européia é considerada um ente influente sobre as euroregiões porque se tornou o órgão que mais investe nestas instituições através do financiamento de políticas regionais. Enquanto isso, o Conselho da Europa - que dispõe de um orçamento muito menor - ficou limitado a dar auxilio jurídico e treinamento para as euroregiões, de forma que perdeu muito a sua influência política nas regiões transfronteiriças. Portanto, a União Européia se destaca não só pelo forte financiamento de políticas euroregionais, mas também porque algumas de suas políticas regionais acabam gerando cooperações transfronteiriças que a priori seriam temporárias, mas que, ao final da implantação do projeto, decide-se perpetuar e buscar novas atividades. Contudo, a União Européia não deve ser supervalorizada nem considerada um fator determinante para a existência dessas euroregiões: existem Estados europeus não- membros da União Européia que possuem cooperações transfronteiriças e nem todas as regiões transfronteiriças recebem investimentos da União Européia. A principal hipótese, defendida pelo Conselho da Europa, é que as euroregiões surgem por uma interdependência das regiões de fronteira.

Entretanto, é fato que o aumento significativo do surgimento de euroregiões se deu na mesma época em que a União Européia começou a investir nas atividades destas instituições. Nota-se, ainda, a decisão da União Européia de se alargar e incluir novos Estados da Europa oriental, o que estimulou o surgimento das euroregiões nesta área. Analisando os programas da União Européia para as euroregiões, podemos claramente observar que houve um estimulo direto, como no programa PHARE,23 criado especificamente para as regiões transfronteiriças da Polônia e da Hungria. Mais tarde, com o sucesso do programa, essa política regional se estendeu por quase toda a Europa oriental.

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A influência da União Européia e do Conselho da Europa acabou transformando a euroregião como o modelo organizacional a ser seguido por todas as cooperações transfronteiriças, sendo importante lembrar que tanto o Conselho da Europa quanto a União Européia, através de seus documentos oficiais, determinam alguns requisitos para as cooperações tendo, como base, o conceito que elas possuem sobre euroregião.

Na Áustria, por exemplo, as comunidades de trabalho eram valorizadas na década de 1970 e pouco se falava das euroregiões. Todavia, com o surgimento de financiamentos da União Européia específicos para elas, como o programa Interreg24, as euroregiões começaram a se difundir e hoje já disputam espaço na política com as comunidades de trabalho.

Praticamente a euroregião surgiu na Alemanha, difundiu-se na Europa ocidental e, mais tarde, chegou à Europa oriental com forte apoio da União Européia - embora existam casos especiais, como os da fronteira entre a Alemanha e a Polônia, em que a Associação das Regiões de Fronteira na Europa teve um trabalho significativo na criação de euroregiões. Atualmente, existe uma política de interatividade entre as euroregiões criando um novo modelo de participação na política européia.

Contudo, a União Européia possui, sim, o mérito de estimular as euroregiões nas ultimas décadas, seja por meio de seus programas de políticas regionais25, seja pelos requisitos que determinam a euroregião, como modelo de organização das cooperações transfronteiriças, seja ainda por realmente conseguir fazer com que as políticas euroregionais se traduzam em desenvolvimento e integração das regiões transfronteiriças. Esta questão da adoção do modelo de euroregião atua como requisito para a organização das cooperações transfronteiriças junto a sua legalidade aferindo-lhe pontos importantes para o entendimento de sua institucionalização.

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INTERREG < http://www.interreg3c.net/sixcms/list.php?page=home_en >

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