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Os instrumentos do Conselho da Europa para as Cooperações

Capítulo 3 O Desenvolvimento das Euroregiões

4.1 O Conselho da Europa em face das Cooperações Transfronteiriças

4.1.1 Os instrumentos do Conselho da Europa para as Cooperações

A política adotada pelo Conselho da Europa em função das cooperações transfronteiriças é seletiva: a instituição aborda somente algumas questões sobre o

assunto. Existem, entretanto, três pontos centrais para o Conselho da Europa em matéria de cooperação transfronteiriça. A primeira questão diz respeito ao estabelecimento de uma legislação internacional que promova as cooperações transfronteiriças, uma vez que o maior obstáculo para a implementação de uma cooperação deste tipo é a ausência de legislação internacional regulando iniciativas transfronteiriças oriundas de governos locais em regiões de fronteira. Tais governos não possuem competência para iniciar ou conduzir livremente acordos transfronteiriços ou qualquer outro tipo de acordo internacional. São, também, extremamente dependentes dos governos centrais neste aspecto.

O Conselho da Europa foi a primeira instituição internacional a se preocupar em estabelecer questões legais para o desenvolvimento de cooperações transfronteiriças em conformidade com as legislações nacionais. O maior instrumento legal de cooperações transfronteiriças é a Convenção de Madri e seus Protocolos adicionais que são fundamentais para o desenvolvimento das cooperações transfronteiriças na Europa (Conselho da Europa, 1980).

Outros documentos do Conselho da Europa sobre as cooperações transfronteiriças são o Estatuto Europeu de Governo Autônomo Local (1985) e as Declarações Políticas adotadas pelo Comitê de Ministros do Conselho da Europa. Embora parte destes documentos não esteja diretamente ligado à cooperação transfronteiriça, a Declaração de Viena (1993) e a Declaração de Helsinki (2002) reforçam os poderes dos governos locais para que eles possam concretizar cooperações transfronteiriças assim como também encorajam o desenvolvimento de governos autônomos e a descentralização. O Conselho da Europa também realiza Declarações Políticas para a promoção da cooperação transfronteiriça, em encontros políticos regionais. Como exemplo, temos a Declaração de Vilnius (2002) e a de Chisiniau (2003).

Um importante instrumento legal são as Recomendações do Comitê de Ministros no que se refere às cooperações transfronteiriças. As Recomendações são dirigidas em particular para questões de cooperações transfronteiriças em que o Comitê de Ministros espera que o Estado membro do Conselho da Europa realize alguma ação eficaz (Conselho da Europa, 2005).

O segundo ponto central do Conselho da Europa é a promoção das cooperações transfronteiriças por meio de seminários e conferências para especialistas, organizações intergovernamentais, regionais e, até mesmo, locais. As conferências e seminários possibilitam que os órgãos dos governos sejam pesquisados sobre a questão das cooperações transfronteiriças e ainda facilitam o desenvolvimento de métodos de gerenciamento e implementação deste tipo de cooperação. Estes encontros também servem de base para a troca de experiências e opiniões dos diferentes atores sociais envolvidos nas cooperações transfronteiriças.

Outro ponto central do Conselho da Europa é o compromisso em promover auxílio e treinamento aos organismos interessados em desenvolver cooperações transfronteiriças independentes se estas são organizações nacionais, regionais ou locais. No caso de assistência oferecida a governos centrais temos, como exemplo, o caso da Ucrânia que recebeu auxilio jurídico em 2003. Outra situação que demonstra bem a contribuição do Conselho da Europa foi a implementação da Euroregião Prespa/Ohrid na fronteira entre a Albânia, Macedônia e Grécia (Steering Committee on Local and Regional Democracy, 2007).

Também é interessante notar que, para além destes três pontos centrais nas políticas do Conselho da Europa para as cooperações transfronteiriças, esta organização internacional vem financiando a elaboração de um banco de dados especifico sobre tais cooperações. Os financiamentos do Conselho da Europa também envolvem um número significativo de relatórios, estudos de casos e pesquisas sobre questões do ramo estudado produzindo metodologias para facilitar a criação de novas cooperações.

4.1.2 Os Atores do Conselho de Europa ligados às Cooperações Transfronteiriças

Existem vários órgãos do Conselho da Europa compromissados com políticas referentes às cooperações transfronteiriças. O Comitê de Diretores sobre Democracia Local e Regional atua conforme a supervisão do Comitê de Ministros e é responsável pela implementação de projetos de promoção da democracia nos níveis locais e regionais. Os projetos realizados por este órgão promovem a descentralização e estimulam a participação da comunidade na vida política (Steering Committee on Local

and Regional Democracy, 2007). O Comitê de Especialistas em Cooperação Transfronteiriça auxilia o Comitê de Diretores sobre Democracia Local e Regional na promoção da democracia, e ainda é responsável pelo monitoramento da implementação da Convenção de Madri e de seus Protocolos adicionais. Em casos especiais, esse órgão busca a solução de problemas em função do desenvolvimento das cooperações transfronteiriças e costuma propor soluções envolvendo particularmente o âmbito legal da questão. Atua também como intermediário na troca de informações sobre as cooperações transfronteiriças e tem competência para propor soluções legais no nível inter-governamental (Committee of Experts on Transfrontier Co-operation, 2007).

O Comitê de Conselheiros para o Desenvolvimento de Cooperações Transfronteiriças na Europa Central e Leste (Committee of Advisors for the Development of Transfrontier Co-operation in Central and Eastern Europe, 2007) acompanha as grandes mudanças políticas ocorridas nestas regiões e como isto oferece novas oportunidades para o desenvolvimento das cooperações. Este comitê apóia, pois, a iniciativa de Estados e governos locais desta região da Europa na criação de cooperações transfronteiriças, além de promover a ratificação da Convenção de Madri e seus Protocolos adicionais.

Outro ator importante no Conselho da Europa em função das cooperações transfronteiriças é o Congresso de Governos Locais e Regionais (Congress of Local and Regional Authorities, 2007), órgão de consultoria formado por representantes de governos locais e regionais dos Estados membros do Conselho da Europa. Uma de suas prioridades é promover a paz, a tolerância e o desenvolvimento equilibrado por meio das cooperações transfronteiriças.

4.1.3 Instrumentos Legais do Conselho da Europa sobre as Cooperações