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Capítulo 2 A Teoria da Dependência e as políticas regionais na integração

2.2 O cenário da União Européia

Durante o processo de globalização, vários Estados buscaram produzir integrações regionais com a finalidade de estabelecerem melhores mercados de consumo e produção. Estas integrações ocorreram em diferentes formas, desde uma simples união aduaneira até uma união econômica e monetária, pois seu objetivo era, e ainda é, estabelecer uma relação entre Estados considerando suas próprias sociedades mercantis numa integração para o desenvolvimento socioeconômico.

Em face do seu objetivo, as integrações regionais se encontram obrigadas a solucionar duas questões problemáticas. Primeiramente a necessidade de se criar uma organização supranacional que consiga realizar as regulações necessárias entre os Estados membros, o mercado interno e externo, a mão de obra e demais pontos da integração. Em segundo, a implementação de um modelo político e econômico que consiga garantir uma cidadania supranacional. Logo, a integração regional se encontra em uma organização política que envolve um complexo grupo de atores políticos, uma vez que ultrapassa os limites do Estado tradicional. Comparando todas as integrações, percebe-se que a União Européia é aquela que possui um nível mais avançado de interação entre seus membros, incluindo organizações políticas e econômicas distintas. Essas diferenças ampliam as suas desigualdades interna no que diz respeito às regiões centrais e periféricas.

Contudo, essas disparidades entre Estados e regiões antecedem o processo de integração regional, não sendo esta última responsável pela maioria das desigualdades, mas, sim, sua catalisadora. A desigualdade sócio-territorial surge com a própria sociedade, embora na Europa sua significância política tenha-se destacado com o

processo de revolução industrial e comercial (colonização). O estabelecimento desigual de tecnologia e indústria no território europeu é que determina a iniqüidade entre os Estados e regiões. Os territórios que iniciaram um forte processo de avanço econômico industrial se destacaram dos demais e acabaram por concentrar a produção e a riqueza, de forma que é a industrialização, mais que o comércio, que determina as diferenças econômicas entre as regiões da Europa.

Logo, o grande avanço da industrialização, em algumas regiões da Europa (enquanto outras se desenvolvem menos ou simplesmente não se industrializam) cristaliza as desigualdades regionais na Europa, assim formando regiões de centro e periferia. Deste modo, é no processo da revolução industrial que as disparidades socioeconômicas da Europa se instituem nas regiões que a compõem. Comparativamente, a Europa ficou extremamente marcada a) pelas regiões que se industrializaram, b) pelas que não o fizeram e c) pelas que se industrializaram tardiamente. Por conseguinte, na Europa se estabeleceram as regiões centrais - com uma forte concentração econômica com elevada renda per capta - e regiões periféricas subdesenvolvidas, tanto sócio-economicamente quanto industrialmente. Desta maneira, a alta concentração da indústria em determinadas regiões, na sua fase inicial de desdobramento, atraiu para estes lugares o mercado de mão-de-obra necessário para seu crescimento. Em resumo: o desenvolvimento, que ocorre na industrialização de certas regiões, coopta os mercados externos e sua mão de obra, sendo que isto se traduz numa melhora da economia nos lugares industrializados e no empobrecimento das regiões periféricas que não se industrializaram ou que se industrializaram tardiamente.

Como explicitado, as desigualdades socioeconômicas não ocorrem somente entre Estados, mas também no território interno entre as regiões, conforme o processo de industrialização que estas vivenciaram (ou não). No caso europeu, as regiões que se desenvolveram melhor foram aquelas em que se encontravam importantes centros políticos, mercados, infra-estrutura, fontes energéticas e substancial sistema de transporte. Este modelo de atração da industrialização na Europa continua atual, independente das alterações do modo de produção energética ou reestruturação do mercado e da mão de obra.

Neste cenário de desigualdades econômicas e territoriais - a Europa - logo após a Segunda Grande Guerra, inicia seu processo de integração regional. A reconstrução da Europa no pós-guerra cria a possibilidade de uma maior cooperação entre os Estados europeus para a solução de seus problemas comuns, o que acabou catalisando o interesse dos atores políticos por um processo de integração. Apesar de a integração conseguir resolver vários problemas dos Estados europeus, as desigualdades econômicas entre as regiões se tornaram um problema maior devido à dinâmica econômica imposta pela integração, na qual a disparidade entre centro e periferia se acentua: as reduções das práticas protecionistas afetam diretamente aquelas regiões mais pobres, economicamente mais vulneráveis ao mercado. Logo, as políticas regionais com seu caráter compensatório tornaram-se um ponto importante das atividades de integração regional.

Na União Européia, a questão da integração regional em face das regiões economicamente mais sensíveis não se tornou um problema, mas serviu de justificativa para o estabelecimento de atividades políticas supranacionais, por meio das políticas regionais, assim intensificando o processo de integração com ampliação da competência dos órgãos supranacionais. Deste modo, no Ato Único Europeu, foram modificadas várias questões do Tratado de Roma, de forma que o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) se institucionalizou por um reconhecimento legal, o que foi uma verdadeira evolução política supranacional, pois a União Européia passou a dispor de um instrumento econômico próprio capaz de estabelecer políticas regionais para territórios sensíveis às disparidades socioeconômicas. Em conseqüência o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional tem, como objetivo, acabar com as disparidades regionais e ressuscitar antigas áreas industriais.

Assim a economia política da integração regional, na União Européia, desassocia-se da concepção de livre mercado, instituindo a política regional como instrumento de harmonização socioeconômica territorial. A política regional como instrumento econômico é singular, uma vez que seu objetivo de harmonização se dá pela transferência de capital das regiões centrais para as periféricas ao mesmo tempo em

que aprofunda os laços de integração regional. Assim, somente a integração regional não se traduz em benefícios para os Estados membros e ainda produz um aumento da desigualdade regional fazendo com que seja necessária a existência das políticas regionais, nas quais a entidade supranacional deve atuar como um órgão gerenciador de riqueza.

2.3 A questão regional na União Européia; uma comparação entre