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4. O CONTEXTO ATUAL E A EDUCAÇÃO

4.1. As exigências da sociedade da informação

Transformações relativas ao trabalho, comércio e ações institucionais e de sujeitos ocorridas nas relações nos e entre os distintos países desde o final do século XX caracterizam o contexto atual, que se desenvolveu com a emergência das novas tecnologias de comunicação e informação, embora segundo Ianni (1999), tal contexto tenha sua gestação localizada na Guerra Fria, dado que com a queda do muro de Berlim, o capitalismo consolidou-se enquanto modo de produção e de vida.

Para Ianni (1999), em uma composição histórico-social ampla, definida por ele como globalismo, mudanças além da globalização econômica foram levadas a cabo, sendo possível a coexistência de diferentes formas sociais e de trabalho, como também de distintas ideologias em um cenário complexo nos aspectos da economia, política, sociedade e cultura.

As novas tecnologias possibilitaram a transmissão das informações em tempo real, promovendo a compressão do espaço e do tempo e uma nova divisão transnacional do trabalho com a redistribuição das empresas e corporações no mundo, formando uma cadeia de cidades que são, ao mesmo tempo, locais e globais. Mello; Braga e Gabassa (2012) e Elboj et al (2002) colocam que, nesse cenário de urbanização, industrialização, terceirização e intelectualização das atividades, agilidade, flexibilidade, multifuncionalidade e capacidade de inovação são exigências da produtividade, visualizada desde a flexibilização dos processos de produção e trabalho, aos sujeitos, em oposição ao conhecimento excessivamente técnico e específico de apenas uma parte dos processos de produção como em tempos anteriores.

43 O acesso, a seleção e o uso adequado da informação são também

demandas dessa revolução tecnológica (FLECHA, GÓMEZ e PUIGVERT, 2008) que, na concepção de autores como Castells (2002),descrevem o contexto atual como Sociedade da Informação, na qual a aplicação dos conhecimentos e informações com vistas à produção de novos conhecimentos ganha notoriedade. Tal sociedade compõe- se, conforme pontuado pelo sociólogo mencionado, por meio de redes, estas formadas por diversos sujeitos e organizações que se alteram de forma contínua, em um processo de concorrência global e de fortalecimento da presença do Estado.

Flecha, Gómez e Puigvert (2008) dividem a Sociedade da Informação traçada por Castells (2002)em duas fases: dualização social, entre 1970 e 1980, com o agravamento das desigualdades advindas da sociedade industrial e com a emergência de outras, em especial, a divisória digital; e Sociedade da Informação para todos, fase oriunda do movimento de grandes incorporações de informática e de movimentos sociais que reivindicavam a democratização do acesso à rede, junto à possibilidade de seleção, processamento, uso e análise críticos das informações, por meio do desenvolvimento de habilidades e conhecimentos.

Perante tal divisão e definição, Mello; Braga e Gabassa (2012) e Elboj et al (2002), tendo em mente os processos de exclusão, desqualificação, desproteção e marginalização social aos quais diversos grupos estão submetidos pela falta das habilidades e conhecimentos acima citados, frisam que, na segunda fase da sociedade da informação, são centrais a necessidade e a importância da escolaridade na aprendizagem de instrumentos essenciais para a minimização e superação dessa problemática, como o são a leitura, escrita, matemática e informática. Em relação às competências requeridas, a partir de estudos como os de Levin e Rumberger (1989)35, Elboj et al (2002) indicam: iniciativa, cooperação, trabalho em grupo, formação mútua, avaliação, comunicação, solução de problemas, tomada de decisão, obtenção e utilização de informações, planejamento, capacidade de aprendizagem e atitudes multiculturais.

Entendendo o globalismo e a sociedade da informação em uma perspectiva de impactos não só econômicos e sociais, mas também culturais e de convívio, Mello; Braga e Gabassa (2012) afirmam que, nesse contexto, debates acerca da identidade e alteridade são

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LEVIN, H.M.; RUMBERGER, R.W.(1989): ―Educación, trabajo y empleo en los países desarrollados: situación y desafíos para el futuro.‖ Perspectivas, vol. XIX, n. 2.

44 suscitados, tendo em conta as migrações transnacionais, o contato com e entre a

diversidade e a pluralidade de visões de mundo. Ademais, em tal cenário intensamente multicultural, ou transcultural (IANNI, 1999), a questão da racialização das relações torna-se proeminente, junto aos preconceitos de classe, casta e gênero, sendo, portanto, imprescindível a educação entre diferentes almejando-se a igualdade de direitos a todos os distintos grupos.

Na sociedade da informação, as relações e instituições passam, também, por um giro dialógico, referente à crise das autoridades tradicionais e a não sustentação da autoridade pela posição de poder ocupada na sociedade, mas sim pela validez dos argumentos, como traz Habermas (200113 apud AUBERT et al, 2008), em que as estruturas hierárquicas são postas em questionamento. Nesse sentido, a expansão das perspectivas e possibilidades intensifica a relevância do diálogo e da reflexão, em consonância à proposta de Beck (199836 apud AUBERT et al, 2012) de uma modernidade reflexiva definida pela consideração igual da capacidade de todas as pessoas de refletirem sobre a realidade e de agirem nela.

Embora haja esse alargamento das participações, opções e decisões, Elboj et al (2002) assinalam a não eliminação total das hierarquias e relações de poder, persistindo e reiterando a desigualdade advinda da baixa escolaridade e do desconhecimento da utilização das novas tecnologias, dado que é factível a relação direta que se estabelece entre o nível de escolaridade e a exclusão social (ELBOJ et al, 2002; FLECHA e SOLER, 2013).

Diante de tal dado, a escola, enquanto espaço privilegiado de formação, como bem ressaltam Mello; Braga e Gabassa (2012) e Elboj et al (2002), não deve se isentar de seu papel educativo considerando-se todas as demandas anteriormente colocadas em termos de conteúdos, habilidades, competências e práticas orientadas ao reconhecimento da diversidade, à busca pela igualdade, à superação das desigualdades e à efetivação da aprendizagem de todos e todas com qualidade, ou seja, que permita a aquisição dos instrumentos necessários para se desenvolver na sociedade atual. (ELBOJ et al, 2002).

Como caminho efetivo para a concretização das demandas supracitadas no espaço escolar, o Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (NIASE), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ao qual eu e a orientadora deste trabalho pertencemos, vem pesquisando as Atuações Educativas de Êxito.

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